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Garimpeiros
são detidos na Missão Catrimani
Perdidos na floresta e
famintos, garimpeiros recorrem à missão em busca de
ajuda a acabam presos pela Funai e pela PF.
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Funai
tem operação de desintrusão programada para
setembro
Segundo administrador
do órgão indigenista em Boa Vista, quatro grandes
garimpos em atividade na área, além de outros menores,
deverão ser desativados a partir do próximo mês
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Garimpeiros
são detidos na Missão Catrimani
Perdidos na floresta e famintos, garimpeiros recorrem
à missão em busca de ajuda a acabam presos pela Funai
e pela PF.
Jovens
Yanomami que participavam de um curso de formação de
professores indígenas no âmbito do Programa de Educação
Intercultural (PEI), coordenado pela Comissão Pró-Yanomami,
tiveram uma experiência inusitada na manhã do último
dia 19 de julho. Por volta das 9h30, uma aula de Geografia foi interrompida
pela notícia de que cinco garimpeiros - quatro homens e uma
mulher – haviam atracado uma precária balsa, feita de
toras e cipós, no porto da Missão Catrimani, no sudeste
da terra indígena, onde se realizava o curso. Sujos, famintos
e aparentemente doentes, os invasores decidiram recorrer à
Missão em busca de alimentos e ajuda dos missionários
para retornar a Boa Vista, capital do Estado.
Segundo
relato feito pelo coordenador do PEI, Marcos Wesley de Oliveira, a
súbita aparição dos garimpeiros desconcertou
os jovens professores Yanomami presentes no curso. Entre surpresos
e irritados, os Yanomami exigiram explicações dos invasores
sobre sua presença na área. Interrogados em uma das
casas da Missão, os garimpeiros disseram que haviam sido enganados
por um empresário de garimpo que os abandonara em uma pista
de pouso dentro da área, sem mantimentos e equipamentos de
trabalho, e que, por isso, não haviam extraído ouro
da terra indígena. Indignados, os Yanomami acusaram-nos de
destruir suas florestas e roubar seus recursos naturais; alguns jovens
foram até o rio e destruíram a balsa improvisada pelos
invasores. Após o interrogatório, os Yanomami consentiram
que os invasores fossem alimentados e solicitaram a sua retirada pela
Funai.
Uma
equipe da Funai, acompanhada de dois policiais federais armados, chegou
ao Catrimani no começo da tarde. Presos em flagrante, os garimpeiros
foram revistados e levados para Boa Vista. Foram encontradas cerca
de 250 gramas de ouro com três dos invasores. De acordo com
informações publicadas na imprensa da capital, no interrogatório
realizado pela Polícia Federal os garimpeiros revelaram que
estavam há vários dias caminhando perdidos na mata,
com um dos integrantes do grupo doente em conseqüência
da picada de um inseto. De acordo com uma reportagem publicada no
jornal roraimense Brasil Norte no dia 21 de julho, o líder
do grupo, Cícero Barros Nogueira, contou que pessoas que enviariam
mantimentos para abastecer o garimpo não apareceram, deixando-os
sem assistência no meio da floresta. Segundo o delegado da Polícia
Federal citado pela reportagem, Flávio Leite Ribeiro, todos
foram liberados e apenas Nogueira responderá à processo
por exploração mineral em terra indígena.
Funai
tem operação programada para setembro
Segundo administrador
do órgão indigenista em Boa Vista, quatro grandes garimpos
em atividade na área, além de outros menores, deverão
ser desativados a partir do próximo mês.
A
presença ilegal de exploradores de ouro dentro da Terra Indígena
Yanomami é crônica. Segundo uma estimativa feita pela Administração
Regional da Funai em Boa Vista, há hoje ainda cerca de 300 intrusos
envolvidos com a extração ilegal de ouro das terras yanomami
no Brasil.
O
número, segundo o administrador da Funai em Roraima, Martinho
Alves de Andrade Júnior, é resultado de um levantamento
feito através de sobrevôos em toda a área indígena
no último mês de junho. A “operação
de varredura” identificou, segundo Martinho, oito pistas de pouso
em atividade e quatro garimpos “de vulto” dentro da terra
yanomami.
A
estimativa de 300 garimpeiros resulta da soma dos invasores calculados
nestes quatro garimpos com os indícios de outros menores verificados
nos sobrevôos. Os quatro maiores garimpos identificados estão
localizados nas regiões do Paapiú e Alto Catrimani (região
central da terra indígena), Parafuri (a oeste da terra indígena)
e Ericó (a leste da área Yanomami).
É
possível que haja outros garimpos menores não identificados
pelos sobrevôos da Funai. Durante o curso do PEI na Missão
Catrimani, alguns Yanomami denunciaram a existência de um novo
garimpo no rio Pacu, na Serra da Mocidade. De acordo com o administrador
da Funai em Boa Vista, dois sobrevôos na região não
detectaram sinais visuais de presença garimpeira – água
turva, acampamentos e desmatamento característicos da atividade
garimpeira. Segundo Martinho, a denúncia dos Yanomami leva a
crer que os ruídos ouvidos por eles fossem de helicópteros.
Mas, para o servidor da Funai, o preço do frete de um helicóptero
– cerca de R$ 1,5 mil em Boa Vista – não é
viável para a empresa garimpeira. “Acreditamos nos índios,
parceiros importantes para identificarmos os garimpos, mas pode ser
outra atividade diferente do garimpo”, disse o administrador da
Funai.
Martinho
informou que a Funai, em parceria com outros órgãos federais,
está preparando uma operação de retirada de garimpeiros
da Terra Indígena Yanomami, a ser deflagrada em setembro, quando
tem início a estação seca na região. Uma
série de sobrevôos, acompanhados de incursões por
terra, serão realizados até dezembro. Segundo suas informações,
estariam disponíveis R$ 500 mil do orçamento do órgão
indigenista deste ano para as atividades de fiscalização
e desintrusão de todas as terras indígenas de Roraima;
entre 70% e 80% desse montante será consumido nas operações
envolvendo a Terra Indígena Yanomami. “Este é o
recurso mínimo, poderemos obter mais se for necessário”,
informa o administrador do escritório da Funai em Boa Vista.