Urihi
domina malária
Índices de malária caem dramaticamente
em menos de dois anos.
Dentro
do programa da Fundação Nacional de Saúde (Funasa)
de atendimento às populações indígenas,
a Urihi - Saúde Yanomami vem diminuindo dramaticamente a incidência
de malária nas áreas yanomami onde atua desde fim de
1999, no âmbito do Distrito Sanitário Yanomami, com recursos
da Funasa. Nos nove pólos onde atua em Roraima e no Amazonas,
a Urihi registrou uma importante queda nos casos de malária
em menos de dois anos: em janeiro de 2000, havia incidência
de 8,2% de casos registrados; em setembro de 2001, esse número
caiu para 0,3%.
Esse
é de longe o índice mais baixo de malária desde
1987 quando começou a corrida do ouro na área yanomami.
O resultado espetacular da Urihi no combate à malária
deve-se, principalmente, à assistência intensiva de equipes
médicas nos nove postos de saúde que a ONG mantém
atualmente entre os Yanomami. Uma parte importante do seu programa
de saúde é o treinamento de agentes de saúde
yanomami que foi iniciado através da formação
de 24 microscopistas indígenas que já estão integrados
nos trabalhos da URIHI. Toda esta formação também
está sendo financiada com recursos da Funasa. Além dos
microscopistas Yanomami, a Urihi conta com dois médicos, quatro
enfermeiros, 48 auxiliares de enfermagem, seis técnicos de
serviço de apoio e dezesseis microscopistas não indígenas.
Urihi
inova tratamento de tuberculose
Diagnósticos
e tratamentos são feitos nas próprias aldeias, evitando
que os Yanomami passem longos períodos na cidade de Boa Vista.
As equipes
médicas da Urihi estão conseguindo diagnosticar e tratar
os casos de tuberculose nas próprias aldeias dos pacientes.
Evitam, assim, que os Yanomami passem os seis meses de tratamento
em Boa Vista, o que acarretava grandes transtornos para eles e suas
famílias, não só em termos de desgaste psicológico,
mas também com relação às suas atividades
econômicas e rituais. A novidade no combate à tuberculose
é a supervisão direta de profissionais de saúde
que acompanham os pacientes em suas aldeias e em expedições
à floresta, assegurando assim que estes sigam rigorosamente
o tratamento até o fim e que continuem a desempenhar suas atividades
normalmente. Graças à utilização de equipamento
de raio X portátil, os diagnósticos podem ser realizados
em qualquer lugar e a qualquer momento.
Os locais
de maior incidência de tuberculose na área de atuação
da Urihi são Aratha-ú e Auaris. Neste final de 2001,
ainda existem cinco pacientes de Aratha-ú em tratamento. Em
Auaris registrou-se em 1999 uma incidência de 27 casos; em 2000,
quatro casos e em 2001, três casos. Hoje estão todos
curados e não foram registrados casos novos.
As vantagens
do atendimento in loco são inestimáveis e pode ser comparado
à situação anterior, descrito pelo médico
Cláudio Esteves de Oliveira, presidente da Urihi: "Adultos
e crianças chegavam a Boa Vista extremamente desnutridos e
com a doença em estágio avançado; depois de um
ou dois meses, quando começavam a se sentir bem, queriam abandonar
a medicação. Eles não entendiam o motivo de continuar
tomando remédio se não se sentiam mais doentes".
Dr. Cláudio continua, ressaltando a importância do novo
sistema de tratamento da tuberculose: "O método de tratamento
não é novo, existe há décadas, mas quando
eu cheguei aqui, há onze anos, não podia imaginar que
o atendimento nas aldeias fosse possível. Faltava pessoal para
ficar nas comunidades. Agora temos um sistema de saúde que
torna isso possível. Essa é uma dívida que estamos
pagando aos Yanomami".
Aproveitando
a experiência da URIHI, a Funasa está estendendo este
procedimento às demais áreas do Distrito Sanitário
Yanomami (DSEI-Yanomami) e ao Distrito Sanitário Especial Indígena
do Leste (DSEI-Leste).
Corte
de verba ameaça saúde yanomami
Com verba reduzida
Urihi corre risco de interromper trabalho bem sucedido.
Um
corte de mais de R$ 420.000,00 no orçamento de cerca de R$
6.785.000,00 para 2001, a partir de agosto, tem dificultado substancialmente
as atividades de assistência da Urihi. Porém, ainda mais
preocupante é a ameaça de um corte de 20% no orçamento
da Funasa para todo o Distrito Sanitário Yanomami em 2002,
o que implica em interromper o trabalho de dois anos em que a Urihi
conseguiu controlar as epidemias de malária e a incidência
de tuberculose nas nove regiões yanomami onde atua.
A suspensão do programa de saúde yanomami nos padrões
alcançados pela Urihi trará conseqüências
desastrosas não apenas para os Yanomami, mas para a imagem
do Brasil que, com a deterioração da saúde dos
Yanomami poderá sofrer sérios revezes depois de seus
recentes sucessos em foros internacionais por sua posição
firme quanto à produção de genéricos e
ao tratamento grátis de pacientes portadores de HIV.
Programa de Educação
Intercultural
Professores
yanomami aprendem informática e dominam mais uma técnica
dos brancos.
Os
Yanomami começaram a aprender técnicas de computação,
trabalhando com diversos programas entre outros Word e Paintbrush,
programas destinados a redação e arte gráfica.
Dezenove professores e um microscopista yanomami das regiões
de Demini, Toototobi, Parawa u, Surucucu, Hakoma e Paapiú,
além de um professor Macuxi, fizeram em outubro um curso promovido
pelo Programa de Educação Intercultural (PEI) da Comissão
Pró-Yanomami, com apoio da Universidade Federal de Roraima.
Com
o domínio da computação, os Yanomami querem melhorar
a comunicação entre as aldeias, criando novos materiais
informativos, além de contribuir para o melhor desempenho em
sala de aula com a confecção de materiais didáticos.
Com caracteres especiais adaptados à sua língua e criando
um conjunto de neologismos apropriados, os Yanomami estão adaptando
a terminologia da informática para a escrita no seu próprio
idioma, evidenciando assim a grande vitalidade e criatividade da sua
língua na apropriação de novas informações.
Como já foi noticiado no nosso Boletim n° 16, o PEI foi
criado em 1995 por iniciativa dos próprios Yanomami e já
cumpriu seu primeiro objetivo que foi que foi um amplo programa de
alfabetização e está atualmente em fase de preparação
de uma grade curricular para os professores yanomami que deverá
em alguns anos levar a seu reconhecimento pelo sistema de educação
nacional.
Yanomami
experimentam alternativas econômicas
Técnicas
de produção de mel e projetos de piscicultura são
instalados em duas regiões yanomami.
A
apicultura começa a se tornar uma alternativa econômica
para os Yanomami. Em outubro, dois habitantes da comunidade de Watori+,
na região do Demini, participaram de um curso de 98 horas-aula
realizado na Casa Cultura Urubuí, em Presidente Figueiredo,
a 100 km de Manaus (AM). A partir deste curso estão sendo feitas
experiências com espécies melíferas tradicionais
(Apis mellifera) e com as abelhas nativas sem ferrão (meliponideos
e trigonideos). Raimundo Yanomami e Toinho Yanomami foram acompanhados
por Ednelson Pereira e Maurice Tomioka Nilsson, ambos professores
não-Yanomami do Projeto de Educação da Pró-Yanomami.
Durante
o treinamento em Presidente Figueiredo, os Yanomami visitaram vários
apiários da região. Aprenderam técnicas de manejo,
captura de enxames, extração e envazamento do mel, tratamento
da cera nas colméias para construção de favos,
além se familiarizarem com a classificação ocidental
de famílias de abelhas.
O
conhecimento tradicional yanomami sobre abelhas nativas é vasto.
Os Yanomami que participaram do curso de apicultura citaram 32 variedades
de abelhas e descreveram seu sistema de defesa da colméia que
eles mesmos reproduziram nas caixas que construíram durante
o treinamento. As abelhas sem ferrão não eram conhecidas
pelos brancos responsáveis pelo curso. Elas ficam em ocos de
árvores e no subsolo e só existem em regiões
tropicais da América do Sul.
Na
região do Auaris, está se iniciando um projeto de piscicultura
que suprirá as tradicionais deficiências de pescado na
área que, por estar localizada junto às cabeceiras do
rio Auaris em terreno muito acidentado, só dispõe de
peixes de tamanho diminuto. Na segunda semana de novembro, o tanque
construído nas redondezas do posto Auaris recebeu seus primeiros
peixes, segundo informação de Carlos Sanumá,
um dos 12 microscopistas Yanomami de Auaris da ONG de saúde
Urihi.
Direito
à cidadania brasileira
Yanomami necessitam de serviço de apoio para
obter documentos
Como
qualquer cidadão, os Yanomami têm direito de obter documentos,
mas conseguir a carteira de identidade tornou-se um pesadelo.
Sempre que precisam viajar, os Yanomami ficam na dependência
humilhante de uma autorização da Funai. A falta de documentos
cria transtornos consideráveis, sobretudo para os professores
e microscopistas Yanomami que, sem carteira de identidade, não
podem ter contrato regular de trabalho.
Em
novembro do ano passado, a Comissão Pró-Yanomami solicitou
da Funai a lista dos documentos necessários para a emissão
de carteira de identidade para seis professores yanomami e nunca obteve
resposta. Em julho e agosto, os professores enviaram carta à
Funai questionando a sua demora em responder àquela solicitação
e reiteraram o pedido. Em outubro, a Comissão Pró-Yanomami
tentou, sem sucesso, dar andamento aos trâmites burocráticos
para obtenção de carteiras de identidade para os professores
que estavam em Boa Vista.
O
Tribunal de Justiça orientou os Yanomami a procurar o atendimento
na Justiça móvel que percorre o interior de Roraima.
Sugeriu que fosse a Alto Alegre de 9 a 11 de outubro. Para isso, eles
precisariam de Certidões Administrativas da Funai e o parecer
do procurador do órgão. Entregaram uma lista de 28 nomes
com os dados pessoais de todos, mas a Funai deixou passar o prazo
estipulado e os Yanomami perderam essa oportunidade.
Os
Yanomami tentaram sensibilizar o juiz que então os orientou
a procurar a Justiça móvel em um bairro de Boa Vista.
Entretanto, no dia do atendimento, esse mesmo juiz se desculpou, dizendo
que o Tribunal não aceitava emitir os documentos para índios
na capital do estado, que só poderia ser feito no interior.
Encaminhou os Yanomami para a Defensoria Pública, mas esta
não estava disponível durante o tempo em que os Yanomami
estavam na cidade. Após essa desnecessária maratona
burocrática, os professores Yanomami continuam excluídos
da cidadania plena à qual têm direito e que desejam exercer.