Líderes
Yanomami vão à Universidade de Cornell, Estados Unidos
Seminário
sobre ética na pesquisa terá a participação
de representantes Yanomami e da CCPY.
Será
realizado nos dias 5-7 de abril de 2002, na Universidade de Cornell,
no Estado de Nova Iorque, o seminário “Tragédia
na Amazônia: Vozes yanomami, controvérsia acadêmica
e a ética na pesquisa”. Estarão presentes os Yanomami
Totô, da região do Toototobi (AM), Davi Kopenawa, da
região do Demini (AM), José Serepino, da Venezuela,
além de Jô Cardoso de Oliveira, Secretária Executiva
da Comissão Pró-Yanomami e sua representante oficial
no evento.
O
Seminário, organizado pelo antropólogo Terence Turner,
é mais um desdobramento da polêmica gerada pelas denúncias
do jornalista norte-americano, Patrick Tierney, publicadas no seu
livro Darkness in El Dorado, sobre o uso de métodos de pesquisa
anti-éticos por parte do geneticista James Neel e do antropólogo
Napoleon Chagnon entre os Yanomami. Em 1967-68, acusa Tierney, esses
pesquisadores coletaram inúmeras amostras de sangue em várias
aldeias yanomami na Venezuela e no Brasil (inclusive na comunidade
dos pais de Davi Kopenawa e Totô), obtendo a sua anuência
com a distribuição de grandes quantidades de bens manufaturados.
O
escândalo que essas acusações suscitaram tem mobilizado
setores da academia estadunidense preocupados com questões
de ética nas pesquisas científicas e de garantia dos
direitos indígenas na proteção do seu patrimônio
genético. As acusações de Tierney levantaram
importantes indagações sobre a violação,
por parte de Neel e Chagnon, do princípio de consentimento
informado que rege a pesquisa biomédica a partir do Código
de Nuremberg de1947.
Além disso, informações fidedignas revelam que
as amostras de sangue coletadas pela equipe de Neel entre os Yanomami
foram recentemente reprocessadas para extração de material
genético (DNA) e continuam sendo utilizadas em novas pesquisas
sem, mais uma vez, o conhecimento e consentimento dos próprios
Yanomami. Esse seminário pretende abordar tais temas. A Comissão
Pró-Yanomami já teve oportunidade de divulgar aspectos
dessa polêmica (Boletim Yanomami nº11, Documentos Yanomami
nº2).
A participação de Davi, de Totô e da Comissão
Pró-Yanomami é motivada pela preocupação
com o destino e utilização atual das amostras de sangue
coletadas por Neel e Chagnon. Atendendo ao desejo dos Yanomami para
que sejam tomadas medidas judiciais sobre a apropriação
indevida desses materiais, a Comissão Pró-Yanomami localizou
o paradeiro de pelo menos parte das amostras em questão: elas
estão depositadas nos departamentos de antropologia da Universidade
Estadual da Pensilvânia e da Universidade de Michigan. A Comissão
Pró-Yanomami está tomando providências para levar
o caso à atenção da justiça brasileira
e norte-americana.
Ministério
Público examina questão de amostras de sangue yanomami
Procuradora dirige-se
à pesquisadores estadunidenses a respeito da utilização
de amostras de sangue coletadas em 1967.
No
início de março último, a Subprocuradora-Geral
da República, Ela Wiecko Volkmer de Castilho, enviou ofício
aos pesquisadores Andrew Merriwether e Kenneth Weiss, respectivamente,
das Universidades de Michigan e Estadual da Pensilvânia, solicitando
informações sobre a existência de amostras de
sangue yanomami nessas universidades e outras informações
relevantes. Apresentamos a seguir a íntegra da carta da Procuradora:
OFÍCIO
Nº 115/2002/CaDIM/MPF
Brasília,
07 de março de 2002
Assunto:
Sangue yanomami.
Senhor Professor,
Tomamos conhecimento de que na década de 60, pesquisadores
americanos coletaram sangue de índios Yanomami, cujo território
se situa na fronteira Brasil- Venezuela. As amostras de sangue estariam
depositadas na Penn State University of Michigan at Ann Arbor. Assim,
gostaria que V.S. esclarecesse as seguintes questões: