Equipe
de pesquisadores faz levantamento preliminar em área devastada
por garimpo
Pesquisadores
de diversas áreas do conhecimento visitam a região do
Homoxi visando projeto de recuperação ambiental.
De
3 a 22 de abril de 2002, um grupo de especialistas realizou um levantamento
na região de Homoxi, em Roraima, de modo a elaborar um diagnóstico
ambiental relativo à degradação gerada nessa
região pela intensa atividade garimpeira nos anos 80 e 90.
A
proposta de avaliar a situação do Homoxi pós-garimpo
é uma iniciativa da Comissão Pró-Yanomami (CCPY),
em parceria com a Urihi-Saúde Yanomami, em atendimento à
demanda dos próprios Yanomami.
O
levantamento preliminar, financiado por The Nature Conservancy, foi
realizado por William Milliken, etnobotânico, com 15 anos de
experiência em pesquisa aplicada, consultoria e grande experiência
em trabalho de campo entre os Yanomami; Bruce Albert, antropólogo,
membro do Conselho Diretor da Pró-Yanomami que trabalha com
o grupo indígena desde 1975; Maria de Lourdes Ruivo, especialista
em solos, pesquisadora do Museu Goeldi em Belém do Pará;
Francois-Michel Le Torneau, geógrafo do CREDAL-CNRS, Paris;
Rogério Duarte Pateo, mestrando em antropologia na USP; Ednelson
Souza Pereira, coordenador do Projeto Agroflorestal da Pró-Yanomami
e Manuel Bezerra, guarda de endemias da Urihi. A equipe foi assessorada
por dois colaboradores Yanomami Raimundo Yanomami e Isligue Yanomami,
da comunidade do Demini.
Os
objetivos são analisar os efeitos do garimpo sobre os recursos
naturais, avaliar seu impacto sobre o modo de vida das comunidades
Yanomami atingidas e levantar as opiniões, anseios e recomendações
dessas comunidades com relação ao reflorestamento, como
fase preliminar para um projeto futuro de recuperação
ambiental no Homoxi, que poderá também servir de modelo
para iniciativas semelhantes em outras partes da Terra Yanomami.
O
levantamento incluiu a coleta de informações sociais
e ambientais sobre a região do Homoxi, no campo da antropologia,
botânica, zoologia e pedologia, além de um trabalho de
mapeamento com imagens de satélites das áreas degradadas
e do etnomapeamento dos usos dos recurosos naturais pelos Yanomami.
O
trabalho foi realizado com o constante acompanhamento de lideres Yanomami
locais (Maranhão Yanomami da comunidade Tirei-theri e Antônio
Yanomami da comunidade de Wiramapiu-theri) e com autorização
especial da Presidência da Fundação Nacional do
Índio (FUNAI).
O
Coordenador do Projeto Agroflorestal da Pró-Yanomami acompanhou
a equipe a fim de realizar, paralelamente aos estudos científicos,
uma intervenção experimental de reflorestamento com
os membros da comunidade Tirei-theri de modo a apresentar concretamente
aos Yanomami os objetivos do futuro projeto que terá origem
a partir dos estudos desenvolvidos pela equipe de pesquisadores. Assim,
foram selecionadas quatro cascalheiras de garimpo onde foram plantadas
experimentalmente 860 sementes de cajú e cerca de 500 sementes
de palmeira nativa bacaba (fonte de proteínas vegetais).
Além
disso, foi realizada, pelo mesmo coordenador, uma pesquisa sobre o
potencial melífero da região de Homoxi (40 espécies
de abelhas nativas foram coletadas e remetidas ao INPA de Manaus para
identificação). Tal pesquisa poderá permitir
o desenvolvimento um novo projeto de apicultura na região,
visando oferecer tanto um reforço a um recurso tradicional
da dieta Yanomami quanto possibilidades de alternativa econômica
ao grupo.
Novo curso
de informática para professores yanomami
Mais um curso
de informática foi oferecido a professores e agentes de saúde
yanomami.
O
Serviço de Cooperação com o Povo Yanomami (Secoya),
com a colaboração da Universidade do Amazonas, promoveu
de 8 de abril a 6 de maio, mais um do curso de informática
para os Yanomami. Este é o segundo curso dessa natureza, o
primeiro tendo sido realizado pelo Projeto de Educação
Intercultural (PEI) da Comissão Pró-Yanomami com o apoio
da Universidade Federal de Roraima em outubro de 2001 (ver Boletim
Yanomami nº 22).
Participaram deste segundo curso dez professores e dois agentes de
saúde, procedentes das áreas Ajuricaba, Pukina, entre
outras do estado do Amazonas. Foram 40 horas de aula, ministradas
pelo professor Enderson Guerra, sobre a utilização de
programas como windows, Word, excell e paintbrush.
Em ambos os cursos, os índios revelaram grande criatividade,
adaptando caracteres especiais à sua língua e criando
um conjunto de neologismos adequados ao seu idioma. Segundo a coordenadora
de Educação do Secoya, Ana Ballester, a capacitação
dos professores e agentes de saúde objetiva equipá-los
para a produção de documentos e, principalmente, de
material didático utilizado nas escolas das aldeias.
Segundo a coordenadora, será lançada em maio a Cartilha
sobre Informática para os Yanomami. Outros cursos de informática
estão previstos para 2002
Curso
de Economia e Ecologia para professores yanomami
A Comissão
Pró-Yanomami, a Urihi-Saúde Yanomami e o Serviço
de Cooperação com o Povo Yanomami (Secoya) organizam
curso de Economia e Ecologia para 90 professores yanomami.
Por
iniciativa da Comissão Pró-Yanomami, da Urihi-Saúde
Yanomami e do Secoya, será realizado de 16 de maio a 15 de
junho, na aldeia Ajuricaba, rio Demini, município de Barcelos
(AM), um curso Economia e Ecologia para 90 professores yanomami procedentes
de 15 regiões distintas e falantes de três das quatro
línguas yanomami. O curso terá duração
de 200 horas, tem a aprovação e financiamento do Ministério
da Educação e Fundação Nacional do Índio,
com contrapartida de recursos das três ONGs organizadoras.
Os
objetivos do curso são instruir os Yanomami sobre a utilização
do dinheiro e proporcionar-lhes uma compreensão mais ampla
do impacto social do seu uso bem como da economia regional e da economia
dos projetos alternativos; informar-lhes sobre o impacto ambiental
do uso predador de recursos naturais e os problemas causados pelo
lixo de origem industrial na floresta; enfim de discutir a importância
do manejo ambiental sustentável da Terra Indígena Yanomami.
O
curso pretende dar aos Yanomami maior compreensão dos recursos
a eles destinados por meio dos programas de educação
da Comissão Pró-Yanomami, da Urihi-Saúde Yanomami
e do Secoya e ainda estimular um debate sobre o papel da Escola Yanomami.
Essa discussão deverá resultar na elaboração
do projeto político-pedagógico das escolas, fundamental
para a prática educacional e, ao mesmo tempo, para o seu reconhecimento
pelas Secretarias de Educação de Roraima e do Amazonas.
O
curso será ministrado pelas equipes de professores das três
entidades promotoras –CCPY, Urihi e Secoya- tendo como colaboradores
especiais Maria Cristina Troncarelli, que desenvolve projeto de Educação
no Parque Indígena do Xingu, Matari Kaibi (Xingu), Makaulaka
Aweiti Mehinaku (Xingu), Eliane Bastos, Jackeline Rodrigues e Martin
Charles Nicholl. Participarão do curso professores das seguintes
regiões: Demini, Toototobi, Parawau, Homoxi, Alto Catrimani,
Paapiu, Surucucu, Hakoma, Parafuri, Auaris, Ajuricada (aldeia anfitriã),
Marauiá, Aracá, Padauiri e Catrimani.
Durante
os 30 dias de curso, os 90 professores Yanomami terão aulas
de matemática (sistema decimal, as quatro operações,
uso de tabelas, pesos e medidas); alternativas econômicas, variação
de preços e orçamento dos programas. Com esse conteúdo
os organizadores pretendem capacitar os Yanomami para uma relação
econômica equilibrada com a sociedade envolvente, a partir de
uma perspectiva ecológica; para realizar operações
matemáticas, referentes ao dinheiro, pesos e medidas; para
gerenciar os seus recursos naturais e assumir seus próprios
projetos e financiamentos; e, não menos importante, para estimular-lhes
o senso crítico sobre esses conhecimentos.