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PL da
Mineração pode ser votado em agosto durante esforço
concentrado
Apesar
de ter sido retirado de pauta da Comissão de Defesa do Consumidor,
Meio Ambiente e Minorias para nova discussão, o Projeto de
Lei, de autoria do senador Romero Jucá, dispondo sobre a mineração
em terra indígena, poderá ser votado já em agosto
próximo.
O
Projeto de Lei 1.610/96, dispondo sobre a exploração
mineral em terras indígenas, de autoria do líder do
Governo no Senado, Romero Jucá (PFL-RR), poderá ter
uma tramitação relâmpago no Congresso Nacional,
durante o esforço concentrado previsto para começar
em agosto. Se aprovado pela Câmara, com as emendas previstas,
o PL da Mineração retornará ao Senado Federal
para nova votação, o que poderá levar a uma grande
articulação das organizações e instituições
defensoras dos direitos dos povos indígenas. O projeto atropela
a proposta do Estatuto das Sociedades Indígenas, no Congresso
Nacional desde 1994, e que é instrumento adequado para regulamentar
o ingresso de mineradoras em territórios indígenas.
No
último dia 4, reunido com vários parlamentares, Procuradoria
Geral da República, Fundação Nacional do Índio
e representantes de diversas entidades – entre elas, a Comissão
Pró-Yanomami (CCPY), o Conselho Indigenista Missionário
(Cimi) e o Instituto Socioambiental (Isa) –, o presidente da
Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias,
deputado Paes Landim, suspendeu, temporariamente, a votação
do projeto e prometeu reabrir logo os debates. Depois de ouvir os
argumentos das instituições, Landim concluiu que o PL
da Mineração contém uma série de problemas.
No entanto, não houve mais discussões no mês de
junho, como era esperado. As instituições e organizações
alertaram ainda para o fato de que, independentemente dos prejuízos
que o PL da Mineração, se aprovado, causará às
comunidades, ele não é o instrumento adequado para regulamentar
a atividade mineradora em terra indígena.
Na
audiência, as organizações assinalaram outros
graves problemas contidos no projeto do líder do Governo no
Senado que criarão situações de repercussão
inimaginável para as populações indígenas
do País. A primeira preocupação refere-se à
prioridade dada aos milhares de requerimentos apresentados ao Departamento
Nacional de Produção Mineral (DNPM), antes da promulgação
da Constituição em 1988. Somente sobre a Terra Indígena
Yanomami incidem 554 pedidos. No caso de prevalecer este dispositivo,
o projeto estaria se auto-anulando, pois o que parece ser uma exceção
se constituiria em regra.
O
projeto é contraditório, no entendimento das instituições,
ao reforçar a tutela sobre as populações indígenas,
deixando a cargo do órgão indigenista federal e do Ministério
Público Federal a gestão sobre os recursos de compensação.
Se as comunidades, pelo projeto, não têm condições
de absorver o impacto do elevado volume de recursos decorrentes da
compensação, menos preparadas ainda estariam para enfrentar
os efeitos da mineração em suas terras. Assim, a atividade
mineradora somente poderia ser permitida nas terras em que as populações
indígenas estivessem capacitadas para administrar os seus próprios
recursos, mediante plano de aplicação.
O
PL fixa um percentual mínimo de 2,5% (máximo de 25%)
sobre o faturamento bruto resultante da comercialização
do produto mineral como o valor da compensação a ser
pago à comunidade afetada pela mineração. Na
proposta, conforme análise das entidades, o senador Romero
Jucá não estabelece qualquer mecanismo que dê
às populações indígenas o controle sobre
o real volume de recursos auferidos com a atividade mineradora em
suas terras.
O
projeto estabelece que 2% da renda da comunidade deverão compor
fundo especial para atendimento às populações
indígenas carentes. Assim, o que é atribuição
constitucional do Estado, passa a ser responsabilidade da comunidade
afetada pela atividade mineradora. Ao contrário do que determina
a Constituição Federal, apontaram as organizações,
o Projeto de Romero Jucá não exige a realização
de estudos prévios de impacto ambiental da exploração
mineral em terra indígena. Mais ainda: não estabelece
a extensão da terra indígena que poderá ser afetada
pela atividade mineradora. Como inexiste previsão de limites,
a empresa de mineração estaria livre para atuar em toda
a extensão da área ocupada pela comunidade, comprometendo
o seu espaço de sobrevivência assegurado pela Constituição.
Da mesma forma, o projeto não limita o número de empresas
que poderão atuar em uma mesma área.
Ainda
de acordo com o projeto de Romero Jucá, fica indefinido como
será o processo de consulta às comunidades indígenas
e, como se isso não bastasse, não contempla a possibilidade
de rejeição por parte das mesmas. O Ministério
Público Federal, que deve ser isento em relação
aos processos administrativos e fiscalizar o cumprimento das normas
constitucionais, teria, segundo o projeto, a responsabilidade de acompanhar
a audiência às comunidades indígenas e atestar
a sua manifestação de vontade, antes do processo ser
apreciado pelo Congresso Nacional. Na prática, o Ministério
Público estaria exercendo uma atribuição que
é do Executivo.
Vale
lembrar que o projeto de Romero Jucá foi relatado, em 1996,
na Comissão de Minas e Energia pelo deputado Elton Rohnelt,
que tinha profundos interesses na sua aprovação. O deputado
Elton era diretor-presidente da Mineração da Amazônia
Ltda, que desde 1993, requeria ao DNPM autorização para
pesquisa e lavra no Território Yanomami. Na prática,
o deputado, favorável à proposição de
Jucá, estava legislando em causa própria, a favor dos
seus interesses comerciais.
Organizações
recorrem à Presidência da República contra PL
da Mineração
Organizações
enviam carta a Fernando Henrique Cardoso, reivindicam aprovação
do Estatuto das Sociedades Indígenas e apontam prejuízos
que o PL da Mineração causará às comunidades
indígenas.
A
regulamentação da exploração mineral em
terras indígenas deve estar contemplada no Estatuto das Sociedades
Indígenas, assegurando coerência com os demais temas
que se articulam com a atividade, respeitando, sobretudo, os direitos
dos índios. Este foi o apelo que a Comissão Pró-Yanomami
(CCPY), Instituto de Estudos Sócio-Econômicos (Inesc),
Instituto Socioambiental (Isa) e Centro de Trabalho Indigenista (CTI)
fizeram ao presidente da República, Fernando Henrique Cardoso,
dia 7 de junho, diante da possibilidade de aprovação,
pela Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias,
do projeto de lei do senador Romero Jucá, líder do governo,
dispondo sobre a exploração mineral em terras indígenas.
Na
carta, as organizações lembram ao presidente que o Estatuto
das Sociedades Indígenas foi aprovado, em Comissão Especial
da Câmara dos Deputados, e teve sua tramitação
paralisada em 1994. Nos últimos dois anos, o projeto tem sido
submetido a uma série de debates com as organizações
indígenas de todo o País, além de órgãos
governamentais, com o objetivo de avançar na tramitação
e aprovação da proposta. Mas, infelizmente, nenhuma
das contribuições conseguiu agilizar a sua apreciação
pelo Congresso Nacional.
As
organizações alertaram ainda para o grave risco a que
estarão expostas as populações indígenas
no caso de aprovação do Projeto da Mineração
dissociado do Estatuto. Milhares de requerimentos de autorização
de pesquisa protocolados no Departamento Nacional de Produção
Mineral (DNPM), antes da promulgação da Constituição,
poderiam tramitar simultaneamente, sem que os órgãos
competentes tivessem condições de fazer uma análise
criteriosa das conseqüências da sua aprovação.
Os índios, por sua vez, principais afetados com a atividade
mineradora, sequer poderiam dispor livremente dos recursos recebidos
em forma de compensação pelo ingresso das empresas em
seus territórios.
Diante
desses graves problemas, contidos no projeto de lei, as organizações
solicitaram ao presidente da República que incluísse
na pauta de prioridades do governo federal a aprovação
do Estatuto das Sociedades Indígenas, impedindo que “interesses
específicos sobreponham-se à proteção
dos direitos indígenas assegurados pela Constituição
Federal”.
Professores
e líderes Yanomami repudiam Projeto da Mineração
Professores
Yanomami elaboram carta repudiando a possibilidade de ingresso das
mineradoras em territórios indígenas.
Um
grupo de 74 professores Yanomami, participantes do Curso de Economia
e Ecologia, realizado de 16 de maio a 15 de junho, na Aldeia Ajuricaba,
no Rio Demini, município de Barcelos (AM), também manifestou
sua preocupação com a possibilidade de o Congresso Nacional
aprovar o Projeto da Mineração, de autoria do senador
Romero Jucá. No encerramento do curso, o grupo elaborou carta
apontando os riscos a que estarão expostos os povos indígenas
caso o Legislativo concorde com a proposição de Jucá.
A seguir, apresentamos na íntegra o documento dirigido ao presidente
da República, Fernando Henrique Cardoso e às presidências
da Câmara dos Deputados e do Senado Federal:
Kami pree
yanomae yama kithou hama.
Parahi
ki theri pëxë, Kohere pii thëri pëxë, Xotokoma
pii thëri pëxë, Kokoiu thëri pëxë, Apia
hiki thëri pëxë, Okarasi thëri pëxë,
Watori ki thëri pëxë, Wërama pii thëri pëxë,
Tihisi Pora thëri pëxë, Herama pii thëri pëxë,
Xoko tha thëri pëxë, Wayohoma pii thëri pëxë,
Sanuma thëri pëxë, Auaris thëri pëxë,
Koyo Pii thëri pëxë, Pakirao pë thëri pëxë,
Ërisi pii thëre pëxë, Xori thotho pii thëri
pëxë, Xiroxiro pii thëri pëxë, Haxi u thëri,
Okomo u thëri, Roko thëri, Komomasi pii thëri, Huxiana
thëri, Mraka pii thëri, Catimani thëri, Pora pii u
thëri, Kuisi pii thëri, Koronoia thëri, Saora thëri,
Pohoroa pihi wei tëri, Xamata u tëri, Pukima pi wei tëri,
Raita tëri, Ixima tëri, Kona Pima tëri, Ironasi tëri,
Parana tëri Urihi thëri pree pata thë pëxë,
Professores Yanomae yama kini hwei documento yama a thaprarema. Napë
pata pëhamë yama a ximai pihio yaro, kami Yanomae yama kini
napë Político yama e thë ã hiirema yaro, kami
Yanomae yama ki xuhurumoraema yaro, kami yama ki urihi pë hamë
Mineradoras pata a warokii tëhë urihi a wariarii yarohe,
kuë yaro pree Yanomae yama kini Mineradoras yama a peximaimi
kami Yanomae yama kini Mineradoras yama pë nakai mãoma
yaro yama pë peximaimi, kami Yanomae yama ki urihi pë kutaeni
yama ki urihi pë noamayuu, hwei yama thë urihi noamai mão
tëhë Mineradoras peni yama ki urihi pë wariarii yarohe.
Kami Yanomae yama ki nomai kõo pihioimi yaro napë pata
yama pë noa thai pihio kama pë urihi pë kua hikia yaro,
hwei kami yama ki urihi pë hamë yama pë ahetamai pihioimi,
kami Yanomae yama ki temi piriotii pihio yaro Pree Yanomae yama kini
napë pata yama wãa hiru puu hikia hapë naha napë
pata a kuma: Kami napë pata yama kini aho urihi yama a hehua
hikikema. Hapë ënaha napë pata a kuma, kami Yanomae
yama ki urihi pë hamë Governo patani tarohamë thëpë
pou, kami Yanomae yama kini heakahamë maxita urihi yama a pree
pou. Kuë yaro yama a yai kohi pë noamai pihitii yama ki
urihi pë noamai mão tëhë Xawara a pata warokii,
hura axë, Tuberculose axë, Pneumonia, Hepatite, Sarampo,
Catapora, Gonorréia, Aids, Poluição, destruição.
Pree thëpë waiowi yama thëpë ahetamai pihioimi.
Kuë yaro napë pata Governo Brasileiro wama ki ha hwei documento
Yanomae yama a taamai pihio documento Yanomae wama a ha taarini napë
pata wama kini Político wama ki wasuyora yuu. Yanomae yama
kixë urihi pë ha napë pata wama ki yama a pree noamai,
ihi tëhë yama ki pree temi pirioti.
Yanomami
dos Parahi ki thëri, Kohere pii thëri, Xotokoma pii thëri.
Kokoiu thëri, Apia hiki thëri Okarasi thëri Watori
ki thëri, Werama pii theri. Tihisi Pora thëri, Herama pii
thëri Xoko tha thëri, Wayohoma pii thëri, Sanuma thëri,
Auris thëri, Koyo pii thëri, Pakirao pë thëri.
Ërisi pii thëri, Xori thotho pii thëri, Xiroxiro pii
thëri, Haxi u thëri, Okomo u thëri, Roko thëri
Komomasi pii thëri, Huxiana thëri, Mraka pii, thëri,
Catimani thëri, Pora pii u thëri Kuisi pii thëri, Koronoia
thëri, Saora thëri Pohoroa pihi wei tëri Xamata u tëri,
Pukima pi wei tëri, Raita tëri, Ixima tëri, Kona Pima
tëri, Ironasi tëri, Parana tëri.
Davi
Kopenawa Yanomami; Dário Vitório Yanomami; Anselmo Xiropino
Yanomami; Daniel Mariri Yanomami; Eudes Koyorino Yanomami;Raimundo
Yanomami;Ivan Balawau Yanomami;Enio Mayanawa Yanomami; Apolo Yanomami
Parawau teri; Sanimao Atorina Yanomami; Turio Parawau Yanomami; Josias
Kanarii Yanomami; Denilson Yanomami; Rafael Yanomami; Antônio
Yanomami; Kirão Koyopi Yanomami; Juninho Yanomami; Gaucho Yanomami;
Márcio Hotopi Yanomami; Tanera Yanomami; Luis Yanomami Wëramapi;
Modesto Paraná; Rafael Wanari Yanomami; Emersão Yanomami;
Izaquiel Kona; Sidinei Nanari Yanomami; Resende Cardoso Sanöma;
Carlos Sanöma; Ribamar Sanöma; Claudio Sanöma; Manu
Sanöma; Roberto Sanöma; Edinho Paraná; Keny Karixa
Yanomami; Alfredo Himotono Yanomama; Expedito Yanomami; César
Yanomama; Jenivaldo Yanomama; Raimundo Yanomama; Cunhadinho Yanomama;
José Arari Yanomama; Antônio Tihiri Yanomama; Sarney
Hayari Yanomama; Amazonas Yanomami; Antônio Paquidari Dias;
Edgar Parahiteri; Manuel Ironasiteri; Neia Yanomami; Sandro Lúcio
Sanumá; Xaporita Yanomami; Aragão Yanomami; Anselmo
Yanomami; Gil Yanomami; Xial Yanomami; Onito; Geraldo Yanomami; Genivaldo
Yanomami; Luis; Samuel Pohoroa; Jorge Pohoroa; Leandro Yanomami; Rafael
Yanomami; André Yanomami; Iorato Yanomami; José Yanomami;
Pedrinho Yanomami; Otávio Yanomami
Ajuricaba,
15 de junho de 2002
TRADUÇÃO:
“Carta
dos Professores e líderes Yanomami ao Governo Brasileiro sobre
o projeto de lei de Mineração
Nós,
professores Yanomami, com as lideranças do nosso povo da floresta,
escrevemos este documento. Nós queremos mandá-lo para
os grandes homens dos brancos. Nós, Yanomami, ouvimos as palavras
dos políticos brancos [sobre a Lei de Mineração].
Estamos
inquietos porque se as mineradoras chegam até nossa terra,
elas vão destruí-la. Por isso, nós, Yanomami,
não queremos mineradoras. Não as chamamos e, portanto,
não as queremos aqui. Esta é nossa terra-floresta e
por isso nós a defenderemos. Se não fizermos isso, as
mineradoras vão querer acabar com ela. Nós, Yanomami,
não queremos recomeçar a morrer, por isso queremos falar
aos grandes homens dos brancos. Queremos dizer que eles já
têm terra suficiente, que não queremos deixar [as mineradoras]
se aproximarem da nossa porque queremos continuar a viver nela com
saúde para sempre.
Todos nós, Yanomami, guardamos no ouvido as palavras do chefe
dos brancos [durante a homologação da TI Yanomami em
1992]. Ele disse: <<nós, os grandes homens dos
brancos, já demarcamos sua terra>>. Disse também
que o Governo é dono da profundeza da nossa floresta [subsolo]
e que nós, Yanomami, também somos donos da terra na
sua parte de cima [solo]. Sendo assim, queremos continuar para sempre
a defender esta floresta deste jeito.
Se não a defendermos vão voltar as epidemias, a malária,
a tuberculose, a pneumonia, a hepatite, o sarampo, a catapora, a gonorréia,
a AIDS, a poluição, a destruição. Não
queremos deixar estas coisas perigosas se aproximarem novamente. Por
isso queremos que este documento seja lido a vocês, grandes
homens do Governo Brasileiro. Quando o tiverem lido, esperamos que
aconselhem os políticos a tomarem juízo. Nós,
Yanomami, e vocês, grandes homens dos brancos, vamos assim defender
juntos esta terra-floresta, então, todos nós vamos poder
viver com boa saúde por muito tempo.
Nós,
Yanomami, das seguintes aldeias nos reunimos e escrevemos estas palavras:
Yanomami dos Parahi ki thëri, Kohere pii thëri, Xotokoma
pii thëri. Kokoiu thëri, Apia hiki thëri Okarasi thëri
Watori ki thëri, Werama pii theri. Tihisi Pora thëri, Herama
pii thëri Xoko tha thëri, Wayohoma pii thëri, Sanuma
thëri, Auris thëri, Koyo pii thëri, Pakirao pë
thëri. Ërisi pii thëri, Xori thotho pii thëri,
Xiroxiro pii thëri, Haxi u thëri, Okomo u thëri, Roko
thëri Komomasi pii thëri, Huxiana thëri, Mraka pii,
thëri, Catimani thëri, Pora pii u thëri Kuisi pii thëri,
Koronoia thëri, Saora thëri Pohoroa pihi wei tëri Xamata
u tëri, Pukima pi wei tëri, Raita tëri, Ixima tëri,
Kona Pima tëri, Ironasi tëri, Parana tëri.”
(A tradução para o português foi feita por Bruce
Albert)
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