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Aumenta a invasão de garimpeiros na Terra Indígena Yanomami


Professores e agentes de saúde Yanomami têm curso de manutenção de sistemas de energia solar


Ministério Público mantém vedado a turistas o Parque Nacional do Pico da Neblina na Terra Indígena Yanomami


Survival International/Itália doa recursos ao programa de educação dos Yanomami



Aumenta a invasão de garimpeiros na Terra Indígena Yanomami

Os garimpeiros intensificaram suas invasões da área central da Terra Indígena Yanomami. Mais uma denúncia de líderes indígenas, com pedido de ajuda ao Administrador Regional de Roraima da Funai, Martinho Alves de Andrade, chegou dia 22 último ao escritório da Comissão Pró-Yanomami, em Boa Vista *.

Na mensagem enviada por Warixakina Yanomami Turahipi theri, desde 5 de agosto vários aviões têm decolado da região do Catrimani I (região da cabeceiras do alto rio Catrimani, RR) e estão sobrevoando continuamente esta região da terra indígena. Segundo o líder indígena, um número cada vez mais crescente de garimpeiros está transitando na área. Os Yanomami, diz ele, temem que doenças como malária, doenças cutâneas, pneumonia, tuberculose e gonorréia sejam novamente espalhadas entre eles pelos garimpeiros, como foi o caso durante a maciça invasão de suas terras por 35 a 40.000 garimpeiros no final dos anos oitenta. Temem também a introdução da AIDS.

A seguir a íntegra da mensagem:

Turahapi 9 dezembro de 2003

Eu estou enviando uma carta para que vocês prendam os aviões dos garimpeiros em Boa Vista.
No dia 5 de agosto os garimpeiros nos sobrevoaram (a região do Catrimani I).
No dia 6 de agosto outro avião nos sobrevoou
No dia 9 de setembro muitos aviões nos sobrevoaram e nós Yanomami ficamos muito preocupados e por isso eu estou enviando esta carta.
Agora são muitos aviões que estão voando por aqui e por isso eu estou enviando esta carta para você, Martinho. A situação é assim: muitos garimpeiros estão andando por aqui e nós estamos muito preocupados. Nós não queremos os garimpeiros e por isso eu estou enviando esta carta para você, Martinho.

Meu nome Warixakina Yanomami Turahipi theri

(Tradução feita por por Marcos Wesley Oliveira)

CARTA ORIGINAL:

Turahapi 9 dezembro de 2003

Awei, Boa Vistahami karipeiro wama pë avião pë huëri kaho napë wama kihami ya si ximai.
5 de agosto tëhë avião karipeiro haikema.
6 de agosto thë kuo tëhë ai mori a haia kokema.
9 de dezembro (deve ser setembro) thë kuo tëhë avião a wãroho haikema kuë yaro kami yanomami yama ki xuhurimu mahi yaro mihami ya si ximirema.

Awei, hei tëhë karipeiro pë avião pë wãroho mahi huu mahi kuë yaro Martinho kaho waehami ya si ximirema kuë yaro hapainaha thë kua heami karipeiro pë wãroho mahi huu mahi kuë yaro yama ki xuhurimu mahi kami yama kini karipeiro yama pë peximaimi kuë yaro kaho Martinho wahami ya si ximai kuë yaro kami yanomami yama ki xuhuri mahi.

Awei, hei tëhë kami ya xuhurimu yaro karipeiro wama ki peximaimi ihi pëni xawara pë mahi pëni malaria pëni xawarapë xuhutipë. Acora eles checa eu carimpeiro casta não muito AIDS conoveia pnemonia perculoso.

Inaha pëni kuë yaro kami yama ki xuhurimu mahi kuë yaro Martinho kaho waehami ya si ximirema hapainaha thë kua kami yanomami yama ki urihi pëhami kaho karipeiro wama ki huuwi thë kuaimi karipeiro wama ki peximaimi.
Maprarioma.
Meu nome Warixakina Yanomami Turahipi theri.

* Esta carta chegou no escritório da CCPY no dia 22 de setembro de 2003, trazida por um funcionário da ONG URIHI Saúde Yanomami. Tudo indica que a carta foi escrita no 09 de setembro.


Professores e agentes de saúde Yanomami têm curso de manutenção de sistemas de energia solar

Um grupo de 19 Yanomami, entre professores e agentes de saúde, das áreas Demini, Parawa u, Toototobi, Homoxi, Surucucus, Hakoma e Paapiú, participou do primeiro curso preparatório para manutenção de sistemas de energia solar, realizado de 1º a 4 de setembro. A pedido da Comissão Pró-Yanomami (CCPY), o curso foi promovido pelo engenheiro de energia solar, Jörgdieter Anhal, do Instituto de Desenvolvimento de Energias Renováveis (IDER)- Ceará, responsável pela instalação dos sistemas em alguns postos da Terra Yanomami. Anhal contou com a colaboração dos assessores Luís Fernando Pereira e Simone de Cássia Ribeiro do programa de educação da CCPY.

O curso teve por objetivo dar maior autonomia aos Yanomami no gerenciamento das infraestruturas dos postos de atendimento instalados em sua terra. Estes postos contam com sistemas de captação e armazenamento de energia solar para contemplar as necessidades dos programas de saúde, educação e resgate ambiental desenvolvidas em prol das comunidades por profissionais yanomami e não-yanomami. A energia solar é uma solução racional e não poluente, ao contrário do uso de geradores movidos a óleo diesel.

Como resultado do curso, a primeira instalação de um sistema de energia solar por técnicos yanomami terá lugar em Paapiú pelos dois representantes da região presentes no curso. Os outros técnicos yanomami usarão seus conhecimentos para assegurar a manutenção de sistemas já existentes nos postos de suas regiões.O tema do curso exigiu dos Yanomami a aprendizagem de conceitos técnicos complexos e rendeu excelentes resultados graças à didática utilizada, que realçou o valor da prática. Os participantes montaram sistemas de energia solar completos, contando com material traduzido para suas línguas sobre todos os procedimentos necessários.

No processo de reinterpretação de conceitos técnicos, como captação de energia solar, voltagem e amperagem, além das denominações dos componentes do sistema, os Yanomami elaboraram textos explicativos na sua língua e esquemas específicos, contribuindo, assim, para aperfeiçoar a primeira versão do manual de energia solar yanomami que está sendo elaborado na sua língua.

Ao término dos trabalhos, os grupos de alunos levaram às suas respectivas regiões uma caixa contendo ferramentas como multímetro, chaves de fenda, inglesa e de boca, alicate, canivete e descascador, de modo a dar continuidade aos trabalhos e fazer a manutenção dos sistemas solares já instalados.


Ministério Público mantém vedado a turistas o Parque Nacional do Pico da Neblina na Terra Indígena Yanomami

O procurador da República no estado do Amazonas, Peterson de Paula Pereira, determinou, por meio da Portaria 9 de 13 de agosto último, a abertura de inquérito civil público para apurar possíveis irregularidades ou eventuais atos de improbidade administrativa referentes ao ingresso de turistas na área do Parque Nacional do Pico da Neblina que incide na Terra Indígena Yanomami (TIY).

O procurador determinou também que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) seja informado sobre a necessidade de manter suspensas as visitas de turistas ao parque devido à sua sobreposição com a TIY. A Polícia Federal deverá ser igualmente informada sobre o fato de que a entrada de pessoas não autorizadas naquela unidade de conservação constitui crime previsto na Lei 9.605/2000.

O acesso ao Pico da Neblina está suspenso há dois anos. A decisão foi motivada por denúncias da antropóloga Maria Inês Smiljanic Borges, da Universidade Federal do Sergipe. Em novembro de 2000, a antropóloga informou à procuradora regional da República da Sexta Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal, Deborah Macedo Duprat de Britto Pereira, sobre o ingresso de turistas nacionais e estrangeiros na Terra Indígena Yanomami. A denúncia motivou a abertura de processo investigativo e a cobrança de explicações à Fundação Nacional do Índio.


Survival International/Itália doa recursos ao programa de educação dos Yanomami

A Associação Survival International/Itália fez uma doação de 5 mil euros ao Programa de Educação Intercultural (PEI), desenvolvido pela Comissão Pró-Yanomami, cumprindo o compromisso assumido pelos funcionários da Assessoria de Cultura e de Cooperação Internacional da Província de Padova. Essa doação é um dos resultados da viagem de Davi Kopenawa, Dário Vitório Yanomami e Joseca Mokahesi Porounahikïthëri, organizada pela Survival International/Itália e a CCPY em maio deste ano (ver Boletim nº 40).

Os Yanomami, acompanhados de Fiona Watson (Survival International/Inglaterra), Francesca Casella (Survival International/Itália) e Carlos Zacquini (do Conselho Diretor daCCPY), tiveram na Itália uma série de encontros com representantes da imprensa e diversos agentes políticos e administrativos locais. Em todas as ocasiões, eles apresentaram os avanços do PEI, implantado em 34 aldeias da Terra Indígena Yanomami pela CCPY.

Em Padova, os funcionários da Assessoria de Cultura e de Cooperação Internacional não somente se comprometeram a fazer uma doação ao PEI, como também a divulgar o projeto em todas as prefeituras da província (118 no total), sugerindo que cada uma delas também colaborasse financeiramente com o PEI.

Da Província de Padova, os Yanomami seguiram para Milão onde apresentaram o programa de educação a representantes do governo da Prefeitura de Milão, da Província de Milão e da Região da Lombardia. A partir desses contatos, abriram-se perspectivas de apoio também dessas instituições às ações do PEI. As palestras dos Yanomami tiveram uma boa repercussão na mídia local, o que, sem dúvida, contribuirá para incentivar as instituições locais a apoiar os projetos que beneficiam os Yanomami.


..Coordenação Editorial: Alcida Rita Ramos, Bruce Albert, Jô Cardoso de Oliveira


 

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