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Yanomami participam de intercâmbios patrocinados pela RCA-Brasil

Cláudia Andujar receberá o prêmio Severo Gomes

Os Yanomami na comemoração dos 90 anos de Tomie Ohtake em São Paulo
Projetos Yanomami são visitados por financiadores
Doação ao projeto de educação Yanomami



Yanomami participam de intercâmbios patrocinados pela RCA-Brasil

A Comissão Pró-Yanomami (CCPY), assim como outras organizações não-governamentais, integram a Rede de Cooperação Alternativa- Brasil (RCA-Brasil), criada para permitir que as associações indígenas e ONGs parceiras possam ter voz nas políticas públicas que incidem sobre os direitos e interesses indígenas, principalmente nos setores educativo, ambiental e do desenvolvimento sustentável. O projeto de intercâmbio das ONGs pretende contribuir para a superação das desigualdades sócioculturais que afetam os povos indígenas, permitindo que eles sejam atores na elaboração das políticas públicas para os setores social, ambiental e cultural nas regiões em que vivem. A proposta visa estimular a troca de experiências entre as comunidades indígenas e seus projetos, promovendo encontros temáticos para produzir e divulgar informações entre si. Foi neste contexto que vários Yanomami participaram recentemente de encontros no Parque Indígena do Xingu, bem como nas áreas Tikuna (AM) e Guarani (SP).

Visita ao Parque Indígena do Xingu-PIX
A devastação da floresta das matas ciliares, a poluição dos rios e a pressão das plantações de soja sobre as terras indígenas impressionaram os professores Ênio e Marinaldo Yanomami, que visitaram o Parque Indígena do Xingu juntamente com Davi Kopenawa. Os docentes yanomami, acompanhados pela assessora de educação Simone de Cássia Ribeiro (CCPY), tiveram contato durante a viagem com outras formas de aprendizado para o magistério indígena, participando dos cursos ministrados no PIX sob a égide da ATIX (Associação Terra Indígena Xingú) e do ISA (Instituto Socioambiental).

Davi Kopenawa, por sua vez, cumpriu uma missão diplomática ao atender convite feito pelas lideranças xinguanas, algumas das quais recém-visitantes da sua aldeia, Watoriki (Demini). Diante da importância política da viagem, os professores seguiram Davi Kopenawa em toda sua visita as aldeias do PIX. Eles conheceram assim outras formas indígenas de organização social, política e econômica. A presença de Davi no curso de formação de professores xinguanos foi avaliada por todos como altamente relevante, em vista do seu enfático discurso a favor da escola indígena.

As extensas lavouras de soja em torno do Parque Indígena do Xingu e seu impacto no meio ambiente regional foram temas constantes das conversas formais e informais entre visitantes Yanomami e os grupos xinguanos. Os Yanomami testemunharam também um encontro entre os líderes indígenas do Xingu e o governo de Mato Grosso e onze prefeitos dos municípios do entorno do PIX. Os líderes indígenas do PIX manifestaram aos políticos a insatisfação das suas comunidades com a relação predadora dos fazendeiros com os recursos naturais, principalmente com os rios, hoje poluídos em suas cabeceiras pelos resíduos de agrotóxicos aplicados nas lavouras, provocando a morte de animais de caça e de peixes. Os índios xinguanos denunciaram também as constantes invasões das suas terras por madeireiros e fazendeiros que tentam ampliar suas propriedades, ameaçando-os de morte caso as comunidades resistam às estas invasões. Os líderes indígenas exigiram das autoridades — governadores e prefeitos — a recuperação ambiental das matas ciliares e a garantia do respeito à distância legal que as fazendas têm que ter das margens dos rios. Os Yanomami ficaram muito interessados no sistema de vigilância dos índios xinguanos sobre suas terras. No Posto Diauarum, o líder Mairawê Kayabi, presidente da ATIX, convidou Davi Yanomami para um sobrevôo de inspeção a fim de averiguar uma denúncia de invasão no parque. Embora a reclamação não tenha se confirmado, Davi pôde observar como os índios do Xingu realizam o trabalho de vigilância sobre os limites do seu território. Chamou também a atenção dos Yanomami as associações indígenas existentes no PIX, instrumento social com o qual as comunidades indígenas do PIX começaram a reforçar sua autonomia no gerenciamento de atividades, serviços e recursos no contexto do seu relacionamento com a sociedade envolvente. Os jovens professores yanomami e Davi Kopenawa tiveram contato com várias dessas associações que têm diferentes finalidades, desde a venda de artesanatos, passando pelo resgate das tradições culturais até a vigilância das terras, construção de escolas e pagamento de salários de professores.

Visita aos Ticuna (AM)
Dois outros professores Yanomami —Koyorino Watoriki e José Arari Pakirapiu, acompanhados do assessor de educação da CCPY Maurice Tomioka Nilsson— participaram do curso de formação de professores Ticuna, Kokama e Kaixana no Amazonas. O curso reuniu cerca de 400 participantes. Esse elevado número explica-se pelo fato dos Ticuna serem considerados o grupo indígena mais numeroso do país, com quase 41 mil pessoas, distribuídas em 23 terras indígenas na região norte do Amazonas. Outros nove mil Ticuna vivem na Colômbia e no Peru. O grupo também é pioneiro na área da educação indígena no Brasil em função da sua longa experiência de contato com os Brancos e do dinamismo das lutas pelos seus direitos.

Os Tikuna começaram a lutar pela garantia de suas terras desde o fim dos anos 70 e fundaram uma das primeiras associações indígenas do país em 1982, o CGTT (Conselho Geral da Tribo Ticuna). Nos anos 80 foram frustrados na demarcação de uma área contínua, porém reconquistaram, em plena região do Projeto militar “Calha Norte”, os seus direitos sobre um importante conjunto de terras. Essa luta de reconquista, marcada pelo massacre do Capacete (1988), deixou claro até que ponto os inimigos dos Ticuna - os fazendeiros e madeireiros locais interessados na exploração de suas florestas – eram capaz de chegar, que tipo de barbaridades eram capazes de cometer. Os professores Yanomami tiveram contato com relatos desta realidade que tem vários pontos comuns com a história do seu povo, vítima das investidas criminosas dos garimpeiros (o massacre de Haximu em 1993), os quais também disseminaram doenças na Terra Yanomami ao ponto de provocar a morte de 13% da população Yanomami no fim dos anos 80. Mas, ao lado dessas lembranças amargas, olhando para o futuro, os professores Yanomami puderam conhecer, além dos cursos do projeto de educação tikuna, sua importante biblioteca e seus projetos de pesquisas sobre tradição oral, bem como participar de oficinas de arte, voltadas à produção de material didático.

Visita aos Guarani (SP)
Outros professores Yanomami, Pedrinho Yanomami, da região do Demini, e Jerônimo Yanomami, da região do Toototobi, acompanhados do Coordenador do Programa Ambiental da CCPY, Ednelson (Makuxi) Souza Pereira, visitaram três aldeias Guarani, em São Paulo: Krukutu, Barragem e Boa Vista.


Cláudia Andujar receberá o prêmio Severo Gomes

A fotógrafa Cláudia Andujar foi escolhida para receber o Quinto Prêmio Severo Gomes, que será concedido pela Comissão Teotônio Viela de Direitos Humanos, pelo seu comprometimento não apenas com a arte, mas também com a questão indígena, sobretudo com os Yanomami. A entrega da premiação será no evento comemorativo dos 20 anos da Comissão Teotônio Vilela que acontecerá no próximo dia 28, no Memorial da América Latina, em São Paulo. O evento será aberto pelo secretário Especial de Direitos Humanos, Nilmário Miranda. Participam também do evento, o secretário-executivo da Comissão Nacional Consultativa de Direitos Humanos da França, Gerard Fellous, o presidente do Memorial da América Latina, José Henrique Lobo, o coordenador do Núcleo de Estudos da Violência da USP, Sérgio Adorno, padre Agostinho Duarte de Oliveira, da Comissão Teotônio Vilela e Hubert Anquêres, diretor-presidente da Imprensa Oficial.

O prêmio Severo Gomes foi criado em 1993, como forma de homenagear simbolicamente personalidades que se destacam na luta pelos direitos humanos. Já foram agraciados o ex-procurador-geral da República, Aristide Junqueira, Caio Ferraz e os bispos Aloísio Lorscheider e dom Paulo Evaristo Arns. A entrega do prêmio à Cláudia Andujar foi a forma encontrada pela Comissão Teotônio Vilela de homenagear também o senador Severo Gomes e de relembrar a sua história em defesa dos povos indígenas e, em especial, a sua dedicação à questão dos Yanomami.


Os Yanomami na comemoração dos 90 anos de Tomie Ohtake em São Paulo

Fotografias inéditas de autoria de Cláudia Andujar, inspirada do universo xamânico yanomami, desenhos yanomami e objetos tradicionais deste povo indígena tiveram um lugar de destaque na exposição "Na Trama Espiritual da Arte Brasileira", aberta dia 18 de novembro, em São Paulo, em comemoração aos 90 anos da artista plástica Tomie Ohtake, com curadoria de Paulo Herkendhoff. A mostra está sendo apresentada no Instituto que leva o nome da artista até 11 de janeiro de 2004.

Os desenhos yanomami são de autoria de Orlando Yanomami, habitante da antiga aldeia de Manihipi, região do rio Catrimani (Roraima). Orlando morreu em 1977, com 18 anos de idade, vítima de uma epidemia de sarampo. Os artefatos yanomami foram coletados por Carlos Zacquini. Conforme o curador Herkendhoff, a mostra não constitui uma retrospectiva dos trabalhos da Tomie Ohtake, mas reúne, além de obras da artista, 150 trabalhos de 44 artistas, incluindo nomes como Aleijadinho, Tarsila do Amaral, Oscar Niemeyer, Lasar Segall, Nelson Leirner e Emanoel Araújo. A sala que expões as fotos de Claudia Andujar acompanhadas de desenhos e objetos Yanomami foi concebida pelo curador da exposição para colocar a espiritualidade dos xamãs yanomami em relação com o trabalho de Tomie Ohtake.

Ver o site: http://www1.uol.com.br/diversao/arte/album/tomie_album.htm


Projetos de campo da CCPY na Terra Indígena Yanomami são visitados por financiadores

Projeto de Educação
Durante a visita oficial ao Brasil do casal real da Noruega, Harald V e Sonja, uma comitiva da delegação oficial, formada por Olav Kjorven (primeiro Vice-ministro), Ola Brevik (assessor do Vice-ministro), Hilde Salverson (Norad), Lars Lovold (Rainforest Foundation da Noruega) e pelos jornalistas Ame Halvorson e Anne Fredrikstad, visitou a aldeia Yanomami de Demini, no início de outubro de 2003. A Noruega financia, por meio da Norad (agência de cooperação) e da Rainforest Foundation daquele país, o Projeto de Educação Intercultural Yanomami (PEI), desenvolvido pela Comissão Pró-Yanomami em 7 regiões da terra Indígena Yanomami (com 35 escolas) e o Programa Institucional da CCPY desenvolvido em Brasília (divulgação política e cultural, monitoramento de políticas públicas, apoio político e jurídico aos Yanomami).

A delegação norueguesa manifestou seu contentamento com a qualidade das condições de vida dos Yanomami da aldeia do Demini, destacando o fato do grupo gozar de boa alimentação e força cultural, bem como de escola (pela CCPY) e atendimento à saúde (pela URIHI Saúde Yanomami, ONG parceira da CCPY) de boa qualidade. Os visitantes noruegueses registraram na ocasião sua satisfação pelo fato que seu apoio a CCPY contribui diretamente ao bem-estar dos Yanomami da região. Depois de conhecer a realidade do Demini, transformada pela atuação da CCPY e a URIHI ao longo dos anos, a delegação norueguesa viajou para Homoxi, uma das áreas mais atingidas pelo garimpo nos anos 80 e 90 e onde a CCPY e a URIHI têm um trabalho mais recente (desde 2000) . Puderam assim testemunhar in loco uma situação onde o investimento em saúde, educação e recuperação ambiental necessário para se chegar a uma qualidade de vida comparável a área de Demini é ainda considerável. Assim, o cenário do Homoxi deixou claro que se a região continua tendo um apoio significativo, em alguns anos poderá atingir as condições de vida semelhantes às de Demini. No encerramento do encontro, o Vice-ministro Olav Kjorven disse estar impressionado com a visita às aldeias Yanomami e anunciou sua intenção de ampliar os recursos destinados ao programa Povos Indígenas da agência de cooperação norueguesa (Norad) no Brasil a partir de 2005.

Projeto ambiental
Outro projeto visitado por financiadores foi o Projeto agroflorestal Yanomami (PAY), uma experiência nova da Comissão Pró-Yanomami no quadro do seu Programa ambiental. Este projeto tem por objetivos: 1) incentivar o plantio de árvores frutíferas em áreas degradadas ou de crescente densidade demográfica, introduzindo, quando necessário, novas tecnologias de produção; 2) promover intercâmbios entre os Yanomami e outros grupos indígenas com experiência agroflorestal e, enfim, 3) a elaboração de um manual agroflorestal Yanomami. O PAY começou a ser desenvolvido em duas regiões - Demini e Toototobi - atingindo cerca de 450 yanomami, com financiamento do PDA - Subprograma dos Projetos Demonstrativos, que é parte do PPG-7 (Programa Piloto de Proteção das Florestas Tropicais do Brasil), da Secretaria de Coordenação da Amazônia do Ministério do Meio Ambiente.

O PAY foi recentemente avaliado pela técnica Mara Vanessa Dutra, do PDA/Ministério do Meio Ambiente, que adiantou ter considerado a sua execução muito boa tanto no Demini quanto no Toototobi, apesar das diferenças entre as aldeias. Um dos aspectos positivos destacados é o fato da equipe da CCPY falar a língua Yanomami, qualificado como um "diferencial" em relação a outros projetos semelhantes.

Pelas informações recebidas na monitoria, a avaliadora percebeu que o PAY deu um salto de qualidade no último ano. O intercâmbio com outros grupos indígenas do Acre favoreceu uma mudança de rumo: a formação de um grupo de agentes florestais yanomami, responsáveis pela implementação do projeto. Embora não fosse um objetivo inicial explícito do projeto, o processo de formação desse grupo, que atua também como agente mobilizador dentro da comunidade, é um desdobramento positivo do projeto, índice da sua apropriação social pelas comunidades Yanomami.

A execução do projeto envolvendo esses agentes florestais começa a abrir uma discussão sobre uma nova relação das aldeias yanomami com os recursos da floresta. Os Yanomami estão ficando cientes dos problemas ambientais que poderão decorrer do seu crescimento populacional e crescente processo de sedentarização. ºPor exemplo, os yanomami estão começando a coletar sementes e mudas de frutíferas silvestres que são replantadas mais próximas das aldeias, com a finalidade de colocar novos recursos alimentícios a disposição das crianças, mulheres e idosos.

Na prática, os índios estão criando métodos de plantio a partir da observação da natureza e das informações repassadas pelo coordenador do Programa ambiental da CCPY. Estão realizando experiências de plantio de árvores, com consorciamentos e espaçamentos definidos por eles. “É um jeito yanomami de fazer esses quintais agroflorestais”, disse Mara Vanessa, a avaliadora do PDA, que elogiou o coordenador da CCPY pela sua dedicação com o trabalho e identidade com os yanomami. Outro aspecto interessante notado pela Mara Vanessa é o fato de que os Yanomami são muito abertos ao cultivo experimental de árvores frutíferas desconhecidas por eles.

Outro processo interno ao projeto que chamou também a atenção da avaliadora e mereceu especiais elogios é a “rede de solidariedade” das comunidades envolvidas no PAY (Toototobi e Demini) com as aldeias de região de Homoxi, uma das mais degradadas pela ação dos garimpeiros nas ultimas décadas. De fato, os Yanomami do Demini e Toototobi estão apoiando as aldeias de Homoxi mandando para elas mudas de árvores e palmeiras ubim (espécie típica para a construção da maloca yanomami), diante da precariedade de recursos naturais à disposição das famílias daquela região devastada pelos garimpos.

O projeto agro-florestal da CCPY apoiado pelo PDA criou finalmente uma base para o desenvolvimento de um novo projeto da CCPY, desta vez financiado pelo PDPI – Projetos Demonstrativos dos Povos Indígenas. Este novo projeto é voltado à criação de abelhas e à produção de mel e vem complementar o projeto anterior com o desenvolvimento na Terra Yanomami de uma meliponicultura e apicultura indígena a partir de uma primeira experiência na aldeia de Demini.


Doação individual ao projeto de educação dos Yanomami

O Programa de educação da Comissão Pró-Yanomami, recebeu recentemente uma doação individual de US$ 2.500. A contribuição, repassada pela ONG Cultural Survival, foi dada por Cameron McCauley, cidadão americano que, com sua esposa brasileira Angela, dedicaram vários anos de trabalho em favor da saúde Yanomami em projetos da CCPY e da URIHI.. Esta doação foi feita no contexto da visita dos professores Antonio Yanomami (aldeia Ajuricaba) e Dario Yanomami (aldeia Demini), acompanhados do coordenador do Programa de educação da CCPY, Marcos Oliveira, à cidade de Cambridge (MA), nos Estados Unidos em novembro do ano passado a convite da Cultural Survival, entidade norte-americana de defesa das minorias étnicas. Em Cambridge os professores Yanomami em formação encontraram-se com professores e estudantes da cidade para divulgar sua cultura, as lutas pelos seus direitos e seu programa escolar em língua Yanomami.


..Coordenação Editorial: Alcida Rita Ramos, Bruce Albert, Jô Cardoso de Oliveira


 

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