Yanomami
participam de intercâmbios patrocinados pela RCA-Brasil
A
Comissão Pró-Yanomami (CCPY), assim como outras
organizações não-governamentais, integram
a Rede de Cooperação Alternativa- Brasil (RCA-Brasil),
criada para permitir que as associações indígenas
e ONGs parceiras possam ter voz nas políticas públicas
que incidem sobre os direitos e interesses indígenas, principalmente
nos setores educativo, ambiental e do desenvolvimento sustentável.
O projeto de intercâmbio das ONGs pretende contribuir para
a superação das desigualdades sócioculturais
que afetam os povos indígenas, permitindo que eles sejam
atores na elaboração das políticas públicas
para os setores social, ambiental e cultural nas regiões
em que vivem. A proposta visa estimular a troca de experiências
entre as comunidades indígenas e seus projetos, promovendo
encontros temáticos para produzir e divulgar informações
entre si. Foi neste contexto que vários Yanomami participaram
recentemente de encontros no Parque Indígena do Xingu,
bem como nas áreas Tikuna (AM) e Guarani (SP).
Visita
ao Parque Indígena do Xingu-PIX
A devastação da floresta das matas ciliares, a poluição
dos rios e a pressão das plantações de soja
sobre as terras indígenas impressionaram os professores
Ênio e Marinaldo Yanomami, que visitaram o Parque Indígena
do Xingu juntamente com Davi Kopenawa. Os docentes yanomami, acompanhados
pela assessora de educação Simone de Cássia
Ribeiro (CCPY), tiveram contato durante a viagem com outras formas
de aprendizado para o magistério indígena, participando
dos cursos ministrados no PIX sob a égide da ATIX (Associação
Terra Indígena Xingú) e do ISA (Instituto Socioambiental).
Davi Kopenawa, por sua vez, cumpriu uma missão diplomática
ao atender convite feito pelas lideranças xinguanas, algumas
das quais recém-visitantes da sua aldeia, Watoriki (Demini).
Diante da importância política da viagem, os professores
seguiram Davi Kopenawa em toda sua visita as aldeias do PIX. Eles
conheceram assim outras formas indígenas de organização
social, política e econômica. A presença de
Davi no curso de formação de professores xinguanos
foi avaliada por todos como altamente relevante, em vista do seu
enfático discurso a favor da escola indígena.
As extensas lavouras de soja em torno do Parque Indígena
do Xingu e seu impacto no meio ambiente regional foram temas constantes
das conversas formais e informais entre visitantes Yanomami e
os grupos xinguanos. Os Yanomami testemunharam também um
encontro entre os líderes indígenas do Xingu e o
governo de Mato Grosso e onze prefeitos dos municípios
do entorno do PIX. Os líderes indígenas do PIX manifestaram
aos políticos a insatisfação das suas comunidades
com a relação predadora dos fazendeiros com os recursos
naturais, principalmente com os rios, hoje poluídos em
suas cabeceiras pelos resíduos de agrotóxicos aplicados
nas lavouras, provocando a morte de animais de caça e de
peixes. Os índios xinguanos denunciaram também as
constantes invasões das suas terras por madeireiros e fazendeiros
que tentam ampliar suas propriedades, ameaçando-os de morte
caso as comunidades resistam às estas invasões.
Os líderes indígenas exigiram das autoridades —
governadores e prefeitos — a recuperação ambiental
das matas ciliares e a garantia do respeito à distância
legal que as fazendas têm que ter das margens dos rios.
Os Yanomami ficaram muito interessados no sistema de vigilância
dos índios xinguanos sobre suas terras. No Posto Diauarum,
o líder Mairawê Kayabi, presidente da ATIX, convidou
Davi Yanomami para um sobrevôo de inspeção
a fim de averiguar uma denúncia de invasão no parque.
Embora a reclamação não tenha se confirmado,
Davi pôde observar como os índios do Xingu realizam
o trabalho de vigilância sobre os limites do seu território.
Chamou também a atenção dos Yanomami as associações
indígenas existentes no PIX, instrumento social com o qual
as comunidades indígenas do PIX começaram a reforçar
sua autonomia no gerenciamento de atividades, serviços
e recursos no contexto do seu relacionamento com a sociedade envolvente.
Os jovens professores yanomami e Davi Kopenawa tiveram contato
com várias dessas associações que têm
diferentes finalidades, desde a venda de artesanatos, passando
pelo resgate das tradições culturais até
a vigilância das terras, construção de escolas
e pagamento de salários de professores.
Visita
aos Ticuna (AM)
Dois
outros professores Yanomami —Koyorino Watoriki e José
Arari Pakirapiu, acompanhados do assessor de educação
da CCPY Maurice Tomioka Nilsson— participaram do curso de
formação de professores Ticuna, Kokama e Kaixana
no Amazonas. O curso reuniu cerca de 400 participantes. Esse elevado
número explica-se pelo fato dos Ticuna serem considerados
o grupo indígena mais numeroso do país, com quase
41 mil pessoas, distribuídas em 23 terras indígenas
na região norte do Amazonas. Outros nove mil Ticuna vivem
na Colômbia e no Peru. O grupo também é pioneiro
na área da educação indígena no Brasil
em função da sua longa experiência de contato
com os Brancos e do dinamismo das lutas pelos seus direitos.
Os
Tikuna começaram a lutar pela garantia de suas terras desde
o fim dos anos 70 e fundaram uma das primeiras associações
indígenas do país em 1982, o CGTT (Conselho Geral
da Tribo Ticuna). Nos anos 80 foram frustrados na demarcação
de uma área contínua, porém reconquistaram,
em plena região do Projeto militar “Calha Norte”,
os seus direitos sobre um importante conjunto de terras. Essa
luta de reconquista, marcada pelo massacre do Capacete (1988),
deixou claro até que ponto os inimigos dos Ticuna - os
fazendeiros e madeireiros locais interessados na exploração
de suas florestas – eram capaz de chegar, que tipo de barbaridades
eram capazes de cometer. Os professores Yanomami tiveram contato
com relatos desta realidade que tem vários pontos comuns
com a história do seu povo, vítima das investidas
criminosas dos garimpeiros (o massacre de Haximu em 1993), os
quais também disseminaram doenças na Terra Yanomami
ao ponto de provocar a morte de 13% da população
Yanomami no fim dos anos 80. Mas, ao lado dessas lembranças
amargas, olhando para o futuro, os professores Yanomami puderam
conhecer, além dos cursos do projeto de educação
tikuna, sua importante biblioteca e seus projetos de pesquisas
sobre tradição oral, bem como participar de oficinas
de arte, voltadas à produção de material
didático.
Visita
aos Guarani (SP)
Outros
professores Yanomami, Pedrinho Yanomami, da região do Demini,
e Jerônimo Yanomami, da região do Toototobi, acompanhados
do Coordenador do Programa Ambiental da CCPY, Ednelson (Makuxi)
Souza Pereira, visitaram três aldeias Guarani, em São
Paulo: Krukutu, Barragem e Boa Vista.
Cláudia
Andujar receberá o prêmio Severo Gomes
A
fotógrafa Cláudia Andujar foi escolhida para receber
o Quinto Prêmio Severo Gomes, que será concedido pela
Comissão Teotônio Viela de Direitos Humanos, pelo seu
comprometimento não apenas com a arte, mas também
com a questão indígena, sobretudo com os Yanomami.
A entrega da premiação será no evento comemorativo
dos 20 anos da Comissão Teotônio Vilela que acontecerá
no próximo dia 28, no Memorial da América Latina,
em São Paulo. O evento será aberto pelo secretário
Especial de Direitos Humanos, Nilmário Miranda. Participam
também do evento, o secretário-executivo da Comissão
Nacional Consultativa de Direitos Humanos da França, Gerard
Fellous, o presidente do Memorial da América Latina, José
Henrique Lobo, o coordenador do Núcleo de Estudos da Violência
da USP, Sérgio Adorno, padre Agostinho Duarte de Oliveira,
da Comissão Teotônio Vilela e Hubert Anquêres,
diretor-presidente da Imprensa Oficial.
O prêmio Severo Gomes foi criado em 1993, como forma de homenagear
simbolicamente personalidades que se destacam na luta pelos direitos
humanos. Já foram agraciados o ex-procurador-geral da República,
Aristide Junqueira, Caio Ferraz e os bispos Aloísio Lorscheider
e dom Paulo Evaristo Arns. A entrega do prêmio à Cláudia
Andujar foi a forma encontrada pela Comissão Teotônio
Vilela de homenagear também o senador Severo Gomes e de relembrar
a sua história em defesa dos povos indígenas e, em
especial, a sua dedicação à questão
dos Yanomami.
Os
Yanomami na comemoração dos 90 anos de Tomie Ohtake
em São Paulo
Fotografias
inéditas de autoria de Cláudia Andujar, inspirada
do universo xamânico yanomami, desenhos yanomami e objetos
tradicionais deste povo indígena tiveram um lugar de destaque
na exposição "Na Trama Espiritual da Arte Brasileira",
aberta dia 18 de novembro, em São Paulo, em comemoração
aos 90 anos da artista plástica Tomie Ohtake, com curadoria
de Paulo Herkendhoff. A mostra está sendo apresentada no
Instituto que leva o nome da artista até 11 de janeiro de
2004.
Os desenhos yanomami são de autoria de Orlando Yanomami,
habitante da antiga aldeia de Manihipi, região do rio Catrimani
(Roraima). Orlando morreu em 1977, com 18 anos de idade, vítima
de uma epidemia de sarampo. Os artefatos yanomami foram coletados
por Carlos Zacquini. Conforme o curador Herkendhoff, a mostra não
constitui uma retrospectiva dos trabalhos da Tomie Ohtake, mas reúne,
além de obras da artista, 150 trabalhos de 44 artistas, incluindo
nomes como Aleijadinho, Tarsila do Amaral, Oscar Niemeyer, Lasar
Segall, Nelson Leirner e Emanoel Araújo. A sala que expões
as fotos de Claudia Andujar acompanhadas de desenhos e objetos Yanomami
foi concebida pelo curador da exposição para colocar
a espiritualidade dos xamãs yanomami em relação
com o trabalho de Tomie Ohtake.
Ver
o site: http://www1.uol.com.br/diversao/arte/album/tomie_album.htm
Projetos
de campo da CCPY na Terra Indígena Yanomami são visitados
por financiadores
Projeto
de Educação
Durante a visita oficial ao Brasil do casal real da Noruega, Harald
V e Sonja, uma comitiva da delegação oficial, formada
por Olav Kjorven (primeiro Vice-ministro), Ola Brevik (assessor
do Vice-ministro), Hilde Salverson (Norad), Lars Lovold (Rainforest
Foundation da Noruega) e pelos jornalistas Ame Halvorson e Anne
Fredrikstad, visitou a aldeia Yanomami de Demini, no início
de outubro de 2003. A Noruega financia, por meio da Norad (agência
de cooperação) e da Rainforest Foundation daquele
país, o Projeto de Educação Intercultural Yanomami
(PEI), desenvolvido pela Comissão Pró-Yanomami em
7 regiões da terra Indígena Yanomami (com 35 escolas)
e o Programa Institucional da CCPY desenvolvido em Brasília
(divulgação política e cultural, monitoramento
de políticas públicas, apoio político e jurídico
aos Yanomami).
A delegação norueguesa manifestou seu contentamento
com a qualidade das condições de vida dos Yanomami
da aldeia do Demini, destacando o fato do grupo gozar de boa alimentação
e força cultural, bem como de escola (pela CCPY) e atendimento
à saúde (pela URIHI Saúde Yanomami, ONG parceira
da CCPY) de boa qualidade. Os visitantes noruegueses registraram
na ocasião sua satisfação pelo fato que seu
apoio a CCPY contribui diretamente ao bem-estar dos Yanomami da
região. Depois de conhecer a realidade do Demini, transformada
pela atuação da CCPY e a URIHI ao longo dos anos,
a delegação norueguesa viajou para Homoxi, uma das
áreas mais atingidas pelo garimpo nos anos 80 e 90 e onde
a CCPY e a URIHI têm um trabalho mais recente (desde 2000)
. Puderam assim testemunhar in loco uma situação onde
o investimento em saúde, educação e recuperação
ambiental necessário para se chegar a uma qualidade de vida
comparável a área de Demini é ainda considerável.
Assim, o cenário do Homoxi deixou claro que se a região
continua tendo um apoio significativo, em alguns anos poderá
atingir as condições de vida semelhantes às
de Demini. No encerramento do encontro, o Vice-ministro Olav Kjorven
disse estar impressionado com a visita às aldeias Yanomami
e anunciou sua intenção de ampliar os recursos destinados
ao programa Povos Indígenas da agência de cooperação
norueguesa (Norad) no Brasil a partir de 2005.
Projeto
ambiental
Outro projeto visitado por financiadores foi o Projeto agroflorestal
Yanomami (PAY), uma experiência nova da Comissão Pró-Yanomami
no quadro do seu Programa ambiental. Este projeto tem por objetivos:
1) incentivar o plantio de árvores frutíferas em áreas
degradadas ou de crescente densidade demográfica, introduzindo,
quando necessário, novas tecnologias de produção;
2) promover intercâmbios entre os Yanomami e outros grupos
indígenas com experiência agroflorestal e, enfim, 3)
a elaboração de um manual agroflorestal Yanomami.
O PAY começou a ser desenvolvido em duas regiões -
Demini e Toototobi - atingindo cerca de 450 yanomami, com financiamento
do PDA - Subprograma dos Projetos Demonstrativos, que é parte
do PPG-7 (Programa Piloto de Proteção das Florestas
Tropicais do Brasil), da Secretaria de Coordenação
da Amazônia do Ministério do Meio Ambiente.
O PAY foi recentemente avaliado pela técnica Mara Vanessa
Dutra, do PDA/Ministério do Meio Ambiente, que adiantou ter
considerado a sua execução muito boa tanto no Demini
quanto no Toototobi, apesar das diferenças entre as aldeias.
Um dos aspectos positivos destacados é o fato da equipe da
CCPY falar a língua Yanomami, qualificado como um "diferencial"
em relação a outros projetos semelhantes.
Pelas informações recebidas na monitoria, a avaliadora
percebeu que o PAY deu um salto de qualidade no último ano.
O intercâmbio com outros grupos indígenas do Acre favoreceu
uma mudança de rumo: a formação de um grupo
de agentes florestais yanomami, responsáveis pela implementação
do projeto. Embora não fosse um objetivo inicial explícito
do projeto, o processo de formação desse grupo, que
atua também como agente mobilizador dentro da comunidade,
é um desdobramento positivo do projeto, índice da
sua apropriação social pelas comunidades Yanomami.
A execução do projeto envolvendo esses agentes florestais
começa a abrir uma discussão sobre uma nova relação
das aldeias yanomami com os recursos da floresta. Os Yanomami estão
ficando cientes dos problemas ambientais que poderão decorrer
do seu crescimento populacional e crescente processo de sedentarização.
ºPor exemplo, os yanomami estão começando a coletar
sementes e mudas de frutíferas silvestres que são
replantadas mais próximas das aldeias, com a finalidade de
colocar novos recursos alimentícios a disposição
das crianças, mulheres e idosos.
Na prática, os índios estão criando métodos
de plantio a partir da observação da natureza e das
informações repassadas pelo coordenador do Programa
ambiental da CCPY. Estão realizando experiências de
plantio de árvores, com consorciamentos e espaçamentos
definidos por eles. “É um jeito yanomami de fazer esses
quintais agroflorestais”, disse Mara Vanessa, a avaliadora
do PDA, que elogiou o coordenador da CCPY pela sua dedicação
com o trabalho e identidade com os yanomami. Outro aspecto interessante
notado pela Mara Vanessa é o fato de que os Yanomami são
muito abertos ao cultivo experimental de árvores frutíferas
desconhecidas por eles.
Outro processo interno ao projeto que chamou também a atenção
da avaliadora e mereceu especiais elogios é a “rede
de solidariedade” das comunidades envolvidas no PAY (Toototobi
e Demini) com as aldeias de região de Homoxi, uma das mais
degradadas pela ação dos garimpeiros nas ultimas décadas.
De fato, os Yanomami do Demini e Toototobi estão apoiando
as aldeias de Homoxi mandando para elas mudas de árvores
e palmeiras ubim (espécie típica para a construção
da maloca yanomami), diante da precariedade de recursos naturais
à disposição das famílias daquela região
devastada pelos garimpos.
O
projeto agro-florestal da CCPY apoiado pelo PDA criou finalmente
uma base para o desenvolvimento de um novo projeto da CCPY, desta
vez financiado pelo PDPI – Projetos Demonstrativos dos Povos
Indígenas. Este novo projeto é voltado à criação
de abelhas e à produção de mel e vem complementar
o projeto anterior com o desenvolvimento na Terra Yanomami de uma
meliponicultura e apicultura indígena a partir de uma primeira
experiência na aldeia de Demini.
Doação
individual ao projeto de educação dos Yanomami
O
Programa de educação da Comissão Pró-Yanomami,
recebeu recentemente uma doação individual de US$
2.500. A contribuição, repassada pela ONG Cultural
Survival, foi dada por Cameron McCauley, cidadão americano
que, com sua esposa brasileira Angela, dedicaram vários anos
de trabalho em favor da saúde Yanomami em projetos da CCPY
e da URIHI.. Esta doação foi feita no contexto da
visita dos professores Antonio Yanomami (aldeia Ajuricaba) e Dario
Yanomami (aldeia Demini), acompanhados do coordenador do Programa
de educação da CCPY, Marcos Oliveira, à cidade
de Cambridge (MA), nos Estados Unidos em novembro do ano passado
a convite da Cultural Survival, entidade norte-americana de defesa
das minorias étnicas. Em Cambridge os professores Yanomami
em formação encontraram-se com professores e estudantes
da cidade para divulgar sua cultura, as lutas pelos seus direitos
e seu programa escolar em língua Yanomami.