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Professores Yanomami prestarão concurso

Yanomami trocam experiência com os Timbira

Yanomami vão ao Ministério da Educação e à Funai
Yanomami participam de Fórum Cultural Mundial em São Paulo
Saúde Yanomami volta a ser responsabilidade direta da Funasa



Acesse aqui a posição da Funai em relação as matérias intituladas "Organizações criam fórum em defesa dos direitos indígenas" e "Davi Yanomami decepciona-se com o Governo Lula" que foram publicadas no Boletim Yanomami 50 de 28 de junho último. A nota foi enviada à CCPY pela Assessoria de Imprensa da Funai.


Professores Yanomami prestarão concurso

Os professores Yanomami serão submetidos a concurso público específico e diferenciado, respeitando, principalmente, a língua indígena. Com base nessa orientação, será realizada até o final deste ano a primeira seleção para a contratação de professores yanomami pela Secretaria de Educação de Roraima. A intenção da secretária de Educação, Lenir Veras, é contratar os primeiros professores yanomami do estado até janeiro de 2005, antes do início do próximo ano letivo.

Já foi criada uma comissão para redigir o edital e definir o processo seletivo. Dentre os integrantes dessa comissão estão o professor Enilton André, da Organização de Professores Indígenas de Roraima (Opir), e Fausto Madulão, integrante da Comissão Nacional de Professores Indígenas, instituição que tem interlocução direta com o Ministério da Educação. "Recebemos vários pedidos de contratação dos professores e já estamos providenciando os procedimentos para o reconhecimento desses indígenas", afirmou Lenir Veras ao anunciar, no dia 16 de junho, a decisão do governo estadual em reunião com 24 professores yanomami e com Marcos de Oliveira, coordenador do Programa de Educação Intercultural (PEI) da Comissão Pró-Yanomami.

A Comissão Pró-Yanomami, por seu reconhecido trabalho com o PEI, também participará da definição do conteúdo dos exames seletivos, embora não tenha representante na comissão criada pela Secretaria de Educação de Roraima. A iniciativa do governo estadual atende a uma antiga reivindicação dos professores yanomami que queriam ser reconhecidos e contratados pelo estado.

A secretária afirmou que a decisão de realizar o concurso público surgiu do reconhecimento das 62 escolas yanomami que precedeu o Censo Escolar e as visitas dos técnicos da Secretaria de Educação nas áreas indígenas. Desse total, 38 escolas estão sob a responsabilidade direta da CCPY.

O restante está a cargo da Diocese de Roraima e da Urihi-Saúde Yanomami, que deixou de atuar na área a partir do, dia 2 de julho. Os professores Yanomami candidatos ao concurso contarão com uma bolsa-auxílio, que será custeada pelo governo do Estado de Roraima, até que as provas sejam aplicadas.


Yanomami trocam experiência com os Timbira

Durante 11 dias – de 11 a 22 de junho – um grupo de sete Yanomami, dentre os quais Davi Kopenawa, participou de mais uma experiência de intercâmbio como parte da programação da Rede de Cooperação Alternativa, financiada pela Fundação Rainforest (RFN) da Noruega, com o objetivo de ampliar a sua compreensão sobre condições políticas, culturais e sócio-ambientais relativas à realidade das comunidades indígenas que participam da rede. Os agentes agroflorestais, Antônio Yanomami (Toototobi), Denilson Borari Yanomami (Paapiú Novo) e Edmar Yanomami (Demini), e os professores, Genivaldo Yanomami (Paapiú), Raimundo Yanomami (Catrimani I) e Rafael Wanari Yanomami (Balawaú), conheceram os Timbira que vivem no município maranhense de Carolina.

No encontro com os Timbira, quatro ações chamaram a atenção dos Yanomami: o projeto de educação desenvolvido pelo Centro de Trabalho Indigenista (CTI),o projeto agroflorestal, com a formação de agentes, o projeto de frutos do cerrado, como alternativa econômica para os índios, e a associação indígena Wyty-Kati. Os Yanomami tiveram também a oportunidade de observar a expansão predatória da soja na região que vem abrindo uma nova fronteira na Amazônia.

Diante da redução da biodiversidade local e da necessidade de romper com a dependência econômica em relação aos recursos governamentais, os líderes Timbira, congregados na Associação Mãkraké, que deu origem à Associação Vyty-Kati , implantaram em 1994 a fábrica FrutaSã, que congela e revende polpa de frutos da região do cerrado.

Embora ainda não esteja dando lucro, em 2003, a fábrica FrutaSã bateu recorde, com a comercialização de 65,3 toneladas de polpas vendidas, perfazendo mais de R$ 217 mil. Além de se enquadrar no modelo de desenvolvimento sustentável — socialmente justo, ecologicamente correto e economicamente viável — a fábrica garante 11 empregos fixos diretos. No pico da safra, essa oferta de ocupação quase dobra. A maior parte da produção – 90% – é vendida no Maranhão. O restante segue para Tocantins e Brasília.

Os resíduos decorrentes do beneficiamento dos frutos – bagaço e sementes – são usados como adubo para a produção de mudas num viveiro em parceria com a Associação Agro-extrativista de Pequenos Produtores de Carolina. As mudas são utilizadas para reflorestar áreas degradadas e adensar a ocorrência de frutos nativos em torno das aldeias associadas à Wyty-Kati.

O projeto de educação dos Timbira, mostrado à delegação Yanomami, inspirou novas reflexões sobre o Programa de Educação Intercultural (PEI) da Comissão Pró-Yanomami. Enquanto no PEI ainda não há alunos que tenham concluído a 4ª série, a solução encontrada pelos Timbira para evitar a ida dos índios para a cidade foi considerada importante pelo coordenador do programa yanomami, Marcos Oliveira.

Os alunos timbira, ao término da 4ª série, ingressam num curso modular, mantendo-os nas aldeias enquanto dão continuidade a seus estudos. A educação entre os Timbira vem contribuindo para a formação técnica daqueles que estão envolvidos no projeto de aproveitamento de frutos do cerrado.

Mas dentre todos os projetos, o que mais chamou a atenção de Davi Yanomami foi a Associação Wyty-Kati. Os Yanomami também têm interesse em criar também a sua própria associação num futuro próximo, a fim de promover e reforçar sua autonomia na defesa de seus direitos e divulgar informações sobre a sua situação e iniciativas políticas, sócio-econômicas e culturais.


Yanomami vão ao Ministério da Educação e à Funai

De volta à sua terra, os Yanomami pararam em Brasília para discutir no Ministério da Educação e na Funai os pedidos de financiamento para o quarto curso de formação de professores yanomami que terá início no próximo mês de agosto.

No MEC, eles se reuniram com Armênio Bello Schmidt, diretor de Diversidade e Educação para Cidadania, da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade da Educação, e com Kleber Matos, da CGAEI-Coordenação Geral de Apoio as Escolas Indígenas. Ambos os representantes do MEC adiantaram que, embora ainda não tivessem recebido o projeto do FNDE-Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação, provavelmente, o quarto curso de formação de professores yanomami deverá ser realizado com recursos do ministério.

Ainda no MEC, assessorados pela CCPY, os Yanomami retomaram a discussão sobre o pedido de financiamento das cartilhas de alfabetização na língua yanomami, elaboradas pelos professores indígenas, conforme a linha de crédito do ministério para publicações. Da Funai, eles reivindicaram apoio financeiro para mais uma edição do curso de intercâmbio de língua portuguesa na área Macuxi e também para o quarto curso de formação de professores.


Yanomami participam de Fórum Cultural Mundial em São Paulo

"Terra e cultura" e "como os Yanomami constroem e mantêm a sua memória" foram os temas abordados por Davi Kopenawa no Fórum Cultural Mundial, realizado pelo Instituto Museu da Pessoa.Net, de 30 de junho a 4 de julho, no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo.

Davi falou no painel sobre Política e Territorialidade – Respeito à Diversidade, no dia 3 de julho, mediado pela antropóloga Carmem Junqueira, professora titular do Departamento de Antropologia da PUC-SP. "Não existe cultura sem terra", afirmou ele. Segundo Davi, há uma relação mística entre os dois elementos, pois Omama (demiurgo Yanomami) criou a terra e a cultura yanomami no mesmo momento. Davi deu à sua palestra um tom de alerta devido às crescentes pressões políticas que têm como alvo as terras indígenas no país.

Davi afirmou que "os brancos poderosos" sabem pescar muito bem e, para isso, usam uma "isca doce". "Eles estão jogando a isca doce para roubar nossas terras", disse ele e citou como exemplo os conflitos interétnicos que ocorrem na Terra Indígena Raposa/Serra do Sol, onde alguns índios se aliaram aos que sempre se opuseram aos direitos indígenas e admitem reduzir a área demarcada. Para Davi, esse fato ilustra bem a pesca com isca doce.

Em relação ao processo de construção e preservação da memória do povo Yanomami, ele não vê qualquer semelhança com o dos brancos, que utilizam os livros e monumentos para o registro material de suas lembranças. Os Yanomami, segundo Davi, guardam sua memória histórica e cultural na mente e no agir. A transmissão é oral e por meio da realização de festas, rituais e manifestações culturais.

A primeira edição do Fórum Cultural Mundial propôs-se a ser uma plataforma global para refletir e discutir o estado das artes e cultura num momento de mudanças e oferecer novas formas de cooperação internacional. O foco especial do evento foi geopolítico e cultural voltado para três temas: Brasil e América Latina; África, Caribe e Regiões do Pacífico, e Região do Mediterrâneo e Oriente Médio. Representantes dos povos indígenas brasileiros tiveram expressiva participação no Fórum, com a apresentação de seus rituais.


Saúde Yanomami volta a ser responsabilidade direta da Funasa

Desde o último dia 2 de julho , a organização não-governamental Urihi-Saúde Yanomami não é mais a responsável pela assistência médica ao povo Yanomami, assistência essa que havia assumido a pedido da FUNASA desde 1999.

Em quase cinco anos de trabalho na Terra Indígena Yanomami, a Urihi conseguiu reverter a dramática situação sanitária enfrentada pela população indígena desde o início da grande invasão garimpeira no fim dos anos 1980. Nesse período, reduziu quase que totalmente a incidência de malária na Terra Indígena e em 65% os óbitos por desnutrição. Depois de ter sido quase dizimada pelos garimpeiros, a população Yanomami vem crescendo a uma taxa de 4% nos últimos anos. A Urihi também formou 33 microscopistas yanomami, o que muito contribuiu para a erradicação da malária nas áreas sob sua assistência.

Apesar desse excepcional desempenho da Urihi, a assistência sanitária aos Yanomami voltou a ser responsabilidade direta da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) em conformidade com as novas diretrizes para a política de atenção à saúde indígena do atual Governo (estabelecidas pela Portaria nº 70 de 20.01.2004). Essas medidas reduzem as parcerias não-governamentais a “ações complementares”, das quais as principais são o recrutamento de recursos humanos, ações educativas e controle social.

Nesse novo contexto, a Funasa assinou no dia 15 de junho um convênio com a Fundação Universidade de Brasília (FUB), que será encarregada das "ações complementares" previstas pela nova política. O convênio de n° 14/2004, conforme extrato publicado no Diário Oficial da União de 18/7, tem vigência de 12 meses e como objeto geral "a execução de ações de assistência à saúde dos povos indígenas". Prevê-se um orçamento de R$ 2.990.570,30 para que a FUB execute essa política. Os objetivos específicos ainda não foram divulgados.


Boletim Pró-Yanomami Nº 51 - Fechamento: 09/07/2004
Coordenação Editorial: Alcida Rita Ramos, Bruce Albert, Jô Cardoso de Oliveira
Redação: Rosane A. Garcia
Distribuição e Secretaria: Andréia Laraia Ciarlini


 

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