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IBAMA admite extinção de florestas nacionais incidentes na Terra Indígena Yanomami

Yanomami pedem ao Exército que proteja a Terra Indígena Yanomami
CCPY garante contratação de professores Yanomami concursados em Roraima
CCPY realiza mais um curso de formação de professores em Roraima
Yanomami do Amazonas terão curso de formação para professores

IBAMA admite extinção de florestas nacionais incidentes na Terra Indígena Yanomami

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) admitiu recentemente considerar a revogação das Florestas Nacionais (Flonas) incidentes nas terras indígenas da região do Alto Rio Negro (noroeste do Amazonas). Estas unidades, passíveis de exploração econômica, foram criadas no final do governo José Sarney, dentro da doutrina da segurança nacional, de modo a fragmentar as terras indígenas em áreas de fronteira.

No Atlas de Conservação da Natureza Brasileira, lançado no dia 10 de maio pelo Ibama, não aparecem as onze Flonas sobrepostas à Terra Indígena Alto Rio Negro, e o texto que o acompanha indica a nova posição do Instituto assumindo a extinção das unidades. No entanto, esse processo ainda precisa de um reconhecimento formal. De acordo com o diretor de Florestas do Ibama, Antônio Carlos Hummel, em entrevista ao Instituto Socioambiental-ISA (http://www.socioambiental.org/nsa/detalhe?id=1995), os documentos relativos ao caso estão sendo analisados pela Procuradoria do órgão, juntamente com os que tratam das duas Flonas – Amazonas e Roraima – sobrepostas à Terra Indígena Yanomami.

Há mais de dois anos (março de 2003), os líderes yanomami, Davi Kopenawa, Santarém e Dorival, em visita à Presidência do Ibama, reivindicaram a revogação dos decretos que criaram na Terra Indígena Yanomami as Flonas de Roraima e do Amazonas (ver notícia publicada Boletim Pró-Yanomami Nº35 ). A recente publicação do Atlas aumenta a expectativa do povo Yanomami de terem suas reivindicações finalmente atendidas.

A criação dessas Flonas no quadro do Projeto Calha Norte constituiu uma tentativa de escamotear o desmembramento do território Yanomami e, assim, de neutralizar a opinião pública nacional e internacional fortemente mobilizada contra a espoliação das terras Yanomami.

A demarcação da Terra Yanomami, em 1991, e sua homologação, em 1992, não resultaram na extinção pelo Ibama das Flonas de Roraima e Amazonas, o que sempre deixou os Yanomami apreensivos diante da possibilidade de tais unidades serem reativadas e exploradas economicamente com atividades incompatíveis (exploração de madeira e garimpagem) com as suas próprias formas de ocupação da floresta. “Os brancos só pensam em destruir. Não respeitam a floresta”, declarou naquela ocasião Davi Yanomami, preocupado com o fato de 95% da Flona de Roraima incidirem sobre a parte da Terra Indígena Yanomami situada naquele estado.

Na sua entrevista ao ISA, o Diretor de Florestas do Ibama, Carlos Hummel, reconheceu que há fortes indícios de que o processo de criação das Flonas foi, de fato, viciado por questões geopolíticas e que as Flonas dentro da Terra Indígena Yanomami deverão ter o mesmo desfecho daquelas do Alto Rio Negro.


Yanomami pedem ao Exército que proteja a Terra Indígena Yanomami

Os Yanomami querem o Exército como parceiro na defesa das fronteiras do país e no combate às invasões de suas terras. Esse desejo foi manifestado pelos líderes da região do Demini ao Comandante da 1ª Brigada de Infantaria de Selva, General Paulo Studart que, a convite de Davi Kopenawa, visitou no último dia 11 de maio a Maloca de Watoriki , juntamente com oficiais militares, representantes da Igreja, da Funai e da Funasa. O grupo foi acompanhado pelo representante da Comissão Pró-Yanomami (CCPY) em Roraima, Ednelson Souza Pereira, e da coordenadora pedagógica do Projeto de Educação Intercultural (PEI) da CCPY, Ângela Kurovski.

“Eu não quero a roupa de vocês, eu gosto de me vestir como Yanomami. Eu quero apenas ser Yanomami e viver sem medo dos garimpeiros na minha casa. Eu quero que o Exército ajude a proteger os Yanomami”, declarou ao General o ancião Justino Yanomami num discurso traduzido para o português pelos professores yanomami Dário e Anselmo.

Além de lideranças tradicionais, vários professores e agentes yanomami de saúde destacaram a importância de preservar a Terra Indígena e o papel que o Exército pode ter nessa preservação. Para eles, quando o Exército protege as fronteiras e vigia a região, controlando a presença de invasores não indígenas, ele também ajuda a resguardar o Povo Yanomami e pode contar com a sua parceria.

Davi Kopenawa deixou claro ao General Studart que os Yanomami não são em princípio contrários às obras de ampliação da pista de pouso de Surucucus. No entanto, querem que sejam definidas medidas cuidadosas de proteção, em particular, no que se refere à saúde e ao meio ambiente, e seja estabelecido o prazo mais curto possível para a construção. “Nós temos medo que venha gente brava, que traga doenças. Nós não somos contra o Exército proteger a fronteira, como muitas vezes dizem por aí. Pelo contrário, proteger a fronteira das invasões é bom para os Yanomami. Nós ajudamos a proteger a fronteira, expulsamos muitos garimpeiros daqui, mas nós temos medo das doenças dos brancos”, afirmou Davi, que fez ainda um apelo ao oficial: “Você tem um coração bom, vem conversar com os Yanomami, queremos que você fale sobre nossas preocupações para o general que vai substituir você”. Garantiu também que o interesse dos Yanomami em defender as florestas como patrimônio do Brasil é o mesmo dos militares.

Davi reafirmou que as declarações de que os Yanomami têm interesse em criar um estado separado com o apoio de estrangeiros não passam de mentiras de quem quer destruir e roubar a floresta por conta própria. Pediu ao General que não deixe as crianças não indígenas acreditar nessas inverdades que continuam alimentando ódio e desconfiança contra os povos indígenas. Para Davi, são essas mentiras propagadas por interesses econômicos escusos que insuflam o preconceito da população de Roraima contra os povos indígenas.

Na reunião, o General Paulo Studart reafirmou seu apoio às iniciativas dos Yanomami e também aos trabalhos realizados por aqueles que os apóiam. O representante da CCPY, Ednelson Pereira, resumiu para os convidados a atuação da entidade desde a sua criação em 1978. A maior preocupação da CCPY, afirmou Ednelson, é com a garantia da integridade física e cultural dos Yanomami, garantia que passa pela defesa de sua terra. Acrescentou que o papel fundamental da entidade é preparar os Yanomami para a defesa autônoma dos seus interesses e direitos através de educação, capacitação e apoio às associações yanomami. A coordenadora pedagógica, Ângela Kurovski, apresentou o Programa de Educação da CCPY e o seu empenho em formar jovens professores yanomami e garantir o acompanhamento pedagógico das escolas na terra indígena.

No encontro, Fátima Yanomami, esposa de Davi Kopenawa, em nome das mulheres da comunidade, destacou a importância do papel feminino como pilar da continuidade da sociedade yanomami e salientou também aí a importância da preservação da terra indígena: “Nós queremos que o Exército ajude a proteger nossa terra, nossa floresta, para que nossos filhos cresçam sem doenças e sem mortes”, afirmou e pediu a atenção especial dos visitantes para que reparassem como as crianças da aldeia estavam sadias, acrescentando: “Nós não queremos que os brancos formem vilas aqui, pois nossos filhos poderão pegar doenças e morrer”.


CCPY garante contratação de professores Yanomami concursados em Roraima

A Comissão Pró-Yanomami (CCPY) financiou a viagem de uma equipe, formada por funcionários do Banco do Brasil, Delegacia Regional do Trabalho e da Administração do Governo de Roraima, a sete regiões da Terra Indígena Yanomami, nos dias 19 e 20 de maio, para que fossem efetivadas as contratações dos 16 professores indígenas aprovados em concurso público realizado no final do ano passado no estado de Roraima. Nos dois dias em que permaneceu em campo, a equipe solucionou os problemas de documentação dos professores das regiões até agora atendidas pela CCPY (Demini, Toototobi, Parawau, Homoxi, Alto Catrimani, Paapiu e Kayanau).

Os professores Yanomami participaram do processo seletivo destinado ao preenchimento de 214 vagas para docentes em língua indígena, realizado pela Secretaria de Educação, Cultura e Desporto de Roraima. A relação de aprovados foi publicada no Diário Oficial do Estado em 26 de janeiro 2005, porém, os professores yanomami não haviam sido contratados, sob a alegação de que lhes faltavam os documentos exigidos. Com a iniciativa da CCPY, a dificuldade foi superada e os 16 professores Yanomami passaram a compor o quadro de docentes do governo estadual de Roraima.

A formação e a efetiva contratação destes 16 jovens professores yanomami em Roraima constitui um marco muito importante, pois vem coroar 10 anos de esforços do programa de educação da CCPY.



CCPY realiza mais um curso de formação de professores em Roraima

No quadro do seu Programa de Educação Intercultural (PEI), a Comissão Pró-Yanomami (CCPY) realizará, de 30 de maio a 10 de julho, na Casa Hekura, em Boa Vista, o quinto curso de formação de 24 professores Yanomami oriundos das sete regiões atendidas pela CCPY -Demini, Toototobi, Parawu, Homoxi, Alto Catrimani, Paapiu e Kayanau.

Também participarão desse curso professores da região do Auaris. Durante cinco semanas serão desenvolvidos cinco módulos, um para cada uma das disciplinas: aritmética, pedagogia, geografia, história e ciências naturais. A exemplo do que ocorreu nas duas edições anteriores do curso, líderes tradicionais dessas regiões participarão dos dez primeiros dias de trabalho para acompanhar e enquadrar a formação dos jovens professores. A abertura do curso ocorrerá no dia 29 de maio.


Yanomami do Amazonas terão curso de formação para professores

As reivindicações dos Yanomami da região do Rio Cauaburis e Afluentes pela criação de um curso de formação de professores indígenas foram objeto de uma reunião específica organizada em Maturacá e iniciada em 18 de maio último.

A comissão encarregada de analisar o assunto foi formada por Armindo Góes Melo, Presidente da Associação Yanomami do Rio Cauaburis e Afluentes (AYRCA), representantes da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN) e professores yanomami, contando também com a participação dos professores Ivanir Faria, Departamento de Geografia, e Raimundo Nonato, Departamento de Ciências Sociais, da Universidade Federal do Amazonas; de Gilvan Muller do Instituto de Política Lingüística (IPOL) e de Francisca Brasão, Coordenadora da Região do Alto Rio Negro da Secretária de Educação do Amazonas.

O grupo discutiu as demandas e objetivos dos Yanomami para elaborar o programa do curso a ser implementado para a formação de professores indígenas do ensino fundamental.

A exigência da criação do curso foi expressa durante assembléia da AYRCA realizada em 25 de janeiro e encaminhada pela entidade à Secretária de Educação do Estado do Amazonas. A abertura do curso está prevista para setembro deste ano, com duração de três anos e meio.


Boletim Pró-Yanomami Nº 64 - Fechamento: 25/05/2005
Coordenação Editorial: Alcida Rita Ramos, Bruce Albert, Jô Cardoso de Oliveira
Redação: Rosane A. Garcia

Webmaster e distribuição: Alexandre Henrique de Oliveira


 

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