Apesar de
constarem do Censo Escolar na categoria “escola indígena
estadual”, as 63 escolas yanomami, nas quais estão
incluídas as 30 apoiadas pela Comissão Pró-Yanomami,
ainda não foram reconhecidas pela Secretaria de Educação,
Cultura e Desportos-SECD, de Roraima. Embora a oficialização
das escolas seja uma reivindicação dos professores
yanomami desde 2001, os responsáveis pela Auditoria de
Ensino argumentam que não há qualquer documentação
das escolas na Secretaria. No entanto, desde 2003, tramita no
órgão o “Projeto Piloto de Implantação,
Criação, Autorização e Reconhecimento
das Escolas Yanomami”. Além disso, contrariando a
lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei
n. 9394/96), afirmam ser impossível reconhecer as escolas
pelo fato de o ensino ser ministrado em língua indígena.
Ainda em
2004, mesmo sem o decreto de reconhecimento das escolas, a SECD
realizou processo seletivo para a contratação de
professores indígenas. Entre os aprovados estavam 16 professores
yanomami que foram contratados em janeiro de 2005, pela atual
administração.
Diante do
impasse, professores e líderes yanomami, juntamente com
representantes da CCPY, foram no último dia 31 de maio
ao Conselho Estadual de Educação pedir apoio para
o reconhecimento das escolas. No encontro, a presidente do Conselho,
Edinelsa Faria Rodrigues, e outros conselheiros expuseram as atribuições
daquele colegiado.
Na manhã do dia 3 de junho, novamente líderes e
professores yanomami visitaram a SECD onde tiveram uma rápida
audiência com a secretária, Ilma Xáud. Mais
uma vez, convidaram a secretária para visitar suas escolas
e reivindicaram o decreto de criação das unidades
de ensino. No final da tarde, professores e líderes yanomami
receberam a visita do chefe do Departamento do Ensino-SECD, do
secretário-adjunto da SECD, do chefe do Núcleo de
Estudos Indígenas-SECD, do representante do Departamento
de Educação de Jovens e Adultos-SECD, do chefe da
Auditoria de Ensino-SECD e pela presidente do Conselho Estadual
de Educação.
O reconhecimento das escolas yanomami foi o principal tema do
encontro. Os professores yanomami recordaram todo o processo já
encaminhado e que resultou em parecer favorável do Conselho
Estadual de Educação e numa proposta de parceria
entre a Secretaria de Educação, Cultura e Desportos
e a Comissão Pró-Yanomami. Os representantes da
Secretaria negaram que houvesse qualquer registro dessa documentação
nas instâncias legais do órgão. No entanto,
a presidente do Conselho Estadual de Educação, Edinelsa
Faria Rodrigues, garantiu a existência do processo, iniciado
em governos anteriores, e confirmou o empenho da gestão
passada em reconhecer as escolas yanomami.
Em 2003,
na gestão da secretária Ana Maria Freitas de Lima,
a CCPY e representantes dos professores yanomami receberam cópia
da versão definitiva do “Projeto Piloto de Implantação,
Criação, Autorização e Reconhecimento
das Escolas Yanomami”. O documento estabelece metas a serem
atingidas referentes ao reconhecimento, organização
das escolas e formação de professores yanomami.
Além disso, a ex-secretária, Lenir Veras, de comum
acordo com a Coordenação Geral de Apoio às
Escolas Indígenas, do Ministério da Educação,
incluiu as escolas yanomami no Censo Escolar na categoria “escola
estadual indígena”, antes cadastradas como estabelecimentos
privados.
Sem levar em consideração o “Projeto Piloto
de Implantação, Criação, Autorização
e Reconhecimento das Escolas Yanomami” apresentado há
dois anos à Secretaria de Educação, o secretário-adjunto
se comprometeu a entregar, no prazo de oito dias, uma proposta
sobre o reconhecimento das escolas yanomami. Passado esse prazo,
os coordenadores do Programa de Educação (PE), desenvolvido
pela CCPY, juntamente com os professores Anselmo Xiropino e Dário
Vitório Yanomami, foram à Secretaria e o secretário-adjunto
pediu uma prorrogação de mais sete dias para concluir
a proposta. Em seguida, três outras audiências foram
marcadas e em nenhuma delas os coordenadores do PE e os professores
indígenas foram recebidos pelo secretário-adjunto
da SECD.
Realizada
mais uma etapa do curso de formação de professores
Terminou dia 1º de julho o quinto curso de
formação de professores yanomami, parte do Programa
de Educação desenvolvido pela Comissão Pró-Yanomami
(CCPY). O curso, iniciado no dia 29 de maio, teve duração
de 272 horas e incluiu módulos de pedagogia, história,
ciências naturais, geografia e matemática. Participaram
como consultores Luis Fernando Pereira (CCPY) no módulo
de história, o professor Luis Antônio Garcia, no
de matemática, e Eliane Bastos no de ciências naturais.
O curso teve também o acompanhamento do representante da
Organização dos Professores Indígenas de
Roraima-OPIR, professor Telmo, e de um técnico do Núcleo
de Educação Indígena-SECD, além dos
assessores de campo e das coordenadoras pedagógicas da
CCPY.
Durante o curso, foi discutida a ampliação
do Programa de Educação Intercultural que passará,
a partir de agosto deste ano, a fazer o acompanhamento das escolas
sanumá de Auaris. Inicialmente, o trabalho atenderá
as cinco escolas mais antigas da região e deverá
ser ampliado gradativamente.
No módulo de ciências naturais, os professores fizeram
uma visita à Estação de Tratamento de Esgoto.
A atividade foi documentada pela afiliada da Rede Globo em Roraima.
Os professores tiveram uma aula prática na Universidade
Federal de Roraima sobre coleta e análise da água
e puderam conhecer os resultados da pesquisa realizada pelo Departamento
de Biologia sobre a água dos igarapés de algumas
regiões yanomami.
Visitaram também à exposição organizada
pelo Departamento de História no Museu de Roraima.
Visita
do procurador da República
O
procurador da República em Roraima, Marcus Marcelus Goulart,
e o analista pericial em antropologia do Ministério Público,
Jankiel de Campos, visitaram os participantes do curso de formação
de professores yanomami. Durante cerca de duas horas, o procurador
explicou o papel do Ministério Público, como proceder
em caso de denúncia para uma representação
pública, como elaborar uma carta-denúncia, entre
outras questões. A palestra foi traduzida para os professores
yanomami por Davi Kopenawa Yanomami e pelo professor Anselmo
Xiropino.
Durante o encontro, os professores yanomami abordaram ainda
as dificuldades que têm enfrentado para obter a sua documentação
pessoal. Participaram da reunião com o procurador os
seguintes Yanomami: Alto Catrimani – Marcão e Chico
e os professores Marinaldo, Raimundo e Ricardo; Demini –
Davi Kopenawa Yanomami e os professores Anselmo e Dário;
Homoxi – professor Emílio; Kayana u – professores
Antonio e José; Maloca Paapiú – Raimundo
e os professores Alfredo, César, Genivaldo, Marconi e
Nelson; Parawa u – Edu e os professores Apolo, Ivan, Platão
e Rafael.
Curso
de apicultura e meliponicultura
Um
grupo de 15 agentes agroflorestais yanomami das regiões
de Toototobi, Demini, Maloca Paapiú e Kayana u, participou,
de 15 a 24 de maio, do terceiro curso de apicultura e meliponicultura,
apoiado pelo Programa Demonstrativo dos Povos Indígenas
(PDPI), como parte das ações do Projeto de Criação
de Abelhas, na Terra Indígena Yanomami. O curso foi ministrado
na Casa da Cultura do Urubuí, em Presidente Figueiredo
(AM). Outros 13 yanomami das regiões do Demini, Toototobi
e Alto Catrimani também assistiram ao quarto módulo
que encerra uma seqüência de quatro cursos.
Os agentes florestais tiveram orientação prática
sobre as técnicas de captura e manejo de abelhas (apis
e melíponas) para uma criação sistemática.
Também foram treinados no manejo de máquinas e
equipamentos necessários ao trabalho com abelhas e aprenderam
a manipular os produtos apícolas como cera, própolis
e outros. Dentro da programação do curso, os participantes
tiveram contato com diversas experiências no campo da
permacultura (produção de alimentos na floresta,
criação de peixes e outros pequenos animais).
Os Yanomami são experientes coletores de mel silvestre,
sendo que na Terra Indígena Yanomami há mais de
trinta tipos de mel. O projeto experimental de capacitação,
iniciado em oito comunidades do Amazonas, despertou grande interesse
nos Yanomami e deverá ser estendido a outras aldeias
da TIY. Dentre os objetivos do projeto desenvolvido pela Comissão
Pró-Yanomami estão garantir uma fonte de renda
às comunidades e, ao mesmo tempo, contribuir para a preservação
genética das abelhas sem ferrão, nativas da região
amazônica.
Reunião
debaterá ampliação da pista de Surucucus
A
ampliação da pista de pouso em Surucucus voltará
a ser tema de discussão de 15 a 18 de agosto por representantes
da Hutukara – Associação Yanomami, líderes
yanomami, membros do Comando Militar da Amazônia e de
vários outros órgãos federais, e organizações
não-governamentais interessadas. A reunião foi
convocada pelo presidente da Hutukara, Davi Kopenawa Yanomami,
que incluiu na pauta de debate o plano compensatório
para os Yanomami e o meio ambiente.
O projeto de ampliação da pista, que passa os
atuais 1.100 metros para 1.500 metros, afeta não somente
o patrimônio ambiental da Terra Indígena Yanomami,
mas também a vida de quase 1.800 Yanomami que vivem em
cerca de 83 malocas, seis das quais num raio de um quilômetro
e meio da obra. A Força Aérea Brasileira (FAB)
justificou o aumento da pista com a substituição
da frota de aeronaves Bandeirantes e Búfalo por outras
de maior porte, como os modelos Brasília e Hércules.
A proposta de reunião conta com o apoio do general Figueiredo,
do Comando Militar da Amazônia, que elogiou a iniciativa
do presidente da Hutukara, Davi Kopenawa Yanomami. O general
comprometeu-se a articular a participação dos
convidados yanomami ao encontro e garantiu que, se o Comar não
tiver aeronaves disponíveis para o transporte dos Yanomami,
o Exército poderá contribuir emprestando helicópteros
com capacidade para até 24 pessoas. Para a reunião
são esperados líderes das regiões do Auaris,
Xitei, Homoxi, Alto Catrimani, Maloca Paapiú, Kayana
u, Alto Mucajaí, Baixo Mucajaí, Catrimani, Ericó,
Toototobi, Parawa ú, Arathau, Parafuri e Hakoma. Foram
convidados também representantes do Ibama, Funasa, Distrito
Sanitário Yanomami (DSY), Funai, Ministério Público
Federal, Advocacia Geral da União, Conselho Indígena
de Roraima, Comissão Pró-Yanomami, Diocese de
Roraima, VII Comando Aéreo Regional (VII Comar) e 1ª
Brigada de Infantaria da Selva do Exército.
O general antecipou a Davi que no dia 22 de agosto haverá
troca de comando, mas garantiu que o seu sucessor manterá
a mesma filosofia de diálogo com os Yanomami, deixando
à disposição das comunidades indígenas
a estrutura de saúde (médicos e equipamentos)
que dá suporte ao pelotão de Surucucus.