Após
12 dias ocupando a sede da Fundação Nacional de
Saúde (Funasa) em Boa Vista, Roraima, os Yanomami obtiveram
alguns progressos no diálogo com o governo. O Ministério
Público Federal mediou as negociações entre
os conselheiros indígenas e representantes da Funasa durante
uma audiência de conciliação, realizada no
dia 5 de dezembro, da qual resultou a criação de
uma comissão. Formada por seis indígenas, dois procuradores
da República e representantes da Fundação
Nacional do Índio (Funai), a comissão tem a incumbência
de discutir os problemas e acompanhar o desenrolar de assuntos
ligados à assistência permanente de saúde,
além de outros julgados pertinentes.
Durante a audiência, a Justiça Federal manteve a
Funasa como a maior responsável pelo atual quadro da saúde
indígena, apesar dos convênios com prestadores de
serviços, e reconheceu como legítima a manifestação
dos Yanomami. Entretanto, considerando que a continuada ocupação
poderia acarretar maiores demoras nas negociações
com a Funasa, ficou acertada a desocupação do prédio,
fechado pelos Yanomami desde o dia 23 de novembro em protesto
contra a deterioração dos serviços de saúde
e falta de canais de comunicação adequados para
expressarem as reclamações e opiniões (ver
Comunicado Pró-Yanomami de 24.11.05). Foi o segundo
grande protesto dos Yanomami em pouco mais de dois meses (ver
Comunicado 15/09/2005), que motivou a participação
de outros grupos indígenas insatisfeitos com o atual modelo
de saúde.
Posteriormente, no dia 9 de dezembro, os membros do conselho,
representando os povos do Distrito Sanitário Leste e Distrito
Yanomami, elaboraram um documento de 15 páginas contendo
as principais reivindicações no tocante ao sistema
indígena de saúde, considerado em estado de crescente
precariedade. O documento foi enviado às autoridades competentes,
contendo queixas que dizem respeito à falta de controle
sobre a logística de transporte para as áreas indígenas,
escassez de medicamentos, falta de equipamentos básicos
para atendimento, como microscópios, e falta de manutenção
dos postos de saúde (Ver abaixo).
Tal quadro, composto também pelo aumento de doenças
graves e óbitos, teria se originado principalmente do fato
de a Funasa ter centralizado a aquisição desses
itens, não os suprindo de forma ágil, e de sérias
deficiências na capacidade de formação de
um quadro próprio de funcionários.
Seguem
abaixo trechos do documento:
Comissão
formada para análise de questões relativas ao atendimento
de saúde aos povos indígenas de Roraima
Introdução
Os presentes apontamentos são fruto do trabalho desenvolvido
pela comissão formada em função da conciliação
homologada nos autos da Ação Possessória
no. 2005.42.00.002436-9, em 05.12.2005, pela qual os requeridos,
índios de diversos povos que ocupavam o prédio sede
da Funasa em Roraima, desocuparam o referido prédio público
e, em contrapartida, foi imediatamente formada esta comissão
para discutir a pauta de reivindicações dos povos
indígenas no que concerne à assistência permanente
de saúde, bem como outros assuntos, relacionados ou não
à saúde, sem prejuízo da efetivação
dos repasses atrasados às entidades conveniadas.
Definidos os membros da comissão, que contou com a participação
de representantes da União, da Funasa, da Funai e do Ministério
Público Federal e, após as discussões levadas
a efeito no dia 06.12.2005, decidiu-se que os povos do Distrito
Leste e do Distrito Yanomami trariam suas conclusões, no
dia 09.12.2005, que seriam consolidadas e encaminhadas às
autoridades competentes.
Apontamentos sobre a situação atual da saúde
indígena em Roraima
Tendo em vista o agravamento dos problemas dos DSEIs Leste e Yanomami,
os prestadores de serviço e lideranças indígenas
fizeram os seguintes apontamentos, parcialmente reproduzidos a
partir das cartas anexas:
Desde meados de 2004 a Funasa tem centralizado a compra de horas
de vôo, medicamentos, combustível e equipamentos,
deixando as conveniadas sem nenhum controle sobre a complexa logística
necessária para os serviços de saúde nas
Terras Indígenas. Desde então, esses itens não
estão sendo supridos da forma necessária. O convênio
CIR-Funasa conta para as ações do projeto com 22
veículos, dos quais 15 estão com mais de cinco anos
de uso. Os veículos que têm um altíssimo gasto
de manutenção. O Distrito Leste precisa de mais
15 veículos e há anos a administração
do convênio solicita nova compra.
As lideranças indígenas também solicitam
constantemente a compra de rádios. Há três
anos a Funasa promete novos rádios, mas não há
previsão de compra.
Nos últimos meses, a falta de medicamentos tem sido uma
reclamação constante dos índios dos dois
DSEIs. Também estão faltando outros bens como: microscópios,
barcos, motores, bicicletas e outros equipamentos.
(...)
Se as deficiências da Funasa no tocante à realização
de concursos para a formação de quadro próprio
para atendimento de saúde indígena levou-a a celebrar
convênios, deveria a Funasa ter se preparado para administrar
esse modelo e, sobretudo, zelado para que não houvesse
problemas de continuidade, cujas conseqüências são
o aumento de casos de doenças graves e óbitos. A
celebração de convênios não exonera
a Funasa da responsabilidade legal que possui de prestar assistência
à saúde indígena.
Assim, certos de que os presentes apontamentos serão encaminhados
às autoridades competentes da Funasa e do Ministério
da Saúde para imediatas análise e adoção
de soluções, de forma a conferir efetividade à
conciliação obtida e evitar futuros acontecimentos
de natureza similar, acompanhados do representante legal da União
e do Ministério Público Federal, subscrevem os participantes
da comissão.
Boa Vista, Roraima, 12 de dezembro de 2005. >
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Yanomami
propõem reforma do modelo de saúde e explicam recentes
manifestações
Em
um recente manifesto avaliando o atual modelo de saúde
indígena no contexto da crise do Distrito Sanitário
(DSY) que os atende (ver Boletins Pró-Yanomami
52,
53,
54,
60,
70
e 72),
um grupo de líderes e professores yanomami acabou de propor
ações concretas para uma reforma efetiva da estrutura
de atendimento na área indígena (ver
carta abaixo). Longe de limitar-se a críticas e
mera exigência de verbas, o texto, elaborado por integrantes
da Hutukara Associação Yanomami e por um grupo de
professores indígenas que participaram da recente ocupação
da sede da Fundação Nacional de Saúde (Funasa)
em Boa Vista (ver Boletim Pró-Yanomami
72),
destaca-se pela forma direta e pragmática com a qual são
propostas mudanças, tomando como referência o sistema
de trabalho e os resultados obtidos pela organização
Urihi – Saúde Yanomami, que atuou na Terra Indìgena
Yanomami entre 2000 e 2004 (ver Boletins
Pró-Yanomami 39
e 40):
“Quando a Urihi trabalhava conosco, eles ficavam muitos
dias em nossas comunidades, observando se adoecíamos, eles
acompanhavam os microscopistas yanomami para colher lâminas
e saber se havia malária; se houvesse, eles tratavam logo.
(...) É por isso que nós queremos que a Funasa faça
a mesma coisa, ensinando seus funcionários a trabalhar
bem em todas as regiões, ir até os Yanomami onde
quer que eles estejam, ouvi-los e respeitá-los”.
Chama a atenção também a análise,
pelos Yanomami, do atual sistema de repasse de verbas e convênio
com a Fundação Universidade de Brasília (FUB)
que geraria desperdício de recursos e, conseqüentemente,
prejudicaria o atendimento e o bom gerenciamento dos recursos:
“Com um (FUB) pagando o pessoal de saúde e o outro
(Funasa) pagando as horas de vôo fica muito confuso e prejudica
o atendimento à saúde. Por controlarem mal as horas
de vôo é que o dinheiro acaba logo. Por vocês
fazerem assim é que o dinheiro acaba logo”.
Apresentamos
a seguir a íntegra do documento.
Comunicado
às autoridades brasileiras
Por
que fizemos manifestação
Durante
o VI Curso de Formação, nós, professores
yanomami, convidados pelos conselheiros yanomami do DSY, participamos
da Reunião Extraordinária do Conselho porque a saúde
dos Yanomami está correndo um grande perigo. Na nossa terra
a malária voltou com toda a força, o que nos deixa
muito preocupados e, por isso, estamos tão indignados.
Nas nossas comunidades, a malária voltou a nos atormentar,
aumentando muito. Entre agosto de 2001 e agosto de 2004, a malária
estava controlada, mas a partir de agosto de 2005 ela aumentou
muito, chegando a mais de mil casos.
Nós fechamos a Funasa porque não queremos voltar
a morrer como antes. E estamos muito preocupados porque a saúde
não está bem em nossas comunidades e, por isso,
protestamos, para mostrar às pessoas da Funasa que não
estamos satisfeitos com a qualidade do serviço de saúde.
Queremos continuar sempre com saúde, por isso nos manifestamos
na Funasa. Depois de pensar muito sobre como realmente queremos
os serviços de saúde, decidimos escrever este documento
para que vocês, autoridades, saibam que nós não
queremos ver nosso povo morrer de novo, como antes.
Assistência
permanente da saúde
É
assim que nós queremos a assistência, com os profissionais
de saúde ficando mais tempo em nossas comunidades. Só
assim eles podem perceber quando alguém começa a
ficar doente. Quando a Urihi trabalhava conosco, eles ficavam
muitos dias em nossas comunidades, observando se adoecíamos,
eles acompanhavam os microscopistas yanomami para colher lâminas
e saber se havia malária; se houvesse, eles tratavam logo.
Também iam às comunidades mais distantes para cuidar
da saúde dos Yanomami. Quando algum Yanomami ia falar com
eles, mesmo sem saber a língua yanomami, eles se esforçavam
para entender o que ele tinha. A Urihi ensinava aos seus funcionários
a trabalhar assim. É por isso que nós queremos que
a Funasa faça a mesma coisa, ensinando seus funcionários
a trabalhar bem em todas as regiões, ir até os Yanomami
onde quer que eles estejam, ouvi-los e respeitá-los.
A isso nós chamamos de assistência permanente e é
assim que queremos que seja tratada a nossa saúde.
Mas vocês da Funasa não fazem assim e isso não
é bom para nós. Da maneira como vocês dividem
o trabalho, não funciona. Com um (Fub) pagando o pessoal
de saúde e o outro (Funasa) pagando as horas de vôo
fica muito confuso e prejudica o atendimento à saúde.
Por controlarem mal as horas de vôo é que o dinheiro
acaba logo. Por vocês fazerem assim é que o dinheiro
acaba logo.
Por isso também não chega remédio na nossa
terra e vocês já fecharam os postos de saúde
no Homoxi e no Arathau. Até os funcionários de saúde
que trabalham nas nossas comunidades deixaram de receber comida
porque não mandam mais os aviões; vocês estão
desperdiçando dinheiro.
Nós fizemos a manifestação porque queremos
recuperar a qualidade dos serviços de saúde na nossa
terra e o respeito devido aos Yanomami.
Assinam:
Associação Hutukara Yanomami
Presidente: Davi Kopenawa Yanomami
Vice-presidente: Geraldo Kuesi theri Yanomami,
microscopista
Tesoureiro: Dário Vitório Xiriana,
professor
Primeiro secretário: Mateus Sanuma
Segundo secretário: Emílio Sisipino,
professor
Professores
Anselmo Xiropino Yanomami
Rezende Maxiba Cardoso
Manisi Marinaldo Sanuma
Enio Mayanawa Yanomami
Genivaldo Krepuna Yanomami
Ricardo Porari Yanomami
Lourenço Yoina Yanomami
Alípio Waarinawa Yanomami
Raimundo Õiri Yanomami
Magno Junior Yanomami
>
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Garimpeiros
retidos pelos Yanomami em Haxi u
Simultaneamente
ao fechamento de postos da Funasa e da Funai na Terra Yanomami
(como
ocorreu recentemente em Homoxi e Aratha u) continua a entrada
de garimpeiros em novos locais da região central da Terra
Indígena Yanomami, agravando, com o aumento das doenças
e dos riscos de conflitos, um quadro social preocupante (ver
Boletins Pró-Yanomami 34,
43,
45,
46,
47,
65
e 72).
Assim, no dia 23 de novembro um grupo de 52 Yanomami prendeu três
garimpeiros na região do Haxiu, alto Parima, Roraima. Os
garimpeiros, armados com duas espingardas e facas, foram amarrados
e longamente questionados pelos Yanomami e finalmente entregues
a agentes da Funai chamados ao local.
Um documento redigido pelos Yanomami do Haxi u para descrever
sua ação põe em evidência, mais do
que um confronto físico, um embate intelectual e político
entre os Yanomami e os seus cativos. A indignação
dos Yanomami não é, assim, dirigida contra os garimpeiros
enquanto pessoas, mas contra as suas atividades que degradam a
floresta e favorecem o alastramento de doenças: “Vocês
não devem chorar, vocês não são crianças
ou recém-nascidos. Por que vocês desejam tanto o
ouro? Vocês, garimpeiros, são muito ignorantes. Nós
Yanomami realmente não os queremos por aqui. Vocês
trazem epidemias, por isso não os queremos. Nós
Yanomami não vamos dessa mesma forma à terra de
vocês por isso vocês não devem vir à
nossa floresta (...) Vocês querem procurar ouro nas águas,
vocês são como ariranhas. São as ariranhas
que procuram por caranguejos nas águas sujas”.
Demonstrando responsabilidade, os Yanomami desenvolveram sua ação
não violenta de acordo com a legislação indigenista
e a legitimidade da ação da Funai para fazer respeitá-la:
“Por que vocês, garimpeiros, vêm à nossa
terra? Vocês não devem vir, vocês vêm
para cá apesar das leis. Por isso nós os amarramos
e, quando chamarmos a Funai, vocês irão para Boa
Vista”.
Apresentamos
a seguir a íntegra do documento.
Haxiu 29 de
novembro de 2005
Essa
é a escrita sobre como nós retivemos garimpeiros
no dia 23 passado.
Nós prendemos três garimpeiros, que chegaram à
uma hora (do dia 23). Foi quando Márcio Hesina [liderança
Yanomami de Haxi u] falou para nós. “Depois que amarramos
e juntaremos os garimpeiros, chamaremos a Funai”. Logo após
nós nos pintamos de preto e nos dirigimos aos garimpeiros:
“Vocês irão primeiramente ao posto, amanhã
vocês se afastarão daqui e retornarão (a Boa
Vista)“. Dito isso, eles foram levados ao posto de saúde.
Todos nós nos pintamos de preto, tomamos nossas flechas,
machados e pás, éramos 52 Yanomami no total, além
dos garimpeiros e dos atendentes de saúde [da Funasa].
Os atendentes também ficaram assustados com a situação,
mas Márcio lhes disse: “Vocês não devem
temer nada, nós amarraremos apenas os garimpeiros”.
Em seguida, tomamos dos garimpeiros duas espingardas e duas facas
e os puxamos pelas calças. Eles então choraram e
Márcio se mostrou irritado. Pintamos suas orelhas e Márcio
lhes perguntou: “Por que vocês, garimpeiros, vêm
à nossa terra? Vocês não devem vir, vocês
vêm para cá apesar da leis. Por isso nós os
amarramos e, quando chamarmos a Funai, vocês irão
para Boa Vista”.
Quando dissemos isso, eles choraram e Márcio os repreendeu:
“Vocês não devem chorar, vocês não
são crianças ou recém-nascidos. Por que vocês
desejam tanto o ouro? Vocês, garimpeiros, são muito
ignorantes. Nós Yanomami realmente não os queremos
por aqui. Vocês trazem epidemias, por isso não os
queremos. Nós Yanomami não vamos dessa mesma forma
à terra de vocês por isso vocês não
devem vir à nossa floresta. Hoje, nós Yanomami estamos
muito destemidos. O que vocês queriam fazer para desejar
tanto assim o ouro? `Quando acharmos o ouro nós vamos ter
mulheres e comida´, foi assim que vocês pensaram para
desejar tanto o ouro? Vocês procuram ouro nas águas,
vocês são como ariranhas. São as ariranhas
que procuram por caranguejos nas águas sujas. Vocês
não conseguirão mulheres com o dinheiro que ganharem
do ouro, vocês devem as conseguir da mesma forma que nós,
Yanomami, fazemos. Há muitas cidades e locais ocupados
por vocês, brancos, Boa Vista, São Paulo, Manaus,
Brasília, Rio de Janeiro, Pará, Ceará, Maranhão,
mas por que vocês cobiçam tanto nossa floresta yanomami?
Se vocês trabalharem corretamente em suas terras vocês
conseguirão dinheiro. Vocês são demasiadamente
tolos, vocês são como sapos? Vocês ainda tem
mãos por isso querem garimpar. Quando perderem suas mãos,
vocês cessarão de vir à área?”.
Quando Márcio acabou de falar, os garimpeiros choraram
muito.
Nós
amarramos as suas mãos com cipós e Márcio
lhes disse: “Eu estou agindo para a Funai, por isso os retive”.
Quando a Funai chegou, desamarramos os cipós para que os
garimpeiros tivessem em seguida suas mãos algemadas.
Pedicarlo
Yanomami, Haxiu theri.> subir
Malária
continua a se agravar entre os Yanomami
O
quadro da malária na Terra Indígena Yanomami continua
a se agravar (ver
mapa). Além dos 1006 casos registrados até
setembro de 2005 em toda a área (ver
Boletim Pró-Yanomami 72)
, foi constatado um repentino aumento, entre os dias
23 de outubro e 3 de dezembro, no pólo do Toototobi que
tem uma população de 477 pessoas.
Foram
notificados 93 casos somente naquele período, sendo 24
de Falciparum, forma letal de malária (correspondendo a
26% dos casos), e 69 de Vivax (74%), contrastando com os 42 casos
de Vivax registrados durante os primeiros nove meses do ano.
O
pólo do Toototobi, assim com os do Demini e do Balawaú,
situa-se na região do alto rio Demini, região que
foi atingida também pela malária proveniente de
povoamentos próximos aos limites da Terra Indígena
Yanomami, instalados por moradores do município de Barcelos,
Amazonas (ver Boletim Pró-Yanomami
71).
Nos três pólos, que juntos têm população
de 1236 pessoas, foram registrados 128 casos entre janeiro e setembro
de 2005. O pólo do Aracá também teria sido
atingido por essa onda, após quatro anos sem o registro
de um único caso de malária: de janeiro a setembro
deste ano, foram notificados 48 casos entre os 341 Yanomami ali
residentes.> subir
Governo
venezuelano programa formação de agentes de saúde
yanomami
O
Ministério da Saúde e Desenvolvimento Social da
Venezuela elabora um programa para a formação de
Auxiliares de Medicina Yanomami (AMYs), equivalentes aos Agentes
Indígenas de Saúde (AISs) que já atuam no
Brasil. Trata-se de uma das primeiras ações concretas
do Plano de Saúde Yanomami (Plan de Salud Yanomami) do
governo venezuelano, após cinco anos de completa inatividade.
Criado em 1999 pelo governo venezuelano perante a Corte Interamericana
de Direitos Humanos, visando promover algum tipo de reparação
pela matança de mulheres e crianças yanomami em
1993 no caso conhecido como o Genocídio de Hwaximu (ver
Documentos Yanomami 1), o Plano só começou a
ser organizado em janeiro de 2005, com a contratação
dos antropólogos José Antonio Kelly e Javier Carrera
Rubio.
Entretanto, apesar de muitas promessas, até hoje nenhum
recurso foi destinado para a realização da assistência
e da formação previstas no Plano. Em 2004, o custo
de medicamentos, combustível e funcionários capacitados
era exorbitante, levando a uma redução de 60% nos
atendimentos médicos. A situação se agravou
quando o órgão indigenista venezuelano passou a
autorizar o turismo na região yanomami (ver
Boletim Pró-Yanomami 47)
Segundo a proposta do Plano de Saúde Yanomami, no prazo
de três anos serão formados 33 Yanomami das regiões
de Ocamo, Platanal, Mavaca, Mavaquita, Parima, Padamo, Koyowë,
Siapa, Hwaximu e Mayo teri. Devido à própria característica
de surgimento do Plano, serão priorizadas a formação
e a assistência aos Yanomami que vivem mais afastados e
que até o momento não receberam qualquer tipo de
atendimento, como é o caso dos residentes nas regiões
de Siapa, Hwaximu e Mayoteri.
O sócio da CCPY, Marcos Wesley de Oliveira, esteve em Puerto
Ayacucho e no território yanomami na Venezuela assessorando
a equipe do Plano na elaboração do programa de formação
dos AMYs. A consultoria foi feita entre 28/09 e 26/10, quando
foram visitadas dez aldeias yanomami localizadas nas regiões
de Ocamo, Mavaca, Mavaquita e Platanal. Essa assessoria teve o
apoio financeiro da OEPA (Programa para a Eliminação
da Onconcercose nas Américas). > subir
Fórum
em Defesa dos Direitos Indígenas é premiado
O
Fórum em Defesa dos Direitos Indígenas (FDDI), da
qual faz parte a CCPY, recebeu o Prêmio Direitos Humanos
2005, concedido pela Presidência da República, em
solenidade no dia 12 de dezembro no Salão Negro do Ministério
da Justiça, em Brasília.
O
prêmio, outorgado pela subsecretaria de Direitos Humanos
do Governo Federal, foi em reconhecimento ao destaque das ações
do Fórum nessa área. Além de acompanhar e
apoiar ativamente a luta pelas reformas do Distrito Sanitário
Yanomami, dentre as ações do Fórum, destaca-se
a realização do acampamento Terra Livre entre 25
e 29 abril de 2005, que reuniu em Brasília cerca de 700
lideranças indígenas, representando 89 povos, para
reivindicar o efetivo respeito aos direitos indígenas,
agilidade nos processos de demarcação e homologação
de terras.