Auaris,
novembro de 2005.
A
comunidade indígena Ye´kuana de Auaris vem à
imprensa denunciar as irregularidades e a situação
calamitosa em que se encontra o atendimento de saúde prestado
hoje a toda a população da Terra Indígena
Yanomami, onde vive nosso povo, além de outras etnias.
No ano de 2004 a Fundação Nacional de Saúde
(Funasa) assumiu o controle do serviço de saúde
prestado à população da TI Yanomami, até
então sob responsabilidade da Urihi. O argumento utilizado
pela Funasa era de que aquela instituição não
estava cumprindo seu papel de prestadora de serviço de
saúde. Com a saída da Urihi, a Funasa, em convênio
com a Fundação Universidade de Brasília (Fubra),
passou a gerir o serviço de saúde. O que temos verificado
desde então é o desmantelamento da infra-estrutura
existente e uma queda na qualidade do atendimento prestado, que
atingiu níveis insustentáveis.
A situação de saúde hoje em toda a TI Yanomami
é desastrosa. O quadro de funcionários está
reduzido a menos da metade do necessário; não há
medicação básica para uma série de
enfermidades que acometem nossa população e os focos
de doenças até então sob controle começam
a aumentar. Em Surucucu, os casos de tuberculose já ultrapassam
o número de dez em um curto espaço de tempo. A malária
está eclodindo em diversos pólos da TI Yanomami
onde se encontrava praticamente erradicada. Na região conhecida
como Polasai, onde não eram notificados casos há
quatro anos, recentemente houve uma morte por malária,
o que levou a população a migrar para outras áreas.
Não foi feita coleta de material para exame nessa população
para verificar se há portadores do vetor transmissor da
doença. Em outra região próxima, Parafuri,
ainda na TI Yanomami, em apenas um dia foram notificados três
casos de malária e não há medicação
para tratar os enfermos. Não há, em toda a TI Yanomami,
bombas para a nebulização do veneno de combate ao
mosquito transmissor e as buscas ativas não estão
sendo realizadas. Na região de Auaris, onde vive nossa
população, que somada às comunidades sanumá
totaliza cerca de 2 mil índios, embora existam mais de
dez microscopistas, não há material para controle
da epidemia nem medicação para tratar novos casos.
O risco de que a malária se espalhe por toda a área
é iminente e pode ocorrer em questão de dias.
Nos pólos e sub-pólos de toda a TI Yanomami a falta
de medicamentos é cada vez maior. Tratamentos básicos
como os programas de verminose chegam com atraso de meses. Em
Auaris já não há medicamentos para tratamento
de pneumonia. No mês de outubro, apenas em nossa comunidade
foram 40 casos de pneumonia, três deles graves. Faltam ainda
programas de prevenção a Doenças Sexualmente
Transmissíveis, que hoje acometem nossa população.
Já existem diversos casos diagnosticados de câncer
de colo de útero decorrentes de infecção
por HPV.
Os casos de doentes graves encaminhados para tratamento na CASAI
em Boa Vista enfrentam a falta de infra-estrutura mínima
como acomodações e refeitório. Não
há um intérprete para acompanhar os pacientes nas
consultas médicas e, além disso, quando os pacientes
recebem alta médica, ficam dias aguardando vôo de
volta a sua comunidade, e muitas vezes acabam adoecendo novamente.
Quando finalmente retornam, não lhes é entregue
o prontuário médico para que continuem o tratamento
no posto de sua comunidade.
Para agravar ainda mais a situação precária,
há cerca de dois meses os funcionários da saúde,
contratados pela Fubra, deixaram de receber salários e
vale-alimentação. Os atrasos no pagamento de seus
vencimentos levaram os funcionários a recusarem-se a entrar
em área, e a população ficou praticamente
desassistida, posto que o quadro ficou ainda mais desfalcado.
Após protestos em Boa Vista, tanto de funcionários
quanto de indígenas, houve a promessa de dirigentes da
Funasa de que a situação estava resolvida pois 15
milhões de reais teriam sido liberados para pagamento das
dívidas e compra de medicamentos e pagamento de salários.
Os funcionários voltaram para área e, dois meses
depois, a situação se tornaria ainda mais grave:
a falta de medicação agravou-se.
De volta a Boa Vista, os salários dos funcionários
atrasam mais uma vez e os vôos regulares para troca de equipe
e transporte de medicamentos são cancelados por falta de
pagamentos às empresas aéreas prestadoras de serviço.
Com mais de uma semana de suspensão dos vôos, funcionários
de diversos pólos começam a passar fome. A alimentação
indígena enviada para os pacientes internados na enfermaria
do pólo-base acabou, o que fez com que vários pacientes
abandonassem o tratamento e retornassem a suas comunidades. Diante
de protestos em Boa Vista e de denúncias da imprensa local
após entrevistar os funcionários em área
via rádio, algumas horas de vôo chegaram a ser negociadas
com as empresas aéreas. Os funcionários que deveriam
ter entrado em área, entretanto, recusaram-se a retornar
até que a situação fosse definitivamente
resolvida, e a situação hoje é desastrosa:
vários postos estão fechados após a retirada
dos funcionários e outros, como é o caso de Auaris,
não têm a mínima condição de
funcionamento. Para atender toda a população de
Auaris, seriam necessários cerca de 20 funcionários.
No momento, encontram-se quatro auxiliares de enfermagem em Auaris,
nenhum enfermeiro ou médico. Este último faz apenas
visitas esporádicas à área, não atendendo
de forma efetiva a população.
Nosso povo hoje está à mercê de epidemias
graves, diante do descaso com que é tratada a saúde
indígena pela Funasa e sua contratada, a Fubra. Estamos
cansados de esperar que alguma providência seja tomada pelas
autoridades e não podemos continuar assistindo nossa população
adoecer, apreensivos com as notícias de que a malária
vem se alastrando cada vez mais. Diante disso, exigimos que as
autoridades se manifestem e convocamos toda a imprensa local e
nacional a denunciar a situação vergonhosa em que
se encontra a assistência de saúde à população
indígena hoje e o completo descaso das instituições
responsáveis e da Fundação Nacional do Índio
(Funai) que tem fechado os olhos para todas essas irregularidades.
O povo Ye´kuana exige que seus direitos, assegurados pela
Constituição vigente nesse país, sejam respeitados
e cumpridos.
Povo
Ye´kuana
Pólo-base Auaris
Terra Indígena Yanomami. > subir
Documento
2 – Descrição dos problemas no Amazonas -
Secoya
Realidade
dos Yanomami dos municípios de Santa Isabel e Barcelos,
no estado do Amazonas.
A realidade atual dos Yanomami dos rios Marauiá, Padauiri,
Demini e Aracá, localizados nos municípios de Santa
Isabel do Rio Negro e Barcelos, no estado do Amazonas, que totalizam
2.800 indígenas, é de extrema gravidade.
A associação Serviço e Cooperação
com o Povo Yanomami (Secoya) firmou convênio com a Funasa
desde o final de 1999, na expectativa de contribuir com a melhoria
das condições de saúde da população
yanomami.
Infelizmente, desde então, a mesma vem se deparando com
uma situação cada vez mais calamitosa, devido à
não evetivação de uma política de
saúde à altura das necessidades do povo yanomami
do Amazonas, grupo étnico distribuído em 18 aldeias
situadas próximo às cabeceiras dos rios, portanto
de difícil acesso fluvial, transpondo inúmeras cachoeiras
e tendo que realizar ainda longas caminhadas até as aldeias
centrais, localizadas próximas às serras.
Ao contrário, verifica-se o progressivo desmantelamento
dos serviços de saúde sem que a Funasa tenha tomado
as devidas providências, além de submeter a equipe
de profissionais do Secoya a condições de extrema
precariedade na tentativa de atender a população
yanomami. Observa-se facilmente o total esquecimento dos Yanomami
do Amazonas, apesar de integrarem o mesmo Distrito Sanitário
Yanomami.
Ocorrem constantes atrasos no repasse dos recursos para a conveniada,
sendo que no decorrer deste ano tal situação já
vem ocorrendo pela segunda vez, a primeira por um período
de cinco meses e agora novamente desde o mês passado deixando
a conveniada em situação de total colapso por não
poder honrar os compromissos com seus profissionais nem saldar
as dívidas contraídas nas praças comerciais
de Manaus, Barcelos e Santa Isabel do Rio Negro, sendo o mais
grave, contudo, a impossibilidade de garantia de uma assistência
permanente e de qualidade para os Yanomami. Por conta disso, os
principais problemas registrados nesse momento são os seguintes:
Aumento alarmante dos casos de malária, principalmente
nos rios Marauiá e Padauiri, ultrapassando 700 casos desde
o início do ano e acometendo de forma brutal seis comunidades,
entre elas o Kona com mais de 30 casos de Falciparum e o Pohoroa
com 120 casos de Vivax, situação que se deve à
falta de medicamentos, de veneno e de equipamentos (microscópios
e máquinas de termonebulização);
A dificuldade de controlar doenças infecto-contagiosas
por conta da falta de insumos e medicamentos e de condições
básicas de trabalho, como é o caso da tuberculose,
das infecções respiratórias agudas, gripe,
pneumonia, etc., e das diarréias que tem aumentado no rio
Marauiá por conta da má qualidade da água
consumida nas aldeias;
Foram identificados 45 casos de oncocercose nas comunidades de
Xihõ e Hoaxi, no rio Padauiri, doença trazida da
Venezuela.
A situação não é pior devido ao compromisso
dos profissionais de saúde que permanecem até três
meses seguidos em área quando a situação
o requer e do apoio dos agentes indígenas de saúde
(AIS) que garantem uma presença permanente nos postos de
saúde.
São, de fato, as péssimas condições
de trabalho que impossibilitam uma atuação efetivamente
preventiva e de qualidade, sendo que entre as quais é preciso
salientar:
Necessidade de mais recursos para insumos, medicamentos e combustível;
Propiciar condições adequadas de transporte e deslocamento,
tanto dos profissionais quanto dos pacientes, garantindo horas
vôo e a construção de duas pistas de pouso
(no Marauiá e Padauiri) para atender situações
emergenciais e as atividades de vacinação na época
de seca dos rios, assim como a reconstituição da
frota de embarcações remanescente do início
do convênio e completamente sucateada. Isto inclui barcos
e canoas para que as próprias comunidades possam contribuir
com as demandas emergenciais de remoção;
Viabilizar a construção urgente de postos de saúde
nas aldeias de Kata-kata, Hoaxi, Raita, Cachoeira do Aracá
e do Paraturi, com todos os equipamentos necessários, realizando
ainda reformas dos postos do Kona, Bicho-açú e da
casa de apoio do Padauiri;
Precisa de mais recursos humanos para atender às especificações
do trabalho na área de atuação do Secoya,
na área de saúde e apoio (técnicos de enfermagem,
enfermeiro, odontólogo, THD, AIS, tradutor, pessoa de apoio
em Boa Vista e apoio administrativo);
Reestruturar a rede de radiofonia com aquisição
de rádios, baterias e placas solares;
A construção de uma casa de apoio para pacientes
e acompanhantes em Santa Isabel e Manaus, para atender os Yanomami
referenciados que se encontram em precária condição
de alojamento e estadia;
Realizar um levantamento completo das necessidades de saneamento
básico para todas as aldeias do rio Marauiá, Ajuricaba
e Aracá, e implantar os projetos correspondentes;
A necessidade de aquisição de equipamento para os
postos de saúde tais como: geradores, bomba de água;
Adquirir equipamentos e material de trabalho para médicos,
enfermeiros, técnicos e AIS (microscópios, inalador,
balança, balão de oxigênio, etc.);
Colaborar na busca de meios eficazes de combate à infestação
por barata em todas as aldeias, que torna a vida dos Yanomami
difícil.
SECOYA
– Serviço e Cooperação com o Povo Yanomami
Boa
Vista, 25 de novembro de 2005. > subir
Documento
3 – Carta do sindicato dos profissionais de área
ao Procurador da República no Estado de Roraima, Rômulo
Moreira Conrado.
Boa
Vista, 8 de novembro de 2005.
Senhor
Procurador.
Solicitamos
do Ministério Público que tome providências
acerca da inoperância da Funasa a respeito da execução
da assistência à saúde no Distrito Sanitário
Especial Indígena Yanomami e Ye´kuana que, por mais
uma vez este ano, está praticamente paralisada.
Os vôos que transportam os profissionais de saúde
e os pacientes indígenas, além de abastecer de medicamentos,
insumos e alimentos os 20 pólos-bases – atendendo
uma população de 8 mil indígenas –
estão suspensos desde o último dia 5, criando uma
situação que beira o caos.
No posto do Arathau, quatro funcionários estão sendo
hostilizados por garimpeiros que invadiram a região, sem
que nenhuma medida fosse tomada pelos órgãos competentes
para garantir a segurança dos profissionais, apesar dos
inúmeros apelos feitos à Polícia Federal,
à Funai e ao próprio Ministério Público.
Diante da inércia da Funasa e de outros órgãos
públicos, a equipe do Arathau não pode sequer ser
retirada de lá, apesar dos sérios riscos que corre.
Nos dias 5 e 7 de novembro deixaram de acontecer os vôos
de rotina nos pólos-bases do Ericó, Waikas, Uraricoera,
Saúba, Toototobi, Balawaú e Demini, para a mudança
das equipes (enfermeiros, auxiliares de enfermagens e técnicos
de laboratório). Estariam entrando dez profissionais e
sairiam outros 19. Como esses vôos não aconteceram,
as pessoas que deveriam sair acabaram obrigadas a permanecer após
o período de 30 dias, mesmo sem alimentação
e em uma situação de constrangimento a abandono
sem precedentes.
A interrupção dos vôos compromete também
o atendimento como um todo, já que as remoções
de pacientes graves para Boa Vista estão suspensas, bem
como o suprimento do estoque de medicamentos das farmácias
e outros insumos necessários à execução
dos programas de saúde. É particularmente preocupante
a interrupção do controle da malária e tratamento
das tuberculoses nessas regiões.
Preocupa também a situação de 36 pacientes
indígenas que estão de alta hospitalar e permanecem
na Casa do Índio, além de seis agentes indígenas
de saúde que aguardam transporte para retornarem às
suas comunidades.
Além disso, faltam medicamentos básicos, como por
exemplo soro fisiológico e alguns antibióticos que
fazem parte dos protocolos de rotina, o que torna praticamente
inviável a maioria dos tratamentos.
Já os Yanomami que prestam serviços à Funasa,
ajudando e acompanhando as equipes nas visitas às aldeias,
não estão recebendo seus pagamentos.
Por sua vez, a Casa do Índio de Roraima não dispõe
de alimentação para os pacientes internados e acompanhantes.
Diante disso, solicitamos que o Ministério Público
tome as medidas cabíveis e necessárias para que
o Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami
e Ye´kuana volte a funcionar com urgência dentro de
uma normalidade que permita a execução da assistência
básica à saúde à qual os usuários
têm direito garantido pelas leis e que é dever do
Estado brasileiro; em especial, e de imediato, a retira da equipe
do pólo-base do Arathau, com o apoio da Polícia
Federal e da Funai, enquanto a questão maior que é
a retirada dos garimpeiros da região não for resolvida.
Lembramos ainda que esses graves problemas colocam evidentemente
em risco a vida dos Yanomami e dos profissionais de saúde.
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Documento
4 – Descrição dos problemas no Amazonas -
IBDS
Realidade
dos índios Yanomami dos municípios de São
Gabriel da Cachoeira e Santa Isabel do Rio Negro, Amazonas.
Após reuniões com o povo Yanomami e com profissionais
desta instituição vimos por meio deste comunicar
a paralisação das atividades de todos os profissionais
que atuam na área indígena yanomami assistida pelo
IBDS.
Qual a importância dos índios e dos profissionais
que os assistem para vocês?
Apesar de termos um atraso de quatro meses no pagamento de salários,
mantemos o atendimento com as condições que podíamos
manter. Mas o fato é que já se esgotam as energias
desses profissionais e de seus familiares que muitas vezes tem
que tirar seus filhos dos colégios por não terem
condições de pagar as mensalidades, entre outras
dificuldades e humilhações a que se submetem por
não terem seus salários em dia, causando indignação
geral destes profissionais. A notícia e a promessa de que
a Funasa repassaria às conveniadas os recursos orçamentários
necessários à assistência à saúde
dos índios, neste caso ao Yanomami e Ye´kuana, não
aconteceu.
Qual o limite da fome e da honradez das dívidas dos profissionais
que aqui atuam? E os fornecedores de alimentação,
combustível, medicamentos e outros muitos itens indispensáveis
ao trabalho com qualidade, que culpa têm? Como e com que
cara repassar aos profissionais e aos fornecedores que não
temos como honrar nossas dívidas? Como trabalhar sem receber?
Como melhorar a saúde de um povo sem as condições
necessárias para as inúmeras demandas que aumentam
assustadoramente a cada dia? Como manter profissionais sem o mínimo
suporte, comprometendo-lhes com óbitos que ocorrem e poderão
ocorrer a cada dia de espera por medicamentos e materiais, arriscando
seus nomes e profissão nos órgãos que lhes
fiscalizam como CRM, CRO, COREN, etc.? Com que comida diminuiremos
a fome crescente de nossos filhos e família?
Os problemas que enfrentamos não são apenas de atrasos
de salários, falta de insumos e materiais de consumo indispensáveis,
os equipamentos que ainda funcionam estão prestes a parar
a qualquer momento, pois vivem sobrecarregados pela demanda que
é grande, a estrutura dos postos de saúde é
precária, pois são todos de madeira e precisam de
reformas periódicas, que nunca aconteceram, a maioria dos
postos está prestes a cair na cabeça dos profissionais
e dos usuários que lá precisam ser atendidos. O
transporte fluvial não proporciona segurança e nem
conforto aos profissionais e usuários que muitas vezes
viajam embaixo de lonas, mal acomodados por não ter uma
cobertura apropriada nos botes de alumínio, o que já
foi solicitada inúmeras vezes pela conveniada e pelos usuários
em oportunas reuniões de Conselho Distrital. A casa de
saúde do índio de São Gabriel não
atende à demanda dos Yanomami de forma adequada, pois recebe
todas as 22 etnias do Rio Negro, somando aproximadamente 25.000
indígenas.
Ao confiarmos na Funasa e neste governo não imaginamos
que nos colocariam nesta situação caótica,
que só não é pior devido ao apoio dos profissionais
que decidiram esperar mais um pouco também confiando nas
palavras e promessas nossas e da Funasa que “tudo se resolveria
semana que vem, que aguardássemos só mais um pouco”.
Até quando? Até ocorrerem mais doenças ou
estão aguardando mortes e mais mortes? E, mais recentemente,
essas últimas semanas angustiantes aguardando algum recurso
para aplacarmos um pouco nossas tristezas com a esperança
de um fim de ano um pouco mais alegre e então nos depararmos
com ligações telefônicas aos vários
departamentos da Funasa e a vários funcionários
que nada resolviam e diziam que a Funasa não tem recurso?
E o orçamento, para que serve? Não é para
garantir os recursos já prometidos anteriormente? Se a
saúde indígena e as instituições que
a promovem já estavam dentro do orçamento, como
não há recursos? Onde foram parar esses tão
necessitados recursos?
Mediante toda a situação relatada decidimos, com
muita comoção, paralisar as atividades e mais uma
vez aguardar o repasse para então retornarmos prazerosamente
a trabalhar e quaisquer ocorrências a partir desde serão
de responsabilidade total da Funasa de Roraima, incluindo remoções
e outras adversidades que virão a ocorrer, já comunicando-lhes
que este período é o mais crítico em relação
à saúde, pois na seca as doenças, principalmente
em crianças, se tornam mais graves com taxas de morbidade
mais elevadas em relação a qualquer outra época
do ano.
Diante do exposto acima informamos que para retornarmos às
nossas atividades normais, queremos que nos sejam garantidos os
recursos necessários para pagamento de salários
atrasados e os que vencerão, compra dos insumos e materiais
de consumo necessários, reforma de toda infra-estrutura
dos postos de saúde, bem como obras de saneamento para
as comunidades, estruturação de uma rede de frio
que atenda às necessidades das ações de imunização,
aquisição de motores de popa, grupo gerador, radiofonia
para uma melhor comunicação viabilizando a melhora
no acesso à assistência prejudicado pela distância
fluvial e terrestre, necessitando também de melhorias no
transporte para atendimento nos pólos base, um veículo
para transporte de pacientes e equipe de saúde.
Cientes de que as doenças e suas conseqüências
não aguardam quaisquer burocracias, continuaremos a defender
o compromisso há tempo feito no referente à saúde
dos índios Yanomami, aguardando e ainda confiando em uma
solução positiva e definitiva por parte da Funasa
e do Governo Federal, reafirmando nosso compromisso de melhorar
a cada dia e cada vez mais a saúde dos índios do
nosso Brasil!
IBDS
– Instituto Brasileiro pelo Desenvolvimento Sanitário:
levando saúde e bem-estar ao povo yanomami.
Cleyton
da Silva Carvalho, diretor-presidente do IBDS.
Flávio Henrique Krauss Queiroz, coordenador de saúde
do IBDS.
Francisco Xavier da Silva Figueiredo, presidente do Conselho Local
de Saúde e vice-presidente do Conselho Distrital Yanomami
e Ye´kuana.
Antônio de Assis Lopes, liderança yanomami.
Luciano Nascimento Figueiredo, liderança yanomami. >
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