Cerca de 60 yanomami invadiram na quarta-feira, 23 de novembro, a sede da Fundação Nacional de Saúde – Funasa em Boa Vista, Roraima, para cobrar melhorias imediatas do atendimento em área indígena. Pintados e armados de bordunas, os Yanomami sabatinaram longamente o coordenador regional da Funasa, Ionilson Sampaio, sobre as pespectivas de corrigir falhas que consideram graves na atual estrutura de atendimento à saúde e possibilitaram o recrudescimento das doenças em área (ver Boletins Pró-Yanomami 60, 67, 68 e 71). Somente no sub-pólo do Toototopi, entre os dias 15 e 22 de novembro foram registrados 40 casos de malária. A situação piorou com o atraso de quatro meses do pagamento dos salários dos funcionários e agentes indígenas de saúde e das companhias aéreas que fazem o transporte de pessoal, medicamentos e alimentação para a área indígena. Na terça-feira, parte do dinheiro foi liberado, o que permitirá a retomada dos vôos durante apenas 15 dias, continuando incerta a continuidade dos serviços após esse período.

Segundo Dário Vitório, professor e tesoureiro da Hutukara Associação Yanomami, mais uma vez, os questionamentos dos Yanomami presentes na reunião não foram adequadamente respondidos. Os 37 professores que participam em Boa Vista do VI curso de formação para o magistério indígena (ver Boletim Pró-Yanomami 71), juntaram-se aos 16 conselheiros e agentes indígenas de saúde para cobrar energicamente ações imediatas da Funasa. “Nós estamos cansados de perguntar e ninguém responder, queremos respostas. Estamos preocupados com a saúde em nossa floresta. Os funcionários e os agentes indígenas de saúde estão sem salários, os aviões não vão para lá. O trabalhador branco fica sem comida, está passando fome, não consegue fazer nada. A malária, a disenteria, as doenças voltaram a crescer. Ficamos tristes com isso, mas o pessoal da Funasa não fala nada aos conselheiros mais velhos, acha que eles não entendem. Por isso nós, professores, fomos participar, somos todos Yanomami, nós nos ajudamos”, afirmou Dário Vitório.

As preocupações com o óbvio declínio na qualidade dos serviços também foram expressas por todos os Yanomami presentes, como declarou o tesoureiro da Hutukara: “Todos nós, Yanomami, estamos tristes porque o atendimento não está bom. Nós ficamos com os olhos atentos em outros sub-pólos; o Arathau, o Homoxi e o Haxiu estão com os postos fechados e vazios, não tem ninguém lá para ajudar nossos parentes. Nós falamos ao pessoal da Funasa: vocês acabaram com a Urihi (organização conveniada que atendeu os Yanomami até 2004) pois falavam que queriam melhorar o atendimento, mas até agora não fizeram isso, está ficando pior. Falaram que queriam sustentar nossa forma saudável de viver, mas não fazem isso. Vocês recebem mais dinheiro, mas por que acabam com ele mais depressa?”, questionou Dário Vitório.

A reunião originalmente trataria dos regimentos internos das conferências distritais de saúde indígena, em preparação para a Conferência Nacional de 2006. Entretanto, dada a gravidade do atual quadro, os Yanomami e representantes das instituições conveniadas, como a Fundação Universidade de Brasília (Fubra), o Serviço de Cooperação com o Povo Yanomami (Secoya), o Instituto Brasileiro de Direito à Saúde (IBDS) e a Diocese de Roraima resolveram mudar a pauta. Participaram também membros da Missão Novas Tribos (MNTB) e Missões Evangélicas da Amazônia (Meva).

A nova manifestação de descontentamento em relação aos problemas com a Funasa ocorre apenas dois meses após uma primeira ocupação da sede da Fundação por 25 conselheiros yanomami (ver Boletim Pró-Yanomami 69), exigindo a presença do então coordenador regional, Ramiro Teixeira, e do presidente da Fundação, Paulo Lustosa. Na ocasião, o presidente da Hutukara, Davi Kopenawa, já ressaltava a falta de vontade para dialogar e resolver problemas por parte dos funcionários da Funasa, que postergavam explicações e decisões, atribuindo-as a outras figuras, nunca presentes nas reuniões.

O grupo de Yanomami composto por conselheiros locais, agentes indígenas de saúde, professores e representantes de comunidades, retorna hoje, 24 de novembro, à sede da Funasa para cobrar as respostas que lhes são devidas.

CCPY
Brasília, 24 de Novembro de 2005.