PARALISAÇÃO DAS AÇÕES DE SAÚDE


A Associação Serviço e Cooperação com o PovoYanomami-Secoya, que atua junto a população Yanomami nos rios Marauiá, Padauiri, Demini e Aracá, dos municípios de Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos/AM, que totaliza 2.400 indígenas acaba de comunicar a Fundação Nacional de Saúde-FUNASA a paralisação de todas as ações de saúde realizadas no âmbito do Convênio firmado em maio de 2005, com a retirada de todos os nossos profissionais das aldeias.

Antes de tomar esta decisão, a Secoya tentou ainda sensibilizar as autoridades competentes na ocasião de uma reunião de pactuação das ações ocorrida em Boa Vista/RR, com a presença de representantes do Departamento de Saúde Indígena – DESAI, Coordenação da Funasa em Roraima – CORE/RR, Distrito Sanitário Especial Yanomami – DSY, além de lideranças indígenas Yanomami. Dentre as deliberações foi estipulada a data limite do dia 20 de abril para a liberação do repasse, que infelizmente não ocorreu, caso contrário, a Secoya não se encontraria em condições de continuar atuando.

Tal medida se deve pelo não repasse de recursos para a Conveniada, impossibilitando a manutenção dos profissionais em área e o desenvolvimento de ações de saúde qualitativa e condizente com a difícil realidade do povo Yanomami. A Secoya celebrou o primeiro convênio com a FUNASA no âmbito do Distrito Sanitário Especial Yanomami-DSY em 1999, no intuito de contribuir com o Governo nessa nova forma de prestar assistência de saúde através do subsistema de saúde indígena, articulado com o SUS.

Infelizmente, o entusiasmo inicial deixou lugar a uma luta constante para garantir uma saúde que não consegue sair da atenção emergencial, por conta de inúmeros problemas políticos internos na gestão da saúde indígena. Desde 2002 nenhum recurso fora disponibilizado para equipamentos e infra-estrutura, afetando seriamente as condições de trabalho em área. Além disso, em diversos momentos sofremos com atraso no repasse de recursos pactuados, chegando a ficar 5 meses sem recursos em 2005.

Isto se deve a inadequação do formato dos Convênios com instituições não-governamentais, gerando longos períodos de lacuna entre um e outro convênio durante o qual continuamos garantindo a assistência, sem que a FUNASA saiba de fato como solucionar a prestação de contas de recursos efetuados fora da vigência de convênio. Na ocasião, de tudo fizemos para garantir a continuidade das ações, mantendo profissionais sem vencimento, deixando inúmeros fornecedores sem pagamento.

Tal situação repetiu-se novamente agora, contudo com maior gravidade, uma vez que nos encontramos com falta de medicamentos, materiais de insumos, combustíveis, condições de trabalho, alimentação e remuneração dos profissionais. A falta de medicamentos nos postos de saúde dificulta o trabalho dos profissionais na continuidade dos tratamentos, ocasionando um aumento nos casos de IRA (Infecção Respiratória Aguda) e DDA (Doença Diarréico Agudo), consequentemente aumentando as chances de óbito na população infantil, que se encontra em número elevado nos dados de saúde. A falta do Soro Antiofídico está causando pânico entre os profissionais, que em situações de necessidades tornam-se incapazes de realizar os procedimentos para o tratamento imediato, tendo como alternativa apenas a remoção do paciente para os municípios de referência, ocasionando assim um aumento de gastos de combustível. A malária vem se tornando um pesadelo para os Pólos Bases, que nas ultimas semanas não dispõe de medicamentos (Primaquina de 5 e 15mg, Cloroquina 150mg, Mefloquina 250mg), para a continuidade das ações de saúde, e atender os casos de malária diagnosticados nas buscas ativas e passivas.

A Secoya lamenta ter que chegar nesse ponto e responsabiliza diretamente a FUNASA pela incapacidade de gestão da saúde indígena e das relações de parcerias com mais de 60 entidades conveniadas.

A partir desta data a FUNASA deve assumir a total responsabilidade de atendimento da população Yanomami na área de atuação da Secoya, e por tudo o que possa acontecer ou atingir o bem-estar de saúde da população Yanomami.
Manaus/AM, 26 de abril de 2006.

Silvio Cavuscens
Coordenador Geral da SECOYA