Ontem,
quinta-feira 15 de setembro, após tentativas infrutíferas
de diálogo com representantes da Fundação Nacional
de Saúde (FUNASA) de Roraima, um grupo de 25 Conselheiros Yanomami
acabou bloqueando saídas e entradas da sede da instituição
em Boa Vista (RR) durante cerca de duas horas. O ato de protesto se
deu após o início da reunião extraordinária
do Conselho Distrital de Saúde Yanomami, onde seriam discutidas
as graves insuficiências que vêm afetando a qualidade do
atendimento em saúde na Terra Indígena Yanomami. Diante
da falta de explicações dos representantes da instituição,
os líderes Yanomami, pintados de preto, cor de guerra, resolveram
cercar a Funasa e aguardar pelo retorno de Brasília do seu Coordenador-geral,
Ramiro Teixeira, prevista para hoje (16 de setembro).
Segundo Davi Kopenawa, Presidente da Hutukara Associação
Yanomami, que participou do ato, essa foi a única forma encontrada
pelos Yanomami para que suas reivindicações quanto à
assistência em saúde as suas comunidades fossem ouvidas
pela FUNASA : “Nós, Yanomami, queremos falar diretamente
ao Ministro da Saúde, ao Presidente da Funasa. Nós nos
zangamos porque os funcionários que trabalham em Boa Vista não
sabem resolver nada. Queremos falar com autoridade, com peixe grande,
para resolver nossos problemas, com Ramiro Teixeira e o doutor Paulo
Lustosa, Presidente da Funasa. São eles que vão resolver,
que vão falar para nós e explicar por que a Funasa está
enrolando, por que a Funasa está enganando, por que a Funasa
não libera dinheiro para continuar o trabalho de saúde,
por que não envia remédio, por que não manda alimento
para os funcionários”.
Davi elencou as principais preocupações que os conselheiros
yanomami teriam tentado discutir em vão com os representantes
locais da FUNASA: “Na área Yanomami está faltando
remédio, sempre pedimos mas mandam muito pouco. Faltam materiais,
agulhas, seringas pequenas e grandes, estetoscópio, termômetro.
Eles também não manda alimento para os funcionários.
Também voltaram as doenças, a malária voltou a
crescer no Padauiri, Marari, Marauiá e Ajuricaba, por isso ficamos
preocupados. A malária também está aumentando lá
no Alto Mucajaí, no Parawau, que tem uns 30 casos. Estão
voltando com força as doenças que os garimpeiros deixaram
em nossa floresta, tuberculose também aumentou, diarréia
e doenças venéreas”.
O Presidente da Hutukara afirma que apesar dos Yanomami terem insistido
em obter respostas diretas sobre a constante degradação
do sistema de atendimento durante todas as reuniões do Conselho
do Distrito Sanitário Yanomami desde o começo do ano,
não ouviram nada além de evasivas. “Eles diziam
que não sabiam, que não sabiam explicar, que não
era com eles, que eles não podiam resolver os problemas, somente
os chefes deles poderiam resolver. Eles diziam que somente os chefes
têm autonomia, têm dinheiro na mão, que eles não
podiam falar porque ficariam com o ‘rabo preso’. Por isso,
decidimos pedir diretos para os chefes deles”, declarou o Presidente
da Hutukara, Davi Kopenawa.
Na reunião do Conselho Distrital aberta ontem continuaram as
manobras dilatórias a fim de contornar a manifestação
de protesto dos Conselheiros Yanomami, suscitando sua crescente impaciência.
Além disso, segundo Davi Kopenawa, a organização
da reunião ficou enviesada, não tendo o grau de representatividade
esperado: “A FUNASA não preparou bem a reunião.
Eles não chamaram o Conselho Indígena de Roraima (CIR),
não chamaram a Funai, não chamaram a Polícia Federal,
não chamaram ninguém de fora para ajudar a esclarecer
os problemas de saúde”.
Os Conselheiros Yanomami voltarão à sede da FUNASA hoje,
sexta-feira, dia 16 de setembro, a fim de cobrar respostas diretas do
seu Coordenador Regional Ramiro Teixeira e a resolução
imediata dos problemas do atendimento em saúde na Terra Indígena
Yanomami.
CCPY
Brasília, 15 de Setembro de 2005.