RELATÓRIO
DA FUNASA CONFIRMA GRAVE EPIDEMIA DE MALÁRIA E CRISE NA ASSISTÊNCIA
DO DISTRITO SANITÁRIO YANOMAMI
Finalmente
a FUNASA através do “Relatório Técnico da
Malária- Distrito Sanitário Yanomami - 2006” reconhece
que está em curso no Distrito Sanitário Yanomami (DSY)
uma grave epidemia de malária que pode superar, até o
final do ano, os níveis epidêmicos registrados na década
de 90 que foram motivo de escândalo internacional e de vergonha
para o Brasil.
Somente
no primeiro semestre de 2006 foram notificados 2.591 casos, representando
um aumento de 470 % em relação ao mesmo período
no ano anterior. Além dos fatores que sempre contribuíram
para a penetração da doença no DSY (garimpo e frentes
de colonização), e que não se alteraram significativamente
nos últimos dois anos, a FUNASA identificou problemas no gerenciamento
do DSY e os conseqüentes efeitos na qualidade e intensidade das
ações de controle da doença:
“Outros
fatores importantes que contribuíram significativamente para
o incremento, disseminação da doença e falta
de sustentabilidade das ações de controle executadas
foram a instabilidade dos convênios com as ONG’s parceiras
(FUBRA e SECOYA principalmente), falta de repasses dos recursos e
paralisação dos trabalhos de campo pelos funcionários.”
Nenhuma
novidade. Desde o início de 2005, lideranças yanomami
reiteradamente denunciaram a degradação da assistência
e o aumento da malária. Reclamavam que as aldeias deixaram de
receber visitas na freqüência desejável e algumas
comunidades de mais difícil acesso foram simplesmente abandonadas.
Com dados obviamente incorretos pela sub-notificação,
a FUNASA negava a palavra dos yanomami e permanecia inerte à
situação.
A
omissão da FUNASA pode ser confirmada pela análise do
número de exames de sangue realizados no DSY para o diagnóstico
da malária. De 2000 até a metade de 2004 a URIHI se responsabilizou
pela assistência de cerca de 50 % da população yanomami.
Encontrando a malária em níveis epidêmicos, a URIHI
coletou, em seu primeiro ano de trabalho, 73.650 exames. Os casos diagnosticados
eram prontamente tratados.
Assim, o número de casos nas áreas atendidas pela organização
foi diminuindo a cada mês e, ao final de 2003, foi alcançada
uma redução de 99% na incidência da doença.
De principal causa de morte entre os yanomami na década de 90,
a partir de 2002 a mortalidade pela malária caiu a zero. Já
em 2005, início da atual epidemia, foram realizados em todo o
DSY apenas 72.963 exames, o que representa uma queda de 50 % na principal
atividade de controle da malária. Óbitos pela doença
voltaram a ocorrer. Para aumentar a estranheza e a indignação,
a decadência da assistência da população yanomami
ocorre enquanto são triplicados os gastos com a sua saúde.
Diante
de tudo disso, o Conselho Distrital de Saúde do DSY vem exigindo
repetidamente que a FUNASA tome providências concretas para enfrentar
essa desastrosa crise na saúde dos yanomami. Dentre as medidas
recomendadas estão a revisão do modelo de gestão
do DSY, a investigação do inexplicável aumento
dos gastos bem como a substituição dos convênios
claramente ineficientes por uma parceria com o Conselho Indígena
de Roraima, organização com reconhecida experiência
no atendimento à saúde indígena.
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Urihi-Saúde
Yanomami
01 de Novembro de 2006 |