APESAR
DOS GASTOS EXORBITANTES, A INCOMPETÊNCIA E A NEGLIGÊNCIA
DA FUNASA SÃO RESPONSÁVEIS POR EPIDEMIA DE MALÁRIA
E MORTES ENTRE OS YANOMAMI.
Dados
da própria FUNASA dão conta de uma grave epidemia de malária
e o retorno de óbitos na população Yanomami
por essa doença. Somente no primeiro semestre deste ano foram
registrados 2.478 casos de malária e pelo menos 2 mortes pela
enfermidade (dados ainda incompletos). Isso representa um calamitoso
aumento da incidência da malária de cerca de 450 % em relação
ao mesmo período do ano anterior. O pior é saber que,
com o atual caos nos serviços de saúde, muitas aldeias
estão completamente sem assistência e, portanto, os números
de casos de malária e mortes devem ser muito superiores ao até
então registrado.
A
malária foi introduzida na área Yanomami no final da década
de 80 com a invasão de garimpeiros e prosperou por toda a década
de 90, alcançando os mais altos índices de incidência
e mortalidade do mundo. Este grave problema de saúde foi motivo
de escândalo internacional e vergonha para as autoridades brasileiras.
Com
a reforma da saúde indígena e a criação
de um sistema de saúde eficiente para o Distrito Sanitário
Especial Indígena Yanomami (DSY), que teve a colaboração
de organizações não-governamentais (1999), a malária,
principal causa de morte entre os Yanomami à época, foi
sofrendo uma redução ano a ano em sua incidência,
deixando de ser causa de morte nesta população de 2001
a 2004. Quando os Yanomami finalmente começaram a se recuperar
da tragédia que provocou a morte de milhares de pessoas e destruiu
famílias e aldeias, a FUNASA arbitrariamente decide promover
uma “contra-reforma” na saúde indígena que
tornou inviáveis as parcerias com as organizações
não-governamentais, com a finalidade de concentrar mais recursos
nas suas coordenações regionais, loteadas para grupos
políticos locais aliados ao atual governo (julho/2004). O pretexto
utilizado foi o de assumir a execução direta das ações
de saúde alegando que a centralização proporcionaria
uma redução dos custos dos Distritos Sanitários
Especiais Indígenas. Ao contrário, no Distrito Sanitário
Yanomami se gasta hoje 3 vezes mais do que antes da “contra-reforma”.
Ao mesmo tempo, a FUNASA e a sua principal conveniada para a contratação
de recursos humanos, a Fundação Universidade de Brasília
(FUB), estão assoladas em acusações de irregularidades
constatadas pelo Ministério Público Federal e a própria
Gerência de Convênios da FUNASA.
As
lideranças Yanomami vêm, desde o início das mudanças,
denunciando o desmantelamento dos seus serviços de assistência
à saúde e a não cobertura de todas as aldeias,
principalmente as de mais difícil acesso, e o conseqüente
aumento progressivo das doenças e da mortalidade. O que aumenta
a indignação de todos aqueles que acompanham esta trágica
situação é a resposta da FUNASA, que optou por
desmentir os índios e apresentar dados obviamente sub-notificados,
concluindo cinicamente que estaria havendo uma melhora nos indicadores
de saúde. Em contradição, informações
oficiais dos últimos 2 anos demonstram a diminuição
dos exames de rotina realizados para o diagnóstico da malária
e a ocorrência de diversas crises de abastecimento e paralisações
de funcionários por falta de pagamento.
A
continuar a incidência da malária nos níveis atuais,
podemos prever um total de 5.000 casos até o final do ano, um
dos mais altos índices de incidência da doença na
história do DSY. Entretanto, a julgar pelo crescimento mensal
de casos e a atitude irresponsável da FUNASA em resposta ao problema,
podem ser alcançados níveis ainda mais altos, trazendo
para o Brasil mais um triste recorde em desastres na saúde pública.
Para
reverter a situação as lideranças Yanomami e sua
organização HUTUKARA recentemente pediram que a FUNASA
transferisse o atual convênio com a FUB para o Conselho Indígena
de Roraima (CIR), organização com experiência bem
sucedida em saúde indígena no estado, em oposição
à tresloucada proposta da FUNASA de estabelecer uma parceria,
agora, com a Fundação AJURI. Esta fundação
nunca teve nenhuma experiência anterior em saúde ou qualquer
outro assunto relacionado aos índios de Roraima e é recomendada
pelo senador Romero Jucá, que não por acaso foi o omisso
presidente da FUNAI na época da invasão de garimpeiros
na área yanomami e, também não por acaso, é
o autor da proposta de regulamentação da mineração
em áreas indígenas que tramita no Congresso Nacional.
Esperamos
que, ante a grave situação atual, a FUNASA interrompa
o desatroso ciclo de incompetência técnica e prepotência
política e atenda aos apelos dos Yanomami para a imediata reconstrução
do Distrito Sanitário Yanomami e, para tanto, tenha o bom senso
de aproveitar a experiência e competência do Conselho Indígena
de Roraima.
Boa Vista – RR, 06 de julho de 2006
|
Urihi-Saúde
Yanomami
06 de Julho de 2006 |