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A expedição da fotógrafa Claudia Andujar até a
aldeia Yanomami em 1976 será mostrado em fotografias.
No sábado será inaugurada uma exposição retrospectiva
com os índios Yanomami, de Roraima á partir dos anos 60, na Pinacoteca
do Estado , em São Paulo.A mostra de fotos retirada toda a viagem a bordo
de um Fusca preto, da fotógrafa Claudia Andujar, uma das fundadoras da
CCPY, Comissão Pró-Yanomami, que no final da década de
70, se engajou na luta dos indígenas yanomami.
A fotógrafa partiu de São Paulo em 1976 para percorrer mais
de 3.000 km. Seu destino era a tribo yanomami em Roraima, onde ela ficou durante
14 meses.
A expedição ao Brasil profundo mudou radicalmente a vida de
Claudia Andujar, 73, de origem romena, criada na Hungria e nos EUA e naturalizada
brasileira em 1957.
De volta à cidade, a luta em defesa dos yanomamis traria outro significado
à sua vida. Trinta anos após a corajosa empreitada, Andujar recoloca
seu valioso trabalho fotográfico em primeiro plano. Em fevereiro a editora
Cosac Naify lança o livro "A Vulnerabilidade do Ser", sobre
sua trajetória.
A expedição que levou a fotógrafa até a aldeia
yanomami em 1976 não foi a primeira nem a última aventura dela
pelo Brasil.
“Lembro das dificuldades da estrada, era época da seca e a toda
hora tínhamos que descer do carro para tirar a areia da frente",
conta Andujar, que teve a companhia de um amigo no percurso. "Quando cheguei,
os índios chamaram meu carro de urubu e construíram um abrigo
para ele." Ela já havia estado com outras etnias indígenas.
Os carajás, na região do Tocantins, foram os primeiros com os
quais ela teve contato, em 1958, por sugestão dos amigos Carmem Junqueira
e Darcy Ribeiro.
No início, as viagens eram motivadas pela curiosidade, mas, com o tempo,
se transformaram em ganha-pão. Andujar passou a atuar como fotojornalista
para revistas brasileiras, como "Realidade", e para publicações
estrangeiras, incluindo as americanas "Life" e "The New York
Magazine".
Na década de 60, ela fez retratos de Clarice Lispector e de Chico Buarque
e produziu um longo ensaio com famílias de diferentes regiões,
publicado somente em 2003 pela Revista da Folha.
A exposição da Pinacoteca abre espaço para todas essas
facetas. "Decidi rever meu arquivo, traçar o mapa da minha vida.
É um longo percurso, fiz muitas viagens. Para mim, foi o modo de vida
que escolhi e no qual a fotografia se encaixou", diz.
A obra de Andujar ultrapassa as barreiras da fotografia documental. Há
uma forte ligação entre seu trabalho e a arte contemporânea,
sobretudo em imagens nas quais ela recria os sonhos dos índios, usando
a sobreposição de suas próprias fotografias.
"Se há contemporaneidade no meu trabalho é pelo fato de
retrabalhar o que foi feito. É uma maneira de situá-lo, de colocá-lo
em um contexto" .
Andujar refaz suas fotos também na composição de instalações,
suporte que utiliza com freqüência. Na galeria, há uma videoinstalação,
realizada em parceria com a dupla de jovens artistas Gisela Motta e Leandro
Lima. Na Pinacoteca, há uma referência indireta à instalação,
já que a montagem propõe um percurso e cria ambientes para o visitante.
O primeiro indício de sua inclinação artística
remete à época em que vivia nos EUA, antes de aportar no Brasil,
quando produzia pinturas abstratas que foram elogiadas por Pietro Maria Bardi.
"Aqui, deixei de pintar, fiquei mais interessada pelo país e pelo
encontro com as pessoas."
Sabedoria
No final da década de 70, quando se engajou na luta pelos ianomâmis,
Andujar fundou a CCPY, Comissão Pró-Yanomami, entidade que desempenhou
papel importante na demarcação das terras indígenas em
1991. Hoje, ela não está mais no comando e apenas acompanha as
atividades.
A recompensa pela dedicação parece ser o que ela encontrou no
contato com os índios: "A simplicidade de viver e, ao mesmo tempo,
uma sabedoria de vida".