Untitled Document
Números
mostram que Funasa tem desempenho aquém do ideal
Em algumas
aldeias, índice de mortalidade é de 100 a cada mil nascidos
Lígia
Formenti
Ao
criticar a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), na semana
passada, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, foi
chamado de inábil, abriu espaço para seus adversários e
irritou o PMDB. Entre especialistas , porém, há um consenso: ele
não errou ao dizer que os serviços prestados pela instituição
são de baixa qualidade.
A
saúde indígena recebe quase três vezes mais do que os programas
de saúde em geral: cerca de R$ 900 per capita diante dos R$ 270 destinados
para o restante da população. Algo justificável pelas condições
do atendimento e pela distância entre aldeias. O que não se explica,
afirmam sanitaristas, são os indicadores de saúde, que revelam
as precárias condições em que vive boa parte da população
indígena.
"Em
algumas aldeias, o índice de mortalidade chega a 100 por mil nascidos
vivos", afirma o chefe da unidade de Saúde e Meio Ambiente do Departamento
de Medicina Preventiva da Universidade Federal de São Paulo, Douglas
Rodrigues, que há mais de 20 anos trabalha com os índios no Projeto
Xingu.
Nas
estatísticas do Ministério da Saúde, outros exemplos das
condições inadequadas de atendimento. A mortalidade entre faixas
etárias mais novas é tanta que há uma inversão da
tendência natural: morrem bem menos idosos do que jovens. As causas mais
comuns de morte são as não-identificadas - para sanitaristas,
um sinalizador da baixa qualidade de atendimento.
O
diretor de Saúde Indígena da Funasa, Wanderley Guenca, não
contesta os dados. Mas se defende: "A Funasa cuida da saúde indígena
há oito anos. Ninguém sabe quais eram os dados antes disso. Certamente,
eram muito piores."
O
sistema de saúde indígena é estruturado basicamente por
convênios, firmados entre Funasa com outras fundações e
organizações não-governamentais (ONGs). Uma fórmula
que já provocou críticas e abre espaço para uma série
de irregularidades, apontadas por diversos relatórios do Tribunal de
Contas da União (TCU) e do Ministério Público.
Somente
no ano passado, foram feitas 157 auditorias, 83 sindicâncias. Até
julho deste ano, foram contabilizadas 149 investigações, que resultaram
na abertura de 41 sindicâncias. De acordo com Guenca, todos os processos
são resultado de pedidos feitos por órgãos externos à
Funasa.