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Um
grito na tribo
DESCOBRINDO OS BRANCOS
Davi Kopenawa Yanomami - Foto tirada pela fotógrafa
do museu
de Oslo Anne Christine Eek
Este
depoimento de Davi Kopenawa Yanomami foi publicado no livro A outra
margem do Ocidente: Brasil 500 anos, experiência e destino, pela Editora
Companhia das Letras e organizado por Adalto Novaes.
Depoimento
recolhido,
traduzido do Yanomami e
editado por Bruce Albert,
antropólogo do IRD, Paris
"Davi Kopenawa, nascido em 1956, vive na aldeia
yanomami de Watoriki, situada ao pé da serra do Demini ("serra do vento"),
no estado do Amazonas. Seu grupo de origem foi quase inteiramente aniquilado
no alto rio Toototobi (perto da fronteira venezuelana) por duas epidemias
sucessivas após contatos estabelecidos com o Serviço de Proteção ao Índio
(SPI) e com a missão evangélica Novas Tribos do Brasil (NTB) (1950-60,
gripe [?]; 1967, sarampo). Criança, Davi Kopenawa perdeu, assim, a maior
parte dos membros de sua família. Em seguida sofreu, e depois rejeitou,
o proselitismo dos missionários da NTB, abandonando na adolescência sua
região natal para trabalhar na Fundação Nacional do Índio (Funai) como
intérprete. No começo dos anos 80, fixou-se em Watoriki, ali se casando
com a filha do líder da comunidade, xamã renomado que o iniciou e, tradicionalista
convicto, permanece seu mentor. Ele é hoje a um só tempo chefe do posto
indígena Demini e um dos mais influentes xamãs de Watoriki.
A invasão de suas terras por cerca de 30 a 40 mil garimpeiros custou a
vida, entre 1987 e 1990, de mais de mil Yanomami no Brasil. Chocado com
essa tragédia que reavivou nele a lembrança das que dizimaram sua família
nos anos 60, Davi Kopenawa engajou-se em uma luta incansável contra a
destruição de seu povo e da floresta de sua terra. Graças a sua experiência
dos brancos e à firmeza intelectual que lhe confere o saber xamanístico,
tornou-se rapidamente o principal porta-voz da causa yanomami, no Brasil
e no mundo. Visitou, ao longo dos anos 80 e 90, vários países da Europa
e os Estados Unidos. Recebeu, depois de Chico Mendes, o prêmio Global
500 do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e, recentemente,
a Ordem de Rio Branco ao grau de Cavaleiro."
Bruce
Albert
DOS ESPÍRITOS CANIBAIS -
Davi Kopenawa Yanomami
Há muito tempo, meus avós, que habitavam Mõramahi araopi, uma casa situada
muito longe, nas nascentes do rio Toototobi, iam às vezes visitar nas
terras baixas outros Yanomami estabelecidos ao longo do rio Aracá. Foi
lá que encontraram os primeiros brancos. Esses estrangeiros coletavam
fibra de palmeira piaçaba ao longo do rio. Durante essas visitas nossos
mais velhos obtiveram seus primeiros facões. Eles me contaram isso muitas
vezes quando eu era criança. Naquele tempo, eles só encontravam brancos
ao viajar muito longe de sua aldeia e não iam vê-los sem motivo, simplesmente
para visitá-los. Haviam visto suas ferramentas metálicas e as cobiçavam,
pois possuíam apenas pedaços de metal que Omama deixara. Era durante essas
longas viagens que, de vez em quando, eles conseguiam obter um facão ou
mesmo um machado. Trabalhavam então em suas plantações emprestando-o uns
aos outros. Quando um tinha aberto sua plantação, passava-o a um outro
e assim por diante. Eles emprestavam também essas poucas ferramentas metálicas
de uma aldeia a outra. Não era para procurar fósforos que iam ver os brancos
tão longe, não: tinham seus paus de cacaueiro para fazer fogo. Evidentemente,
eles achavam as panelas de alumínio muito bonitas, mas tampouco era por
isso que faziam aquelas viagens: também tinham vasilhas de terracota para
cozinhar sua caça. Era realmente por seus facões e seus machados que iam
visitar aqueles estrangeiros.
Mas foi bem mais tarde, quando habitávamos Marakana, mais para o lado
da foz do rio Toototobi, que os brancos visitaram nossa casa pela primeira
vez. Na época, nossos mais velhos estavam ainda todos vivos e éramos muito
numerosos, eu me lembro. Eu era um menino, mas começava a tomar consciência
das coisas. Foi lá que comecei a crescer e descobrir os brancos. Eu nunca
os vira, não sabia nada deles. Nem mesmo pensava que eles existissem.
Quando os avistei, chorei de medo. Os adultos já os haviam encontrado
algumas vezes, mas eu, nunca! Pensei que eram espíritos canibais e que
iam nos devorar. Eu os achava muito feios, esbranquiçados e peludos. Eles
eram tão diferentes que me aterrorizavam. Além disso, não compreendia
nenhuma de suas palavras emaranhadas. Parecia que eles tinham uma língua
de fantasmas. Eram pessoas da "Comissão". Os mais velhos diziam que eles
roubavam as crianças, que já as haviam capturado e levado com eles quando
tinham subido o rio Mapulaú, no passado. Era por isso também que eu tinha
muito medo: estava certo de que também iam me levar. Meus avós já haviam
contado muitas vezes essa história, eu os ouvira dizer: "Sim, esses brancos
são ladrões de crianças!", e tinha muito medo. Por que eles levaram aquelas
crianças? Eu me pergunto isso ainda hoje.
Quando aqueles estrangeiros entravam em nossa habitação, minha mãe me
escondia debaixo de um grande cesto de cipó, no fundo de nossa casa. Ela
me dizia então: "Não tenha medo! Não diga uma palavra!", e eu ficava assim,
tremendo sob meu cesto, sem dizer nada. Eu me lembro, no entanto devia
ser realmente muito pequeno, senão não teria cabido debaixo daquele cesto!
Minha mãe me escondia pois também temia que os brancos me levassem com
eles, como tinham roubado aquelas crianças, da primeira vez. Era também
para me acalmar, pois eu estava aterrorizado e só parava de chorar quando
estava escondido. Todos os bens dos brancos me assustavam também: tinha
medo de seus motores, de suas lâmpadas elétricas, de seus sapatos, de
seus óculos e de seus relógios. Tinha medo da fumaça de seus cigarros,
do cheiro de sua gasolina. Tudo me assustava, porque nunca vira nada de
semelhante e ainda era pequeno! Mas, quando seus aviões nos sobrevoavam,
eu não era o único a ficar assustado, os adultos também tinham medo; alguns
chegavam mesmo a romper em soluços, e todo mundo fugia para a mata vizinha!
Nós somos habitantes da floresta, não conhecíamos os aviões e estávamos
aterrorizados .
Pensávamos que eram seres sobrenaturais voadores que iam cair sobre nós
e queimar todos. Todos tínhamos muito medo de morrer! Eu me lembro que
também tinha medo das vozes que saíam dos rádios e da explosão dos fuzis
que matavam a caça. Perguntava-me o que todas aquelas coisas que me pareciam
sobrenaturais poderiam ser! Perguntava-me também por que aquelas pessoas
tinham vindo até nossa casa.
Mais tarde, realmente comecei a crescer e pensar direito, mas continuei
a me perguntar: "O que os brancos vêm fazer aqui? Por que abrem caminhos
em nossa floresta?". Os mais velhos me respondiam: "Ele vêm sem dúvida
visitar nossa terra para habitar aqui conosco mais tarde!". Mas eles não
compreendiam nada da língua dos brancos; foi por isso que os deixaram
penetrar em sua terra dessa maneira amistosa. Se tivessem compreendido
suas palavras, acho que os teriam expulsado. Aqueles brancos os enganaram
com seus presentes. Deram-lhes machados, facões, facas, tecidos. Disseram-lhes,
para adormecer sua desconfiança: "Nós, os brancos, nunca os deixaremos
desprovidos, lhes daremos muito de nossas mercadorias e vocês se tornarão
nossos amigos!". Mas, pouco depois, nossos parentes morreram quase todos
em uma epidemia, depois em uma outra. Mais tarde, muitos outros Yanomami
novamente morreram quando a estrada entrou na floresta e bem mais ainda
quando os garimpeiros chegaram ali com sua malária. Mas, dessa vez, eu
tinha me tornado adulto e pensava direito; sabia realmente o que os brancos
queriam ao penetrar em nossa terra.
DESCOBRIR
O DESCOBRIMENTO
Os brancos são engenhosos, têm muitas máquinas e mercadorias, mas não
têm nenhuma sabedoria. Não pensam mais no que eram seus ancestrais quando
foram criados. Nos primeiros tempos, eles eram como nós, mas esqueceram
todas as suas antigas palavras. Mais tarde, atravessaram as águas e vieram
em nossa direção. Depois, repetem que descobriram esta terra. Só compreendi
isso quando comecei a compreender sua língua. Mas nós, os habitantes da
floresta, habitamos aqui há longuíssimo tempo, desde que Omama nos criou.
No começo das coisas, aqui só havia habitantes da floresta, seres humanos.
Os brancos clamam hoje: "Nós descobrimos a terra do Brasil!". Isso não
passa de uma mentira. Ela existe desde sempre e Omama nos criou com ela.
Nossos ancestrais a conheciam desde sempre. Ela não foi descoberta pelos
brancos! Muitos outros povos, como os Makuxi, os Wapixana, os Waiwai,
os Waimiri-Atroari, os Xavante, os Kayapó e os Guarani ali viviam também!
Mas, apesar disso, os brancos continuam a mentir para si mesmos pensando
que descobriram esta terra! Como se ela estivesse vazia! Como se os seres
humanos não a habitassem desde os primeiros tempos!
Os brancos foram criados em nossa floresta por Omama mas ele os expulsou
porque temia sua falta de sabedoria e porque eram perigosos para nós.
Ele lhes deu uma terra, muito longe daqui, pois queria nos proteger de
suas epidemias e de suas armas. Foi por isso que os afastou. Mas esses
ancestrais dos brancos falaram a seus filhos dessa floresta e suas palavras
se propagaram por muito tempo. Eles se lembraram: "É verdade! Havia lá,
ao longe, uma outra terra muito bela!", e voltaram para nós. Na margem
desta terra do Brasil aonde eles chegaram viviam outros índios. Esses
brancos eram pouco numerosos e começaram a mentir: "Nós, os brancos, somos
bons e generosos! Damos presentes e alimentos! Vamos viver a seu lado
nesta terra com vocês! Seremos seus amigos!". Era com essas mesmas mentiras
que tentavam nos enganar desde que também chegaram a nós. Depois dessas
primeiras palavras de mentira eles foram embora e falaram entre si. Depois
voltaram muito numerosos. No começo, sem casa nesta terra, ainda mostravam
amizade pelos índios. Tinham visto a beleza desta floresta e queriam se
estabelecer aqui. Mas desde que se instalaram realmente, desde que construíram
suas habitações e abriram suas plantações, desde que começaram a criar
gado e a cavar a terra para procurar ouro, esqueceram sua amizade. Começaram
a matar as gentes da floresta que viviam perto deles.
Nos primeiros tempos, os seres humanos eram muito numerosos nesta terra.
É o que diziam nossos mais velhos. Não havia doenças perigosas, sarampo,
gripes, malária. Estávamos sozinhos, não havia garimpeiros para queimar
o ouro, fábricas para produzir ferro e gasolina, carros e aviões. A floresta
e os que a habitavam não estavam o tempo todo doentes. Foi apenas quando
os brancos se tornaram muito numerosos que sua fumaça-epidemia xawara
começou a aumentar e se propagar por toda parte. Essa coisa má se tornou
muito poderosa e foi assim que as gentes da floresta começaram a morrer.
Quando viviam sem os brancos nossos ancestrais não tinham fábricas, caçavam
e trabalhavam em suas plantações para fazer crescer seu alimento. Também
não sujavam todos os rios como esses brancos que agora procuram ouro em
nossas terras.
"Nós descobrimos estas terras! Possuímos os livros e, por isso, somos
importantes!", dizem os brancos. Mas são apenas palavras de mentira. Eles
não fizeram mais que tomar as terras das gentes da floresta para se pôr
a devastá-las. Todas as terras foram criadas em uma única vez, as dos
brancos e as nossas, ao mesmo tempo que o céu. Tudo isso existe desde
os primeiros tempos, quando Omama nos fez existir. É por isso que não
creio nessas palavras de descobrir a terra do Brasil. Ela não estava vazia!
Creio que os brancos querem sempre se apoderar de nossa terra, é por isso
que repetem essas palavras. São também as dos garimpeiros a propósito
de nossa floresta: "Os Yanomami não habitavam aqui, eles vêm de outro
lugar! Esta terra estava vazia, queremos trabalhar nela!". Mas eu, sou
filho dos antigos Yanomami, habito a floresta onde viviam os meus desde
que nasci e eu não digo a todos os brancos que a descobri! Ela sempre
esteve ali, antes de mim. Eu não digo: "Eu descobri esta terra porque
meus olhos caíram sobre ela, portanto a possuo!". Ela existe desde sempre,
antes de mim. Eu não digo: "Eu descobri o céu!". Também não clamo: "Eu
descobri os peixes, eu descobri a caça!". Eles sempre estiveram lá, desde
os primeiros tempos. Digo simplesmente que também os como, isso é tudo.
O POVO DAS MERCADORIAS
Quando viajei para longe, vi a terra dos brancos lá onde havia muito tempo
viviam seus ancestrais. Visitei a terra que eles chamam Eropa. Era sua
floresta, mas eles a desnudaram pouco a pouco cortando suas árvores para
construir suas casas. Eles fizeram muitos filhos, não pararam de aumentar,
e não havia mais floresta. Então, eles pararam de caçar, não havia mais
caça também. Depois, seus filhos puseram-se a fabricar mercadorias e seu
espírito começou a obscurecer-se por causa de todos esses bens sobre os
quais fixaram seu pensamento. Eles construíram casas de pedra, para que
não se deteriorassem. Continuaram a destruir a floresta, dizendo-se: "Nós
vamos nos tornar o povo das mercadorias! Vamos fabricar muitas delas e
dinheiro também! Assim, quando formos realmente muito numerosos, jamais
seremos miseráveis!". Foi com esse pensamento que eles acabaram com sua
floresta e sujaram seus rios. Agora, só bebem água "embrulhada", que precisam
comprar. A água de verdade, a que corre nos rios, já não é boa para beber.
Nos primeiros tempos, os brancos viviam como nós na floresta e seus ancestrais
eram pouco numerosos. Omama transmitiu também a eles suas palavras, mas
não o escutaram. Pensaram que eram mentiras e puseram-se a procurar minerais
e petróleo por toda parte, todas essas coisas perigosas que Omama quisera
ocultar sob a terra e a água porque seu calor é perigoso. Mas os brancos
as encontraram e pensaram fazer com elas ferramentas, máquinas, carros
e aviões. Eles se tornaram eufóricos e se disseram: "Nós somos os únicos
a ser tão engenhosos, só nós sabemos realmente fabricar as mercadorias
e as máquinas!". Foi nesse momento que eles perderam realmente toda sabedoria.
Primeiro estragaram suas próprias terras antes de ir trabalhar nas dos
outros para aumentar suas mercadorias sem parar. Nunca mais eles se disseram:
"Se destruirmos a terra, será que seremos capazes de recriar uma outra?".
Quando conheci a terra dos brancos isso me deixou inquieto. Algumas cidades
são belas, mas seu barulho não pára nunca. Eles correm por elas com carros,
nas ruas e mesmo com trens debaixo da terra. Há muito barulho e gente
por toda parte. O espírito se torna obscuro e emaranhado, não se pode
pensar direito. É por isso que o pensamento dos brancos está cheio de
vertigem e eles não compreendem nossas palavras. Eles não fazem mais que
dizer: "Estamos muito contentes de rodar e de voar! Continuemos! Procuremos
petróleo, ouro, ferro! Os Yanomami são mentirosos!". O pensamento desses
brancos está obstruído, é por isso que eles maltratam a terra, desbravando-a
por toda parte, e cavam até debaixo de suas casas. Eles não pensam que
ela vai acabar por desmoronar. Eles não temem cair no mundo subterrâneo.
Porém, é assim. Se os "brancos-espíritos-tatus-gigantes" [mineradoras]
entram por toda parte sob a terra para retirar os minérios, eles vão se
perder e cair no mundo escuro e podre dos ancestrais canibais.
Nós, nós queremos que a floresta permaneça como é, sempre. Queremos viver
nela com boa saúde e que continuem a viver nela os espíritos xapiripë,
a caça e os peixes. Cultivamos apenas as plantas que nos alimenta, não
queremos fábricas, nem buracos na terra, nem rios sujos. Queremos que
a floresta permaneça silenciosa, que o céu continue claro, que a escuridão
da noite caia realmente e que se possam ver as estrelas. As terras dos
brancos estão contaminadas, estão cobertas de uma fumaça-epidemia xawara
que se estendeu muito alto no peito do céu. Essa fumaça se dirige para
nós mas ainda não chega lá, pois o espírito celeste Hutukarari a repele
ainda sem descanso. Acima de nossa floresta o céu ainda é claro, pois
não faz tanto tempo que os brancos se aproximaram de nós. Mas bem mais
tarde, quando eu estiver morto, talvez essa fumaça aumente a ponto de
estender a escuridão sobre a terra e de apagar o sol. Os brancos nunca
pensam nessas coisas que os xamãs conhecem, é por isso que eles não têm
medo. Seu pensamento está cheio de esquecimento. Eles continuam a fixá-lo
sem descanso em suas mercadorias, como se fossem suas namoradas.
Tradução do francês de Maria Lucia Machado
NOTAS
O rio Aracá é, como o rio Toototobi, um afluente do rio
Demini, ele próprio tributário da margem esquerda do rio Negro.
Os antigos Yanomami possuíam fragmentos de facões e de machados muito
gastos, que obtinham por um complexo circuito de trocas interétnicas,
mas cuja origem atribuíam a Omama, seu herói cultural.
Uma equipe da Comissão dos Limites (CBDL) subiu o rio Toototobi em 1958-9.
Alusão a uma primeira visita da CBDL ao rio Toototobi, em 1941.
A BR-210 (Perimetral Norte), aberta em 1973-4 e abandonada em 1976, depois
de cortar duzentos quilômetros a sudeste do território yanomami.
A autodesignação dos Yanomami - yanomae thëpë - significa antes de tudo
"seres humanos', e se aplica também aos outros índios, opondo-se aos animais,
aos seres sobrenaturais e, em certa medida, aos não-índios (napëpë).
Os brancos foram criados por Omama a partir do sangue de um grupo de ancestrais
Yanomami devorados por lontras e jacarés numa grande enchente provocada
pela quebra de um resguardo menstrual.
A expressão xawara wakixi ("epidemia fumaça") designa aqui a um só tempo
as epidemias e a poluição, às quais é atribuída a mesma origem: a fusão
do ouro, dos metais, e dos carburantes extraídos da terra para produzir
as mercadorias dos brancos e abastecer seus veículos.
O universo yanomami compõe-se de quatro níveis superpostos suspensos em
um "grande vazio". O mundo subterrâneo foi formado pela queda do nível
terrestre na aurora dos tempos. É habitado pelos ancestrais Yanomami da
primeira humanidade, que se tornaram monstros canibais (os aõpataripë).
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