BOLETIM URIHI Nº 9
SÃO PAULO, JULHO DE 1989
EDITADO PELA COMISSÃO PELA CRIAÇÃO DO PARQUE YANOMAMI
(CCPY)
RUA MANOEL DE NÓBREGA 111 3º CJ.32
04001 SÃO PAULO SP
COLABORADORES
DESTE NÚMERO
TEXTO: ALCIDA RAMOS
ILUSTRAÇÃO:
CIÇA FITTIPALDI
FOTOGRAFIA: RENATO DOS
ANJOS
Amigos
Este número do Boletim URIHI apresenta relatório de viagem da antropóloga Alcida R. Ramos, que representou
a Associação Brasileira de Antropologia (ABA)
na comitiva da Ação pela
Cidadania que visitou Roraima de 9 a 12 de junho de 1989. O relatório foi preparado para a ABA e gentilmente cedido à CCPY. Formada
por 20 pessoas, entre elas os subprocuradores da República
Carlos Eduardo Vasconcelos
e Wagner Gonçalves,
além do subprocurador
geral Claudio Fonteles,
o senador Severo Gomes (PMDB/SP) e o
deputado federal Plínio de Arruda Sampaio (PT/SP),
a comitiva da Ação pela
Cidadania constatou a
urgência de se tomarem medidas efetivas para evitar o genocídio
Yanomami.
A volta da viagem, reuniram-se os
membros da comitiva no auditório da CNBB
em Brasília, sob a presidência de d.
Luciano Mendes de
Almeida - com a participação de
representantes da Ação
pela Cidadania, parlamentares, ABA, CIMI, CEDI, CCPY, SBPC, OAB,
INESC, Comissão Teotônio
Vilela, Fundação Oswaldo Cruz, Procuradoria Geral da
República, jornalistas, e do
Presidente do IBAMA,
Fernando César
Mesquita para decidir as iniciativas a serem adotadas
em relação à dramática situação da
população indígena de Roraima.
Em primeiro lugar, decidiu-se pela publicação do relatório RORAIMA: O Aviso da Morte, elaborado pela Ação pela Cidadania. Editado pela
CCPY/CEDI/CIMI, terá uma
tiragem de 16 mil exemplares ilustrados com mapas e fotos, para ampla divulgação. Está sendo também traduzido para o inglês, para tornar-se a base de uma vasta
campanha em defesa dos povos indígenas
de Roraima no Brasil e no exterior.
Também um vídeo filmado no local
por uma equipe do CEDI está sendo preparado, de
modo a que se disponha de instrumentos
para uma ampla
mobilização das forças políticas e dos órgãos
da sociedade
civil, em torno da
exigência do cumprimento
da Constituição
Federal no que se refere
aos direitos dos índios.
Por seu lado, a Procuradoria
Geral da República criou a Coordenadoria de Defesa dos Direitos
e Interesses das Populações Indígenas, que vai propor ao Ministério
da Aeronáutica e à Superintendência da
Polícia Federal a interdição de 54 pistas
de pouso utilizadas pelo garimpo, situadas em áreas
indígenas ou de florestas nacionais. Em seu segundo ato, vai abrir um
inquérito civil público para levantar a situação fundiária
das áreas Yanomami e
os critérios que determinaram
a demarcação das 19 "ilhas"
- áreas indígenas, considerada inconstitucional.
Os deputados e senadores
participantes da
Ação pela Cidadania, acompanhados das entidades de apoio à questão dos índios de Roraima (OAB,
CNBB, ABI, SBPC
e outros), organizarão visitas
aos ministérios da Aeronáutica, do Interior e da Justiça, além de ao titular do SADEN (antigo Conselho de
Segurança Nacional), com a finalidade
de entregar o relatório e discutir
as medidas nele propostas para a solução dos
problemas apontados.
O
Grupo Parlamentar se incumbirá,
além disso, de formular
requerimentos de informações, dirigidos a diferentes setores do Governo, com o objetivo de
esclarecer questões levantadas
durante a visita a
Roraima.
Outro ponto importante é a solicitação de que seja implantado um plano assistencial
médico e sanitário que atenda às populações indígenas de Roraima, atualmente dependentes da assistência
de missionários. Com
base em um depoimento do médico da Funai, Oneron
de Abreu Pithan, as condições
de saúde dos índios são extremamente precárias.
Com o assessoramento da CCPY, que já desenvolveu
atividades de assistência
médica na área
Yanomami, o Grupo Parlamentar
proporá um
convênio entre a Funai e o setor
competente do Ministério da Saúde para
possibilitar o envio, com a máxima urgência, de uma equipe de auxílios médicos aos Yanomami.
A CCPY acredita que são necessárias medidas drásticas para impedir o genocídio
Yanomami, pois muitos índios
já foram mortos nessa ocupação desenfreada, e continuam a sofrer não só assassinato físico como cultural.
É para trazer a público a denúncia
de que o que está acontecendo
nesse momento com os índios Yanomami pode significar seu extermínio que apresentamos este URIHI.
Claudia Andujar
Coordenadora - CCPY
São Paulo, julho de 1989
RELATÓRIO DA VIAGEM DE INSPEÇÃO ÀS ÁREAS YANOMAMI
E MACUXI EM RORAIMA PELA COMITIVA DA AÇÃO PELA CIDADANIA
9 a 12 de junho de 1989
Num Búfalo da FAB, chegou
a Boa Vista no fim da tarde
de sexta-feira, 9 de junho, a
comitiva liderada pelo Senador Severo
Gomes (PMDB-SP) e pelo Deputado Federal Plínio de Arruda Sampaio (PT-SP) e
composta de representantes do Deputado Fábio Feldman,
da Procuradoria Geral da República, da OAB, da CNBB, do CIMI, da SBPC, da ABA, da CCPY, da Polícia Federal, do Ministério da Justiça
e da imprensa (O Estado de S.
Paulo, TV Cultura e CEDI), acompanhada
pelo Coronel
Amado do Estado Maior das Forças Armadas.
À noite, foi
feito o planejamento
das atividades dos dias
seguintes e a
apresentação dos membros da comitiva
aos representantes da Igreja
Católica local, liderados pelo Bispo de Roraima,
D. Aldo Mongiano. Os padres
Saffirio e Lirio fizeram exposições, respectivamente,
sobre a situação da missão Catrimani
junto aos Yanomami e os conflitos entre fazendeiros,
posseiros e índios Macuxi. Relataram que, depois que a Igreja de Roraima fez a opção
explícita de se posicionar
ao lado dos
índios, tanto o bispo como vários
padres e outros membros da
Pastoral têm recebido
ameaças de morte.
A dramática exposição do Padre Pedro, membro da
Diocese, demonstrou com fortes cores
emocionais o estado de tensão em que vivem os religiosos. Esbravejando, o Padre despejou uma avalanche
de desabafos sobre os problemas
enfrentados por índios
e missionários e exigiu da
comitiva que não prometa o que não pode cumprir, pois ele
já está cansado de promessas. Seu acalorado
desempenho demonstrou até
onde pode ir o
descontrole de quem vive
sob a constante
pressão de uma guerra surda
e interminável
pela posse da
terra, com todos
os ingredientes de Wild West
onde a lei
é comprada por quem dá mais.
Terminadas as exposições, os parlamentares explicaram
o que é a Ação pela Cidadania
e que mecanismos podem ser acionados
para se fazer cumprir a lei, principalmente através do
congresso, da imprensa,
da opinião
pública, gerando pressões sobre o governo para que a lei
seja cumprida.
Iniciava-se, assim, uma missão de coleta de fatos e evidências das mais contundentes,
em que cada dia da viagem
desvelou eventos dramáticos
que contribuíram para se construir um quadro
sensível do caos social, da inadimplência institucional, de má fé
política e do sofrimento humano nesse que e dos estados da união
talvez o mais
eminentemente indígena.
Casa
do Índio: da fonte de contaminação ao depósito de doenças
Enquanto esperávamos uma melhora do tempo
que, no sábado, era típico
da época de
chuvas em Roraima (de abril a
novembro), fizemos uma visita à Casa
do Índio, local inóspito mantido
pela FUNAI a uns
15 quilômetros do centro da cidade para abrigar índios
em tratamento
de saúde ou simplesmente de passagem por Boa Vista.
Não havia sinal
de médico, apresentou-se Geralda, a enfermeira. Entre os
diversos índios espalhados pelas dependências
de teto de palha e
chão de
cimento, estavam vários Yanomami de Surucucus, do Ericó,
e do Olomai. Um
homem Sanumá residente em
Olomai, urinando
sangue, estava sendo tratado de infecção urinária, embora a
enfermeira não soubesse ao certo se esse era o mal. Também da região do Olomai, um casal do subgrupo
conhecido como Parahuri, de fala Yanomami residente próximo à
cachoeira de Tucuxim, estava em tratamento de tuberculose, sem que nenhuma precaução fosse tomada para isolá-lo
dos outros. A mulher
já havia contraído catapora
claramente visível no
rosto. Trouxe tuberculose
e recebeu catapora. Mesmo assim,
com a disposição acolhedora e risonha, característica dos Yanomami para
com alguém que lhes fale em alguma
das suas línguas, pediam cigarros, roupa e contaram
que na aldeia da mulher
muitos haviam morrido recentemente. Mais tarde, tive a oportunidade de conferir
essas informações
com Donald Borgman, missionário
da MEVA (Missão Evangélica
da Amazônia), que trabalha com os Yanomami desde meados
dos anos 60 e
que atualmente faz visitas
periódicas à missão de Olomai no baixo rio Auaris. Borgman levantou e me transmitiu as seguintes
informações:
O casal tuberculoso
vive numa. aldeia de cerca de 45 pessoas, a
8 minutos de vôo abaixo de Olomai; os próprios índios abriram
aí uma pista, de modo a facilitar
a visita dos
missionários para tratamento
de saúde. Logo depois, chegavam,
pelo menos, 30 garimpeiros munidos de balsa.
O líder indígena dessa aldeia, Cadona, foi
levado doente à Casa do Índio e aí morreu em
abril passado. Sua comunidade está infestada
de tuberculose. Mais
abaixo, está outro grupo
Parahuri, de cerca de 40
pessoas; morreram há pouco de malária dois
adultos e cinco
crianças, ou seja, mais de 17%.
Próximo à boca
do Auaris, subindo o rio Paríma, está o grupo dos wateri himodimi'
dibi', também com seus quarenta e poucos habitantes,
onde morreram cinco adultos e
cinco crianças recentemente, o que representa cerca
de um quarto da sua população.
A sudoeste de
Olomai, no conjunto de aldeias conhecido por xikoi di'bi',
faleceram dois adultos e dez crianças.
Os garimpeiros permaneceram
na região do Tucuxim durante um ano. A pista aberta
aí pelos índios servia de base para
alcançarem a região do Aracaçá, a cerca de um dia a
pé da pista. Logo
abaixo do Tucuxim,
as notícias eram de que os garimpeiros extraiam três
quilos de ouro por mês. Em janeiro deste ano, havia cerca de 300 balsas
e umas seis pistas
de pouso só no rio
Uraricoera acima de Waicás, na altura do Aracaçá.
Por toda a área do rio Parima, subindo o Auaris, têm
passado garimpeiros, em grupos de 12 ou 20 que,
utilizando pistas e
aldeias indígenas como base, espalham-se pela região
em busca de novas
concentrações de ouro.
Muita cassiterita também foi lá encontrada. Essa região mais
setentrional do território
Yanomami no Brasil não tem recebido
cobertura vacinal adequada,
com exceção
talvez dos locais adjacentes às missões.
É, pois, muito alto
o risco de grandes epidemias de sarampo, tuberculose
e outras doenças contagiosas,
que, surgindo
num determinado local, podem aniquilar
aldeias inteiras numa reação em cadeia.
Além disso, a malária, atualmente muito exacerbada,
é um dos principais
causadores de doença e
mortes.
Como símbolo
trágico dessa situação
insustentável está o caso do pai que veio do Tucuxim em avião
de garimpeiro trazendo a filha pequena
muito doente. Na
pista do aeroporto de Boa Vista, a menina morreu-lhe
nos braços. Seu drama
agora era como levar
o corpo para casa. Perdido,
desesperado, atordoado
pelo sofrimento,
ele procurou
Donald Borgman.
Empreenderam então
uma busca de horas no pátio
do aeroporto
para achar um piloto
que, dentre as
muitas dezenas, iria para o
Tucuxim. Finalmente encontraram. O
Yanomami viajou de volta
sentado no caixão da filha, empilhado sobre tambores de combustível.
Aqueles índios
que, contaminados, conseguem
chegar a Boa Vista, são levados
à Casa do
Índio que passa a ser um depósito de doentes e um foco
concentrado de virulência
vários tipos. O tratamento
médico extremamente precário e
as queixas de alimentação são
constantes.
Estava na Casa do
Índio, "a passeio
Yanomami Raimundo do Ericó,
que
acompanhou nos
vôos a Waicás,
Paapiu Surucucus.
Paapiu:
o Vietnã dos Yanomami
“Isto
é um Vietnã", ouvi um dos
parlamentares exclamar ante a
visão apocalíptica de aviões e
helicópteros em constante movimento que enchiam a pista do
Paapiu com um barulho ensurdecedor
e sem trégua.
Aí, a longa faixa de lama de
quase um quilômetro,
continuamente sulcada por mono e bimotores, palmilhada por constantes levas de garimpeiros, donos de aviões,
donos de barrancos, comerciantes,
prostitutas e Yanomami de ambos os sexos e de
todas as idades, serve de palco para um dos capítulos
mais estrondosamente dramáticos
na curta história
do contato dos Yanomami com o mundo de fora.
Lá, no início de 1986, a COMARA
declarara como área de segurança nacional a pista por ela ampliada, mais cem metros
de cada lado, setenciando, assim, à
destruição a maloca Yanomami que ali já existia.
Agora aglomeram-se barracos cobertos
de plástico azul brilhante que abrigam cantinas, depósitos, alojamentos,
áreas de pouso de
helicópteros, sem que ninguém mais se lembre de segurança nacional
Os barracos dos garimpeiros, que em fins de
janeiro amontoavam-se no
pé da pista, começam a avançar para a cabeceira, onde está a casa
comunal cônica dos Yanomami e
os quatro casebres que passam por posto da Funai. Dilapidado, o posto é
a testemunha mais veemente do abandono a que a Funai sujeita
os Yanomami em meio à maior
crise de sua historia interétnica, depois que
a mesma Funai, apoiada no
Conselho de Segurança
Nacional, baniu da região
equipes médicas pertencentes a Comissão pela
Criação do Parque Yanomami (CCPY). Lá há catapora,
furúnculos, gripe e muita malária que antes não existia. Com o abandono do posto
da Funai, que desde abril ou
maio está sem ninguém, remédios, se os índios
quiserem, têm que pedi-los aos
garimpeiros. O depoimento sofrido de Raimundo, um jovem
pai de família da maloca do Paapiu, revela a sua indignação
com essa incúria oficial. Sua fala foi gravada dentro da maloca, assistida
por uma densa roda de membros da comitiva e de garimpeiros que nos
seguiam. Um dos membros da CCPY traduzia trechos
da fala para o português, até que a
presença dos garimpeiros foi notada e a
tradução interrompida. O depoimento que se segue foi traduzido em
Brasília pelo antropólogo Bruce Albert, pesquisador dos Yanomami
desde 1975. Em tom de grande revolta e indignação,
Raimundo disse-nos o seguinte:
Eles (os brancos) não dão remédio. Tem
muita doença, mas não curam a
gente, ficam aqui em
volta, não fazem nada. Tem
só Os garimpeiros são muito ruins, não chamam
a gente para dar remédio .
Por isso eu fico revoltado, mas eu não
sou um líder, e então não posso falar em nome da gente.
Se eu fosse um líder, eu falaria. Estou muito zangado. São vocês
que devem tratar das nossas doenças (dirige-se
a um dos integrantes da equipe da CCPY
que realizou um programa
de vacinações de 1983 a 1987).
A Funai foi embora e pode ir embora. São vocês que podem
dar remédio, vocês que devem
cuidar dos índios" (em português). É isso que
eu quero muito dizer.
A Funai
foi embora porque nós,
os Yanomami, íamos sempre à
casa da
Funai (chefe de
posto) para dar uma
prensa nele, por isso ele foi
embora. Quando foi embora ele disse: "é esta gente, os
garimpeiros, que de agora em diante
vai dar remédio para vocês, nós não vamos dar mais". Foi assim
que falou a Funai
quando foi embora: "eles (os garimpeiros) são todos seus,
para vocês já basta", foi assim que a Funai falou
(Pergunta: os
garimpeiros quiseram
dar remédio para vocês e a Funai recusou?)
A Funai só deu remédio umas poucas vezes.
Os garimpeiros nunca dão remédio
para a gente. A mim eles recusaram mesmo. Eu fui lá
e eles não quiseram me dar remédio. Por isso eu
falei para eles: 'Podem ir embora,
podem voltar. Eu vou a pista, a pista é minha,
por isso eu vou estragar.
Se meus filhos
morrem (por falta de remédio)
eu vou estragar essa pista.
O "posto" (em português) é nosso também.
Se é assim, eu vou destruí-lo também".
Quero que se dê remédio assim: para um, para outro, para outro, para outro,
um por um, para as crianças doentes, quero
que cheguem aqui com remédio para
dar a cada
um e digam: "depois você
vai ficar bom". E depois, quando os doentes vêm de novo, quero que se dê tratamento
também para cada um, do mesmo jeito e então nós vamos dizer: "tá bom, obrigado" (em português).
Neste depoimento, Raimundo fez o contraste
entre o cuidado da equipe médica da CCPY, o método de
trabalho de atender um a um,
registrando as vacinações e
tratamentos em
fichas individuais, com o despreparo e desorganização dos agentes da Funai que
têm a obrigação de dar assistência sanitária aos índios,
mas que, por
penúria e incompetência, acabam se desmoralizando
aos o4hos de todos, principalmente dos Yanomami. No
período de quatro anos antes da invasão
qarimpeira, a região em torno de Paapiu foi praticamente coberta em toda a
sua totalidade pela campanha de vacinação da CCPY. Hoje
os índios estão
sofrendo os efeitos de epidemias de malária,
novas na região, de gripe e outras doenças, mas não
se tem noticia de grandes ondas de
sarampo, tuberculose,
coqueluche e
outras doenças
infecciosas que costumam varrer populações indígenas que enfrentam
invasões, raramente
na escala dessa avalanche de garimpeiros.
Em janeiro, durante a visita de uma missão
diplomática européia da qual
participei, o
mesmo Raimundo e
uma mulher Yanomami denunciaram
as várias frentes do desastre
que é para eles o garimpo.
A falta de caça
é total, há muito afugentada pelos aviões
e garimpeiros que varam a mata;
a água está inutilizada por
mercúrio e pelo assoreamento dos rios, provocado pelo trabalho
brutal de mangueiras gigantes que varrem os barrancos;
não há mais peixe. Os
Yanomami vêem-se na
humilhante situação de
pedir comida aos
invasores. Até mesmo a
tentativa de João
Davi, outro Yanomami local, de extrair pedágio dos aviões não - deu
certo. Desiludido,
ele encontra-se na desconfortável situação
de ter perdido
legitimidade e respeito na pista e talvez também em casa.
Se Paapiu é a epítome do desastre
que desabou sobre os Yanomami encarnado naquilo que foi descrito
como "faroeste aéreo" (vide o relatório do então Secretário
Geral do Ministério
da Justiça, após uma
visita de surpresa ao local em
fins de 1988),
os barracos devastados da Funai são o
símbolo vivo da conivência
oficial com esse desastre. O que era a farmácia tornou-se um quarto de despejo, com vidros
quebrados coalhando o chão de terra batida, seringas descartáveis expostas a qualquer mão, livros dê registro
amontoados na poeira, numa atmosfera
de saque e agressão. O
que levou o Chefe de posto a abandonar assim o seu
dever fica apenas sugerido no depoimento de Raimundo (...).
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Se já é desastroso o resultado da inépcia
da Fanai, pior ainda é a
sua determinação, aliada à Saden, de
proibir que entidades independentes trabalhem junto aos Yanomami
em campanhas de saúde preventiva e curativa. rio criminoso
quanto não fazer é não deixar
fazer. Assim, o direito
dos índios à
assistência sanitária é duplamente violado.
Cerca
de duas horas no
Paapiu foram consumidas por longa conversa do
Deputado Plínio Sampaio com os
garimpeiros que se
amontoaram à porta do Búfalo, querendo saber se era mais um
grupo de ecologia que vinha
observar a situação; pela caminhada ao longo da pista
até a maloca Yanomami, sob quantidades de olhos desconfiados de
homens barbados, muitos deles esperando vôo;
pela entrada em massa à maloca, tomada de assalto por
tanta gente ao
mesmo tempo e
mostrando-se misteriosa e quase mística pelo efeito da fumaça que subia
das fogueiras domésticas e encobria o topo do mastro
e o teto (era hora da refeição
da tarde, por
volta das 4); pela tentativa de se filmar lá dentro, frustrada
pela negativa dos índios,
sempre avessos a câmeras e muito mais a flashes e
holofotes; pela constatação
de quão contaminado está o córrego ao
lado da maloca;
e pelo patético espetáculo do estado deplorável das instalações da Funai. Às presas, voltamos ao Búfalo, rumo
a Surucucus, para voltar a Boa Vista antes
do anoitecer ou, mais precisamente,
antes das 18 horas.
O contraste de Surucucus com Paapiu é
tão grande que chega a desconcertar. A
sensação de paz e tranquilidade é plena do momento
em que a aeronave que nos transporta desliga os motores.
Ouve-se apenas algum pássaro
que voa piando, vozes humanas, o vento.
Em janeiro, o destacamento do Segundo BEF,
que é um posto em fase de
instalação do Projeto Calha Norte, tinha 10 homens,
quase meninos, comandado
pelo Tenente Agenor, jovem de Curitiba, saído da
Academia das Agulhas Negras. As casas
do destacamento são novas, de madeira envernizada, as janelas e portas protegidas por tela verde, tudo muito limpo e confortável. Há um pavilhão para as
operações, como telefonia,
um que é dormitório dos soldados e um outro, o "pavilhão
dos terceiros", que irá
abrigar a Cobal e uma agência bancária.
O prédio da escola para filhos de
oficiais já está
pronto, a mobília empilhada
numa sala à espera de uso. Umas oito residências
já estão construídas - três
quartos, sala, cozinha, área de Serviço com
espaço para máquina de lavar - e mais oito estão
para ser feitas. O
Tenente, que está no meio
de seu segundo e
último ano em
Surucucus, pretende deixar a obra acabada, pronta para receber 70 oficiais e suas famílias,
embora saiba que essas famílias ainda demorem a vir
e a escola mais ainda a ser ativada.
À chegada da missão diplomática em janeiro, o Tenente e seus soldados vieram ao
posto da Funai, ao
pé da pista,
perguntar quem
éramos. Não haviam sido avisados e, como "a área
é do exército", ele
tinha que saber.
Está acompanhado da mãe viúva, senhora patriota
e maternal, cuja maior frustração
em Surucucus é ver sua plantação de
tomates não produzir mais
nada além de muito
trabalho.
Os Yanomami de Surucucus têm a maloca a
uns 50 metros da pista, ligada ao posto da Funai por
uma trilha coberta de lama preta em toda sua extensão. Em janeiro, a maloca estava quase vazia; com exceção
de umas três mulheres, uns dois jovens e várias crianças,
todos os demais estavam, segundo
Cleber, o chefe
de posto, tomando caxiri
numa aldeia vizinha, a três horas a pé.
Nas imediações não existe garimpo,
só há garimpeiros em Xidéia, a oeste do posto.
Há pouco tempo, informaram-nos em janeiro, destacamento atendeu ao pedido dos
Yanomami de uma maloca mais distante (provavelmente
Xidéia ou imediações) para retirar um grupo de garimpeiros.
Parece que a presença
do exército inibe a invasão.
Em junho, o destacamento já crescera para
30 homens, ainda sob o comando
do Tenente Agenor, que nos acompanhou desde Boa
Vista, aproveitando a viagem do Búfalo.
Ao pousar em Surucucus,
deparamo-nos com todo o
pelotão perfilado na pista
à espera das ordens de
seu comandante.
Ficava assim marcada para a comitiva da
Ação pela Cidadania a presença do Calha Norte na
área Yanomami.
Alguns índios, mulheres jovens, rapazinhos, crianças, observavam a alguma distância, tentando
fugir às câmeras
de todos os
fotógrafos, profissionais e amadores. Eu só consegui convencer umas
mocinhas zangadas
que não tivessem medo, pois eu não
iria fotografá-las, quando, ainda
de longe, demonstrei gesturalmente a minha intenção,
enfiando a máquina
numa sacola.
Aproximei-me, falei algumas
frases em
mistura de Sanumá e Yanomami, e imediatamente sorrisos se
abriram, vieram perguntas sobre quem eu era, pedidos para que não se
tire fotos e muita vontade de continuar
conversando.
Quinze
minutos depois de pousar,
embarcávamos de novo no Búfalo, de onde saía o único ruído
extemporâneo a quebrar a paz e o silêncio daquela magnífica paisagem.
O Deputado Plínio Sampaio, às pressas, foi até os prédios
do destacamento, acompanhando o tenente e sua veneranda mãe, fielmente à
sua espera para um beijo
de boas vindas.
O cuidado, a limpeza
e disciplina
nos edifícios e nos soldados do Calha Norte são um espelho mortal para a desordem, falência e ineficácia
da Funai, até
mesmo em Surucucus, onde o posto já foi modelo,
antes de Francisco Bezerra, chefe
durante muitos anos, ser transferido em 1987. Mas, que não se iluda quem ler nesse contraste favorável aos militares qualquer sugestão de
que seu papel
na área é benéfico aos Yanomami. Até agora, a única coisa. que
o Projeto Calha Norte tem feito pelos índios foi retalhar
o seu território
tradicional em 19 ilhas
insuficientes em tamanho e
inadmissíveis para a sobrevivência desse grupo étnico
que é o maior das Américas a viver ainda segundo suas
próprias tradições. Por outro lado, as doenças que afligem os Yanomami
de Surucucus não parecem ter diminuído com a presença dos
militares, apesar de contarem com a presença de um médico
no destacamento.
Cleber, o "antropólogo" de Juiz
de Fora, continua à frente do posto. O atendente, um índio Macuxi, aproveitou o
Búfalo e voltou para Boa Vista.
Em janeiro, Cleber nos disse que a situação de saúde dos Yanomami ali era boa, nenhuma
doença, a desnutrição de duas semanas antes havia acabado, como por magia. Agora, em junho, membros
da comitiva relataram
outra coisa: os Yanomami em Surucucus queixaram-se de estar sofrendo de doença
de branco, xawara, o que significa
algum tipo de
epidemia. Pela brevidade da nossa visita, não foi possível
obter maiores detalhes sobre isso. Apesar de não terem garimpeiros nas imediações,
como ocorre em Paapiu, e apesar de
haver agora um
médico no destacamento, os índios de Surucucus
estão igualmente sujeitos às ondas infecciosas que
assolam a região.
Uma mulher Yanomami
afirmou que os índios só recebem remédios se forem procurar
o médico dos militares,
pois ele nunca vai à maloca.
Depois
de umas cinco horas
voando na
turbulência da época das chuvas, pousamos em Boa Vista quando
já começava a escurecer. É que, dá manhã, depois da visita à Casa
do Índio, fomos até Waicás, voando
abaixo das nuvens, para constatar que seria impossível pousar. As poças
d'água na pista eram grandes e intransponíveis. Depois de
umas quatro ou cinco
voltas sobre o lugar,
voltamos à base.
Há em Waicás um posto da Funai, uma maloca estilo Yanomami, cônica, fechada, nova ao lado das casas retangulares
ovaladas dos índios Maiongong, de teto já
negro. As margens do Uraricoera, nas imediações
do posto, umas 15 balsas empilhavam-se, algumas em
evidente atividade. Dias depois,
fui informada por Donald Borgman da participação dos
Maiongong nas operações de garimpo de Waicás.
Atraindo os garimpeiros para a
pista, eles serviam (ou ainda
servem?) de guias mata a dentro, cobrando bem
pelo serviço. Ganharam muito dinheiro , construíram uma casa em
Boa Vista para alojar Maiongong
e fretam aviões
com regularidade para mandar encomendas
a seus parentes de Auaris, a pista mais distante
e cara em todo Roraima.
Por sua vez, os
Maiongong de Auaris não estão
dispostos a conviver com garimpeiros. Em janeiro,
um certo Walmir, irmão de José Pereira,
médico da Funai, e filho de mulher Wapixana, estava
em negociações com os Maiongong para trazer uma balsa para a área, a umas cinco
horas de canoa abaixo da missão de
Auaris. Os
Maiongong concordaram, desde
que fosse só
ele. Mas, aos poucos,
Walmir foi trazendo
mais gente, até que os índios,
que também trabalhavam na balsa, desconfiados, mandaram-nos embora e
eles se retiraram pacificamente.
Em janeiro, o alto Uraricoera estava
tomado por centenas de balsas, conspícuas com
seus toldos de plástico azul;
grande quantidade de pistas, alguns
aviões pousados, longas manchas
de óleo em alguns pontos do rio.
Segundo o piloto do Islander que transportou a missão diplomática,
a maioria daquelas balsas estava desativada, encostadas
às margens; só funcionavam as
que ficavam no meio do rio, geralmente em grupos
de três ou mais. A
desativação não foi
devida às chuvas excepcionais que caíam naquela época do ano, mas porque o ouro é fraco na área.
Cora isso, os garimpeiros
vão subindo cada vez mais. Os rios Parima e Aracaçá, ao sul
e a noroeste do alto Uraricoera,
passam a ser o foco de novas invasões.
O número de pistas de pouso, estimado entre 80 e
100, muda constantemente com o avanço das frentes garimpeiras
que se espraiam pela região em torno das Serras
de Surucucus e Couto
de Magalhães, tendo chegado mesmo a entrar uns 300 quilômetros
Venezuela a dentro, criando
uma situação extremamente tensa com
o exército venezuelano e
um grande embaraço diplomático para o Brasil. Por ironia ou provocação, uma das pistas ilegalmente abertas por brasileiros
em terras vezuelanas foi batizada de
Constituinte (...
) .
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Jucá
vai resistir à expulsão do garimpeiros
Se o governo federal decidis-se expulsar
garimpeiros das áreas indígenas no mínimo em Roraima encontraria
um decidido foco de resistência no governador do esta-do,
Romero Jucá, que, embora ex-presidente da Funai, assume uma
posição totalmente favorável à exploração do ouro pelos garimpei-ros
mesmo nas terras dos Yanoma-mi. Romero Juca acha que o índio
também deve participar da exploração do ouro e nisso auferir
van-tagens, "construindo seu próprio futuro'
-
Não concordo com uma ini-ciativa de força para retirar
os garimpeiros. É possível achar uma fórmula que atenda a
esses trabalhadores - disse Jucá num encontro que reuniu todos
os lideres garimpeiros da região dia 28. Ele promete que não
usará a policia
O governador de Roraima afirmou
estar firmemente conven-cido de que a atividade garimpei-ra
pode ser desenvolvida com res-peito ao meio ambiente e às
comu-nidades indígenas, cuja participação no processo de exploração
do ouro preconizou. A vantagem que Jucá acha possível os índios
tira-rem com isso é que, explica, se eles atuarem de forma
organizada, o garimpo lhes pode render royalties e, assim,
os Yanomami, de posse do dinheiro, teriam condições de viver
melhor.
O empenho de Jucá no caso é que para ele
"o futuro de Roraima depende da extração mineral: o país
não pode ignorar essa realidade".
Culpa
da igreja
O presidente do Instituto Brasileiro de
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e a igreja são os atuais bodes expiatórios do presidente
da União dos Sindicatos de Garimpeiros da Amazônia Ilegal
(Usagal), José Altino disse que, coagido pelo capital externo,
ele mudou sua posição, que era a favor de uma exploração organizada
do ouro de Roraima junto à fronteira da Venezuela.
-
Fernando César chegou a dar a impressão de que tentaria
convencer o presidente Sarney
a tomar uma posição nesse sentido, mas depois de sua
viagem à Europa mudou o discurso - acusou Altino.
As acusações contra a Igreja são mais violentas:
ela "é culpada em grande parte por toda essa mentira
de que o índio Yanomami
está sendo dizimado e nossa floresta destruída pela exploração
do ouro". Por achar isso, Altino prometeu:
- Se o governo tomar alguma atitude para tirar os
garimpeiros de Roraima, a Usagal vai criar um movimento e
forçar a expulsão de todos os padres e missionários estrangeiros
que atuam na Amazônia. ( J.B. 29/6/89)
Os
índios do lavrado: a guerra do fogo
O vôo de domingo, dia 11
de junho, para Surumu foi acrescido
de vários passageiros.
Saiu Raimundo do Ericó, mas entraram
a antropóloga Nadia Farage,
Jaci, o líder
Macuxi, o bispo D. Aldo,
o Padre Lírio e
dois agentes locais da Polícia Federal. A grande caravana, desembarcada
na pista e
seguindo a pé, encheu a rua larga
que leva às
instalações da missão católica, a dois ou três quilômetros.
Nessa rua da Vila
de Surumu, ocupada tanto por
índios como por regionais, enfileiram-se modestas residências e
estabelecimentos variados, como a Associação de Mães,
a central elétrica e um número de bares.
Levados ao auditório da missão, esperava-nos
um salão repleto de índios Macuxi, Wapixana, Taurepang e Ingaricó.
Fomos acomodados
ao longo da parede,
em torno da
mesa, onde Jaci, de pé,
com microfone na mão, ia
convocando a se apresentarem
grupos de índios de acordo
com suas atribuições:
vaqueiros, capatazes,
catequistas, costureiras, etc.
Eram saudados com palmas. Cada um de nós também se
apresentou. Mais palmas.
Depois das formalidades, embarcamos, brancos
e. índios, em três toyotas e um caminhão para ver os efeitos
da queima das casas indígenas na maloca do Miang, a
seis quilômetros da missão.
A história recente dessa maloca
tem sido pontuada por contínuos abusos de fazendeiros
e autoridades locais contra
o direito dos Macuxi à posse de suas terras, direito
esse há muito estabelecido
e reconhecido agora com a delimitação da área
indígena de Surumu da qual Miang faz parte.
O nome Miang é uma versão transformada da palavra macuxi que significa
"lagoa dos mosquitos".
Há uns 80 anos, os Macuxi deram nomes
aos rios, às serras
e a outros
componentes da paisagem e se
instalaram na região.
Antes de 1964,
não haviam tido problemas sérios com invasores,
embora um certo João Rebouças
já andasse pela área
desde o final dos anos 40.
Como é
de hábito, os Macuxi deixaram
temporariamente o Miang na década de 60 para permitir o pousio
da terra. Quando voltaram
nos anos 80,
as fazendas já estavam instaladas e começaram os conflitos. São basicamente dois
os fazendeiros: João Rebouças, da fazenda Brasiléia, cuja posse está em nome
de Francisca, sua irmã absentista, e Dedé, José Américo Valentim,
da fazenda Redenção, genro de Francisca, que antes possuía
também essa fazenda. Dedé alega ter título de posse datado de
1939.
Em 1984, a área foi identificada
como indígena; quatro anos
depois, o Grupo
Interministerial encarregado
do assunto acatou essa identificação e procedeu à sua
delimitação. A partir daí, os
ânimos acirraram-se e a guerra do fogo começou.
Em outubro de 1988, chegaram ao Miang agentes do IBDF e da Polícia Federal para
intimar os índios, acusados
de crime ecológico
por estarem preparando roçados;
suas ferramentas foram confiscadas.
Um mês depois, os mesmos
agentes voltaram, acompanhados de Rebouças e Dedé; intimaram
de novo os índios e obrigaram-nos a assinar um documento comprometendo-se
a não mais trabalhar aquela terra.
Em fevereiro de 1989, prenderam o líder do
Miang, José Peres e
mais dois Macuxi. Queimaram cinco casas. Em março, os índios reconstruíram as casas.
Em abril, agentes da Polícia Militar e Civil, funcionários da Funai e
os dois fazendeiros prenderam
cinco Macuxi,
destruíram cinco casas e, numa demonstração de força e poder
de humilhação, fizeram os índios arrancar à mão os postes
da cerca que haviam instalado em volta
da maloca para protegê-la.
Prenderam também o Padre
Pedro e foram todos levados para a Vila de Surumu.
No dia seguinte, foram a Boa Vista para
um interrogatório de várias horas.
Sessenta índios se uniram para reconstruir Miang. A 6 de maio, nova investida. da PM, da PC, da Funai e dos fazendeiros
resultou na queima de todas as
nove construções da aldeia, inclusive escola e igreja, e
na prisão de todos os índios de Miang. Dedé sentiu-se
especialmente fortalecido por haver ganho uma liminar na
justiça de
Roraima.
No dia 8 de maio, pela primeira
vez, os índios reagiram
e queimaram as casas de Rebouças e Dedé, reconstruídas pouco depois com dinheiro arrecadado
de um leilão promovido pela UDR.
A 25
de maio, os fazendeiros e o administrador da Funai
sequestraram o tuxaua Tota da maloca do Barro, quando
ele voltava da roça,
à noite, com a mulher. Levaram-no
para a casa de Dedé, prenderam-no e tentaram extrair dele informações sobre os outros índios que haviam participado do
ataque às fazendas.
Com esse pano de fundo ainda pouco
vislumbrado (estas informações foram-me gentilmente fornecidas no fim de junho por Luis Eusebi e Patricia Ferri,
membros do Movimento de Leigos para a América Latina),
fomos levados para observar de
perto os resultados visíveis dessa guerra que não é
mais fria.
No caminho de Miang, paramos para ver um prédio queimado na fazenda
Brasiléia. Tivemos uma demonstração inesperada da volatilidade
da situação interétnica da área. Juntou-se um aglomerado da comitiva
de índios na frente
da residência de Rebouças.
Um dos agentes da Polícia Federal embarcados em Boa
Vista sacou da
arma e, entrando casa a dentro, desarmou
o homem, nordestino já grisalho. Em poucos minutos, armou-se uma cena tão incandescente que o agente da PF mandou embora todos os índios ali presentes
com tal Urgência e pânico
na voz, que, com exceção de
alguns líderes, voltaram todos para a missão. Rebouças gritava contra o abuso dos "caboclos"
- não são índios porque
usam roupa -, acabou tendo crise de
choro e foi acalmado
pelos procuradores. Sua
mulher, de uma janela, insistia para que todos
víssemos suas panelas furadas pelas, balas dos caboclos.
Uma menina chorava no quintal.
A tensão subiu a tal ponto que tivemos que sair dali
rapidamente, fotógrafos, cinegrafistas e o
resto. A consternação
era geral e alguns da comitiva lamentavam que tudo
aquilo caísse
sobre um mero posseiro.
Entretanto, os índios e os membros da Pastoral afirmam
que esse homem é perigoso e
já havia atacado índios, chegando a esfaquear na
mão um menino Macuxi.
Mais adiante,
outra parada na fazenda
Redenção Os agentes da PF
não deixaram ninguém se aproximar do portão até que
eles mesmos fossem verificar se era seguro.
Mais uma casa queimada pelos
índios. Dedé, o
dono da fazenda, homem baixo, - troncudo, de barba e com rabo de cavalo preso num boné de Fórmula 1, conversou
suave e calmamente com
as autoridades, reclamando da
agressão dos "caboclos".
Enquanto isso, dois dos agentes da PF foram até um
casebre sob umas árvores a cerca de 50 metros do pátio onde estávamos agrupados,
e voltaram carregando umas
cinco ou seis espingardas
e uma ou duas armas
pequenas, confiscadas de
três garimpeiros.
Estavam estes a caminho da
Serra do Sol, aguardando que o patrão,
Magalhães, aparecesse com uma balsa.
Surpreendidos por um flagrante que não era bem deles,
pouco se importaram com a tomada das armas; não
eram suas, afinal, e serviam apenas para caçar, dizia
um velho garimpeiro desdentado
e alheio. As armas foram
postas numa das toyotas
e seguimos viagem.
Prosseguindo pelo lavrado em estrada
precária, transformada em lamaçal
pelas chuvas, chegamos
a Miang, rio
e maloca. Nove casas espalhadas num diâmetro de
cerca de 200 metros só tinham as paredes de barro;
os telhados haviam sido queimados. Mais além, a cerca dupla que os índios
haviam erigido para proteger a roça do gado dos fazendeiros
fora cortada a motosserra e a plantação
destruída pelos animais. Ao fundo, a bela Serra de Marari e
mais o plácido lavrado
em volta pareciam querer negar tanta violência.
Num toque de ironia, como uma peça que
a História pregava,
visitamos, do outro lado da estrada, a pedra com a inscrição
SPI, marcando aquelas terras como indígenas, posta ali,
segundo consta, por Rondon em 1917.
Ao lado da inscrição,
membros da comitiva posaram para fotos.
De volta a Surumu, foi servido
um rápido almoço e os índios voltaram a reunir-se com a comitiva para lhes entregar um documento contendo as agressões que vêm sofrendo pessoas e bens indígenas,
A visita foi encerrada com uma sessão de dança do
culto Aleluia, bem no
estilo Caribe, mas,
aparentemente, com letra de
música catolicamente religiosa.
Enquanto voltávamos ao avião, os três homens
da PF que nos acompanhavam saíam de um bar com o dono da fazenda
Redenção.
O Búfalo, superlotado de gente, levou para Boa Vista vários índios, entre os
quais um menino de seus oito anos
com suspeita de poliomielite. A mãe acompanhou-o;
com expressão de intensa ansiedade
e dor não
tirava os olhos da maca onde
deitaram a criança.
Em Boa Vista:
a pulverização de responsabilidades
Às 9 da manhã de segunda-feira, dia 12,
a comitiva dividiu-se
em duas tarefas: encontro com o governador Jucá Filho
e entrevista com as autoridades militares.
O que se segue é um relato da segunda, à qual compareci
juntamente com o Senador Severo
Gomes, os representantes do
Deputado Fábio
Feldman, da SBPC, do CEDI, da CCPY, além da antropóloga Nádia
Farage.
Receberam- nos o Coronel Francês, comandante da guarnição do Sexto BEC
(Batalhão de Engenharia e Construções) de Boa Vista
e o Coronel Lima Mendes, comandante
dos destacamentos
do Segundo BEF
(Batalhão Especial de Fronteiras) de
Roraima. Quem mais falou foi o segundo, respondendo
a perguntas e acrescentando a maior parte
dos comentários. Ele
estima que há atualmente
50 mil garimpeiros na mata e de 80 a 100 mil na cidade, o
que representaria praticamente o dobro da população de Boa
Vista. Sendo assim, disse ele, torna-se impossível
a retirada de garimpeiros
à força. Seria preciso empregar exército de campanha
e não há recursos
para isso: o exército
não tem efetivo e a aeronáutica
não tem os meios. Portanto, é preciso encontrar uma solução conciliatória juntamente com o governo de Roraima. Este
quer administrar o garimpo,
quer mostrar que há índios que
querem o garimpo e outros que não o aceitam.
Assim, os garimpeiros seriam retirados exclusivamente
das áreas dos índios que
não o querem. A
fonte de Lima Mendes foi a rede Manchete que mostrou índios
que exploram e índios que não exploram ouro. Por exemplo,
no Auaris, os Yanomami exploram (informação infundada, pois não tem havido garimpagem, ao menos no alto Auaris); já no Demini, Continuou o coronel, o índio Davi não
deixa garimpar. Prosseguindo, disse que o fato é que existe ouro em quantidade compensatória;
portanto, é preciso achar uma
solução para
que a exploração continue.
O BEF e o
BEC fazem parte da comissão criada pelo
governo do estado para ordenar
o assentamento dos garimpos.
O Projeto Meridiano 62 do governo de
Roraima contempla
a organização dos garimpos dentro de áreas indígenas, pois
já são um fato consumado. O restante
da área seria
administrada pela Codesaima (a estatal de
Roraima) que subcontrataria
outras empresas para exploração de minério. Royalties
seriam revertidos à Funai para
serem repassados aos Yanomami.
O Coronel Francês insistiu repetidamente que é preciso
ficar em Roraima um tempo para conhecer tudo melhor, pois
a situação é muito complexa. Há que permanecer ai para se saber
o que está acontecendo.
Ambos estão em Boa
Vista apenas desde janeiro.
Foram levantadas questões sobre responsabilidades.
O que faz o
exército sobre as pistas clandestinas?
Resposta: isso é com a aeronáutica; as pistas não
são clandestinas, são
apenas não homologadas;
não há nada que impeça um avião de decolar. O que faz o exército sobre
as invasões descontroladas de garimpeiros
em área de
fronteira? Resposta:
"nós somos aqui o
órgão de execução; é o CMA (Comando Militar da Amazônia) que manda". O que faz o exército para coibir o contrabando de ouro? Resposta: "o exército não tem ingerência
nos casos de contrabando, isso é com a receita federal". O que faz
o exército sobre a violência
e assassinatos nos garimpos? Resposta: isso é com a polícia
Civil e federal. Como
está a demarcação das áreas indígenas?
Resposta: a colocação
de marcos é feita por outra parte do
exército, o BEF apenas presta apoio; só
foi feita a demarcação em torno de
Surucucus, Lima Mendes não sabe se foi completada.
O que
faz, afinal, o exército
na área? Resposta: cuida da segurança
interna, da
segurança externa e
dá apoio ao desenvolvimento
de assistência às comunidades, como saúde, por exemplo. Em que consiste
essa segurança interna? Resposta: criar condições para as
comunidades; Surucucus é um
pólo de desenvolvimento para a fixação
de populações. Mas,
questionou-se, Surucucus é área indígena!
Resposta de Lima Mendes:
“isso não é comigo, é o governo que decide”.
Previstos no Projeto Calha Norte, os
postos do BEF em Auaris e em Ericó, ambos em área Yanomami, deverão
ser construídos a partir do próximo semestre. Seriam, portanto, mais dois "pólos
de desenvolvimento" junto à
fronteira, em pleno território
indígena. Resta a pergunta que não chegou a ser feita:
se Paapiú não está previsto
como posto do
Calha Norte, por que foi ampliada
a pista? ou,
inversamente1 se o Projeto
Calha Norte prevê a ordenação da ocupação
em área de fronteira, por que o BEF não está em Paapiu?
Pelo que nos foi dito, a recente invasão de garimpeiros brasileiros na Venezuela não se enquadra em nenhuma das atribuições do nosso
exército. Esclareceu Lima
Mendes:
se os nossos
invadem a Venezuela, o problema é dos venezuelanos; se os
deles invadem o Brasil, o problema é nosso.
Como órgãos de execução, o BEC e o BEF não
tomam iniciativas que vão
além de suas limitadas responsabilidades. Fica delegado
a poderes superiores, algo
difusos, nunca imediatos e acessíveis, o ônus de
fazer executar as políticas e ações.
A dispersão da responsabilidade contribui
decisivamente para a inércia institucional que
permite a continuação e exacerbação dos abusos,
crimes, inconstitucionalidades e impunidades que assolam Roraima.
Uma rápida
visita ao sindicato
dos garimpeiros deu a José Teixeira
Peixoto, o Baixinho,
a oportunidade de mostrar
sua liderança entre os garimpeiros.
O sindicato declara que
6 mil
garimpeiros estão inscritos. O que esse número representa em
termos de percentagem do
total de pessoas que
trabalham em garimpos
é difícil de
avaliar, mas pode ser um parâmetro
para se questionar
os números flutuantes e sempre em ascensão
que são citados
por aqueles interessados em tornar a invasão de dezenas de milhares de garimpeiros um fato
consumado e irreversível.
Baixinho é supostamente adversário de
José Altino Machado, empresário de Minas
Gerais que controla aviões e pistas na área Yanomami. Oponentes ou aliados,
Altino e Baixinho, como Tom e Jerry, fazem parte
de um mesmo roteiro e cenário.
Seus interesses são mais convergentes
do que antagônicos, apenas competidores por mão de obra
e produção de ouro.
Figura um tanto
folclórica, Baixinho orgulhosamente exibe fotos suas
trocando sorrisos com Ulysses Guimarães
e contou ao Deputado Plínio Sampaio a sua versão pessoal da invasão de
garimpeiros na fronteira.
O que realmente
aconteceu, disse ele, foi que um grupo de garimpeiros
venezuelanos atravessou a fronteira, chegou até um garimpo no Brasil
e deu uma surra nos nossos compatriotas que garimpavam tranquilamente na
sua terra. Mostrou no mapa da parede
onde se deu o assalto inimigo.
Por último (last but not least),
visitamos a Funai. O
prédio, uma casa residencial transformada
em escritórios na década de 70, está em franca deterioração. O administrador estava ausente, em
Manaus, desde o dia em que a comitiva chegou, e a substituta, Rita Maria de Souza Gonçalves,
nervosa e quase em pânico, tentou livrar-se das perguntas mais delicadas, dizendo que é apenas substituta, não sabe de nada,
está ali só porque o administrador
não está, a
responsabilidade não é
dela. Veio o discurso habitual de impotência:
falta de
CORREIO
BRAZILIENSE
18 Brasília. domingo. 2 de julho de 1989
Roraima culpa Ibama pela
ameaça
Boa Vista- Tanto
o governador Romero Jucá como os garimpeiros não crêem que
o garimpo seja fechado. Acham que a polêmica se instaurou
devido “ao jogo mal intencionado” do presidente do Ibama.
Fernando Cesar Mesquita, “O Fernando me telefonou antes de
pedir na Justiça a retirada dos garimpeiros, para dizer que
só tomou a medida porque organismos internacionais defensores
do meio ambiente e dos índios estavam pressionando-o a fazê-lo,
caso contrário não conseguiria empréstimos no exterior”, garante
o “Rei do Garimpo”.
Jucá acredita que este embate
judicial sobre os garimpeiros será "empurrado pela barriga"
até o término do governo Sarney e o "abacaxi” ficará
nas mão do próximo pre-sidente da República. "Fechar
garimpo é conto do fada". diz o governador, admitindo
que o governo de Roraima não concordará com qualquer iniciativa
voltada para a retirada, à força, dos Garimpeiros.
As criticas do governador
e dos garimpeiros ao senador Severo Gomes (PMDB- SP), ao deputado
Plínio Arruda Sampaio (PT-SP) e a Igreja Católica tiveram
repercussão positivas na comunidade garimpeira. Os parlamentares,
recentemente, fizeram uma viagem à Roraima e sobrevoaram as
áreas indígenas e teceram severas criticas aos garimpeiros
e ao governo do Estado. "Esses dois políticos (alusão
aos parlamentares) e mais os padres estrangeiros do Pais.
têm que ser execrados pela opinião pública", dia Altino
Machado.
Os garimpeiro", algumas
tribos Yanomami civilizadas que atuam e vivem a cem metros
da pista de pouso de
Paa-piu (esta pista serve como apoio para os 13 pontos de
garimpos de ouro na Floresta Nacional, e o Governador Romero
Jucá, sentem arrepios" ao ouvir pronunciar o nome de
Claudia Adujar, fotógrafa integrante da Comissão para Criação
do Parque Yanomami. Dizem eles que "é uma estrangeira
que veio tirar fotografias dos índios e decidiu permanecer
morando com os Yanomami. Depois, esta senhora veio à imprensa
denunciar que os garimpeiros estavam matando os índios".
diz um garimpeiro que catava no apartamento 156 do Hotel Boa
Vista Tropical, em Boa Vista, na última quarta. feira, e pediu
para no ser identificado.
recursos, o Calha Norte ainda não liberou
os 50 mil cruzados novos
que prometeu em janeiro,
a Funai não tem aviões,
não tem lanchas,
não tem ambulâncias, tem uns
dois ou três veículos do tipo toyota.
Quando é preciso remover índios doentes
da área, a
Funai pede avião ao governador.
O piloto faz a remoção, mas não leva os
doentes de
volta; ficam depositados na Casa do
índio até surgir uma carona aérea.
Rita negou que a Funai contrate aviões de garimpeiros,
por falta de dinheiro!
Os 23 postos da Funai em Roraima mais
a sede contam
com 123 funcionários, sendo que apenas dois são
médicos para atender a
mais de 30
mil índios.
Aflita com a barragem de perguntas e a
presença de uma câmera de vídeo no cubículo que passa por
seu escritório,
Rita mandou chamar às
pressas o engenheiro
agrônomo, Ponciano,
que, mais calmo
e articulado, produziu estatísticas da miséria
da Funai. A desordem dos
remédios em Paapiu,
disse ele, é por causa dos
aviões na pista
que levantam muita poeira!
Enquanto isso, em e
outra sala, o chefe de posto
ausente de Paapiu
batucava burocraticamente numa máquina de escrever, preenchendo algum
papel para uma índia
do lavrado em pé à sua frente.
Ao sairmos, topamos com a cena dramática
de um casal Macuxi da maloca Araçá (Alto Cotingo) com uma criancinha que parecia agonizar. Com a cabeça desproporcionalmente maior que
o corpo, a menina havia sido operada
de hidrocefalia em Belém.
Os pais, sentados
na varanda da Funai, esperavam
algum tipo de providência, pois não sabiam se a criança
havia tido alta ou não. O
pai, indignado, aproveitou a presença da comitiva para desabafar
sobre os abusos da Funai, a total falta de assistência, o descaso proposital; denunciou
que o administrador passa mais tempo viajando do
que na
sede. Nega-se terminantemente a deixar a mulher e a filha serem levadas para a Casa do Índio, porque lá se passa fome. Por sua
vez, a mulher reclamou de ter sido abandonada pela
Funai, que a mandou
para Belém sem
acompanhante; voltou, procurou
funcionários da Funai, ninguém atendia o telefone, ficou na rua; chovia muito; uma noite
teve que fugir de bandidos que a perseguiram,
acabou se acomodando num bairro. da periferia,
o Treze, até a vinda do marido que
ficara na maloca.
A comitiva levou-os ao hospital Coronel Mota, do estado,
para tentar averiguar a condição da criança.
Não chegamos a saber
o resultado, devido à
demora do diretor do hospital
em procurar essa informação e ao compromisso da comitiva
para voltar a Manaus logo depois do almoço. Numa caricatura
de nossas piores previsões, soubemos, duas semanas mais tarde,
que tão logo a comitiva se retirou, Rita arrancou o casal do
hospital, com a conivência
do diretor, levou-os de volta
à Funai e
deixou-os lá até à noite.
Sem outra alternativa,
o marido chamou um táxi e levou a
família para a
Casa do Índio. Até domingo, 24 de junho, a mulher e a filha
agonizante ainda estavam lá, alimentadas com mingau e bolacha.
De minha parte, fiquei em Boa Vista mais
um dia para coletar informações sobre a
região do rio Auaris, onde opera a MEVA.
Viajei para Manaus na noite de terça-feira, dia 13.
A bordo, um homem jovem, mulato e humilde,
posando ostensivamente de
homossexual e louco, distraiu os demais passageiros
com discursos inflamados
que começaram com a greve dos funcionários e enveredaram por assassinatos
nos garimpos.
No fim da viagem, arrancou de alguém
na platéia o comentário antológico: "o que faz o
ouro!".
Brasília, 25 de junho de 1989
Alcida Rita Ramos
Representante da ABA na Comitiva da Ação pela Cidadania
FOLHA DE S. PAULO
A 4 - POLÍTICA Terça-feira, 18 de Julho de 1989
Ação quer tirar garimpo de
território indígena
O Ministério Público
Federal Ingressou ontem na Justiça com uma ação contra a União,
reclamando a interdição das pistas de pouso existentes na
área dos índios Yanomami e a expulsão dos garimpeiros que
invadiram a reserva. Segundo o procurador Oswaldo José Barbosa
Silva, o território dos Yanomami, em Roraima e no Amazonas,
abriga entre 60 e 70 pistas de pouso e cerca de 50 mil garimpeiros.
A ação entrou ontem na Justiça
Federai de Brasília e foi distribuída à 9ª Vara. O juiz de
plantio Luciano Tolentino Amaral vai analisar o pedido de
liminar que acompanha a ação. Se concedida a liminar, a Aeronáutica
será obrigado a interditar as pistas. Na opinião de Barbosa
Silva, só isso bastaria para provocar a saída dos garimpeiros.
que se abastecem de viveres levados por avião. As pistas,
em sua maioria, são clandestinas, mas algumas foram construídas
pela Funai ou pelo Projeto Calha Norte, segundo Silva.
Barbosa Silva disse que os
garimpeiros, além de desmatarem a área e contaminarem os rios
com mercúrio, levam doenças e hábitos nocivos para os 20 mil
índios da reserva.
Coordenação
Editorial: Alcida Rita Ramos, Bruce Albert, Jô Cardoso de
Oliveira
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adicionais favor enviar |
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Comissão Pró-Yanomami
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Pró-Yanomami 2004 - A comissão incentiva a veiculação
dos textos desde citadas as fontes. |