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Os Yanomami e sua terra ..

Foto: C. Zacquini
(1998). A aldeia da “Serra do vento” (Demini)
Os Yanomami formam uma sociedade de caçadores-agricultores da floresta
tropical do Norte da Amazônia cujo contato com a sociedade nacional é,
na maior parte do seu território, relativamente recente. Seu território
cobre, aproximadamente, 192.000 km², situados em ambos os lados da fronteira
Brasil-Venezuela na região do interflúvio Orinoco - Amazonas (afluentes
da margem direita do rio Branco e esquerda do rio Negro). Constituem um
conjunto cultural e lingüístico composto de, pelo menos, quatro subgrupos
adjacentes que falam línguas da mesma família (Yanomae, Yanõmami,
Sanima e Ninam). A população total dos Yanomami,
no Brasil e na Venezuela, é hoje estimada em cerca de 26.000 pessoas.
No
Brasil, a população yanomami é de cerca de 12.500
pessoas, repartidas em 188 comunidades (censo FUNASA). A Terra Indígena
Yanomami, que cobre 9.664.975 ha (96.650 km²) de floresta tropical
é reconhecida por sua alta relevância em termo de proteção
da biodiversidade amazônica e foi homologada por um decreto presidencial
em 25 de maio de 1992. ..
O nome
“Yanomami” ..
O etnônimo "Yanomami" foi produzido pelos antropólogos a
partir da palavra yanõmami que, na expressão yanõmami
thëpë (língua Yanomami occidental), significa "seres humanos"
(yanomae thëpë em Yanomami oriental). Essa expressão se
opõe às categorias yaropë (animais de caça) e yai thëpë (seres
invisíveis ou sem nome), mas também a napëpë (inimigo, estrangeiro,
"branco").

Desenho: D.Kopenawa (1993)
Os Yanomami remetem sua origem à copulação do demiurgo Omama
com a filha do monstro aquático Tëpërësiki, dono das plantas
cultivadas. A Omama é atribuída a origem das regras da sociedade
e da cultura yanomami atual, bem como a criação dos espíritos auxiliares
dos pajés: os xapiripë (ou hekurapë). O filho de Omama
foi o primeiro xamã. O irmão ciumento e malvado de Omama, Yoasi,
deu origem à morte e aos males do mundo. ..
Os brancos:
napëpë ..
Uma narrativa mítica ensina que os estrangeiros devem também sua
existência aos poderes demiúrgicos de Omama. Conta-se que foram
criados a partir da espuma do sangue de um grupo de ancestrais Yanomami
levado por uma enchente após a quebra de um resguardo menstrual e devorado
por jacarés e ariranhas. A língua "emaranhada" dos forasteiros
lhes foi transmitida pelo zumbido de Remori, o antepassado mítico
do marimbondo comum nas praias dos grandes rios.
Para chegar a esta inclusão dos brancos numa humanidade comum, ainda
que oriunda de uma criação "de segunda mão", os antigos Yanomami
tiveram que viver um longo tempo de encontros perigosos e tensos com esses
estranhos, que passaram a chamar de napëpë (“estrangeiros, inimigos”).
De fato, a primeira visão que tiveram dos brancos foi de um grupo
de fantasmas vindo de suas moradias nas "costas do céu" com
o escandaloso propósito de voltar a morar no mundo dos vivos (a volta
dos mortos é um tema mítico e ritual particularmente insistente na cultura Yanomami). ..
Os
antigos Yanomami ..
Por não possuírem afinidade genética, antropométrica ou lingüística
com os seus vizinhos atuais, como os Yekuana (de língua karib), geneticistas
e lingüistas que os estudaram deduziram que os Yanomami seriam descendentes
de um grupo indígena que permaneceu relativamente isolado desde uma época
remota. Uma vez estabelecido enquanto conjunto lingüístico diferenciado,
os antigos Yanomami teriam ocupado a área das cabeceiras do Orinoco e
Parima há um milênio, e ali iniciado o seu processo de diferenciação interna
(há 700 anos) para acabar desenvolvendo suas línguas atuais.
Segundo a tradição oral yanomami e os documentos mais antigos que
mencionam este grupo indígena, o centro histórico do seu habitat situa-se
na Serra Parima, divisor de águas entre o alto Orinoco e os afluentes
da margem direita do rio Branco. Essa é ainda a área mais densamente povoada
do seu território. O movimento de dispersão do povoamento yanomami a partir
da Serra Parima em direção às terras baixas circunvizinhas começou, provavelmente,
na primeira metade do século XIX, após a penetração colonial nas regiões
do alto Orinoco e dos rios Negro e Branco, na segunda metade do século
XVIII. A configuração contemporânea das terras yanomami tem sua origem
neste antigo movimento migratório.
Tal expansão geográfica dos Yanomami foi possível, a partir do século
XIX e até o começo do século XX, por um importante crescimento demográfico.
Vários antropólogos consideram que essa expansão populacional foi causada
por transformações econômicas induzidas pela aquisição de novas plantas
de cultivo e de ferramentas metálicas através de trocas e guerras com
grupos indígenas vizinhos (Karib, ao norte e a leste; Arawak, ao sul e
ao oeste), que, por sua vez, mantinham um contato direto com a fronteira
branca. O esvaziamento progressivo do território desses grupos, dizimados
pelo contato com a sociedade regional por todo o século XIX, acabou favorecendo
também o processo de expansão yanomami. ..
Primeiros
contatos ..
Até o fim do século XIX, portanto, os Yanomami mantinham contato
apenas com outros grupos indígenas vizinhos. No Brasil, os primeiros encontros
diretos de grupos yanomami com representantes da fronteira extrativista
local (balateiros, piaçabeiros, caçadores), bem como com soldados da Comissão
de Limites e funcionários do SPI ou viajantes estrangeiros, ocorreram
nas décadas de 1910 a 1940. Entre os anos 1940 e meados dos anos 1960,
a abertura de alguns postos do SPI e, sobretudo, de várias missões católicas
e evangélicas, estabeleceu os primeiros pontos de contato permanente no
seu território. Estes postos constituíram uma rede de pólos de sedentarização,
fonte regular de objetos manufaturados e de alguma assistência sanitária,
mas também, muitas vezes, origem de graves surtos epidêmicos (sarampo,
gripe e coqueluche). ..
O
tempo do “desenvolvimento” ..

Foto
M. Guran (1991). Posto de Homoxi
Nas décadas de 1970 e 1980, os projetos de desenvolvimento do Estado
começaram a submeter os Yanomami a formas de contato maciço com a fronteira
econômica regional em expansão, principalmente no oeste de Roraima:
estradas, projetos de colonização, fazendas, serrarias, canteiros de
obras e primeiros garimpos. Esses contatos provocaram um choque epidemiológico
de grande magnitude, causando altas perdas demográficas, uma degradação
sanitária generalizada e, em algumas áreas, graves fenômenos de desestruturação
social. ..
A
estrada Perimetral Norte ..
As duas principais formas de contato inicialmente conhecidas pelos
Yanomami - primeiro, com a fronteira extrativista e, depois, com a fronteira
missionária - coexistiram até o início dos anos 1970 como uma associação
dominante no seu território. Entretanto, os anos 1970 foram marcados (especialmente
em Roraima) pela implantação de projetos de desenvolvimento no âmbito
do “Plano de Integração Nacional” lançado pelos governos militares da
época. Tratava-se, essencialmente, da abertura de um trecho da estrada
Perimetral Norte (1973-76) e de programas de colonização pública (1978-79)
que invadiram o sudeste das terras yanomami. Nesse mesmo período, o projeto
de levantamento dos recursos amazônicos RADAM (1975) detectou a existência
de importantes jazidas minerais na região. A publicidade dada ao potencial
mineral do território yanomami desencadeou um movimento progressivo de
invasão garimpeira, que acabou agravando-se no final dos anos 1980 e tomou
a forma, a partir de 1987, de uma verdadeira corrida do ouro...
A
corrida do ouro ..

Foto: I. Vargas
(1989). Pista do garimpo de Jeremias (hoje Homoxi)
Uma centena de pistas clandestinas de garimpo foi aberta no curso
superior dos principais afluentes do Rio Branco entre 1987 e 1990. O número
de garimpeiros na área yanomami de Roraima foi, então, estimado em 30
a 40.000, cerca de cinco vezes a população indígena ali residente. Embora
a intensidade dessa corrida do ouro tenha diminuído muito a partir do
começo dos anos 1990, até hoje núcleos de garimpagem continuam encravados
na terra yanomami, de onde seguem espalhando violência e graves problemas
sanitários e sociais (ver neste site o Documento Yanomami 1
sobre o Massacre
de Haximu - 1993). ..

Foto: C. Vincent
(1990), Arquivo ISA. Malária em Homoxi.
..
Ameaças
futuras? ..
A frente de expansão garimpeira tendeu, no fim
da década de 1980, a suplantar as formas anteriores de contato dos Yanomami
com a sociedade envolvente e até a relegar a segundo plano a fronteira
dos projetos de desenvolvimento surgida nos anos 1970.
Isto não significa, no entanto, que outras atividades econômicas
(agricultura comercial, empreendimentos madeireiros e agropecuários, mineração
industrial), ainda incipientes ou inexistentes, não possam constituir,
no futuro, uma nova ameaça à integridade das terras yanomami, apesar de
sua demarcação e homologação. Assim, além do persistente interesse garimpeiro
sobre a região, deve-se notar que quase 60% do território yanomami está
coberto por requerimentos e títulos minerários registrados no Departamento
Nacional de Produção Mineral por empresas de mineração públicas e privadas,
nacionais e multinacionais.


Fonte: Interesse
minerários em TI na Amazônia Legal, F. Ricardo (org.).
Documentos ISA, n°6. 1999:84.
Além disso, os projetos de colonização implementados nas décadas
de 1970 e 1980 no leste e sudeste das terras yanomami criaram uma frente
de povoamento que tende a expandir-se para dentro da área indígena (regiões
de Ajarani e Apiaú) devido ao fluxo migratório direcionado para Roraima
- tendência que poderá ser ampliada no futuro em conseqüência do apagamento
dos limites da demarcação por um mega-incêndio que atingiu Roraima no
começo de 1998. Enfim, três bases militares do “Projeto Calha Norte” foram
implementadas na Terra Yanomami desde 1985 (Pelotões Especiais de Fronteira/
PEF de Maturacá, Surucucus e Auaris, um quarto está previsto na região
de Ericó), induzindo graves problemas sociais (prostituição) nas população
locais, o que já suscitou protestos de lideranças yanomami de Roraima. ..
A
casa-aldeia ..
Os grupos locais yanomami
são geralmente constituídos por uma casa plurifamiliar em forma de cone
ou de cone truncado chamado yano ou xapono (Yanomami orientais
e ocidentais), ou por aldeias compostas de casas de tipos retangulares
(Yanomami do norte e nordeste).
Cada casa coletiva ou aldeia considera-se como uma entidade econômica
e política autônoma (kami theri yamaki, "nós co-residentes")
e seus membros preferem, idealmente, casar-se nesta comunidade de parentes
com um(a) primo(a) "cruzado(a)", ou seja, o(a) filho(a)
de um tio materno e uma tia paterna. Esse tipo de casamento é reproduzido
o quanto possível entre as famílias numa geração e de geração em geração,
fazendo da casa coletiva ou aldeia yanomami um denso e confortável emaranhado
de laços de consangüinidade e afinidade. ..
O
espaço social inter-aldeão ..
Porém, apesar desse ideal autárquico, todos grupos locais mantêm
uma rede de relações de troca matrimonial, cerimonial e econômica com
vários grupos vizinhos, considerados aliados frente aos outros conjuntos
multicomunitários da mesma natureza. Esses conjuntos superpõem-se parcialmente
para formar uma malha sócio-política complexa, que liga a totalidade das
casas coletivas e aldeias yanomami de um lado ao outro do território indígena.
O espaço social fora da casa coletiva ou da aldeia, consideradas
como mônadas de parentesco próximo, é tido com desconfiança como o universo
perigoso dos "outros" (yaiyo thëpë): visitantes (hwamapë),
que, nas grandes cerimônias funerárias e de aliança intercomunitária reahu,
podem causar doenças usando de feitiçaria para se vingar de insultos,
avareza ou ciúme sexual; inimigos (napë thëpë), que podem matar,
atacando a aldeia como guerreiros (waipë) ou feiticeiros (okapë);
gente desconhecida e longínqua (tanomai thëpë), que pode provocar
doenças letais mandando espíritos xamânicos predadores ou caçar o duplo
animal rixi das pessoas (os rixi vivem nas matas remotas,
longe de seu duplo humano); enfim, os "brancos" (napëpë),
categoria paradoxal de estrangeiros (inimigos potenciais) próximos, diante
dos quais temem-se as epidemias (xawara) associadas às fumaças
produzidas por suas "máquinas" (maquinários de garimpo, motores
de aviões e helicópteros) e à queima de suas possessões (mercúrio e ouro,
papéis, lonas e lixo). ..
O
uso dos recursos ..
O espaço de floresta usado por cada casa-aldeia yanomami pode ser
descrito esquematicamente como uma série de círculos concêntricos. Esses
círculos delimitam áreas de uso de modos e intensidade distintos.
O primeiro círculo, num raio de cinco quilômetros, circunscreve a
área de uso imediato da comunidade: pequena coleta feminina, pesca individual
ou, no verão, pesca coletiva com timbó, caça ocasional de curta duração
(ao amanhecer ou ao entardecer) e atividades agrícolas. O segundo círculo,
num raio de cinco a dez quilômetros, é a área de caça individual (rama
huu) e da coleta familiar do dia-a-dia. O terceiro círculo, num raio
de dez a vinte quilômetros, é a área das expedições de caça coletivas
(henimou) de uma a duas semanas que antecedem os rituais funerários
(cremações dos ossos, enterros ou ingestões de cinzas nas cerimônias intercomunitárias
reahu), bem como das longas expedições plurifamiliares de coleta
e caça (três a seis semanas) durante a fase de maturação das novas roças
(waima huu). Encontram-se também nesse "terceiro círculo"
tanto as roças novas quanto as antigas, junto às quais se acampa esporadicamente
– para cultivar nas primeiras, colher nas segundas – e em cujos arredores
a caça é abundante.
Os Yanomami costumavam passar entre um terço e quase a metade do
ano acampados em abrigos provisórios (naa nahipë) em diferentes
locais dessa área de floresta mais afastada da sua casa coletiva ou aldeia.
Esse tempo de vida na floresta tende a diminuir quando se estabelecem
relações de contato regular com os brancos, dos quais os Yanomami ficam
dependentes para ter acesso a remédios e mercadorias. ..
Urihi,
a terra-floresta ..
A palavra yanomami urihi designa a floresta e seu chão. Significa
também território: ipa urihi, "minha terra", pode referir-se
à região de nascimento ou à região de moradia atual do enunciador; yanomae
thëpë urihipë, "a floresta dos seres humanos", é a mata
que Omama deu para os Yanomami viverem de geração em geração; seria,
em nossas palavras, "a terra yanomami". Urihi pode ser,
também, o nome do mundo: urihi a pree, "a grande terra-floresta".Uma
geografia cosmológica
Fonte de recursos,
urihi, a terra-floresta, não é, para os Yanomami, um simples cenário
inerte submetido à vontade dos seres humanos. Entidade viva, ela tem uma
imagem essencial (urihinari), um sopro (wixia), bem como
um princípio imaterial de fertilidade (në rope).
Os animais (yaropë)
que abriga são vistos como avatares dos antepassados míticos homens/animais
da primeira humanidade (yaroripë) que acabaram assumindo a condição
animal em razão do seu comportamento descontrolado, iinversão das regras
sociais atuais. Nas profundezas emaranhadas da urihi, nas
suas colinas e nos seus rios, escondem-se inúmeros seres maléficos (në
waripë), que ferem ou matam os Yanomami como se fossem caça, provocando
doenças e mortes. No topo das montanhas, moram as imagens (utupë)
dos ancestrais-animais transformadas em espíritos xamânicos xapiripë.
Os xapiripë foram deixados por Omama para que cuidassem
dos humanos. Toda a extensão de urihi é coberta pelos seus espelhos
onde brincam e dançam sem fim. No fundo das águas, esconde-se a casa do
monstro Tëpërësik«, sogro de Omama, onde moram também os
espíritos yawarioma, cujas irmãs seduzem e enlouquecem os jovens
caçadores yanomami, dando-lhes, assim, acesso à carreira xamânica. ..
Os espíritos
xapiripë ..
A iniciação dos pajés é dolorosa e extática. Ao longo dela, inalando
por muitos dias o pó alucinógeno yãkõana (resina ou fragmentos
da casca interna da árvore Virola sp. secados e pulverizados) sob
a condução dos mais antigos, aprendem a "ver/ conhecer" os espíritos
xapiripë e a "responder" a seus cantos.

Desenho:
Morzaniel Yanomami (1996)
Os xapiripë são vistos sob a forma de miniaturas humanóides
enfeitadas de ornamentos cerimoniais coloridos e brilhantes. Sua dança
de apresentação é comparada à ruidosa e alegre chegada de grupos convidados,
ricamente adornados, numa festa intercomunitária reahu. São, sobretudo,
"imagens" xamânicas (utupë) de entes da floresta. Existem
xapiripë de mamíferos, pássaros, peixes, batráquios, répteis, lagartos,
quelônios, crustáceos e insetos. Existem espíritos de diversas árvores,
espíritos das folhas, espíritos dos cipós, dos méis silvestres, da água,
das pedras, das cachoeiras… Muitos são também "imagens" de entidades
cósmicas (lua, sol, tempestade, trovão, relâmpago) e de personagens mitológicas.
Existem também humildes xapiripë caseiros, como o espírito do cachorro,
o espírito do fogo ou da panela de barro. Existem, enfim, espíritos dos
"brancos" (os napënapëripë, mobilizados, por homeopatia
simbólica, para combater as epidemias) e de seus animais domésticos (galinha,
boi, cavalo). ..
O
trabalho dos pajés ..
Uma vez iniciados, os pajés yanomami podem chamar até si os xapiripë,
para que estes atuem como espíritos auxiliares. Esse poder de conhecimento/
visão e de comunicação com o mundo das “imagens/essencias vitais” (utupë)
faz dos pajés os pilares da sociedade yanomami. Escudo contra os poderes
maléficos oriundos dos humanos e dos não-humanos que ameaçam a vida dos
membros de suas comunidades, eles são também incansáveis negociadores
e guerreiros do invisível, dedicados a domar as entidades e as forças
que movem a ordem cosmológica.
Controlam a fúria dos trovões e dos ventos de tempestade, a regularidade
da alternância do dia e da noite, da seca e das chuvas, a abundância da
caça, a fertilidade das plantações, sustentam a abóbada do céu para impedir
sua queda (a terra atual é um antigo céu caído), afastam os predadores
sobrenaturais da floresta, contra-atacam as investidas de espíritos agressivos
de pajés inimigos e, principalmente, curam os doentes, vítimas da malevolência
humana (feitiçarias, xamanismo agressivo, agressões ao duplo animal) ou
não-humana (advinda dos seres maléficos në waripë). ..
Ver os
espíritos xapiripë ..
Para desenvolver suas sessões, os pajés inalam o pó yãkõana,
considerado como a comida dos espíritos. Sob seu efeito, dizem "morrer":
entram num estado de transe visionário durante o qual "chamam" a
si e "fazem descer" vários espíritos auxiliares, com os quais
acabam identificando-se, imitando as coreografias e cantos de cada um
em função da sua mobilização na pajelança (denignam-se os pajés como xapiri
thëpë, "gente espírito"; o fazer pajelança diz-se xapirimu,
"agir enquanto espírito"). Assim, quando "seus olhos morrem",
os pajés adquirem uma visão/ poder que, ao contrário da percepção ilusória
da "gente comum" (kua përa thëpë), lhes dá acesso à essência
dos fenômenos e ao tempo de suas origens, portanto, à capacidade de modificar
seu curso.

Desenho André
Hewënahipitheri Yanomami (1981)
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Referências ..
Bibliografia sobre terra e cosmologia Yanomami para o subgrupo
Yanomae (Brasil):
ALBERT, B. 1988. Temps
du sang, temps des cendres. Représentation de la maladie, espace politique
et système rituel chez les Yanomami du sud-est (Amazonie Brésilienne ),
Travaux et Documents Micro édités 31. Paris, Orstom-IRD.
----------------.
1990. Sessenta e três mitos yanomami publicados em : Folk Literature
of the Yanomami Indians, J. Wilbert and K. Simoneau eds. Los Angeles:
UCLA Latin American Center Publications.
----------------. 1992.
«A Fumaça do Metal. Historia e Representações do Contato entre os Yanomami»,
Anuário Antropológico/89 : 151-189.
----------------. 1995.
O Ouro Canibal e a Queda do Ceu. Uma Crítica Xamânica da Economia Política
da Natureza, Serie Antropologia n° 174. Brasília: Université de Brasilia
(département d’Anthropologie). (versão revisada em B. Albert e A.R. Ramos
orgs. 2000. Pacificando o Branco. Cosmologias do Contato no norte Amazônico.
São Paulo : Editora da UNESP.)
ALBERT, B. e G. GOODWIN
GOMEZ. 1997. Saúde Yanomami. Um manual etno-lingüístico. Belém :
Museu (Collection «Eduardo Galvão»).
MILLIKEN, W. e ALBERT,
B. - com G. GOODWIN GOMEZ. 2000. Yanomami : A Forest People, Kew: Royal Botanical Garden.
SMILJANIC, M.-I.
1999. O Corpo Cósmico: O Xamanismo entre os
Yanomae do Alto Toototobi. Tese de doutoramento
pela Universidade de Brasília.
Para uma bibliografia
geral sobre os Yanomami do Brasil e da Venezuela ver neste site: Bibliografia ..

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