A
progressiva fixação de pontos de contato permanente
na Terra Indígena Yanomami durante as últimas décadas
(missões religiosas, postos indigenistas e postos de saúde)
induziu uma sedentarização crescente das comunidades
indígenas, processo suscetível de afetar duradouramente
sua qualidade de vida.
Assim, em várias regiões, as tradicionais atividades
yanomami de caça, coleta e agricultura de coivara começaram
a sofrer da exaustão da fauna, flora e dos solos em torno desses
pólos de contato, isto em função da redução
da mobilidade das comunidades indígenas (migrações
e expedições de caça e coleta de longa duração).
Além disso, a invasão garimpeira dos anos 1980 e 1990
(ainda não totalmente erradicada) provocou, em várias
outras áreas da Terra Indígena Yanomami, uma substancial
degradação dos recursos naturais imprescindíveis
a perenidade do sistema produtivo indígena.
A fim de minorar o impacto desses problemas ambientais na Terra Indígena
Yanomami, a CCPY implantou, a partir de 2000, um conjunto de projetos,
a saber:
PROJETO
AGROFLORESTAL
Criado inicialmente em duas regiões da Terra Indígena
Yanomami no Amazonas, o projeto agroflorestal da CCPY tem por objetivo
contribuir para a manutenção da vida autônoma
dos Yanomami através do manejo sustentável dos recursos
naturais em áreas de concentração demográfica
e sedentarização crescentes no seu território.
Empenha-se na criação de sistemas agroflorestais com
espécies nativas e exóticas selecionadas pelos Yanomami.
As comunidades participam diretamente do planejamento das atividades
do projeto evitando, assim, ingerências inapropriadas no seu
modo de vida. Através da elaboração de um Manual
agroflorestal Yanomami bilíngüe, o projeto visa à
difusão desta experiência nas várias regiões
da terra indígena onde será julgada relevante.
PROJETO
DE RECUPERAÇÃO AMBIENTAL
A meta deste projeto é a recuperação ambiental
de áreas degradadas pelas atividades ilegais de garimpagem
na Terra Indígena Yanomami durante os anos 1980 e 1990. Para
tanto, foi selecionada uma região exemplar por seu alto grau
de deterioração ecológica (alto Mucajaí,
Roraima) na qual realizou-se, em 2002 uma extensa avaliação
sócio-econômica e ambiental com o apoio de vários
colaboradores Yanomami. A partir deste estudo, foi iniciada a implementação
de um projeto piloto de reflorestamento adaptado às necessidades
produtivas das comunidades indígenas locais. A ampliação
deste projeto deverá fornecer as bases de um modelo de intervenção
em outras áreas da terra indígena apresentando semelhantes
problemas de devastação ambiental.
PROJETO
DE APICULTURA - MELIPONICULTURA
Tradicionais coletores de mais de trinta tipos de mel silvestres,
os Yanomami, aos quais foram apresentadas experiências de apicultura-meliponicultura
indígena, mostraram-se interessados em capacitar seus próprios
especialistas. O projeto experimental implementado a partir deste
interesse empenha-se na formação de um primeiro grupo
de agentes agroflorestais indígena e criadores de abelhas nativas
e “africanizadas”.
O mel silvestre não é apenas um apreciado recurso alimentar
o tradicional para os Yanomami, pode também se constituir numa
futura opção econômica, em função
do preço desse produto no mercado regional. A experiência
de formação de apicultores - meliponicultores Yanomami,
iniciada em oito comunidades do Amazonas, deverá ser expandida
para outras aldeias da terra indígena que terão interesse
nessa atividade. Com este projeto, pretende-se também contribuir
à preservar o patrimônio genético das abelhas-sem-ferrão
nativas da Amazônia.