Apresentamos a carta aberta assinada por
cerca de 40 Yanomami, membros do Conselho Distrital de Saúde Yanomami, redigida
durante a segunda Assembléia Yanomami organizada pela comunidade de Watoriki
(Demini), sob a liderança de Davi Kopenawa.
A
primeira Assembléia do Demini foi realizada em 1986 e teve como convidado
especial o então Senador Severo Gomes. Naquele momento, Davi kopenawa mobilizou
seus compatriotas e diversos líderes indígenas do país em torno da campanha
para a demarcação da Terra Indígena Yanomami, que veio a se concretizar em
1991.
O
encontro de 2000 foi motivado, principalmente, pela problemática da saúde que
passou a ser uma das preocupações prioritárias dos Yanomami. Por essa razão, a
Assembléia começou em Boa Vista com a reunião do Conselho Distrital de Saúde
Yanomami e prosseguiu no Demini com a presença de representantes da FUNAI, da
Diocese de Roraima, da ONG Urihi – Saúde Yanomami e, principalemnte, da
Comissão Pró-Yanomami.
A Assembléia
revestiu-se de cerimonial inspirado no principal ritual intercomunitário
yanomami (reahu), o que deu ao encontro o cunho oficial nos moldes
yanomami. Seguindo esse cerimonial, foram convidadas especiais as comunidades
do Catrimani e Toototobi, aliadas históricas dos habitantes do Demini.
Watoriki, 11 e 12 de dezembro de
2000
Nós, todos os
Yanomami, estamos aqui todos reunidos.
Tem gente da
egião do Watoriki, de Hawarihi Xapopë também, do Alto Catrimani, do Homoxi, do
Xitei, do Parafuri, do Uraricuera, do Waikais, do Auaris, do Ericó, do Mauxi u,
do Pia u, do Apiahiki, do Balauaú, do Novo Demini, do Aracá, do Ajuricaba, do
Surucucu, do Apiaú, do Toototobi, e do Baixo Mucajaí. Todos nós, Yanomami,
fizemos discursos e depois escrevemos esta carta com nossas palavras.
Nós, Yanomami,
reunidos nesta Assembléia queremos todos defender a nossa terra.
Nós, Yanomami,
não queremos que outras pessoas a destruam, sejam eles garimpeiros, fazendeiros,
colonos, militares, pescadores, madereiros ou empresas mineradoras. Não
queremos que eles invadam nossa terra e destruam nossa floresta.
Assim sendo:
1-
Na região do Ajarani existem várias fazendas e nós,
Yanomami, não queremos que os fazendeiros morem em nossas terras; por isso
queremos que o Juiz se ocupe do caso de novo.
2-
Com a chegada da Polícia Federal, os garimpeiros se
esconderam na floresta, por isso não foram retirados. Então, nós pedimos que a
Polícia Federal se esforce mais para procurar e mandar embora os garimpeiros.
3-
Nós, yanomami, não queremos mais outros quartéis na nossa
terra; os três que existem já bastam.
Apesar
de nós respeitarmos os mltares, eles não nos respeitam e abusam de nossas
mulheres. Se eles realmente defenderem a fronteira do Brasil e a nossa terra, e
expulsarem os garimpeiros, ficaremos satisfeitos.
4-
Nós estamos preocupados também com o Distrito Sanitário
Yanomami. Antes, o pessoal da Saúde conseguia trabalhar em todas as regiões.
Hoje, o dinheiros da saúde diminuiu e se ele não aumentar de novo, como o
pessoal da saúde poderá nos tratar, nos curar?
Com
pouco dinheiros para a nossa saúde, nós, Yanomami, vamos morer novamente de
malária, gripe, diarréia, tuberculose, pneumonia e verminose.
Porque
no passado muitos de nós, Yanomami, já morremos por causa dessas doenças.
Hoje
nós não queremos morrer assim.
Sim,
essas são nossas palavras.
Vocês,
autoridade de Brasília, têm que pensar direito. Vocês estão enganados pensando
que agora os Yanomami vivem contentes e com boa saúde.
OBS: A carta
original em Yanomami está à disposição de quem desejar adquiri-la no escritório
da Comissão Pró-Yanomami em Brasília.