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Esta seção procura seguir toda a atualidade Yanomami no Brasil e na Venezuela. Apresenta notícias produzidas pela Pró-Yanomami (CCPY) e outras ONGs, bem como notícias de imprensa. Propõe também comentários sobre eventos, publicações, exposições, filmes e websites de interesse no cenário Yanomami nacional e internacional.

Notícias CCPY Urgente

Data: 6 - Agosto - 2002
Titulo: Curso de Economia e Ecologia capacita 76 professores Yanomami
Fonte: CCPY – Comissão Pró-Yanomami, Boletim nº 29

Na Aldeia Ajuricaba (AM), grupo aprende a realizar operações básicas de matemática, utilizar o dinheiro, a identificar as potencialidades naturais do seu território e avaliar o impacto dos produtos in

Um grupo de 76 professores yanomami, procedentes de todas as áreas yanomami no Brasil e falantes de três línguas – yanomae, sanuma e yanõmamï (xamathari) –, participou, de 16 de maio a 15 de junho, do curso de Economia e Ecologia, organizado pela Comissão Pró-Yanomami (CCPY), Urihi-Saúde Yanomami e Serviço de Cooperação com o Povo Yanomami (Secoya). O projeto foi aprovado e financiado pelo Ministério da Educação e Fundação Nacional do Índio (Funai), com contrapartida das organizações não-governamentais organizadoras do curso.

Foram 200 horas/aula, na Aldeia Ajuricaba, rio Demini, município de Barcelos (AM). Nesse período, o grupo de professores indígenas aprendeu a realizar operações básicas de matemática, a lidar com dinheiro a partir de transações de compra e venda, a identificar as potencialidades naturais do seu território e o impacto que o uso de produtos industrializados causa ao ambiente. A tendência crescente de sedentarização do povo yanomami e a retomada do seu crescimento demográfico vêm causando em várias áreas maior pressão sobre os recursos naturais disponíveis, o que justifica a discussão sobre o uso sustentável desses recursos, a fim de evitar o comprometimento da qualidade de vida da população indígena.

Dentre os objetivos do curso está também o de reforçar a autonomia econômica dos Yanomami face às novas condições econômicas impostas pela situação de contato com a sociedade envolvente, tais como a aquisição de manufaturados, a comercialização de artesanato, e o uso do dinheiro de salários (agentes de saúde, professores).

O líder yanomami, Davi Kopenawa, discursou na abertura do curso. Destacou a importância da educação e do papel dos professores indígenas na luta pela defesa dos seus direitos e da terra. Enfatizou o fato de que é a partir do entendimento dos códigos da sociedade envolvente que será possível às comunidades indígenas adquirirem o saber necessário para manter sua autonomia frente à sociedade dos brancos. Ele alertou também para a importância da unidade, evitando que eventuais divergências internas sejam utilizadas pelos napë (estrangeiro) para fragilizar o povo yanomami. Neste aspecto, a escola tem sido também instrumento de superação de conflitos tradicionais entre grupos. Davi afirmou que mais importante que o dinheiro “é a nossa terra” e alertou para os aspectos práticos positivos e os perigos psicológicos do uso da moeda como meio de transação dos jovens yanomami com os brancos.

As aulas práticas envolvendo o uso do dinheiro ocorreram em um ambiente simulado de mercado, instalado no local do curso. Os professores indígenas puderam realizar a compra de diferentes produtos, o que propiciou intimidade com a moeda e o treinamento das operações matemáticas. O ábaco (calculador manual para efetuar operações elementares de matemática) foi o instrumento utilizado nas primeiras lições sobre adição, subtração e multiplicação. As transações no mercado simulado também serviram para ampliar o vocabulário português dos professores yanomami.

No decorrer do curso, ao mesmo tempo em que os professores ampliavam seu entendimento sobre as relações comerciais em situação interétnica, foram também mapeando os principais problemas que afetam a terra demarcada. Eles destacaram a presença de garimpeiros, a ameaça de ingresso de mineradoras, fazendas vizinhas aos limites da reserva, presença do Exército nas regiões de Auaris e Surucucus, construção de estradas e as cidades próximas ao baixo Marauiá. Os debates sobre alternativas econômicas mostraram as diferentes realidades presentes na Terra Yanomami: a riqueza de recursos naturais existentes na região do Ajuricaba contrastando com a escassez de alimentação em Auaris e Homoxi ou a falta de água no verão em aldeias como Toototobi e Homoxi.

Para dar suporte aos debates sobre o uso dos recursos naturais destinados à aquisição de manufaturados e o impacto ambiental daí decorrente, os educadores contaram com um vídeo em que Davi Kopenawa denuncia a expansão da ocupação da terra indígena pelos não-índios e a conseqüente destruição da floresta. No documentário, o líder indígena questiona o conceito de desenvolvimento ao apontar para a construção de estradas, loteamento de zonas rurais e surgimento de cidades, além de uma maloca que, afetada pelo contato indiscriminado, acabou se assemelhando a uma favela na cidade.

Além da demanda para adquirir maior competência nos processos de acesso a produtos e serviços da sociedade envolvente, os professores yanomami manifestaram a vontade, no futuro, se tornarem médicos, odontólogos, professores, entomologistas, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, rompendo com a relação de dependência da sociedade majoritária.

No seu relatório final , o coordenador do Projeto de Educação Yanomami (PEI), Marcos Wesley de Oliveira, destaca a dedicação, seriedade, determinação e bom humor dos professores Yanomami durante todo o curso de Ajuricaba. Ele também elogiou o trabalho dos consultores e educadores externos que ministraram o curso, além dos quadros do PEI-CCPY e dos projetos de educação da URIHI e da Secoya. A equipe de consultores era formada por Cristina Troncarelli, que desenvolve projeto de Educação no Parque Indígena do Xingu pelo Instituto Socioambiental (ISA), Matari Kayabi (professor indígena, Xingu), Makaulaka Aweti Mehinaku (professor indígena, Xingu), Eliane Bastos (professora) e Martin Charles Nicholl (professor), Jackeline Rodrigues Mendes (professora), Gersem Baniwa (professor) e Bruce Albert.

O curso também teve a participação de Fernando Bittencourt, administrador da CCPY, e Inês, representante da Funai/AM.

Conforme previsto na programação do curso, foi iniciada a discussão sobre a elaboração do currículo de formação de professores Yanomami, cujos eixos temáticos são terra, saúde e língua. Os professores confeccionaram também o calendário de suas escolas, buscando indicar os meses e períodos mais adequados para as atividades escolares. O currículo contempla também cursos intensivos, acompanhamento às escolas, intercâmbios, pesquisa e registro de aula (diário de classe). Esse debate precedeu o da elaboração do Projeto Político-pedagógico das Escolas Yanomami (PPP). A meta dessas iniciativas é obter das secretarias e conselhos estaduais de educação (Amazonas, Roraima) o reconhecimento da educação ministrada na Terra Yanomami.

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Coordenação Editorial: Bruce Albert (Assessor Antropológico CCPY) e Luis Fernando Pereira (Jornalista CCPY)


 

 

 


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