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Notícias CCPY Urgente
Data: 27 - Março - 2001
Titulo: Declarações do Ministro G. Quintão e do Governador N. Campos (RR) sobre a TI Yanomami são refutadas
Fonte:
CCPY - Comissão Pró-Yanomami, Boletim 11
O ex-Senador,
ex-Ministro da Justiça, atual presidente da Fundação Milton Campos e
articulista do jornal O Estado de S. Paulo, Jarbas Passarinho,
manifestou-se publicamente sobre as declarações do Ministro da Defesa, General
Geraldo Quintão, por ocasião da recente visita desse General a Roraima, de que
a demarcação da Terra Yanomami teria sido “um erro”. Passarinho, em artigo
publicado no mesmo O Estado de S.Paulo no dia 27 de março, defendeu
enfaticamente a manutenção da Terra Indígena Yanomami. Com riqueza de detalhes,
o ex-Ministro da Justiça relembrou o longo processo que envolveu os três
poderes da República e que resultou na demarcação e homologação da Terra
Yanomami. A participação decisiva do ex-Ministro da Justiça fica evidente em
sua matéria: “Acionei a Consultoria Jurídica e a Secretaria Nacional de
Direitos da Cidadania, ambas do ministério. A Funai constituiu um grupo técnico
encarregado de dar parecer. Fê-lo em 22 de julho de 1991 opinando pela
demarcação da área de 9 milhões de hectares em linha contínua”. Prossegue o
ex-Ministro: “Os ministros militares decidiram atribuir ao ministro-chefe do
Gabinete Militar o parecer solicitado (...). O Itamarati, cujo chanceler era um
magistrado, foi favorável (...). O gabinete Militar, em nome também do EMFA e
dos Ministérios da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, opinou pela remessa
do processo ao Conselho de Defesa. Entrementes, o meu consultor jurídico e o
secretário-executivo consideraram inexistente qualquer ameaça à soberania e à
segurança nacionais, respaldados em eminentes juristas.” Passarinho evoca a
Constituição Federal como princípio norteador de suas decisões: “Ministro da
Justiça, deveria eu ser cumpridor exemplar da Constituição que ajudara a
escrever. Depois de 13 meses de estudos por vezes estafantes, aprovei a tese da
linha contínua”. O ex-Ministro enfatiza ainda o seu cuidado em integrar o
Conselho de Defesa nesse processo demarcatório: “Ressalvei no despacho a
imperativa necessidade de ser ouvido o Conselho de Defesa, quando da utilização
posterior da terra. E na Portaria 580 está assegurada a ação e atuação das
autoridades federais na área, um bem da União”.
O Procurador
da República no Distrito Federal, Dr. Aurélio Veiga Rios, sócio da Comissão
Pró-Yanomami e defensor de longa data dos direitos Yanomami, lembra também que
“o então Ministro das Relações Exteriores, justamente mencionado no artigo do
ex-Ministro Passarinho, como apoiador da demarcação da área contínua Yanomami,
era ninguém menos que JOSÉ FRANCISCO REZEK, ex-Ministro do Supremo Tribunal e
hoje Juiz da Corte Internacional de Justiça em Haia-Holanda, sendo considerado
uma das maiores autoridades do Planeta em Direito Internacional Público” (mensagem
eletrônica aos sócios da Comissão Pró-Yanomami de 27 de março de 2001).
A íntegra do
artigo do ex-Ministro Jarbas Passarinho pode ser encontrada no home page
do Estado de S. Paulo: www.estado.com.br
Transcrevemos
a seguir a matéria assinada pela presidente da Comissão Pró-Yanomami sobre as
declarações do Ministro Geraldo Quintão e do Governador de Roraima, Neudo
Campos.
Porque não
deixam os Yanomami em paz ?
Alcida Rita
Ramos
Notícias
veiculadas na grande imprensa brasileira, incluindo a Folha de S. Paulo,
na última semana, trazem de volta o fantasma que há quase dez anos ronda a
Terra Indígena Yanomami. Mais uma vez, setores do Exército nacional e
governantes do Estado de Roraima manifestam sua vontade de regredir no tempo e
acabar com a proteção ao mais básico dos direitos dos Yanomami, ou seja, o
direito ao usufruto exclusivo de seu território, como reza a Constituição
Federal. Mais uma vez, vemo-nos obrigados a vir a público esclarecer a todos e,
em particular, a esses senhores, o que representa essa Terra Indígena para os
Yanomami e como sua demarcação e homologação têm sido acatadas com irrestrito
apoio pelas autoridades máximas do país.
O governador de
Roraima, Neudo Campos (PPB), foi citado nos jornais declarando,
desinformadamente, que não teria havido critério para a demarcação da Terra
Indígena Yanomami: "Eles olharam o mapa e traçaram". Essa declaração
foi motivada pela visita a Roraima do Ministro da Defesa, Geraldo Quintão, a
propósito de acusações vindas de diversas fontes de que membros dos batalhões
do Exército instalados na área de fronteira estariam seduzindo e engravidando
mulheres (algumas menores de idade) de várias etnias. Aproveitando a ocasião, e
extemporaneamente, o Ministro Quintão alimentou a desinformação do governador
ao classificar como "um erro" a decisão do governo federal de
demarcar a área em 1991.
Esta não é a
primeira (embora esperemos que seja a última) investida contra a Terra Indígena
Yanomami. Em 1996, por exemplo, a Câmara de Deputados apreciou o projeto de
decreto legislativo 365, de 1993, de autoria do deputado Jair Bolsonaro,
propondo a revogação do "Parque" Indígena Yanomami. A argumentação
cuidadosa e bem fundamentada do relator, Deputado Fernando Gabeira, derrubou o
projeto.
Que saiba o
Excelentíssimo Senhor Governador Campos que a demarcação da área Yanomami foi o
resultado de detalhadas pesquisas de geógrafos, antropólogos e juristas que
durante mais de uma década acumularam dados históricos, etnográficos,
ecológicos e outros relevantes para chegaram com alto grau de precisão à área
que foi finalmente demarcada, homologada e registrada em 1991. Longe de ter
sido um ato irrefletido e leviano de alguém que, aleatoriamente, traça um risco
no mapa, esse foi um trabalho meticuloso e prolongado de profissionais
altamente qualificados. Como dever de casa, talvez o Governador pudesse tirar
um tempinho de sua atarefada vida pública para examinar o processo dessa
demarcação e evitar futuras gafes na frente de jornalistas.
O Ministro
Quintão teria acrescentado que essa demarcação deveria ser revista e discutida
pela sociedade. O que parece que o Excelentíssimo Ministro não sabe é que a
Terra Indígena Yanomami é o produto de discussões e negociações que se
estenderam por mais de 13 anos entre setores do governo e da sociedade civil,
que todo o processo representou um esforço conjunto do Congresso Nacional, da
Fundação Nacional do Índio, do Ministério Público e do próprio Ministério da
Justiça com organizações não governamentais, professores universitários,
membros da Igreja e personalidades de projeção nacional e internacional.
Citemos apenas dois exemplos. O falecido ex-Senador Severo Gomes foi um dos
mais dedicados defensores dos direitos dos Yanomami à terra que ocupam e que
corresponde à área demarcada. Também o ex-Senador, ex-Ministro da Justiça e
Coronel da Reserva do Exército, Jarbas Passarinho não apenas apoiou plenamente
a demarcação, mas tem feito vários pronunciamentos públicos em favor da
manutenção da Terra Indígena Yanomami. Sua última e brilhante defesa dos
direitos territoriais Yanomami foi publicada no Estado de S. Paulo no
dia 27 de março, justamente em resposta às apressadas declarações de Campos e
Quintão.
Não deixa de
ser uma afronta aos poderes constituídos chamar de "erro" algo que
tem merecido repetidas manifestações de louvor.
Senão, vejamos: Em 1997, o
Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, outorgou à Comissão
Pró-Yanomami (CCPY), a ONG que desde 1978 lutou pela criação da Terra Indígena
Yanomami, o Prêmio de Direitos Humanos. Em 1999, o Ministério das Relações
Exteriores, sempre tão zeloso da imagem e integridade do Brasil, condecorou o
líder Yanomami Davi Kopenawa com a Comenda da Ordem do Rio Branco. Essas
demonstrações de aprovação do Estado brasileiro, representado por ninguém menos
que seu próprio presidente e altos escalões diplomáticos, reduzem a um infeliz
lapso de impertinência as opiniões apressadas de Campos e Quintão. Declarar
publicamente que a demarcação oficial da Terra Indígena Yanomami foi "um
erro" é questionar a legitimidade das autoridades máximas do país e, ao
mesmo tempo, expôr uma lamentável falta de afinação com o governo, com a sociedade nacional, com a comunidade
internacional e, não menos importante, com o compromisso do Brasil para com
suas minorias étnicas.
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Coordenação Editorial:
Bruce Albert (Assessor Antropológico CCPY) e Luis Fernando Pereira (Jornalista CCPY)
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