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Notícias CCPY Urgente
Data: 24 - Maio - 2001
Titulo: Delegados Yanomami elogiam serviços do DSEI Yanomami
Fonte:
CCPY - Comissão Pró-Yanomami, Boletim 14
Presentes a encontro nacional realizado em Goiás, representantes indígenas defendem continuidade dos convênios entre entidades da sociedade civil e a Funasa
A III
Conferência Nacional de Saúde Indígena, organizada pela Fundação Nacional de
Saúde (Funasa) encerrou-se no último dia 18 de maio, em Luziânia (GO, distante
45 km de Brasília), com uma estimativa de participação de cerca de 800
delegados, metade dos quais representantes de povos indígenas de todas as
regiões do país. Doze delegados indígenas do Distrito Sanitário Especial
Indígena Yanomami (DSEI Yanomami), acompanhados de profissionais das
instituições conveniadas à Funasa, estiveram presentes nos cinco dias de
trabalhos. Três profissionais da Urihi-Saúde Yanomami, entidade conveniada que
presta serviços a 6,8 mil habitantes da Terra Indígena Yanomami, participaram
do encontro.
Para muitos
dos representantes indígenas da delegação do DSEI Yanomami foi a primeira vez
que presenciaram um encontro deste porte, com indígenas e não-indígenas de todo
Brasil. As delegações distribuíram-se em 18 grupos temáticos e participaram de
palestras e debates no plenário do encontro. Nas sessões plenárias, os
integrantes monolíngües da delegação do DSEI Yanomami contaram com tradução
feita por dois intérpretes que integraram a delegação. Todos os delegados foram
escolhidos em uma conferência distrital, realizada entre os dias 17 e 20 de
abril (leia no Boletim Yanomami nº 13). O relatório final da III Conferência
Nacional de Saúde Indígena, aprovado em sessão plenária do dia 18, será
divulgado na próxima semana.
Receio de retrocesso
Segundo Carlo
Zacquini, representante da Comissão Pró-Yanomami em Boa Vista (RR), a
preocupação maior dos índios do DSEI Yanomami, manifestada ao longo do
encontro, refere-se à continuidade dos convênios e, conseqüentemente, do
atendimento prestado não só nas malocas como também em Boa Vista. De modo
geral, os índios confirmaram a melhora nos serviços de saúde após a celebração
dos convênios entre as entidades não-governamentais e a Funasa - embora esta
melhora seja desigual, condicionada por diversos fatores, como o atraso na
assinatura de alguns convênios. Por isso, segundo Zacquini, “os índios ficam
apavorados só em pensar que possa haver um retrocesso”.
Uma possível
interrupção no funcionamento da Casa de Cura, em Boa Vista, mantida por
convênio entre a Diocese de Roraima e a Funasa, paira como um pesadelo para os
índios porque, segundo Zacquini, o término do atendimento obrigaria os índios
doentes a serem transferidos para a Casa do Índio, também na capital do Estado,
que não tem estrutura e acomodações suficientes para toda a demanda de Roraima.
Ademais, os Yanomami e Yekuana, que vivem na Terra Indígena Yanomami,
consideram a assistência prestada pela Casa de Cura de melhor qualidade.
Relação de confiança e respeito
Presente ao
encontro de Luziânia, Davi Kopenawa, representante do Demini, uma das malocas
atendidas pela Urihi, afirma que os bons resultados no serviço de saúde são
conseqüência da relação de confiança e respeito entre os profissionais
contratados e os índios. “Urihi está fazendo bom trabalho para todo mundo. Tem
dez postos e estão funcionando. Não queremos que saia. O pessoal que está
trabalhando pegou uma grande área, eles andam em todas as malocas e já conhecem
todos os índios. Não queremos outros que não conheçam”, defende, enfaticamente.
Na área de atuação da Urihi, o atendimento às malocas mais distantes, de
difícil acesso, é feito através de helicópteros, cujos custos são pagos pelo
convênio com a Funasa.
Davi, no
entanto, defende a ampliação do sistema de comunicação via rádio na área
Yanomami, que seria operado pelos próprios índios, para aperfeiçoar o
atendimento. A ampliação do sistema seria fundamental para enfrentar situações
de emergência e até para a prevenção de epidemias, pois, segundo Carlo
Zacquini, não só agilizaria o socorro a doentes graves como permitiria evitar
que grupos se desloquem para uma maloca onde, por exemplo, haja uma epidemia.
Sobre a capacitação dos Yanomami para prestar atendimento na própria maloca, Davi
elogia a iniciativa da Urihi. “Tem muitos Yanomami microscopistas e quem
ensinou foi a Urihi. Eles estão trabalhando e gostando”, ressalta. Hoje, já
existem 21 Yanomami microscopistas aptos a realizar o diagnóstico da malária em
suas malocas e 19 microscopistas não-índios.
Gerôncio
Hawanatheri, habitante do Cauaburis, no Estado do Amazonas, também reconhece a
melhora no atendimento à saúde depois da assinatura do convênio entre a Funasa
e o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Sanitário em Meio Tropical (IBDS).
Porém, considera deficiente o abastecimento de medicamentos para malária e
tuberculose no posto de atendimento. Outro problema enfrentado pelas malocas de
sua região é a contaminação da água usada pelos índios. “Para melhorar
bastante, falta poço artesiano”, afirma Gerôncio. “O pessoal não está cuidando
do rio e estou lutando para baixar a doença”. Ele reivindica ainda a compra de
uma voadeira (barco de metal com motor de popa) para transporte dos pacientes
em estado grave, que precisam ser levados até a cidade de São Gabriel da
Cachoeira (AM).
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Coordenação Editorial:
Bruce Albert (Assessor Antropológico CCPY) e Luis Fernando Pereira (Jornalista CCPY)
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