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Notícias CCPY Urgente
Data: 6 - Junho - 2001
Titulo: STJ rejeita recurso dos condenados pelo Massacre de Haximu
Fonte:
CCPY - Comissão Pró-Yanomami, Boletim 15
Decisão, proferida no final do último mês de maio, reafirma sentença da Justiça Federal de Roraima, que condenou cinco garimpeiros por crime de genocídio
A 5ª
Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília, rejeitou por
unanimidade recurso para rever a condenação de cinco garimpeiros pelo crime de
genocídio cometido contra o povo yanomami em agosto de 1993, episódio que ficou
conhecido como “Massacre do Haximu”. O recurso foi a mais recente tentativa dos
garimpeiros para anular a decisão do juiz federal de Roraima, Itagiba Catta
Preta Neto que, em 19 de dezembro de 1996, os condenou a penas que variam de 19
anos e seis meses a 20 anos e seis meses de reclusão por crime de genocídio.
Em junho de
1998, os garimpeiros conseguiram reverter a decisão com a anulação da sentença
por parte do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em Brasília. Em sua
decisão, o TRF alegou que, apesar de reconhecer tratar-se de genocídio, se
tratava também de crime doloso contra a vida, por isso, cabendo o julgamento ao
tribunal do júri. O Ministério Público Federal, no entanto, recorreu da decisão
ao STJ que, sob a relatoria do ministro Jorge Scartezzini, acolheu o recurso e
restabeleceu a condenação, sob o fundamento de que, embora se trate de
homicídios dolosos, estes constituem crime de genocídio, passíveis, portanto,
de julgamento por juiz singular.
Diante da
segunda decisão desfavorável, os garimpeiros entraram com embargos, desta vez,
alegando que, ao analisar o pedido do Ministério Público Federal, a 5ª Turma do
STJ não teria se manifestado sobre questões constitucionais referentes ao
julgamento do crime de genocídio. Entretanto, o ministro Jorge Scartezzini,
relator do novo recurso, rejeitou o pedido dos garimpeiros afirmando que a
decisão anterior “teria abordado por completo o tema”. Ainda segundo o relator,
o recurso adequado para esse tipo de questão é o extraordinário, a ser
apresentado ao Supremo Tribunal Federal.
Dezesseis
mortos
Denunciado à
Funai em agosto de 1993 pelos próprios Yanomami, o Massacre do Haximu foi mais
um dos muitos nefastos episódios decorrentes da invasão da terra indígena por
garimpeiros. À época do massacre, estimava-se que aquela escaramuça dos
invasores tivesse eliminado cerca de 70 índios, ou seja, praticamente todos os
habitantes de duas malocas no Haximu, localizadas próximo à fronteira, na
Venezuela.
Após semanas
de informações desencontradas e grande comoção nacional e internacional, um
levantamento feito pelo antropólogo Bruce Albert, da Comissão Pró-Yanomami,
constatou tratar-se de 16 Yanonami, majoritariamente mulheres, velhos e
crianças, mortos a tiros e golpes de terçados (facões). O número de mortes só
não foi maior porque grande parte da população do Haximu estava concentrada em
outra maloca para a realização de rituais.
Segundo
relatos recolhidos pelo antropólogo, a ação foi planejada por empresários de
garimpo conhecidos em Roraima que, após o massacre, evadiram-se da área.
Baseado em detalhados relatos dos sobreviventes, Albert estimou que 14
garimpeiros protagonizaram a chacina. Entretanto, apenas a metade pôde ser
identificada pelos apelidos e codinomes e cinco foram condenados. Com a mais
recente decisão do STJ, eles continuarão presos por crime de genocídio.
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Coordenação Editorial:
Bruce Albert (Assessor Antropológico CCPY) e Luis Fernando Pereira (Jornalista CCPY)
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