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Esta seção procura seguir toda a atualidade Yanomami no Brasil e na Venezuela. Apresenta notícias produzidas pela Pró-Yanomami (CCPY) e outras ONGs, bem como notícias de imprensa. Propõe também comentários sobre eventos, publicações, exposições, filmes e websites de interesse no cenário Yanomami nacional e internacional.

Notícias CCPY Urgente

Data: 10 - Julho - 2001
Titulo: Programa de Educação Intercultural (PEI) prepara os Yanomami para o futuro
Fonte: CCPY - Comissão Pró-Yanomami, Boletim 16

O Projeto de Educação Intercultural (PEI) é uma resposta aos próprios Yanomami que, em sua assembléia de 1993 realizada na região do Toototobi, demandaram a instalação de escolas que lhes fornecessem os conhecimentos necessários sobre o mundo dos brancos, de modo a equipá-los a evitar uma dependência sócio-econômica e política face à sociedade majoritária.

Desde o início, a idéia mestra que orientou os membros da CCPY envolvidos com a organização do PEI foi criar um sistema de educação bicultural em que a instrução formal que compõe o currículo nacional de educação estivesse acoplada à promoção de saberes advindos da tradição yanomami.Instruídos em ambos os sistemas de conhecimento (o nacional e o indígena) por meio do comando da escrita, os próprios professores yanomami teriam, assim, condições ideais de proceder à tradução lingüística e cultural plena entre ambos os universos de conhecimento que escapasse ao processo de exotização e folclorização que por vezes encontramos em algumas experiências de educação indígena “diferenciada”.

Instalado em 1995, inicialmente com o apoio da Unicef, o PEI cumpriu sua primeira fase com um bem sucedido programa de alfabetização e formação inicial de professores indígenas. Essa experiência escolar, iniciada na aldeia do Demini, no Estado do Amazonas, onde vivem 101 Yanomami, espalhou-se para outras aldeias graças ao efeito propagador deflagrado pelos próprios Yanomami que passavam seus novos conhecimentos para as aldeias vizinhas.

Em 1998, com o apoio financeiro da Rainforest Foundation da Noruega, o PEI pôde atender às regiões do Toototobi (com 307 habitantes) e do Balawau (com 248 habitantes), ambas no Estado do Amazonas. A partir daí, as demandas por educação têm crescido sem cessar.

Face à exigüidade de recursos, o PEI tem também prestado assessoria a escolas já existentes, administradas por outras entidades que operam na Terra IndígenaYanomami no âmbito do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami. Na região do Catrimani, em Roraima, a CCPY presta assessoria às duas escolas surgidas por iniciativa de um auxiliar de enfermagem da Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Para atender às regiões do Surucucus e Parafuri, a Urihi-Saúde Yanomami, entidade conveniada com a Funasa, inaugurou escolas que contam com o apoio de professores yanomami que estão sendo formados no PEI.

Cumprida a primeira fase de alfabetização, o PEI prepara-se agora para a próxima etapa, quando serão ministrados cursos que atendam às exigências do currículo nacional, com a introdução de conhecimentos, por exemplo, de português, geografia, história, direitos de cidadania e assim por diante. A entrevista abaixo com o coordenador do PEI dá mais detalhes sobre essa experiência didática.

Entrevista com Marcos W. de Oliveira

Coordenador do PEI-CCPY

Em 2000, o PEI encerrou uma primeira etapa do processo de alfabetização, por meio do qual os alunos, monolíngües, aprendem a ler e escrever em sua língua materna. Para algumas turmas, principalmente de professores yanomami, foram ministrados cursos de Português como segunda língua. Segundo o coordenador do programa, Marcos Wesley de Oliveira, até o momento, 109 alunos yanomami foram alfabetizados nas regiões do Demini, Toototobi, e Balawau, todas no Estado do Amazonas. Alguns exercerão papéis diferenciados em suas comunidades, como professores ou agentes indígenas de saúde.

Um dos objetivos principais do PEI é que este processo de formação escolar seja gerenciado pelos próprios Yanomami no futuro, fazendo eles mesmos os papéis de professores e de assessores. Alguns alunos poderão nem vir a ter uma formação específica depois, mas os conhecimentos sobre saúde, sobre a sociedade envolvente, sobre matemática e a comercialização de produtos são necessários para toda a comunidade”, explica Marcos nesta entrevista ao Boletim Yanomami. Segundo ele, estão em atividade nas regiões onde o PEI atua 26 professores indígenas e 9 microscopistas. Os microscopistas, depois de alfabetizados, obtiveram a formação específica com a Urihi-Saúde Yanomami, entidade não-govermental conveniada com a Funasa, submeteram-se a exames de cunho nacional e foram aprovados. Abaixo, o coordenador do PEI nos dá mais informações sobre o andamento desta experiência.

Após a experiência do Demini, houve um vertiginoso crescimento do interesse dos Yanomami pelas escolas do PEI. A que você atribui essa demanda?

“A escola surgiu no Demini muito em função da necessidade de formar agentes de saúde, embora não se limitasse a isso. E, através da alfabetização, a escola possibilitou que alguns Yanomami se formassem para trabalhar como microscopistas. Os Yanomami viram na escola um meio para defenderem seu território, para contribuírem com sua comunidade e poderem receber um salário. Mas havia expectativas muitos diferentes entre os Yanomami em relação às escolas: alguns queriam aprender a escrever para atender a demandas específicas, como escrever cartas para Boa Vista com os pedidos de mantimentos, por exemplo. Eles tinham a idéia de que a carta escrita era um veículo oficial, que o papel teria um poder maior do que a comunicação via rádio e, assim, seriam atendidos.

Em seu discurso, Davi (Kopenawa, líder yanomami do Demini) diz que é importante para os Yanomami aprender a língua escrita para fortalecê-la e aprender português para se relacionarem melhor com a sociedade envolvente. Desde o início, o pedido de aprendizado da língua portuguesa tem sido muito grande, pois é ela que permite a comunicação com a sociedade envolvente. Esse “boom” de pedidos teve dois momentos: um, nas regiões com as quais o Demini mantém relações de parentesco, e isso foi atendido em 1998; depois, quando o convênio da Urihi com a Funasa foi assinado, e pudemos ouvir outras áreas nas quais não trabalhávamos. Talvez esta demanda sempre tenha existido, mas não tínhamos como saber.”

Qual a maior dificuldade para atender todas estas solicitações?

“A dificuldade maior é orçamento. A CCPY entende ser importante que esse processo de educação escolar se difunda entre o maior número possível de comunidades yanomami, porque existe necessidade de capacitação em outras áreas do conhecimento para atender às demandas da saúde e de vigilância do território, por exemplo. Fomos buscar recursos para expandir a escola para os locais onde a CCPY tinha projetos de saúde, e isso foi viabilizado pelos estudantes noruegueses (da campanha denominada Operasjon Dagsverk, “Um Dia de Trabalho” cuja arrecadação é repassada à Rainforest Foundation). São regiões distantes, o que implica ter recursos para horas de vôo até as malocas e pessoas contratadas para iniciar o trabalho.

Temos uma equipe de sete pessoas, me incluindo como coordenador, e nenhuma das pessoas que chegaram, exceto uma, tinha experiência com educação indígena. Colocar essas pessoas no circuito do projeto, incentivá-las e dar condições para aprenderem a língua yanomami, estar fazendo sempre uma comunicação interna entre a equipe tem possibilitado a formação desse grupo. Todos os projetos que conheço têm dificuldades em encontrar pessoas. É um trabalho muito difícil, fica-se muito tempo em campo, e para a relação intercultural é necessário um certo preparo e sensibilidade também.

Um dos pressupostos do PEI é o intercâmbio dos professores yanomami em formação com outras experiências em educação indígena dentro e fora da Terra Indígena Yanomami. Qual a função desse intercâmbio?

Estes Yanomami têm poucas referências para poderem construir o seu ideal de escola: há a da Missão Novas Tribos, a da CCPY e talvez alguma que visitaram na cidade. Conhecer outras escolas, como a dos Waiãpi (povo indígena que vive no oeste do Amapá)e outras experiências escolares proporciona a eles ter novas referências para formar o seu ideal de escola. Isso ajuda a própria CCPY, pois aí eles podem dizer que querem uma escola desta maneira e não daquela. Outra coisa é que o intercâmbio permite aos Yanomami ter conhecimento sobre a luta de outros professores indígenas e de outros povos indígenas no Brasil. Se a escola tem um papel político – e tem mesmo -, essa identificação da luta dos Yanomami com a luta de outros povos é muito importante. A Rainforest Foundation (organização não-governamental da Noruega) financia o intercâmbio entre as experiências que apóia, através da Rede de Cooperação Alternativa.

Da Marcha dos 500 Anos participaram 12 Yanomami. Das duas coisas mais importantes que eles falaram, uma foi a violência da polícia, e a outra foi a oportunidade de conhecer tantas lideranças indígenas em Coroa Vermelha, vendo aqueles depoimentos e poderem perceber quem são os Yanomami dentro do cenário da luta indígena no Brasil. E ainda é uma oportunidade para aprenderem português e coisas pontuais vinculadas aos próprios cursos visitados. Em cada viagem, vão um assessor da CCPY e dois professores yanomami e é importante também para a formação dos próprios assessores, que conhecem outras experiências.”

Como é feito o acompanhamento do processo de formação dos professores yanomami pela equipe da CCPY?

“Como os assessores da CCPY vão para as malocas, recentemente elaboramos um guia de acompanhamento. Por esse guia, podemos saber como está a escola e o trabalho do professor yanomami através de três tipos de interlocutores: do próprio professor, dos alunos e da comunidade. Deste modo, não ficamos numa relação apenas entre o PEI e o professor, inserindo os alunos e a comunidade na discussão sobre o andamento da escola. Esta assessoria em campo é muito importante, pois a formação dos professores é contínua. Por exemplo, um professor yanomami que em um mês de aulas teve sete dias de Geografia, é óbvio que não conseguiu entender tudo que lhe foi passado nesse tempo. Quando vamos à sua aula, podemos ver onde ele está tendo dificuldades e aí falar dessa dificuldade de novo. É o que chamamos formação continuada.

Uma outra questão é sobre o nosso material didático, que tem sido muito elogiado. A diferença com outros materiais é sua linha editorial, mais simples, ágil e voltada para o público das escolas. É ágil porque não é uma publicação finalizada, podendo passar por mil revisões, sem rigidez no conteúdo, que não precisa estar superelaborado. O que fazemos é pegar os textos de um curso, produzir um material diretamente no computador, reproduzir e mandar para a área. É rápido, barato e de qualidade. Isso não dispensa o outro material, mais elaborado, requintado, editado em gráfica.”

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Coordenação Editorial: Bruce Albert (Assessor Antropológico CCPY) e Luis Fernando Pereira (Jornalista CCPY)


 

 

 


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  Comissão Pró-Yanomami no seguinte
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