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Notícias CCPY Urgente
Data: 17 - Julho - 2001
Titulo: Defesa anuncia expansão do Calha Norte e novo Pelotão de Fronteira na TI Yanomami
Fonte:
CCPY - Comissão Pró-Yanomami, Boletim 17
Seminário realizado em Boa Vista (RR) divulga informações sobre “a nova era” do projeto de militarização das fronteiras criado em 1985
O governo federal anunciou, na semana passada, a construção de um
pelotão militar na região de Ericó, no nordeste da Terra Indígena Yanomami, em
Roraima. O anúncio, feito pelo coronel Roberto de Paula Avelino
durante um seminário sobre o Projeto Calha Norte (PCN), realizado entre os dias
2 e 4 de julho em Boa Vista (RR), revela uma mudança nos planos do Ministério
da Defesa, já que em março passado o general Joélcio Campos da Silveira havia
afirmado, ao jornal Folha de Boa Vista, que “o pelotão de Ericó seria extinto”.
Não foram fornecidos maiores detalhes. A aldeia yanomami do Ericó já abrigou um
destacamento militar nos anos 80, e que está desativado desde 1986. Com a
reinstalação desse pelotão, serão quatro os destacamentos militares na Terra
Indígena Yanomami: Maturacá, Auaris, Surucucu e Ericó.
O “Seminário Calha Norte 2001” serviu para apresentar a segmentos
militares e civis, especialmente a políticos de Roraima, os planos de expansão
do projeto de militarização das fronteiras amazônicas, criado em 1985, no
governo do presidente José Sarney. De acordo com o coronel Roberto Avelino,
gerente do PCN, foram investidos R$ 38 milhões no projeto entre junho de 2000 e
junho de 2001. Destes, 58% foram
alocados em atividades militares e o restante no chamado “desenvolvimento
regional” - um conjunto de obras civis executadas em povoamentos e municípios
localizados na área de influência do Calha Norte.
Os recursos destinados ao “desenvolvimento regional” foram distribuídos
da seguinte forma: Cabeça do Cachorro (noroeste do Amazonas), 31%;
Roraima, 23%; Manaus (AM), 16%; Solimões (Oeste do Amazonas), 15%; Pará e
Amapá, 7%; e os 8% restantes em apoio aéreo. A concentração dos investimentos
na fronteira com a Colômbia (Alto Solimões e Cabeça do Cachorro, que somam
juntos 46% do total) expressam a especial preocupação dos militares com o
anúncio do Plano Colômbia – aliança entre EUA e o país vizinho para reprimir
atividades da guerrilha e do narcotráfico na região. Ainda de acordo com o gerente do projeto, 166 dos
366 programas do Avança Brasil – programa federal de desenvolvimento, que prevê
investimentos públicos e privados em infra-estrutura econômica – investem
recursos em Roraima.
Futuras cidades
De acordo com o coronel Roberto Avelino, o Ministério da Defesa tem
reservados R$ 8.120.000,00 do orçamento de 2001 para as obras do PCN.
Até o momento, foram liberados R$ 3.100.000,00 para convênios com prefeituras
municipais, distribuídos percentualmente entre os estados da seguinte forma:
Roraima, 53%; Amazonas, 30%; Pará, 10%; Amapá, 7%. Além da construção de três novos pelotões de
fronteira, os recursos serão aplicados em obras nos povoamentos localizados na
faixa de 150 km da fronteira, com o intuito de fomentar a ocupação da região,
mesmo dentro de terras consideradas tradicionalmente indígenas.
À imprensa
roraimense o coronel Roberto Avelino explicou que os novos pelotões, além da
segurança oferecida, terão a função de gerar futuras cidades, já que o Exército
instala nestas localidades toda uma infra-estrutura com a finalidade de
aglutinar uma crescente população à sua volta. É o que os militares chamam de
“vivificação de fronteiras”. Ele usou como exemplo deste processo Pacaraima,
que originalmente era uma base militar instalada na fronteira com a Venezuela,
no chamado Marco BV-8. Mesmo assentada dentro da Terra Indígena São Marcos, a
vila foi elevada à condição de município pela Assembléia Legislativa estadual,
aprofundando problemas entre os povos indígenas da área e os não-índios que
para lá se deslocaram.
Vivificar a
fronteira norte com populações não-indígenas sempre foi o objetivo do Projeto
Calha Norte. Exemplo dessa política foi a declaração, em 1989, do Coronel Lima
Mendes, comandante do BEF e encarregado do Calha Norte em Roraima, a membros da
Comitiva da Ação Pela Cidadania, liderada pelo então Senador Severo Gomes.
Segundo o Coronel, “Surucucus é um pólo de desenvolvimento para a fixação de
populações”.
O seminário apresentou ainda os resultados de um estudo encomendado
pelo PCN à Fundação Getúlio Vargas (FGV) de Manaus, realizado na região do Alto
Solimões (AM). O estudo servirá de esteio para uma “política de desenvolvimento
social e econômico na faixa de fronteira”, conforme foi anunciado no seminário,
dentro do espírito do Calha Norte. Segundo Lincoln Campos, representante do Instituto
Superior de Administração e Economia (ISAE) da FGV, os estudos sobre a região
não fazem distinção entre população indígena e não-indígena, mas sim entre
população rural e urbana. A FGV deverá iniciar brevemente um estudo semelhante
para o estado Roraima, a fim de orientar os investimentos e programas do Calha
Norte no estado. Na atual versão do Calha Norte, as localidades de Tabatinga e
São Gabriel da Cachoeira (AM), Boa Vista (RR), Tiriós (PA) e Crevelândia (AP)
são pontos-chave, denominados “pólos de sustentabilidade econômica e social”
Fora da Terra
Indígena Yanomami, serão erguidos um pelotão em Uiramutã, dentro da Terra
Indígena Raposa-Serra do Sol, também em Roraima, e um terceiro chamado Tiriós,
no Pará. Há atualmente 14 bases militares em operação na fronteira amazônica. O
objetivo do Ministério da Defesa, segundo informou o coronel Roberto Avelino, é
ter pelotões militares a cada 400 quilômetros.
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Coordenação Editorial:
Bruce Albert (Assessor Antropológico CCPY) e Luis Fernando Pereira (Jornalista CCPY)
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