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O
problema das amostras de sangue coletadas por pesquisadores dos Estados Unidos
nos anos 1960 e 70 continuam preocupando os Yanomami. Conforme veiculamos nos
Boletins Yanomami 25 e 26 e no Documento Yanomami Nº 2 (ver em www.proyanomami.org.br),
os Yanomami no Brasil estão inconformados com a notícia de que
o sangue dos seus parentes, alguns deles já falecidos, está na
mão de pessoas estranhas em terras longínquas. Em duas cartas
dirigidas à Procuradoria Geral da República, eles pedem ao governo
brasileiro para que se empenhe em negociações com autoridades
estadunidenses a fim de que esse sangue e todo o material dele extraído
seja devolvido ao povo yanomami. Apresentamos abaixo a íntegra das duas
cartas.
CARTA DE DAVI KOPENAWA
"Demini,
11 de novembro de 2002.
Caros
Procuradores,
Nós Yanomami queremos mandar esta carta para vocês porque estamos
tristes com sangue de nossos parentes mortos que está nas geladeiras
nos Estados Unidos.
Olha,
falei com meu povo yanomami de Toototobi onde os americanos tiraram o sangue.
Os velhos falaram que estão com raiva porque esse sangue dos mortos está
guardado por gente de longe.
Nosso
costume é chorar os mortos, queimar corpos e destruir tudo que usaram
e plantaram. Não pode sobrar nada, se não o povo fica com raiva
e o pensamento não fica tranqüilo. Os americanos, esses, não
respeitam nosso costume, por isso queremos de volta nossos vidros de sangue
e tudo que tiraram do nosso sangue para estudar.
Precisamos
ajuda de vocês para conversar com os americanos que têm nosso sangue
para eles devolverem.
Obrigado,
um grande abraço.
Assinado: Davi Kopenawa Yanomami”
CARTA
DA COMUNIDADE DE PAAPIU
“Há
muito tempo os americanos levaram nosso sangue, e nós o queremos de volta.
Esse sangue pertence aos pajés, por isso, nós jovens estamos muito
tristes.
Você,
Presidente do Brasil, pode perguntar ao governo americano sobre nosso sangue
que há 30 anos foi levado para aquele país. Nós queremos
que eles nos devolvam.
Nós,
Yanomami da região do Paapiu, escrevemos este documento e o estamos enviando
à Procuradoria.
Koatã
Yanomam Aiama; Miúdo Yanomama Arokona; José Yanomama Arokona;
Eduardo Yanomama Toroto; Branco Yanomama Kitato; RaimundoYanomama kakuruma;
Xacamim Yanomama Kayapa; Xapuri Yanomama; Thomé Yanomama Hera; Valdir
YanomamaWaithëri; Raimundo Yanomama Catrimani I Thëri; Makuxi Yanomama
Perokapiu; Denilson Yanomama Porari; Xaiya Yanomama Ixoma; Gorge Yanomama Yurimotima;
Joel Yanomama Komati; Arikó Yanomama Puusitatima; Geraldino Yanomama
Paxori; Alfredo Yanomama Himotóno;João Davi Yanomama Maraxi"