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Pelo
menos mil garimpeiros estão na área indígena ianomami, em Roraima, na fronteira
com a Venezuela. Dois a três aviões bimotores pousam no território todas as
semanas, levando homens em busca de ouro. Para facilitar a entrada nas regiões
de mineração, eles aliciam índios com presentes, comidas e armas. Nos últimos
quatro meses, seis índios foram mortos e quatro ficaram feridos com disparo
de tiros.
As
denúncias foram feitas pela assembléia anual ianomami que reuniu 217 líderes
de 41 aldeias. Eles encaminharam documento ao Ministério Público Federal, em
Brasília, pedindo providências para a retirada dos invasores e cobrando ação
militar. Perto das aldeias há dois pelotões de fronteira do Exército e instalações
do Serviço de Vigilância da Amazônia (Sivam). Os índios afirmam que há garimpeiros
brasileiros e outros que entram no país vindos da Venezuela.
‘‘O
número de garimpeiros está aumentando nas regiões do Paapiú, Ericó, Parafuri,
Yawarata, Alto Catrimani e Waikás. Não queremos que as epidemias voltem a matar
nosso povo. Fazendeiros também estão em nossa floresta, na região de Ajarani.
Nós estamos muito revoltados porque esses fazendeiros estão dando bebida alcoólica
para os ianomami’’, destaca o documento assinado pelas lideranças.
As
epidemias a que se referem os índios ocorreram em 1993, por causa de garimpos.
As mortes ocorreram, em grande parte, por doenças infecciosas, mas a principal
causa foi a malária.
Segundo
o médico sanitarista Marcos Pellegrini, que trabalhou vários anos na região,
o índice de malária chegou a ser sete vezes maior do que no resto da população
de Roraima, o coeficiente de mortalidade geral foi proporcionalmente maior do
que o do Rio de Janeiro e a mortalidade infantil é duas vezes e meia superior
à registrada em Fortaleza no mesmo período. Ele comparou dados nacionais com
as informações do Distrito Sanitário Yanomami.
No
mesmo ano de 1993, a notícia do massacre de 16 índios na aldeia Haximu teve
repercussão nos principais jornais do mundo. Garimpeiros invadiram a comunidade,
matando velhos, homens, mulheres e até bebês a tiros e golpes de facões.
Há
quatro meses, as mortes voltaram a assustar o povo indígena. O coordenador do
Programa de Educação da Comissão Pró-Yanomami (CCPY), Marcos Wesley de Oliveira,
não sabe o motivo do conflito que levou seis índios morrerem e outros quatro
ficarem feridos por disparo de tiros nos últimos quatro meses, mas chama a atenção
para o fato.
Doenças
‘‘As
armas chegam nas aldeias por meio de garimpeiros. Eles são uma ameaça para a
vida dos índios. E, não apenas por causa das armas, mas também por causa da
disseminação de doenças’’, afirma Marcos de Oliveira. A CCPY tem programas de
saúde na região desde o início da década de 80.
Relatórios
da equipe de uma outra ONG, a Uhiri, que também trabalha com saúde, revelam
que existem muitos casos de doenças sexualmente transmissíveis por causa do
envolvimento de mulheres índias com garimpeiros.
A
circulação de homens no território indígena é freqüente. Os índios da maloca
Paapiú, contam que, na aldeia, os aviões começaram a ser vistos em agosto do
ano passado. O primeiro pousou no dia 1º, às 7h. Os índios registraram os pousos
nos dias seguintes. Contaram uma aeronave por dia até 19 de agosto. As viagens
escassearam depois, mas continuam até hoje. ‘‘Mandem com rapidez a polícia para
expulsar os garimpeiros. Nós vimos a destruição que eles fazem na floresta’’,
aponta o documento das lideranças da maloca que foi encaminhado ao Ministério
Público.
Na
última sexta-feira, em Brasília, o governo federal realizou a primeira reunião
para estudar a situação, na sexta câmara do Ministério Público Federal, que
trata de assuntos indígenas e minorias socioculturais. No encontro estavam procuradores
e representantes da Fundação Nacional do Índio (Funai) e Polícia Federal.
Depois
do feriado de carnaval, será realizada mais uma reunião para decidir os detalhes
de uma operação de retirada de garimpeiros e fazendeiros das terras ianomami.
A operação será acompanhada pelo Ministério Público e pela CCPY.
Denúncias
constantes
Os
ianomami são cerca de dez mil indivíduos que vivem em Roraima. A violência contra
esses índios foi denunciada várias vezes no país e fora do Brasil. Em 1991,
quando o ex-presidente Fernando Collor esteve na Noruega, enfrentou manifestação
em frente ao parlamento, com pedidos de respeito aos índios.
Em
maio de 1992, assinou a demarcação de 9,4 milhões de hectares de terras para
os índios. Em 1996, organizações não-governamentais enviaram cartas ao presidente
Fernando Henrique Cardoso pedindo que garimpeiros fossem retirados da área indígena.
Nesse mesmo ano, FHC realizou operações militares de retirada dos invasores.
Os garimpos nunca chegaram acabar totalmente nas terras ianomami.