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Uma das 30 imagens
que Cláudia Andujar pendurou
na Fundação Cartier, em Paris, como parte da
exposição "Yanomami, o Espírito da Floresta",
que a homenageia.
A cultura ianomâmi é retratada por artistas contemporâneos
em Paris, em "Yanomami, o Espírito da Floresta"
Tony Oursler cria
seu passeio de sonho
pela floresta com vídeos; abaixo,
Adriana Varejão optou pelo trabalho
artesanal para a exposição
"A posição da arte em nosso século tende totalmente
para o metafísico", escreveu Hélio Oiticica, em 1959. Pois
a Fundação Cartier, em Paris, apresenta, a partir de hoje, um
encontro entre a arte contemporânea e a metafísica dos xamãs
ianomâmis, que vivem na Amazônia, na mostra "Yanomami, o Espírito
da Floresta".
Contando com a participação de 13 artistas contemporâneos,
a exposição inicia-se com a homenagem, mais que justa, à
fotógrafa Cláudia Andujar que, desde 71, trabalha artística
e politicamente com os ianomâmis.
"Conheci o trabalho de Andujar há quatro anos e é uma obra
extraordinária, injustamente desconhecida na Europa e pouco vista mesmo
no Brasil", disse Hervé Chandè, diretor da Fundação
Cartier e um dos curadores da mostra.
Trinta imagens de Andujar, produzidas entre 1974 e 2002, dispostas em painéis
pendentes do teto, simulam o caminhar irregular por uma floresta. Estão
lá as marcas de uma cultura que a fotógrafa registra há
30 anos.
"Sempre busquei captar a essência do humano. Quando cheguei nas tribos
ianomâmis, graças a uma bolsa da Fundação Guggenheim,
isso mudou a minha vida", afirma Cláudia Andujar em Paris.
Com os ianomâmis, a fotógrafa Andujar agregou à atividade
artística a militância política, sendo uma das ativistas
por seus direitos, como a demarcação de suas terras, que ocorreu
apenas no início dos anos 90.
Nesse percurso, ela encontrou o antropólogo francês Bruce Albert,
que também tornou-se ativista e, agora, o outro curador da mostra em
Paris.
"Cheguei, em 74, com uma expectativa muito idealizada, mas percebi que
caí no meio do inferno. Era o período da construção
da estrada Perimetral, os índios estavam doentes e tinham suas terras
invadidas", conta Albert.
Na exposição, o respeito pela cultura ianomâmi foi cuidado
por especialistas, o que ajudou a seduzir os demais artistas. "Quando a
Fundação me convidou, tive muitas dúvidas. Ao conversar
com Albert, percebi que era uma mostra antiimperialista, não uma apelação
alegórica, e aceitei o desafio", disse Tony Oursler.
Sua
obra é uma das mais impactantes da exposição: em bolas
de 1,8 metro de diâmetro, são projetados olhos e imagens dos ianomâmis
captadas em vídeo. "Em minha fantasia, caminhar por elas é
como andar na floresta", afirma Oursler, um dos mais importantes artistas
norte-americanos contemporâneos. Aliás, não faltam grandes
nomes da arte contemporânea internacional na exposição.
É o caso do também norte-americano Gary Hill, que, como os outros
artistas, passou um período numa tribo ianomâmi, sendo o único
a experimentar a "yacoana", o alucinógeno usado pelos xamãs.
A impressão deve ter sido forte, pois Hill apresenta-se a si mesmo num
vídeo, de ponta-cabeça e dizendo frases incompreensíveis.
Trabalho
artesanal
Há ainda a carioca Adriana Varejão, com quatro trabalhos de cunho
bastante artesanal. "Frente a tanto registro tecnológico, da fotografia
ao vídeo, decidi fazer obras manuais", conta a artista, que apresenta
três desenhos e uma pintura. Um dos desenhos é uma reconstituição
da planta alucinógena, como se fosse feita no século 17. Em outro,
a artista retrata um índio de ponta-cabeça como se estivesse disposto
no célebre desenho de Leonardo da Vinci sobre a escala humana. Em 2005,
Varejão ocupará toda a Fundação Cartier numa mostra
individual.
Da França, participa o fotógrafo Raymond Depardon, com o filme
"Os Sapatos e os Xamãs". "Depardon é o grande artista
especializado em África, especialmente nos desertos, e o convidamos como
uma provocação", diz o curador Albert.
Uma boa surpresa é o japonês Naoki Takizawa, designer do costureiro
Issey Miyake. Sua obra reflete, a partir de dezenas de pequenos espelhos, projeções
coletadas entre os ianomâmis que se tornam abstratas como os sonhos. Já
o alemão Wolfgang Stähle, pioneiro da arte multimídia, apresenta
três vídeos sobre a paisagem ianomâmi, dois deles nos quais
os frames são desacelerados, dando a impressão de uma outra dimensão
temporal. Para a sorte do Brasil, ao que tudo indica, não é apenas
Paris que irá acolher a mostra. "Estamos tentando não só
levar ao Rio e a São Paulo, mas também aos Estados Unidos",
promete Chandè.
Mostra
com 13 artistas contemporâneos.
Curadoria:
Bruce Albert e Hervé Chandè.
Onde: Fundação Cartier pela Arte Contemporânea
(boulevard Raspail, 261, Paris, tel. 0/xx/ 33/1/4218-5650).
Quando: até 12/10. Na internet: www.fondation.cartier.fr.