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Foto: Ivo Gallindo
Na manhã
de ontem, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, esteve
na Serra do Sol e Comunidade Raposa, no município de Normandia. Nas duas
localidades, os índios se posicionaram contra a homologação
em área contínua. Eles querem que, da reserva, sejam excluídas
cidades e vilas, estradas e áreas produtivas.
O presidente do Conselho do Povo Ingaricó, Dilson Ingaricó, disse
que os índios dessa etnia querem ser representados por eles mesmos e
não por qualquer vínculo político. Acrescentou que mesmo
assim, o governo estadual tem que ajudar no desenvolvimento das comunidades
indígenas. "A demarcação integrada, como queremos,
dá o direito de os índios trabalharem e isso ajuda a desenvolver
a comunidade nos pontos que mais necessitamos", afirmou.
Sobre a possibilidade da homologação em área contínua,
Dilson Ingaricó, afirmou que isso trará problemas para os povos,
uma vez que mesmo antes de ser homologada, os índios já enfrentam
dificuldades de acesso, falta de transporte e o necessário ao desenvolvimento
da comunidade. "Isso vai dificultar o atendimento na área de Saúde
e Educação. Além disso, ficaremos isolados", frisou.
Mantendo a mesma linha de discurso, a agente de Saúde daquela comunidade,
Narcisa Joaquim Barbosa disse que seus antepassados viveram sem nenhuma preocupação
e agora existe essa diferença social entre índio e não-índio.
Conforme ela, a vinda do ministro era o momento exato para se buscar o consenso
porque não adianta estar derramando sangue dos índios por causa
das terras.
"Apesar
de nunca ter havido entendimento entre índios e brancos em todo o país,
gostaria que o ministro Márcio Thomaz Bastos pensasse e agisse como um
índio porque o Brasil é administrado por indígenas",
declarou a agente de Saúde.
RAPOSA - A segunda visita do dia na agenda do ministro da Justiça,
foi à Comunidade Raposa. Lá, ele foi recepcionado com o canto
dos hinos Nacional e do Estado. Logo em seguida começaram as explanações
sobre a homologação da área.
O tuxaua da Comunidade Napoleão, Davi Marcos Napoleão, espera
que o ministro leve uma decisão firme para o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT). "Esperamos que o enviado do Governo Federal leve a
realidade de nossas comunidades. Não temos duas caras. Queremos somente
o desenvolvimento e o progresso acompanhado da tecnologia", disse, ao alegar
que dera seu voto a Lula, por isso, não queria qualquer discriminação.
"Temos
capacidade de alcançar o branco. Não aceitamos mais ser dominados
sem nenhum projeto que vise o avanço da tecnologia", afirmou. Para
ele, a homologação em área contínua, como querem
as aldeias ligadas ao Conselho Indígena de Roraima (CIR), não
trará o desenvolvimento das demais comunidades, porque, a Raposa, é
uma das mais organizada e estruturada.
O professor de Matemática e ex-tuxaua, Marco Coline, disse que sua etnia
quer uma comunidade auto-sustentável, baseada na homologação
em princípios humanos. "Esperamos que o ministro tome uma decisão
sábia. Estudamos em escolas e Universidades dos brancos e por isso não
podemos viver isolados do mundo".
MINISTRO - Como fez em outras ocasiões, o ministro Márcio
Thomaz Bastos, disse que veio a Roraima para ouvir e colher elementos para uma
decisão que caberá ao presidente da República. Mesmo assim,
reiterou que a decisão sobre a homologação será
rápida.