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Yanomami na Imprensa
Data: 28 - Setembro - 2003
Titulo: A demarcação das áreas indígenas e os concursos públicos
Fonte:
Folha de Boa Vista
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Nas
duas últimas décadas, muito se tem discutido sobre a questão
fundiária de Roraima, com base no tripé: Igreja, índios
e fazendeiros. Freqüentemente as discussões são travadas
emocionalmente, sem o necessário conhecimento de importante problemática.
Com isso, a polêmica assume muito mais o posicionamento ideológico
de seus contendores, deixando de lado o enfoque técnico/jurídico,
descambando para o lamentável bate-boca.
Todos concordam que é preciso garantir o direito do índio ao exercício
da cidadania plena. E isso inclui as demarcações das chamadas
áreas indígenas. O problema é quanto ao critério
usado para definir tais áreas. E esse critério não pode
ignorar a ordem jurídica vigente, respeitando os direitos de cada parte
envolvida na questão, conforme assegura a Lei Maior do nosso País:
a Constituição Federal. Se assim não for, voltamos, mutatis
mutandis, ao tempo dos descimentos em que forças de resgates, com a conivência
de sacerdotes católicos, promoviam a violência e captura de nossos
índios, transformando-os em escravos. Só que agora, com a mesma
conivência, a violência é praticada contra os pioneiros de
nossa produção agropecuária, taxados de invasores, expulsando-os
de suas propriedades adquiridas com base em leis vigentes à época
de nossa colonização, muitas delas com títulos definitivos,
juridicamente perfeitos e acabados, expedidos com fulcro nas Constituições
a partir de 1891, portanto há mais de um século. Tenho convicção
que as atuais áreas contínuas ricas em recursos naturais, especialmente
minérios, atendem muito mais à conveniência das grandes
potências internacionais querendo mantê-las como reserva de futuro,
do que os reais interesses de nossos índios. A definição
de tais áreas contínuas tem por base fundamental critérios
político/econômicos ditados de fora do Brasil. A quantidade de
estrangeiros que vivem entre os índios, tal qual viveram os irmãos
Schumborg, alemães que eram mais espiões do que propriamente missionários
ou cientistas, confirma essa acertiva. Tente visitar o Surucucu. Você
será barrado enquanto a "gringalhada" flauteia livremente entre
os Ianomâmi. O índio é mero pretexto. Basta comparar, ou
superpor os mapas das reservas indígenas com o mapa das províncias
minerais de Roraima, ricas em urânio, tório, nióbio, cassiterita,
molibidênio, ouro e diamante, para saber o porque de tantas e tão
grandes áreas contínuas. "A melhoria da qualidade dos recursos
humanos de uma sociedade constitui a melhor segurança de se garantir
o desenvolvimento."
O que nossos índios precisam, além da definição
de suas terras, é de boas escolas, saúde e meios para produzir
alimentos; acesso à Universidade, para conscientiza-los da importância
de sua cultura, como a Civilização Pemón do Grande Pai
Makunaima, a fim de evitar tanto "contrabando cultural", violência
que seus atuais "defensores" estão praticando, com o silêncio
e até mesmo lamentável participação de alguns antropólogos,
professores mestres e doutores de nossa Universidade.
Cabe aqui a afirmação do índio Marcos Terena: "A pior
violência foi a catequese." Mas "Deus escreve certo por linhas
tortas"!
O esforço conjugado de alguns professores, mestre ou doutores, em negar
a importância histórica de nossos pioneiros enfrenta uma excelente
oportunidade de contestação e esclarecimento: com o advento dos
concursos públicos. Mais de cem mil candidatos a tais certames são
obrigados a estudar a História de Roraima desde as três primeiras
décadas do século XVII até aos nossos dias. E por mais
de dois séculos, foram pioneiros - fazendeiros os responsáveis
por nossa economia, permitindo que Roraima de uma simples fazenda virasse Freguesia,
fosse promovido a Município, depois a Território Federal e finalmente
a Estado, com uma importante Universidade, gerando emprego para ilustres professores
e oportunidade para milhares de jovens. Caso contrário, ainda estaríamos
nus ou de tangas dançando parixara e tomando caxiri, totalmente ignorantes
dos valores da Civilização Ocidental Cristã.
Houve violência? Lamentavelmente sim. Foi assim na América do Norte,
no México, na América Central, na Costa do Pacífico na
América do Sul e no Brasil de Sul a Norte, sem esquecer as Santas Cruzadas
com seu herói Pedro, o Eremita.
Para entender ou analisar fatos, temos de inseri-los no contexto histórico
em que eles foram praticados. Se assim não for, caracteriza-se má
fé ou vergonhosa burrice.
Longe, bem longe no tempo, mas vivos na memória, estão os tribunais
do Santo Ofício, da Inquisição Medieval. E derrotados pela
democracia estão os métodos fascistas de professores arvorados
a julgadores. Felizmente !
A arrogância de alguns "professores" em negar a importância
histórica de nossos pioneiros, sem qualquer fundamentação,
assemelha-se a "arqueólogos bíblicos que desconsiderariam
evidências históricas lingüísticas sem suporte em registros
arqueológicos."
Em se tratando da História de Roraima, o importante não é
aceitar ou rejeitar os pioneiros, em função do ponto de vista
político/ideológico de cada um, mas reconhece-los como uma realidade
histórica.
Então, os bandeirantes são ou não heróis brasileiros
com direito a monumento no Parque Ibirapuera da grande São Paulo? E a
homenagem que se faz aos nossos pioneiros e aos índios, na Praça
Barreto Leite, berço histórico de Boa Vista, é ou não
pertinente? Eis um campo fértil para o debate de onde certamente nascerá
a luz. Ninguém é dono da verdade, muito menos da verdade histórica.
É preciso fazer justiça aos portugueses, à Igreja, aos
fazendeiros e aos índios. (Amazonas Brasil)
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Coordenação Editorial:
Bruce Albert (Assessor Antropológico CCPY) e Luis Fernando Pereira (Jornalista CCPY)
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