Yanomae yama thëpë pairi prai
Sanöma sama töpö pasili
paö
Yanomami tëpë pairi prai tao
Ninam pèk noka pè lika wei
Apoiando os Yanomami
RESUMO
DAS ATIVIDADES DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE YANOMAMI
outubro
de 2003
O presente relatório descreve as principais atividades
desenvolvidas e os resultados alcançados após quase quatro de atuação da organização
não-governamental brasileira URIHI na área indígena Yanomami. Em parceria
com o governo brasileiro, através de convênio, a URIHI desenvolve projetos
de saúde e de educação junto a esta etnia nos estados de Roraima e do Amazonas.
1.
Os Yanomami
Os índios Yanomami ocupam uma região de floresta equatorial
densa, o Maciço das Guianas, nas proximidades da fronteira entre o Brasil
e a Venezuela, abrangendo uma área contínua de 9.419.108 hectares, demarcada
em 1991 e homologada como Terra Indígena Yanomami em 1992.
Atualmente totalizam cerca de 22.000 pessoas, sendo que aproximadamente
13.500 vivem
no Brasil distribuídos em cerca de 350 comunidades no oeste do estado de Roraima
e no norte do Amazonas.
Atualmente a URIHI desenvolve programas de assistência à
saúde e de educação em saúde para 7.195 Yanomami (52% desta etnia residente
no Brasil), distribuídos em 145 comunidades (352 aldeias/casas), localizadas
em 16 pólos-base.
2.
Breve histórico
epidemiológico recente:
Os primeiros contatos diretos dos Yanomami
com representantes da sociedade nacional se deram de maneira esparsa entre
1910 e 1940. A partir da década de 40 até meados dos anos 60 estes contatos
se intensificaram com a instalação permanente de missões religiosas e de alguns
postos do Serviço de Proteção ao Índio e, na década de 70, teve início a construção
da rodovia Perimetral Norte. Data desta época a introdução de epidemias,
especialmente de sarampo, gripe e coqueluche, que dizimaram comunidades inteiras.
Com a divulgação do levantamento do
Projeto Radam que indicava a existência de grandes jazidas minerais de ouro
e de cassiterita no sub-solo das terras yanomami, ocorreu a grande invasão
garimpeira na década seguinte (a chamada “corrida do ouro de Roraima”), quando
então os Yanomami sofreram o seu maior impacto demográfico: a malária foi
introduzida em larga escala levando à morte quase 15 % da população.
No início dos anos 90, em meio à ampla
divulgação em todo o mundo sobre a gravidade do caso Yanomami, ocorreu a demarcação
da Terra Indígena Yanomami e o desenvolvimento da Operação Selva Livre (Funai)
para a retirada dos garimpeiros. A partir daí, iniciou-se a implantação de
um sistema de saúde diferenciado para os Yanomami, sob a coordenação da FUNASA/MS
e com a colaboração de diversas outras instituições, especialmente de organizações
não-governamentais. Este novo sistema de saúde foi a primeira iniciativa no
Brasil de funcionamento de um Distrito Sanitário Especial Indígena. No entanto,
a contínua reinvasão do território por garimpeiros, a ausência de assistência
no lado venezuelano e, principalmente, as dificuldades governamentais de garantir
uma assistência básica a todas as comunidades, acabaram por caracterizar a
década de 90 com indicadores epidemiológicos extremamente preocupantes que
colocavam em risco a sobrevivência desta etnia. A incidência média de malária
era de um caso para cada dois habitantes ao ano e foi a maior causa mortis
dos Yanomami durante toda a década.
Além da malária, outras doenças infecciosas
como a tuberculose, as infecções respiratórias agudas e a coqueluche também
se disseminaram intensamente provocando uma altíssima mortalidade. Os dados
disponíveis desse período revelam que a média do coeficiente de mortalidade
infantil era de 156, cerca de cinco vezes maior que o índice verificado na
população brasileira em geral. Estas informações de saúde ganham uma expressão
ainda mais negativa se for considerado o alto grau de sub-notificação determinado
pela reduzida assistência à saúde prestada no período no qual aldeias permaneciam
meses, às vezes mais de um ano, sem receber a visita de uma equipe de saúde.
3.
O Distrito
Sanitário Yanomami e a assistência da URIHI
Nos meados da década de 90, como resultado
das reflexões das Conferências Nacionais de Saúde para os Povos Indígenas,
consolidou-se o conceito de Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) como
um sub-sistema diferenciado de assistência à saúde capaz de garantir a atenção
primária nas aldeias. Foi estabelecida a responsabilidade da Fundação Nacional
de Saúde (FUNASA) como órgão gestor da saúde indígena e teve início o processo
de implantação dos DSEIs em todo o Brasil. No entanto, diversas dificuldades
resultaram no fracasso da execução direta das ações de saúde através da FUNASA
e o exemplo mais trágico acabou sendo a experiência do Distrito Sanitário
Yanomami. O principal obstáculo foi a incompatibilidade da legislação vigente
que rege a seleção, contratação e gerência dos servidores públicos federais
e a natureza peculiar do trabalho em áreas indígenas. Esta realidade levou,
a partir do ano 2000, à reestruturação do sistema de atenção à saúde indígena
tendo como estratégia a terceirização da execução das atividades de assistência
nas aldeias através de parcerias com organizações indígenas e organizações
não-governamentais, preferencialmente, e, na indisponibilidade destas, com
os municípios.
Assim, a partir do ano 2.000 tiveram
início algumas parcerias entre a FUNASA e organizações não-governamentais
cujo trabalho de assistência aos Yanomami em suas regiões de atuação havia
alcançado sucesso nos anos 90. Esta nova política de aproveitamento da experiência
profissional e da vocação indigenista das ONGs possibilitou, finalmente, o
início da recuperação das condições de saúde e de vida dos Yanomami.
Coube à URIHI a responsabilidade de
prestar atenção básica à saúde de praticamente a metade da população Yanomami
residente no Brasil, num total de 352 aldeias dispersas em um território de
aproximadamente seis milhões de hectares de floresta amazônica, a partir
de janeiro de 2000.
Foram selecionados, contratados e treinados
cerca de 100 profissionais de saúde entre médicos, enfermeiros, dentista,
auxiliares de enfermagem, microscopistas, etc. Para o planejamento, a direção
e o apoio aos diversos programas de atenção à saúde e as complexas operações
no Distrito Sanitário Yanomami foi criada uma equipe de coordenação, administração
e logística, cujas atividades estão concentradas na cidade de Boa Vista-RR.
Quadro
Atual de Recursos Humanos - Campo
Médico |
1 |
Enfermeiro |
5 |
Dentista |
1 |
Téc/Auxiliares
de Enfermagem |
78 |
Microscopistas/Guardas
de Endemias |
11 |
Técnicos
de Serviços de Apoio |
05 |
Serviços
Gerais |
02 |
TOTAL |
103 |
Quadro
Atual de Recursos Humanos – Apoio na sede
Coordenação
Geral |
1 |
Coordenação
Técnica |
1 |
Coordenação
Administrativa |
1 |
Programa
de Saúde |
5 |
Programa
de Educação em Saúde |
3 |
Administração |
4 |
Logística |
3 |
Almoxarifado |
1 |
Dispensário
de Medicamentos |
1 |
Radiofonia |
2 |
Motoristas |
4 |
Serviços
Gerais |
2 |
TOTAL |
28
|
Nas regiões assistidas pela URIHI,
os postos de saúde só são alcançáveis por via aérea, transporte esse feito
através do fretamento de aeronaves mono-motor com uma distância média de 2
horas de vôo a partir de Boa Vista-RR.
Ao chegar nos pólos-base, as equipes
de saúde se deslocam a pé para as comunidades em longas e difíceis caminhadas
pelas emaranhadas trilhas da floresta (com duração média de 6 horas). Em algumas
poucas regiões as viagens podem ser feitas de canoa e em outras regiões (onde
vivem cerca de 1.500 Yanomami) o único acesso possível dos postos de saúde
até às comunidades é feito através de helicóptero.
A metodologia do atendimento se baseia
no princípio da assistência permanente de equipes de saúde nos pólos-base
(enfermeiros, médicos, profissionais de enfermagem de nível médio, etc) que
se deslocam a pé para visitar, pelo menos uma vez a cada mês, e sempre que
necessário, todas as aldeias. Estas visitas têm a duração mínima de 03 dias
podendo se estender por períodos mais longos dependendo do tipo de tratamento
que está sendo realizado, uma vez que os Yanomami não estão ainda preparados
para dar continuidade às prescrições, mesmo nos casos de tratamento por via
oral.
No atendimento às comunidades, a URIHI
desenvolve programas de controle das principais doenças com metas e rotinas
específicas para o desenvolvimento de cada atividade. Estes programas incluem
a saúde materno-infantil (com ênfase no acompanhamento do crescimento e do
desenvolvimento das crianças menores de cinco anos) e o controle das principais
doenças infecto-parasitárias (malária/controle de vetores, tuberculose, infecções
respiratórias, oncocercose, verminoses, DST, cárie dentária e imunizações).
Todas as informações demográficas,
de morbidade e das atividades de atenção básica à saúde são enviadas todos
os meses para o setor de processamento de dados, na sede da Urihi. As informações
são consolidadas em relatórios epidemiológicos que irão subsidiar as decisões
da gerência. Informações de óbitos, de casos de malária e de doenças de notificação
compulsória são comunicadas também através do sistema de radiofonia, para
que providências possam ser tomadas imediatamente.
4.
Resultados
alcançados pela URIHI – janeiro de 2000 a junho de 2003
Programa de Combate à Malária:
A estratégia de combate à malária tem
se baseado na investigação mensal de casos novos, através do exame de pesquisa
do plasmódio no sangue de toda a população, ou a qualquer momento quando surge
um paciente com sintomas da doença. Nas localidades em que a incidência ultrapasse
um limite especificado pelo programa, as investigações passam a ser feitas
semanalmente. Desde o início dos trabalhos, a URIHI realizou 200.238 exames
de sangue para a detecção da malária. Os exames são colhidos e lidos imediatamente
nas aldeias pelos profissionais de saúde ou pelos microscopistas Yanomami
formados pela URIHI. Desta forma, os casos positivos são tratados precocemente
pelas equipes de saúde, que devem permanecer nas comunidades, administrando
as medicações, até o final dos tratamentos.
O combate às formas adultos do vetor
(mosquito do gênero Anopheles) potencialmente infectado, através de
nebulização do ambiente intra e peri-domiciliar e a borrifação das paredes
e cobertura das malocas com inseticida, foi associado ao diagnóstico e ao
tratamento precoce dos casos positivos nas localidades nas quais o número
de casos de malária foi considerado alto, a partir de critérios pré-estabelecidos
de estratificação da incidência da doença.
No primeiro mês de trabalho, em janeiro
de 2000, foram diagnosticados e tratados 560 casos de malária na população
assistida pela URIHI, determinando um coeficiente mensal de 8,2%. Durante
todo ao ano de 2000 o coeficiente de incidência da doença alcançou 47 casos
para 100 habitantes (47%). A incidência da doença foi sendo reduzida paulatinamente
sendo que no ano de 2002 este coeficiente baixou para 1.2 %, o que significou
uma redução de 98%. No primeiro semestre de 2003 foram notificados apenas
12 casos de malária (vide Gráfico 1 – Coeficiente Mensal de Incidência de
Malária). Esta doença, que era a principal causa de morte entre os Yanomami
na década passada, não foi responsável por nenhum óbito nos últimos 3 anos
e meio. Não existe na história da saúde pública do Brasil nenhum precedente
de redução da incidência de malária em populações dispersas da Amazônia em
tão pouco tempo e em níveis tão expressivos como o ocorrido na população Yanomami
assistida pela URIHI.
Tabela
1:
Dados de Malária – Área Yanomami –
Regiões Assistidas pela URIHI (1998 a 2003)
Assistência |
Ano |
Lâminas Realizadas (pesquisa
de plasmódio) |
Nº de Casos |
Índice de Lâminas Positivas
(ILP) |
Coeficiente Anual de Incidência
(em mil hab) |
Coeficiente Anual de Letalidade
por Malária Falciparum (em mil casos) |
Funasa |
1998 |
27.451 |
3.968 |
14,45 |
616,77 |
16,2 |
Funasa |
1999 |
27.090 |
3.142 |
11,60 |
468,77 |
6,3 |
URIHI |
2000 |
73.650 |
3.639 |
4,94 |
473,71 |
7,3 |
URIHI |
2001 |
65.889 |
539 |
0,81 |
99,14 |
zero |
URIHI |
2002 |
51.618 |
70 |
0,13 |
11,74 |
zero |
URIHI |
2003* |
9.081 |
12 |
0,13 |
1,98 |
zero |
* janeiro
a junho de 2003
Gráfico
1:
Coeficiente de Incidência
Mensal de Malária - Área Yanomami Assistida pela URIHI
(2000 – 2001 – 2002 – 2003)
- Programa de Combate à Tuberculose
Ao longo da história epidemiológica
dos Yanomami a tuberculose tem sido um grave problema de saúde. De 1991 até
1999 o diagnóstico de casos novos ocorreu tardiamente através da demanda espontânea.
No ano de 1999 foram notificados 35 casos novos da doença nas áreas atualmente
assistidas pela URIHI. Para o combate à doença foi implantado o sistema de
investigação de todos os casos suspeitos e dos comunicantes, através da realização
do teste tuberculínico (PPD), do exame de escarro para a pesquisa de BK nos
sintomáticos respiratórios e da radiografia de tórax para todos os indivíduos
com reação forte ao PPD. Todos estes exames estão sendo realizados dentro
da própria área indígena. Desde 2001, os casos diagnosticados de tuberculose
estão sendo tratados com sucesso em suas residências, diariamente, pelas equipes
de saúde. Antes da implantação da assistência permanente, os Yanomami eram
obrigados a permanecer em Boa Vista durante os seis meses de tratamento causando
enorme sofrimento e transtornos sociais. Como conseqüência deste novo modelo
também foi possível realizar na área indígena a quimioprofilaxia dos comunicantes
de pacientes bacilíferos com reação forte ao PPD após a exclusão da tuberculose
através do exame clínico e da radiografia de tórax. Estas medidas resultaram
nos últimos três anos numa redução da incidência desta doença a uma média
de 11 casos novos por ano, ou seja, uma diminuição de 69 % em relação ao ano
de 1999.
Tabela
2 :
Dados de Tuberculose
– Área Yanomami – Regiões Assistidas pela URIHI
(1998 a 2003)
Assistência |
Ano |
Nº de Casos |
Quimioprofilaxia |
Coeficiente Anual de Incidência
(por 100 mil hab) |
Funasa |
1998 |
16 |
0 |
338,8 |
Funasa |
1999 |
35 |
0 |
689,7 |
URIHI |
2000 |
09 |
0 |
167,7 |
URIHI |
2001 |
14 |
26 |
257,5 |
URIHI |
2002 |
09 |
05 |
149,7 |
URIHI |
2003* |
5 |
06 |
- |
* janeiro a junho de
2003
Gráfico
2 :
Coeficiente Anual de Incidência de Tuberculose (1998
– 2002)
Área Yanomami Assistida pela URIHI
Programa
de Saúde da Criança
Para enfrentar a alta mortalidade infantil,
a Urihi tem dedicado especial atenção a esta parcela da população e ao combate
às doenças de maior impacto na mesma.
O acompanhamento do crescimento e desenvolvimento
das crianças com menos de 5 (cinco) anos de idade tem revelado um estado de
desnutrição bastante acentuado. Nesta faixa etária, 65,7 % das crianças apresentam
algum grau de desnutrição e 6,3 % apresentam desnutrição grave (peso inferior
a 60 % do normal para idade).
As causas da desnutrição ou a importância
de cada uma delas, porem, variam de região para região, devido a diferenças
históricas, sociais e ambientais. A alta mortalidade ocorrida a partir do
final da década de 80 e toda a década de 90 atingiu mais intensamente não
apenas a população infantil mas, também, os idosos que têm um papel importante
de liderança e transferência de conhecimentos para os mais jovens sobre as
atividades coletivas de subsistência. Outros fatores importantes foram a degradação
ambiental e a conseqüente redução da quantidade de recursos naturais e a mudança
na dinâmica social produtiva nas áreas atingidas pelo garimpo. Destacamos
também a tendência à sedentarização de algumas comunidades em áreas próximas
aos pólos base, surgida em função do aumento da morbi-mortalidade e a indisponibilidade
de assistência nas aldeias no passado. A permanência prolongada de uma aldeia
no mesmo local, abandonando o padrão de migração periódica tradicional, levou
ao esgotamento das áreas de plantio e dos recursos alimentares da floresta.
Estes e outros fatores precisam ser
estudos com maior profundidade para que uma abordagem apropriada possa ser
empregada em cada situação. Por hora, foi introduzida a estratégia de suplementar
alimentação das crianças menores de um ano com desnutrição grave, em virtude
da significativamente maior mortalidade neste grupo em comparação com as demais
faixas etárias.
Programa
de Imunizações
Apesar das excepcionais
dificuldades operacionais que envolvem a vacinação no Distrito Sanitário Yanomami,
e o conseqüente modelo de campanha para a sua execução em regiões de dificílimo
acesso, a cobertura vacinal em crianças menores de um ano, que se mantinha
em menos de 20% (vinte por cento) no passado, está atualmente em níveis satisfatórios
como pode ser observado abaixo.
Tabela 3:
Cobertura Vacinal – Área Yanomami Assistida pela URIHI – 2003
Vacina |
Faixa Etária |
Meta (Jan a Jun) |
Realizado |
% |
BCG |
< 1 ano |
169 |
169 |
100,0 |
HEP B |
< 1 ano |
169 |
169 |
100,0 |
FA |
< 1 ano |
169 |
169 |
100,0 |
TRIVIRAL |
< 1 ano |
160 |
152 |
95,0 |
SABIN |
< 1 ano |
169 |
157 |
92,9 |
TETRA |
1 ano |
169 |
153 |
90,5 |
VARICELA |
1 - 4 anos |
378 |
280 |
74,1 |
PNEUMOCÓCICA * |
2 - 4 anos |
222 |
84 |
37,8 |
* Vacina em falta
no estado de RR
Programa de Verminoses
Em um levantamento epidemiológico realizado
na Casa do Índio de Boa Vista entre os pacientes yanomami internados e os
acompanhantes, revelou uma incidência de cerca de 80 % para as verminoses.
Devido a essa alta incidência, que tem um impacto esperado no estado nutricional
dessa população, são realizados trimestralmente tratamentos em massa com o
medicamento Mebendazol (200mg/dia/3dias), excluídos as contra-indicações.
Tabela 4: Cobertura dos Tratamentos de Verminoses,
por região - 1 º Trimestre 2003
Pólo-Base |
Elegíveis |
Realizado |
% |
Aratha-ú |
452 |
410 |
90,7 |
Auaris |
1397 |
1260 |
90,2 |
Balawa-ú |
259 |
254 |
98,1 |
Demini |
97 |
97 |
100 |
Hakoma |
278 |
278 |
100 |
Homoxi |
290 |
283 |
97,6 |
Parafuri |
246 |
244 |
99,2 |
Surucucu |
1118 |
1071 |
95,8 |
Toototobi |
313 |
309 |
98,7 |
TOTAL |
4450 |
4206 |
94,5 |
Programa de Oncocercose
A oncocercose, também
conhecida como “cegueira dos rios” é uma filariose causada por um nematódeo
da espécie Onchocerca vólvulos, transmitida através da picada de vetores
do gênero Simulium. Caracteriza-se por nódulos sub-cutâneos, palpáveis
ou não, onde ficam alojados os vermes adultos que eliminam microfilárias.
Estas microfilárias causam lesões cutâneas e prurido intenso e podem migrar
para os olhos, provocando lesões que, dependendo da intensidade, evoluem para
a cegueira.
No Brasil, o foco
da doença se restringe à terra indígena Yanomami e o tratamento se baseia
na administração semestral do medicamento Ivermectina para toda a população
residente nas áreas endêmicas do foco por um período de 12 (doze) anos.
O programa de combate
a oncocercose foi efetivamente implantado em todo o foco brasileiro a partir
da reestruturação da saúde indígena iniciada no ano 2000. Mesmo nas complexas
condições operacionais do Distrito Sanitário Yanomami, o nível de cobertura
nos ciclos de tratamento da doença tem sido um dos mais altos do mundo recebendo
o reconhecimento internacional um grande sucesso da saúde pública brasileira.
Tabela 5: Resultados do Programa
de Oncocercose – Janeiro a Junho de 2003
Pólos-Base |
População |
Elegíveis |
Ciclos realizados |
Tratamentos |
% de Cobertura |
ARATHAÚ |
659 |
243 |
5 |
239 |
98,4 |
AUARIS |
1858 |
1345 |
6 |
1288 |
95,8 |
BALAWA-Ú |
333 |
247 |
14 |
244 |
98,8 |
DEMINI |
132 |
98 |
6 |
98 |
100,0 |
HAKOMA |
390 |
271 |
5 |
269 |
99,3 |
HOMOXI |
376 |
271 |
10 |
271 |
100,0 |
PARAFURI |
325 |
229 |
6 |
229 |
100,0 |
SURUCUCU |
1603 |
1134 |
5 |
1110 |
97,9 |
TOOTOTOBI |
388 |
292 |
14 |
289 |
99,0 |
TOTAL
URIHI |
6064 |
4130 |
|
4037 |
97,8 |
Mortalidade
As ações de saúde conduzidas pela URIHI
nos últimos três anos e meio determinaram um coeficiente de mortalidade infantil
médio no período de 57,3 o que representou uma redução de 63 % em relação
à média na década passada (156,1). Considerando o primeiro semestre de 2003,
esta redução foi ainda maior, atingindo o índice de 45. Vale ressaltar, mais
uma vez, que as informações de mortalidade nos anos 90 refletem apenas os
óbitos que puderam ser notificados nas condições de baixas cobertura e vigilância
que caracterizavam os serviços da época. Atualmente as informações demográficas
se baseiam em um censo nominal de todas as comunidades que é atualizado mensalmente
pelas equipes de saúde.
O coeficiente de mortalidade geral
que antes apresentava uma média de 21,8 em cada mil habitantes foi reduzido
para 7,3/mil nos últimos 3,5 anos, ou seja, uma queda de 66 %.
A principal causa de morte atualmente
são as infecções respiratórias agudas, atingindo principalmente a população
infantil.
Tabela 6: Dados Demográficos – Área Yanomami Assistida pela URIHI
(1998
a 2003)
Ano |
Assistência |
População |
Nascimentos |
Óbitos |
Óbitos
< 1
ano |
Coeficiente
Anual de Mortalidade Geral |
Coeficiente
Anual de Mortalidade Infantil |
1998 |
Funasa |
4.723 |
149 |
108 |
24 |
22,9 |
161,1 |
1999 |
Funasa |
5.075 |
198 |
105 |
30 |
20,7 |
151,5 |
2000 |
URIHI |
5.364 |
253 |
45 |
14 |
8,3 |
55,3 |
2001 |
URIHI |
5.437 |
314 |
27 |
12 |
5,0 |
38,2 |
2002 |
URIHI |
5.963 |
299 |
58 |
27 |
9,7 |
90,3 |
2003 |
URIHI |
6.064 |
153 |
19 |
7 |
6,2 * |
45,7 |
* o coeficiente de mortalidade geral de 2003 foi calculado a partir
de uma projeção do primeiro semestre do ano (CMG de jan a jun X 2)
Gráfico 3:
Média dos Coeficientes de Mortalidade Geral e Infantil
Antes e Depois da Assistência da URIHI
A média da taxa de crescimento natural
verificada nos últimos 3,5 anos foi de 4,1 % ao ano (14,4 % no período).
Gráfico 4:
Ocorrência
das Principais Doenças
janeiro a junho - 2003
Área Yanomami assistida pela Urihi
Educação em Saúde
Por entender que, a médio e a longo
prazos, a manutenção da saúde e do bem estar geral dos Yanomami depende de
sua capacidade de entender o funcionamento da sociedade envolvente e do seu
sistema de atendimento à saúde, do qual são atualmente ainda totalmente dependentes,
a URIHI iniciou um trabalho de formação de 20 agentes indígenas de saúde,
55 vigilantes em saúde e 16 conselheiros do DSY. Para tanto, foram identificados
em todas as regiões os Yanomami alfabetizados e que possuíam algum domínio
da língua portuguesa. Vinte e nove Yanomami foram treinados no diagnóstico
microscópico da malária e hoje atuam no controle da malária em suas comunidades.
O grande sucesso da Urihi no controle desta endemia certamente se deve também
a esta importante contribuição dos próprios Yanomami. Já foram realizados
cursos sobre malária, controle de vetores, saúde bucal, doenças sexualmente
transmissíveis, oncocercose e verminoses, tendo sido elaborado material didático
específico nas línguas dos alunos. O acompanhamento pelos profissionais das
equipes de saúde no campo completa a formação através do treinamento continuado
em serviço, até que os Yanomami possam, no futuro, executar de maneira autônoma
as condutas indicadas.
Investimentos na Infra-Estrutura para
a Assistência na Área Yanomami
Para garantir a assistência permanente
a todas as comunidades foram feitos importantes investimentos na infra-estrutura
de campo. Foram construídos 6 postos de saúde, com alojamento para os profissionais,
e 3 pistas de pouso para aeronaves, diminuindo a necessidade de helicóptero
em algumas regiões. Foram criados também 13 sub-pólos, que são pequenas estruturas
avançadas, aumentando o acesso à assistência para as comunidades mais isoladas.
Todos os postos foram equipados com radiofonia, geladeiras de vacina e de
alimentos, farmácia, microscópios e outros equipamentos e materiais médicos.
Sistemas de energia solar foram instalados em 8 diferentes regiões, melhorando
as condições de trabalho e de alojamento dos profissionais de saúde.
Consideração Geral
O modelo de parceria entre o governo
e as organizações não-governamentais para o desenvolvimento das atividades
de saúde através do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami tem se mostrado
eficaz em garantir o direito dos índios à saúde. Ainda que haja muito que
avançar, o DSY é um exemplo de que é possível alcançar conquistas sociais
quando o governo e a sociedade se unem a favor da causa da cidadania.
Boa Vista, outubro de 2003
Coordenação Executiva
URIHI – Saúde Yanomami