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Yanomami na Imprensa
Data: 16 - Junho - 2004
Titulo: O Brasil que o Brasil perdeu
Fonte:
Isto é – Dinheiro – Marco Damaiani, de Boa Vista-RR
Data: 16 de junho de 2004
Na
Amazônia brasileira, as fronteiras estão indefinidas. Índios recusam-se a
se considerar brasileiros, ONG’s mundiais atuam livremente e o fantasma da
internacionalização leva as forças armadas a realizar manobras de
defesa. O País vai perder território?
As fronteiras brasileiras estão sendo redefinidas, para menos.
Na Amazônia, numa faixa de mais de 5 mil quilômetros que separa o Brasil de
sete países vizinhos já não é possível circular livremente, nem mesmo por
rodovias federais. Para passar pelas cancelas instaladas nas estradas, só
com a anuência dos índios, donos, por decreto, de uma área equivalente a duas
vezes o território de Portugal. Os índios dizem que aquilo não é mais terra
de brasileiros e muitos se recusam até a se definirem como brasileiros. Mesmo
aviões de carreira são impedidos de usar rotas por ali – é como se o espaço
aéreo da região não fosse nacional. As aeronaves são obrigadas a desviar,
aumentando custos de vôos e desconforto para passageiros. Cidadãos brasileiros
não podem exercer na região – riquíssima em recursos naturais – qualquer atividade
econômica. Despovoadas, essas terras ditas brasileiras hoje se confundem com
parques nacionais criados na Venezuela e na Guiana, formando uma zona inter-nacional
sujeita a qualquer tipo de ingerência externa. Do lado brasileiro, multiplicam-se
as queixas de que apenas estrangeiros têm acesso facilitado às reservas. O
índice de invasão dos céus da região por aviões suspeitos de contrabando e
narcotráfico aumentou 20% desde o início do ano. Na selva, garimpeiros e guerrilheiros
das Farc colombianas trilham caminhos dos dois lados da floresta. Ali, onde
as áreas indígenas somam mais de 60 milhões de hectares, o Brasil está perdendo
o Brasil.
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ALERTA
TOTAL
Soldados
têm ordens de atirar ao sinal
de presença inimiga |
“Estamos atentos a esse conjunto de problemas”, reconheceu
à DINHEIRO o general Paulo Studart, comandante das tropas brasileiras situadas
em Roraima. Com franqueza e cautela, ele admite: “Detectamos um ambiente internacional
que pode nos levar, a médio prazo, a uma situação de defesa territorial efetiva”.
Nas próximas semanas, Exército, Marinha e Aeronáutica desencadeiam a edição
2004 da Operação Timbó, que irá mobilizar cerca de 22 mil soldados. “Vamos
esquadrinhar toda a nossa fronteira”, assegura o general Studart.
Nos exercícios preliminares à operação, DINHEIRO acompanhou
um pelotão do Exército em sua exaustiva ação militar. Rostos pintados com
tinta verde escura, uniformes camuflados e levando sobre o corpo mais de 20
quilos de equipamentos, nossos soldados, vindos de todas as regiões do País,
enfrentam os rigores da selva sob ordens rígidas. Ao encontro do inimigo,
tenta-se uma primeira palavra de diálogo. Em sinal negativo, abre-se fogo.
Pela faixa fronteiriça, patrulhas costumam sair em missões com volta programada
ao quartel apenas depois de 48 horas de buscas. “Eles sabem a hora de sair,
não a de voltar”, afirma o major brasileiro Marcos José Viana.
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NAS
MANOBRAS
Pelotões têm autonomia
de dois dias de
sobrevivência
na selva.
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Na Amazônia, há uma suspeita generalizada de que dentro das
áreas indígenas uma dezena de organizações estrangeiras opera ações de domínio
territorial e cultural dos índios – e, portanto, de um rico pedaço do Brasil.
No final do ano passado, na sede do Comando Militar da Amazônia, em Manaus,
uma reunião chamada Operação Porteira Fechada mobilizou representantes das
forças de segurança da região. “Com gráficos e slides, os militares mostraram
que as áreas indígenas coincidem com jazidas de diamante e nascentes de água
potável”, lembra o secretário de Segurança de Roraima, Francisco Sá Cavalcante.
Nessa zona cinzenta que é Brasil mas tem ocupação exclusiva de índios amparados
por ONGs estrangeiras há, segundo os mapas militares, reservas de cassiterita,
urânio, nióbio e molibdênio, esses últimos metais utilizados pela indústria
aeroespacial.
“Há uma partida geopolítica poderosa sendo jogada neste momento
na Amazônia”, diz o ex-ministro do Exército Leônidas Pires Gonçalves. Seguidos
informes a Brasília emitidos por chefes militares brasileiros da região amazônica
levaram o Ministério da Defesa a não aplicar, ali, o regime de contenção de
despesas e de pessoal em curso no resto do País. “Existem ameaças sérias sobre
o território brasileiro”, afirma o ministro da Coordenação Política, Aldo
Rebelo. “A Amazônia é nossa prioridade de defesa.” Até o final do ano, o Exército
planeja instalar, de maneira permanente, mais três mil homens. Hoje com quatro
bases aéreas na região, a Aeronáutica está construindo mais duas e tem projeto
para outras três.
A de Boa Vista, chefiada pelo tenente aviador Alexandre de
Assis, foi ampliada. Ele lembra que o sistema de radares do Sivam tem-se mostrado
eficiente no monitoramento dos céus da Amazônia, mas faltam instrumentos legais
aos nossos pilotos para interceptar aparelhos desconhecidos ou hostis. “Semanalmente
há eventos de invasão sobre nosso espaço aéreo”, diz o comandante Assis. Está
no gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a chamada Lei do Abate,
que irá permitir que forças brasileiras ataquem aviões inimigos no espaço
aéreo nacional. Os Estados Unidos pressionam para que a legislação, aprovada
pelo Congresso, não seja sancionada.
Nada menos que 46% da área do Estado de Roraima, neste momento,
não pode ser ocupada economicamente em razão de reservas indígenas já demarcadas.
Ali dentro, ao contrário do que se estuda nas escolas, em que tudo ainda é
Brasil, para dezenas de organizações estrangeiras o que existe é, sim, a Nação
Ianomami, com seus 9,7 milhões de hectares na fronteira com a Venezuela. Nesta
imensa área virgem vivem 11 mil ianomamis. “Eu achava tudo isso paranóia,
mas hoje acredito que é possível uma reserva indígena declarar independência
do Brasil e obter reconhecimento imediato dos Estados Unidos”, alerta o ex-ministro
Delfim Netto. Dias atrás, Delfim publicou artigo em que arrolou declarações
de líderes estrangeiros sobre a desnacionalização da Amazônia. “Diferentemente
do que pensam os brasileiros, a Amazônia não é deles, mas de todos nós”, disse
o então futuro vice-presidente americano Al Gore, em 1989. No mesmo ano, o
francês François Mitterrand ecoava: “O Brasil tem de aceitar uma soberania
relativa sobre a Amazônia”.
O fantasma de internacionalização da Amazônia tem uma espinha
dorsal bastante sólida. Áreas exclusivas para índios já formam um corredor
que nasce na Guiana e se estende até a apenas 120 quilômetros de Manaus. Espera-se
para os próximos dias uma decisão do Supremo Tribunal Federal que poderá conceder
mais 1,7 milhão de hectares aos índios em Roraima. Veteranos da região estão
alarmados. “Os europeus chegaram ao coração da Amazônia”, sublinha o major
da reserva Arnulf Bantel, piloto da Aeronáutica com larga experiência na fronteira.
Por todas estas razões, a intenção das Forças Armadas é blindar a Amazônia,
missão em tudo estratégica diante dos ataques aos contornos históricos do
Brasil.
TÁTICA GUERRILHEIRA DO EXÉRCITO
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Para patrulhar as fronteiras, o
Exército usa táticas de guerrilha. A selva é esquadrinhada por
pelotões de 12 homens cada, sob o comando de tenentes. Carregando
mochilas com suprimentos que pesam 18 quilos, esses grupos têm
autonomia de 48 horas. Uma peça-chave do pelotão é o atirador
de elite (esq.). Ele usa camuflagem especial para árvores altas
e tem um fuzil com mira telescópica com alcance de 800 metros.
Sua obrigação é atingir o inimigo de mais alta patente. O lançador
de rojões (centro) tem apenas um tiro para disparar. Sua arma,
com 20 quilos de peso, demanda o apoio de um soldado municiador.
Em cada missão, os soldados rasos (dir.) usam os fuzis
de ação leve (FAL) com coronha rebatível, fabricados pela Imbel.
Os fuzis disparam rajadas de até 20 tiros. As recargas são levadas
pelos soldados nos suspensórios de seus uniformes. Em lugar de
capacetes, eles usam chapéus de lona. |
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A MISSÃO
5 mil quilômetros
de fronteiras têm de ser patrulhadas
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A DIFICULDADE
8 horas são
gastas para um pelotão percorrer
2 km de selva
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O EFETIVO
22 mil soldados
estão em campo e 3 mil chegam até dezembro
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O RASTREAMENTO
35 mil militares
das três Armas participam da Operação Timbó
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AMEAÇAS À FRONTEIRA
Perigo está na ação de traficantes, guerrilheiros, índios
apoiados por ONG’s e grupos de garimpeiros
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OS NARCOTRAFICANTES
Nos primeiros meses do ano, a violação do espaço aéreo
brasileiro cresceu 20%. Maioria das invasões é feita por aparelhos
com cocaína
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OS GUERRILHEIROS
Do outro lado do Acre, as Farc chegaram a posicionar 15
mil homens armados. Eles costumam usar território brasileiro
para fugir das perseguições
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OS ÍNDIOS
Mais de 150 etnias se espalham ao longo dos dois lados
da fronteira brasileira, grande parte delas sob influência de
ONGs estrangeiras
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OS GARIMPEIROS
Presença de garimpeiros costuma provocar conflitos com
índios e demandar intervenção das
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Coordenação Editorial:
Bruce Albert (Assessor Antropológico CCPY) e Luis Fernando Pereira (Jornalista CCPY)
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