Notícias CCPY Urgente
Data: 30 - Junho - 2004
Titulo: Yanomami e Timbira trocam experiências
Fonte:
Site do GTA-Grupo de Trabalho Amazônico
(CCPY) - Durante onze dias – de 11 a 22 de junho –
um grupo de sete Yanomami, dentre os quais Davi Kopenawa, participou de mais
uma experiência de intercâmbio como parte da programação
da Rede de Cooperação Alternativa. Os agentes agroflorestais,
Antônio Yanomami (Toototobi), Denilson Borari Yanomami (Paapiú
Novo) e Edmar Yanomami (Demini), e os professores, Genivaldo Yanomami (Paapiú),
Raimundo Yanomami (Catrimani I) e Rafael Wanari Yanomami (Balawaú), conheceram
os Timbira que vivem no município maranhense de Carolina.
No encontro com os Timbira, quatro ações chamaram
a atenção dos Yanomami: o projeto de educação desenvolvido
pelo Centro de Trabalho Indigenista (CTI),o projeto agroflorestal, com a formação
de agentes, o projeto de frutos do cerrado, como alternativa econômica
para os índios, e a associação indígena Wyty-Kati.
Os Yanomami tiveram também a oportunidade de observar
a expansão predatória da soja na região que vem abrindo
uma nova fronteira na Amazônia.
Diante da redução da biodiversidade local e
da necessidade de romper com a dependência econômica em relação
aos recursos governamentais, os líderes Timbira, congregados na Associação
Mãkraké, que deu origem à Associação Vyty-Kati
, implantaram em 1994 a fábrica FrutaSã, que congela e revende
polpa de frutos da região do cerrado.
Embora ainda não esteja dando lucro, em 2003, a fábrica
FrutaSã bateu recorde, com a comercialização de 65,3 toneladas
de polpas vendidas, perfazendo mais de R$ 217 mil. Além de se enquadrar
no modelo de desenvolvimento sustentável — socialmente justo, ecologicamente
correto e economicamente viável — a fábrica garante 11 empregos
fixos diretos. No pico da safra, essa oferta de ocupação quase
dobra. A maior parte da produção – 90% – é
vendida no Maranhão. O restante segue para Tocantins e Brasília.
Os resíduos decorrentes do beneficiamento dos frutos
– bagaço e sementes – são usados como adubo para a
produção de mudas num viveiro em parceria com a Associação
Agro-extrativista de Pequenos Produtores de Carolina. As mudas são utilizadas
para reflorestar áreas degradadas e adensar a ocorrência de frutos
nativos em torno das aldeias associadas à Wyty-Kati
O projeto de educação dos Timbira, mostrado
à delegação Yanomami, inspirou novas reflexões sobre
o Programa de Educação Intercultural (PEI) da Comissão
Pró-Yanomami. Enquanto no PEI ainda não há alunos que tenham
concluído a 4ª série, a solução encontrada
pelos Timbira para evitar a ida dos índios para a cidade foi considerada
importante pelo coordenador do programa yanomami, Marcos Oliveira. Os alunos
timbira, ao término da 4ª série, ingressam num curso modular,
mantendo-os nas aldeias enquanto dão continuidade a seus estudos. A educação
entre os Timbira vem contribuindo para a formação técnica
daqueles que estão envolvidos no projeto de aproveitamento de frutos
do cerrado.
Mas dentre todos os projetos, o que mais chamou a atenção
de Davi Yanomami foi a Associação Wyty-Kati. Os Yanomami também
têm interesse em criar também a sua própria associação
num futuro próximo, a fim de promover e reforçar sua autonomia
na defesa de seus direitos e divulgar informações sobre a sua
situação e iniciativas políticas, sócio-econômicas
e culturais.
De volta à sua terra, os Yanomami pararam em Brasília
para discutir no Ministério da Educação e na Funai os pedidos
de financiamento para o quarto curso de formação de professores
yanomami que terá início no próximo mês de agosto.
Ainda no MEC, assessorados pela CCPY, os Yanomami retomaram
a discussão sobre o pedido de financiamento das cartilhas de alfabetização
na língua yanomami, elaboradas pelos professores indígenas, conforme
a linha de crédito do ministério para publicações.
Da Funai, eles reivindicaram apoio financeiro para mais uma edição
do curso de intercâmbio de língua portuguesa na área Macuxi
e também para o quarto curso de formação de professores.
Finalmente, "Terra e cultura" e "como os Yanomami
constroem e mantêm a sua memória" foram os temas abordados
por Davi Kopenawa no Fórum Cultural Mundial, realizado pelo Instituto
Museu da Pessoa.Net, de 30 de junho a 4 de julho, no Centro de Convenções
Rebouças, em São Paulo, durante o painel Política e Territorialidade
– Respeito à Diversidade. "Não existe cultura sem terra",
afirmou. Segundo Davi, há uma relação mística entre
os dois elementos, pois Omama (demiurgo Yanomami) criou a terra e a cultura
yanomami no mesmo momento. Davi deu à sua palestra um tom de alerta devido
às crescentes pressões políticas que têm como alvo
as terras indígenas no país.
http://www.gta.org.br/noticias_exibir.php?cod_cel=492&PHPSESSID=d6103291c4b1eefb3d7113e02e0fe2ff
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Coordenação Editorial:
Bruce Albert (Assessor Antropológico CCPY) e Luis Fernando Pereira (Jornalista CCPY)
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