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Yanomami na Imprensa
Data: 24 - Novembro - 2004
Titulo: A Tática do desespero
Tema:
Fonte:
Folha de Boa Vista
As ações articuladas ontem na visita do ministro Márcio Thomaz Bastos contra a reserva Raposa/Serra do Sol têm o único objetivo de criar um fato para tentar impedir a homologação de forma contínua.
Não interessa para esse pessoal contra homologação que tipo de fato. Importa criar um episódio a fim de parecer um conflito desproporcional e perigoso, que tanto os ultranacionalistas querem e os militares paranóicos aplaudem.
Querem criar um clima de segregação entre os próprios índios, fazer parecer que se trata de um início de guerrilha, um palco de sangue e morte. Desejam fazer crer que uma reserva contínua não é viável, assim como os políticos pregam que o grande mal são os índios, e não a corrupção desbragada enraizada por aqui.
Não tenho dúvida que os protestos contra Márcio Thomaz Bastos, a queima de malocas e tiro contra um índio foram uma ação articulada visando o objetivo de gerar um clima de tensão e jogar a opinião pública contra a homologação, além de satisfazer os objetivos dos ultranacionalistas.
A tática do desespero e da violência surgiu após os articuladores perceberem que também podem perder na Justiça a possibilidade de impedir a homologação contínua.
Desde a década de 70, quando os primeiros índios começavam a se articular para pedir a demarcação da reserva, políticos, fazendeiros e a elite local esnobavam e riam da “meia dúzia de índios fazendo assembléia”.
Continuaram sem se importar em agir na legalidade. Preferiam queimar malocas, mandar agredir e matar índios, discriminar e explorar a mão-de-obra dos “pobres diabos”.
A organização foi se solidificando, os aliados foram chegando e hoje todas as vitórias nos tribunais e fora deles são resultado de um projeto articulado dentro da lei, com apoio de gente que acredita que o Brasil tem uma dívida histórica com os povos indígenas.
Desorientados, desarticulados e vencidos por suas próprias ignorâncias, políticos, fazendeiros, arrozeiros e governos agora tentam correr atrás do que antes eles esnobavam.
E parte desse grupo agora apela para o expediente da violência, que é a arma do desespero e de quem não consegue agir dentro da legalidade. Pior de tudo é que podem estar atirando contra seus próprios pés, porque somente a homologação pode pôr um fim em qualquer possibilidade de conflito.
Os índios que hoje se ressurgem contra seus próprios direitos à terra vão perceber, no futuro, que eles não passaram de instrumento, de joguete de um grupo que só visa seus interesses particulares.
A tática contra homologação da Raposa/Serra do Sol é a mesma dos atores que insuflaram a população e a mídia contra a reserva Yanomami. Diziam que Roraima ia acabar se aquela área contínua fosse homologada. Hoje a reserva dos Yanomami é uma realidade e o mundo não acabou nem Roraima foi internacionalizada.
Homologar uma reserva indígena não significa apenas garantir terras aos índios. Significa consagrar a soberania em determinada área, que passa a ser efetivamente da União, a quem compete proteger e preservar. O resto é conversa fiada, de ultranacionalistas a serviço da elite que pensa no lucro a qualquer custo. (Jessé de Souza).
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Coordenação Editorial:
Bruce Albert (Assessor Antropológico CCPY) e Luis Fernando Pereira (Jornalista CCPY)
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