Esta seção procura seguir toda a atualidade Yanomami no Brasil e na Venezuela. Apresenta notícias produzidas pela Pró-Yanomami (CCPY) e outras ONGs, bem como notícias de imprensa. Propõe também comentários sobre eventos, publicações, exposições, filmes e websites de interesse no cenário Yanomami nacional e internacional.

Data: 20 - Janeiro - 2005
Titulo: A cegueira II
Fonte: Folha de Boa Vista

Continuam chegando e-mails a respeito dos dois artigos consecutivos que escrevi aqui a respeito da discriminação de boa parte da sociedade roraimense sobre as populações indígenas.

Isso é bom que aconteça para que este grande mal não apenas seja debatido, mas principalmente banido do meio de nossa sociedade onde a diversidade cultural é a marca registrada.

Para isto, escolhi um dos e-mails de um leitor, o qual transcrevo abaixo, que retrata exatamente a visão controversa da qual muitas pessoas são acometidas diante dessa questão. Para não causar melindre nem quaisquer outros problemas, não identificarei o autor do texto.

O objetivo é justamente retratar fielmente este tipo de visão que a sociedade tem a respeito dos índios e da questão fundiária. Amanhã, comentarei sobre cada ponto desse texto, como forma de debater esta questão. O texto do leitor diz o seguinte:
“Lendo o seu artigo na folha intitulado ‘A Cegueira’, resolvi fazer alguns comentários sobre o mesmo, espero que você não leve para o lado pessoal. Eu concordo plenamente com você que a situação fundiária e econômica do nosso Estado está de mal a pior e que a culpa com certeza é dos políticos, que ocupam e ocuparam cargos no Legislativo e Executivo, praticando a roubalheira desavergonhada, sem levarem em conta os interesses do Estado, mas com relação ao preconceito, discriminação e antiindigenismo a que você se refere que existe por parte da população, eu acho que nós os não índios é que somos vitimas de racismo preconceito e discriminação quando somos tratados como cidadãos de segunda categoria, porque os índios logo ao nascer já são todos latifundiários, pois com a imensa quantidade de terras destinadas a eles devem ser milhares de hectares de terra para cada um, outro ponto que me leva a pensar desta forma é o fato deles serem inimputáveis perante a lei e poderem cometer as maiores atrocidades contra nos os não índios sem que sejam punidos, como ficou provado no recente caso da reserva Roosevelt, em Rondônia.

Acredito que aquele casal de índios lá no hospital não tenha culpa desta situação assim como muitos outros, mas eu acho a revolta da população do estado legítima, pis acaso alguma pessoa ou ONG pelo menos sugerisse a criação de um hospital só para brancos, certamente seria, no mínimo apedrejada em praça pública.

Mas como o nobre jornalista sabe aqui já existiu um hospital só para índios, e que hoje não funciona mais devido aos desvios de verbas a que você se refere, por tanto companheiro volto a dizer que nós os cidadãos não índios e que somos vitimas de racismo e discriminação basta ver a desigualdade entre o percentual de terras destinada aos índios e aos não índios, e ainda ao fato de que eles podem circular livremente na pequena parcela de terras que sobrou para nós, e os brancos não podem nem mesmo se aproximar das suas imensas reservas”.

Como disse, no artigo de amanhã comentarei a respeito desse texto acima, que narra fielmente a visão de boa parte da sociedade local sobre os índios (Jessé de Souza)