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O
recente lançamento da coletânea Yanomami: The fierce
controversy and what we can learn from it (Yanomami: a controvérsia
feroz e o que podemos aprender dela) (University of California Press, 2005),
editado pelo Professor Robert Borofsky da Universidade do Havaí, inspirou
o organizador a iniciar nas universidades americanas uma campanha pela devolução
aos Yanomami do sangue coletado dos seus parentes no final da década
de 1960, pela equipe americana do geneticista James. V. Neel. A obra constitui
um conjunto de artigos que avaliam, entre outros assuntos de ética antropológica
e biomédica levantados nos últimos anos pelo livro de P. Tierney,
Trevas no El Dorado (Ediouro, 2002), a questão
do consentimento informado nas pesquisas realizadas entre os Yanomami. Os artigos
foram escritos por seis autores: Bruce Albert (Vice-Presidente da CCPY), Raymond
Hames, Kim Hill, Leda Leitão Martins, John Peters e Terence Turner.
Ver:
http://www.publicanthropology.org/Yanomami/Blurbs3.htm
No
fim dos anos 1960, sem informar adequadamente os índios sobre os seus
objetivos, a equipe do Professor J.V. Neel retirou amostras de sangue Yanomami
em troca de mercadorias. A coleta ocorreu, principalmente, nas aldeias de Toototobi
(AM), região de origem de Davi Kopenawa que na época tinha 11
anos de idade. Na década de 1990, essas antigas amostras foram reprocessadas
por técnicas mais avançadas de laboratório, permitindo
a extração de material genético. A partir disso, o DNA
dos Yanomami vem sendo utilizado em pesquisas genômicas, novamento sem
o consentimento dos doadores ou de seus parentes, a maioria já falecidos.
Hoje, o sangue dos Yanomami estaria estocado na Universidade Estadual da Pensilvânia,
nas universidades de Michigan, Illinois e Emory, e no Instituto Nacional do
Câncer-Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos.
Em entrevista exclusiva ao Boletim Yanomami, o antropólogo Robert Borofsky,
editor do California Series in Public Anthropology e diretor do Center for a
Public Anthropology, revela como será desenvolvida a campanha, com a
participação dos alunos da Universidade da Califórnia,
em defesa dos interesses e direitos dos Yanomami. Segue-se na íntegra
a entrevista:
Quando
e por que o senhor decidiu lançar a campanha?
O website de ação comunitária que estamos montando é
uma parte crítica do livro sobre a controvérsia yanomami, intitulado
Yanomami: a controvérsia feroz e o que podemos aprender dela.
Com um milhão de livros publicados no ano passado em todo o mundo, é
difícil que algum livro sozinho cause impacto. E preciso que ele esteja
inserido numa estrutura social mais ampla que ajude a promovê-lo. O website
de ação comunitária que apóia o livro procura motivar
estudantes de graduação a fazer um lobby político ativo
em prol de relações mais equilibradas entre os antropólogos
e as comunidades que estudam. Em outras palavras, esse site busca gerar uma
postura mais ética nas relações da antropologia com aqueles
que a tornam possível.
Nos dois últimos anos talvez, venho trabalhando a idéia de acrescentar
ao livro um componente de web/estrutura social, mas foi no verão passado
que comecei a delinear o que eu poderia fazer mais especificamente sobre isso.
Quais são os objetivos da campanha?
Referi-me acima aos objetivos gerais do website: mobilizar estudantes para mudar
a antropologia. Mas, em termos relevantes para a CCPY, eu espero – até
ouso dizer aguardo – que a pressão gerada por cartas, que são
o ponto central desse projeto, resulte na devolução ao povo yanomami
do seu sangue armazenado em laboratórios americanos. Além disso,
acredito que isso levará a American Anthropological Association a afirmar
seu compromisso em ajudar os Yanomami, tanto em palavras quanto em ações.
Quero observar que toda a renda do livro Yanomami: a controvérsia
feroz e o que podemos aprender dela será destinada à
melhora no atendimento em saúde dos Yanomami.
Quem
está participando da campanha e qual o tipo de apoio que o senhor espera?
O website está sendo testado este semestre por cerca de dez universidades
dos Estados Unidos e do Canadá e estará pronto e online no outono.
A minha expectativa é que milhares de estudantes o usem a cada ano em
suas aulas de antropologia.
A campanha envolve mais do que o mero envio de e-mails furiosos para indivíduos
específicos. Ela encoraja os estudantes a escrever cartas para certas
pessoas que depois serão enviadas e avaliadas por outros alunos. As três
melhores cartas serão enviadas à pessoa selecionada naquela semana.
Em vez de enviar mil cartas, a campanha envia três, mas um milhar de estudantes
e seus professores ficam à espera de uma resposta. Se não for
recebida uma resposta adequada, então gradualmente suberemos a cadeia
de comando e também alertaremos vários jornais. A idéia
é mandar menos e-mails e aumentar a eficiência, uma vez que todo
mundo já sabe que os estudantes estão se esforçando e,
de maneira geral, os apóiam.
Que
tipo de mídia está sendo procurada para dar visibilidade à
campanha?
Uma das inovações radicais do website é que ele não
tem no público em geral e na mídia a chave de seu sucesso. Ele
mobiliza estudantes para que constituam um lobby e, por meio da interação
deles e dos professores com outros, acabem pressionando outros membros da disciplina.
Nesse sentido, jornais universitários podem ser tão eficazes quanto
jornais nacionais. O que se quer é pressionar certas pessoas a tomarem
atitudes sobre coisas específicas, como a devolução do
sangue yanomami. Ampliando a consciência do público e mobilizando
os estudantes politicamente, o site quer criar uma atitude mais honesta e ética
nas relações entre Primeiro e Terceiro Mundo, nas quais a antropologia
como disciplina está inserida.
Para
consultar o site na sua forma experimental, por favor, acesse http://www.publicanthropology.org/yanomami/public/index.php.
Se quiser verificar como será o seu conteúdo, acesse http://www.publicanthropology.org/preview/.