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Fotógrafa
está em cartaz com imagens da natureza e de locais do Brasil na Pinacoteca
e com instalação na galeria Vermelho
Andujar revela
a fragilidade e a beleza do ser
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Maloca ianomâmi durante um incêndio em Roraima, que está
em exposição de Claudia Andujar
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Claudia
Andujar - Divulgação
EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO
PARA A FOLHA
O desterro e a fragilidade da condição humana são motivações
que permeiam a obra da fotógrafa Claudia Andujar, a qual recebe uma oportuna
revisão na mostra "A Vulnerabilidade do Ser", na Pinacoteca,
no livro homônimo a ser lançado no próximo dia 19 e na instalação
"Yano-A", na galeria Vermelho.
Nascida em 1931 em Neuchâtel, na Suíça francesa, Andujar
viveu até os 13 anos na Transilvânia, de onde escapou da perseguição
dos nazistas. Seu pai e parte de sua família não tiveram a mesma
sorte: foram presos e mortos nos campos de concentração de Auschwitz
e Dachau. Após morar em Nova York, em 1955 reencontrou a mãe em
São Paulo, para onde resolver se mudar. Em 1957 já havia se naturalizado
brasileira ainda sem falar português.
Trabalhando na revista "Realidade", em 1971, Claudia Andujar conheceu
uma aldeia de índios ianomâmis, contato que selaria seu destino
e no qual ela trabalhou por muitos anos. Seu trabalho como fotógrafa
e ativista foi fundamental na demarcação das terras ianomâmis.
Esse era o trabalho de Andujar conhecido até então e pelo qual
a mesma já havia inscrito seu nome entre os mais importantes fotógrafos
no Brasil. A revisão dos seus arquivos de quase 50 anos de atividades
revelou, porém, um olhar ainda mais profícuo.
A mostra, que ocupa dois espaços distintos na Pinacoteca, tem no primeiro
módulo, "Territórios Interiores", imagens cifradas da
natureza. Incorporar a grandiosidade da natureza e do cosmo é uma forma
de buscar respostas para a fragilidade do homem. O outro módulo, que
batiza a mostra, possui imagens em preto-e-branco de diversos locais desse Brasil
periférico, pontuado pela imagem de um parto.
Mas são nas imagens reunidas sob o título "Sonhos",
que estão apenas no livro, e na instalação "Yano-A"
que Andujar se alinha definitivamente à vanguarda estética. O
que ela já obtinha através de elaborado trabalho de laboratório
ganha nova vitalidade nas colagens e junções de imagens que recriam
o universo onírico, os transes e a mitologia dos índios.
Na instalação "Yano-A", na galeria Vermelho, os artistas
Gisela Motta e Leandro Lima se apropriaram de uma fotografia em preto-e-branco
de uma maloca ianomâmi pegando fogo. Sobre ela projetaram luzes vermelhas
e amarelas. A imagem original fica num projetor que contém água
e, por sua vez, gera um movimento que, somado às cores, cria uma tensão
tal que parece nos colocar diante do exato momento do instante fotográfico.
Não vemos mais a fotografia, mas sim a recuperação do instante
em que ela teria sido realizada. Artifício perturbador que faz o passado
emergir fisicamente diante de nossos olhos e não apenas como memória
reativa. A água que reacende o fogo e o faz crepitar no presente é
mais um poético enigma dessa emocionada tradução de um
artista por outro.
Senhora de sua obra, Andujar irrompe o limite entre documental e abstrato para
criar um universo narrativo intenso e de rara poética. Ao apresentar
seu trabalho em perspectiva, atesta que a vulnerabilidade do ser é diretamente
proporcional à sua grandeza. Sua dor e sua libertação.
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A Vulnerabilidade do Ser
Artista: Claudia Andujar
Onde: Pinacoteca do Estado (pça. da Luz, 2, centro,
tel. 3229-9844)
Quando: de ter. a dom., das 10h às 17h30; até
20/3 (no dia 19, às 15h, lançamento e debate do livro "A
Vulnerabilidade do Ser", editado pela Cosac & Naify; R$ 65,00; 332
págs.)
Quanto: R$ 4,00 (gratuito aos sábados)
Yano-A
Onde: galeria Vermelho (r. Minas Gerais, 350, Higienópolis,
tel. 3257-2033)
Quando: ter. a sex., das 10h às 19h, e sáb.,
das 11h às 17h; até 5/3
Quanto: entrada franca