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Com reforma da saúde
indígena FUNASA gasta mais do que o dobro para fazer menos no Distrito
Sanitário Yanomami
Como é de conhecimento público, a população Yanomami atendida pela Urihi desde
fins de 1999 até 30 de junho de 2004, um pouco mais de 50% dos Yanomami residentes no Brasil, passou, a partir de julho de
2004, a ser assistida diretamente pela FUNASA-RR que, para tanto, contrata os
profissionais de saúde através de convênio com a Fundação Universidade de Brasília
(FUB). O valor total desse convênio com vigência de 12 meses é de R$ 10.900.000,00, sendo 9.300.000,00 (85%) para
o pagamento de salários (Convênio n° 1326, agosto/2004).
Desde então, apreensiva com a caótica transição da assistência
à saúde dos Yanomami para a execução direta pela FUNASA-RR,
sem que a autarquia tivesse se estruturado para tal e sob influência política
local notoriamente anti-indígena, a Urihi
considera seu dever empregar sua experiência de trabalho entre os Yanomami
para acompanhar as ações de saúde no DSEI-Yanomami,
sempre em sintonia com as preocupações dos representantes indígenas.
Os primeiros cinco meses de transição foram, como temido, marcados
pela desorganização do sistema, provocando uma queda expressiva na qualidade
da assistência, denunciada pelas lideranças Yanomami
(ver Boletim
Eletrônico da CCPY nº 54 e 56: www.proyanomami.org.br ). Ao invés de tentar superar as suas deficiências, a FUNASA
e a coordenação técnica do DSEI-Yanomami optaram por
uma estratégia de negação dos depoimentos yanomami,
divulgando relatórios epidemiológicos baseados em informações de morbidade e
mortalidade enviesadas, refletindo mais uma sub-notificação
de casos do que uma melhora no atendimento.
Na mesma linha, a FUNASA protelou a reunião ordinária do Conselho
Distrital do DSEI-Yanomami do segundo semestre de
2004 até fevereiro de 2005. Nesta reunião, pode ser oficialmente expressa a
unânime queixa dos conselheiros Yanomami sobre a falta
de medicamentos e insumos em geral na Terra Indígena Yanomami; falta crônica que continua prejudicando a qualidade
da assistência e favorecendo o recrudescimento de doenças como a malária, infecções
respiratórias e diarréias (ver
Boletim Eletrônico da CCPY nº 60 ).
Entretanto, a surpresa maior da reunião veio com a apresentação
pela FUNASA das contas do seu convênio com a FUB. Foram fornecidas aos membros
do Conselho Distrital planilhas deficientes, manifestamente confeccionadas na
hora, apresentando compilações financeiras obscuras e/ou tendenciosas, sem nenhum
detalhamento da natureza dos gastos essenciais (horas de vôo, recursos humanos,
medicamentos, combustível, alimentação, etc.)[1].
Entretanto, com base nos dados apresentados e informações adicionais
obtidas posteriormente junto ao DSEI-Yanomami, foi
possível verificar que a FUNASA e a FUB gastaram juntas R$ 9,2 milhões
de reais em apenas 6 meses[2] para atender às mesmas regiões da Terra
Indígena Yanomami antes assistidas pela Urihi. Isto representa um aumento de 120 % nos
gastos para resultados avaliados como, no mínimo, medíocres pela população atendida:
o orçamento total da Urihi para atender à mesma
população era de 8,4 milhões de reais anuais.
Para piorar a situação, a população das regiões da Terra Indígena
Yanomami contempladas por outros convênios da FUNASA
com organizações não-governamentais (IBDS, Secoya,
Diocese de Roraima), que cobrem a outra metade da população Yanomami
no Brasil, recebem menos que a metade dos recursos gastos pela parceria FUNASA-FUB,
mesmo quando se comparam regiões com o mesmo grau de complexidade operacional.
Não se discute aqui, obviamente, a necessidade de importantes
investimentos no DSEI-Yanomami frente às condições
operacionais extremamente complexas inerentes à Terra Indígena Yanomami (96.650 km² de floresta
tropical com 250 grupos locais de difícil acesso). Ao contrário, levando a sério
o lema da FUNASA “Austeridade e Eficiência” (Editorial
do Presidente Valdi Camarcio
Bezerra, Funasa em Revista, n°2, Agosto
de 2004), consideramos inadmissível que, na gestão atual do DSEI-Yanomami,
um orçamento dobrado produza resultados inferiores às metas alcançadas nos anos
anteriores nas mesmas regiões e que metade da população Yanomami,
fora do âmbito do convênio FUNASA-FUB, não esteja sendo beneficiada na mesma
proporção pelo dinheiro público mobilizado em nome da saúde dos Yanomami.
Por último, convêm interrogar também, em nome da qualidade da
gestão do DSEI-Yanomami, sobre a
forma dos gastos do convênio FUNASA–FUB: dos R$ 9.300.000,00 previstos para
pagamento de pessoal (Serviços de Terceiros-Pessoa
Física), R$ 4.457.350,48 foram remanejados para o pagamento de Serviços de Terceiros
- Pessoa Jurídica em benefício de uma outra entidade civil de direito privado,
a FUBRA[3],
com a finalidade de pagar o salário de parte dos funcionários a serviço da FUNASA
no DSEI-Yanomami. Ou seja, existe neste distrito uma
curiosa operação de terceirização da terceirização de mão de obra (FUNASA-FUB-FUBRA),
cuja legalidade e incidência na eficácia da gestão da saúde Yanomami
nos parece merecer uma aprofundada investigação pelo Ministério Público Federal
e pelo Tribunal de Contas da União.
[1] Vale lembrar que o Conselho Fiscal do DSEI-Yanomami
tinha solicitado a FUNASA dados detalhados sobre sua gestão desde novembro de
2004, sem obter resposta.
[2] Descontados os gastos gerais para o DSEI-Yanomami, como a Casa do Índio/RR.
[3] Fundação Universitária de Brasília (http://www.fubra.com.br/),
“entidade civil, com personalidade jurídica
de direito privado, sem fins lucrativos, com autonomia administrativa, financeira
e patrimonial” (art. 1° do estatuto).
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URIHI
– Saúde Yanomami
Fev / 2005 |