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Notícias CCPY Urgente
Data: 23 - Fevereiro - 2005
Titulo: Yanomami de Roraima temem ampliação de pista de pouso em Surucucu
Fonte:
CCPY – Comissão Pró-Yanomami, Boletim nº 61
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A
Comissão de Aeroportos da Região Amazônica (Comara) começou
a desembarcar na região do Posto Indígena Surucucu da FUNAI, no
coração da Terra Indígena Yanomami, o material para “ampliação
e reforço do pavimento asfáltico” da pista de pouso do Pelotão
Especial de Fronteira (PEF) Surucucu, que deve passar dos atuais 1.100 metros
para 1.500 metros. Segundo a FAB, a justificativa para tal ampliação
seria a substituição de sua frota de aeronaves Bandeirantes e
Búfalo por outras de maior porte, como os modelos Brasília e Hércules.
No site da COMARA [http://www.comara.aer.mil.br/obras_2.htm],
a obra está entre as metas de 2005. Apesar disso, até agora, não
foi produzido Estudo e Relatório de Impacto Ambiental, exigência
do artigo 225 da Constituição Federal (Capítulo VI - Do
Meio Ambiente) para obras desse porte.
A impossibilidade de acesso ao PEF Surucucu por meio terrestre ou fluvial exige
o transporte aéreo de equipamentos e materiais necessários à
obra, o que alongará o seu prazo de conclusão até 2010.
As obras anteriores de ampliação da pista de Surucucu, realizadas
entre abril e setembro de 1986, causaram graves transtornos às comunidades
yanomami da região de Surucucu no âmbito sanitário (epidemias
de gripe e complicações), social (emprego dos yanomami, inclusive
crianças, em tarefas pesadas com pagamento irrisório, aliciamento
das mulheres) e ambiental (poluição, fuga da caça). Na
época, aquela experiência negativa foi amplamente documentada por
médicos, antropólogos e indigenistas e permanece gravada na memória
indígena.
Em
junho de 2004, um grupo de líderes yanomami da região de Surucucu
enviou um documento ao Administrador Regional da Funai de Roraima (Memo
FUNAI: Surucucus 28/06/04), manifestando sua contrariedade com
os planos da Comara e denunciando o comportamento inadequado dos operários
durante a primeira ampliação da pista em 1986, cujo impacto foi
tão nefasto para o grupo. “Os trabalhadores da Comara carregavam
nossas mulheres para o mato. Tomavam muito caxiri”(...)“Os brancos
deixaram aqui muitos tambores com resto de piche, sujaram nossas águas,
matando todos os peixes e camarão, por isso sofremos muito. Nossos filhos
ficaram muito doentes bebendo água suja e também nossa caça
fugiu para muito longe, porque tinha muita zoada”, recordam os índios
no documento em que pedem ajuda à Funai para que os mesmos episódios
do passado não se repitam e que a ampliação da pista não
seja permitida.
Na
tentativa de controlar os impactos sanitários, sociais e ambientais da
construção prevista e o descontentamento dos Yanomami, representantes
da Funai, do 7º Comando da Aeronáutica e da Comara elaboraram, em
dezembro de 2004, um conjunto de normas e procedimentos que deveriam ser seguidos
durante a obra [Ver
documento de Normas e Procedimentos]. Entretanto, no documento,
o espaço previsto para a assinatura da “Comunidade yanomami”
permaneceu sintomaticamente em branco. Lideranças e moradores yanomami
de Surucucu continuam preocupados devido à sua péssima experiência
de 1986 e com a perspectiva de enfrentar os mesmos problemas durante seis anos
de ampliação da pista, com o agravante de que, desta vez, a obra
requer até a dinamitação de um morro próximo.
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Coordenação Editorial:
Bruce Albert (Assessor Antropológico CCPY) e Luis Fernando Pereira (Jornalista CCPY)
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