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Yanomami na Imprensa
Data: 1 - Fevereiro - 2005
Titulo: Ritual e Reconstrução
Fonte:
Revista Tópico
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O
dom silencioso
Divulgação
Detalhe de
foto de Claudia Andujar que faz parte de exposição na
Pinacoteca do Estado de SP
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JORGE
COLI
COLUNISTA DA FOLHA
As artes supõem sempre elaborações e habilidades técnicas.
Entre a execução e a parte misteriosa, que não se aprende
no colégio, há uma zona de passagem. Ela dissolve o corte da fronteira,
a linha de demarcação. Do que pode ser ensinado e adquirido com
objetividade, nascem os poderes da arte. Quando nascem, naturalmente, porque
esses dados objetivos estão longe de serem suficientes: podem ser indispensáveis,
mas não bastam.
Porém, na fotografia (não a de estúdio, mas aquela que
se vincula ao instante e ao instantâneo, aquela que tem a natureza da
reportagem visual) o enigma da criação artística desenha-se
mais nítido. Surge de um mero clique, de um botão apertado. A
técnica encontra-se na máquina, não no fotógrafo.
Ao atingir a grandeza da obra de arte, a foto torna-se um milagre que depende
apenas da dimensão criadora, não de um saber material.
A mostra que a Pinacoteca do Estado consagra a Claudia Andujar faz vir ao espírito
essas questões. Apresenta imagens prodigiosas que instauram um mundo
coerente, voltado para o humano: é biológico, sexuado e espiritual
ao mesmo tempo. Índios tornam-se anjos ou demiurgos, enlaçam-se
e enlaçam as pinturas do corpo sobre as palhas enlaçadas em que
se deitam; fusquinhas se transfiguram, inquietantes e cósmicos.
Há mortos e recém-nascidos, há almas nos olhares, nos ventres,
nas nádegas. Há índios, trabalhadores na construção
de Brasília, gente modesta. As paisagens são marcadas pelos homens.
Sem nenhuma exploração da miséria, sem astúcia,
sem artifício de embelezamento. Não são imagens sedutoras,
são profundas. Nutrem-se de sinceridade, o que é difícil
de explicar, mas evidente ao olhar.
Tento
Claudia Andujar nasceu na Suíça, passou a infância na Hungria,
formou-se em Nova York e se fixou no Brasil. A exposição reúne
70 estupendas fotografias, tiradas entre 1961 e 2003. Para a ocasião,
a editora Cosacnaify publicou um livro com reproduções, entrevistas,
depoimentos e ensaios sobre a artista.
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Coordenação Editorial:
Bruce Albert (Assessor Antropológico CCPY) e Luis Fernando Pereira (Jornalista CCPY)
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