Selecione o Periodo:
De
   
Até
 

 



Clique e acesse o projeto Cartografia Yanomami
 
Clique e acesse !
 
Clique e acesse !

 

Pesquisa Geral
 

Brasília,     


.  

 

 

 


Untitled Document

Esta seção procura seguir toda a atualidade Yanomami no Brasil e na Venezuela. Apresenta notícias produzidas pela Pró-Yanomami (CCPY) e outras ONGs, bem como notícias de imprensa. Propõe também comentários sobre eventos, publicações, exposições, filmes e websites de interesse no cenário Yanomami nacional e internacional.

Notícias CCPY Urgente

Data: 29 - Março - 2005
Titulo: Yanomami querem aprofundar debate sobre a ampliação da pista de pouso de Surucucu
Fonte: CCPY – Comissão Pró-Yanomami, Boletim nº 62

Untitled Document

Yanomami querem aprofundar debate sobre a ampliação da pista de pouso de Surucucu

No Boletim Pró-Yanomami nº 61, a CCPY veiculou a preocupação dos Yanomami com o projeto de ampliação da pista de pouso do 4° Pelotão Especial de Fronteira (4° PEF) de Surucucu (Roraima) - região onde vivem aproximadamente 1780 Yanomami em cerca de 83 malocas (6 das quais num raio de 1500 metros da pista) - bem como a obrigação constitucional de se realizar um estudo prévio pelo IBAMA.

No último dia 17 de março, o comando militar convocou uma nova reunião realizada na base aérea de Boa Vista (RR), ligada ao Sétimo Comando Aéreo Regional (VII COMAR). Apesar da presença de várias dezenas de oficiais e representantes de diversas administrações públicas (FUNAI, FUNASA, Ministério Público), o encontro contou com apenas cinco Yanomami de Surucucu, alojados na própria base aérea. Chamado em caráter emergencial no mesmo dia, o líder yanomami e presidente da HUTUKARA Associação Yanomami, Davi Kopenawa, compareceu ao encontro acompanhado por um representante da CCPY.

A reunião a portas fechadas foi dirigida pelo Major Brigadeiro do Ar, Cleonilson Nicácio Silva. Seu porta-voz leu uma carta de intenções (até aí desconhecida dos participantes) descrevendo, principalmente, os objetivos da ampliação da pista e afirmando, entre outras coisas, a vontade de resguardar a cultura yanomami e recuperar as áreas degradadas pela futura obra. Davi Kopenawa foi em seguida chamado a comentar o documento.

Ele lembrou (em yanomami e português) a história da construção do pelotão e da primeira ampliação da pista de Surucucu em meados de 1980, insistindo no impacto negativo que essas obras tiveram sobre os Yanomami da região. Expressou a preocupação de ver os Yanomami passarem novamente pelos mesmos transtornos sociais, sanitários e ambientais. Afirmou, entretanto, entender a importância dos pelotões militares na proteção das fronteiras do país.

Falou também da preocupação de ver aumentar as instalações do PEF na Terra Indígena Yanomami até formar uma Vila, lembrando que na história dos Índios do Brasil, a ocupação das terras indígenas muitas vezes começou assim. Insistiu, enfim, sobre a necessidade de organizar outras reuniões na região de Surucucu para que os Yanomami potencialmente afetados pela obra possam entender a proposta dos militares, manifestando-se com conhecimento de causa sobre ela, suas possíveis conseqüências negativas e os meios de neutralizá-las.

Em seguida, o porta-voz militar leu o documento da FUNAI de dezembro de 2004, mencionado no Boletim Pró-Yanomami n° 61, intitulado “Normas e procedimentos para a realização dos serviços de ampliação da pista de pouso de Surucucus”. Cada um dos itens apresentados foi traduzido para o yanomami por Davi Kopenawa. Durante a tradução, os cinco Yanomami de Surucucu presentes no encontro manifestaram dúvidas e repudiaram diversos pontos do documento, mostrando o quão pouco haviam entendido na reunião anterior e o quanto a questão deve ser rediscutida amplamente e in loco. Conforme a insistente sugestão de Davi Kopenawa, essas futuras reuniões são fundamentais para dirimir as dúvidas e atender às reivindicações da maioria dos Yanomami de Surucucu, e não apenas de 5 dos 1780 Yanomami da região.

O representante da FUNAI (Brasília) lembrou que o aval do IBAMA para a obra de ampliação da pista é um pré-requisito que deve ser cumprido antes das discussões com os Yanomami sobre eventuais compensações e medidas preventivas. Esse representante acabou manifestando-se a favor da ampliação da pista de Surucucu, posição também adotada pelos servidores da FUNASA. Os membros do Ministério Público insistiram novamente sobre a necessidade do relatório de impacto ambiental do IBAMA e reafirmaram seu compromisso de zelar pela salvaguarda dos direitos yanomami.

Davi Kopenawa concluiu dizendo que, para evitar qualquer conflito com os militares, o que considera desfavorável a seu povo, os Yanomami poderiam ser, como os brancos, “favoráveis” à idéia de aumentar a pista, mas, novamente, com a condição de ampliar o processo de discussão: “nós já temos muitas coisas contra nós, contra nosso povo, vamos então resolver esse problema da pista, nós não queremos mais brigar, mas nós queremos conversar primeiro melhor com vocês, com todo mundo, todas as comunidades Yanomami, os militares, a Funai (...) os Procuradores, a Funasa (...), tem que chamar outros amigos dos Yanomami, como a CCPY que nos conhece bem (...) então tem que chamar todo mundo. Mas, nós, Yanomami se podemos ser favoráveis para melhorar a pista, nós não queremos a municipalização do Surucucu (...).”

Diante do teor daquela reunião, a posição da CCPY é de apoiar os Yanomami para que haja uma verdadeira ampliação do processo de diálogo oportunamente aberto pelo comando militar e que esse diálogo deverá seguir as recomendações de Davi Kopenawa : várias reuniões in loco, com um leque de lideranças yanomami de toda a região e representantes de administrações e ONGs relevantes. Recrutar às pressas uns poucos Yanomami monolíngües de Surucucu para a base aérea de Boa Vista, reduzidos a uma minoria cercada de brancos, sem entender o contexto e sem tempo para se expressar de maneira informada e independente, não pode constituir um método de diálogo democrático aceitável.

Entendemos que naquela reunião os Yanomami adotaram uma atitude pragmática, mostrando-se “favoráveis” ao princípio de não hostilizar imediatamente o projeto de ampliação da pista, mas entendemos também que seria um erro considerar que isso se traduz em aprovação da obra. A posição dos Yanomami deve ser compreendida como uma prova de boa vontade no início do processo de diálogo e certamente não como um cheque em branco para sua conclusão.

Além disso, a CCPY insiste na necessidade de um estudo do IBAMA como fase preliminar do processo de aprovação da obra (ver Boletim Pró-Yanomami n° 61).

Entendemos, porém, que esse relatório de impacto não deve limitar-se a um estudo ambiental (a Terra Yanomami não é uma mera unidade de conservação), mas sim contemplar possíveis impactos sanitários e sócio-econômicos para as comunidades yanomami direta e indiretamente afetadas pela obra.

Assim, consideramos que tal estudo, para ser legítimo, deve contar com a participação de biólogos, antropólogos e médicos reconhecidos e independentes, e acatar os estudos já realizados sobre os impactos negativos da ampliação anterior da pista de Surucucu em 1986 (ver Boletim Pró-Yanomami n° 61).

Untitled Document
Coordenação Editorial: Bruce Albert (Assessor Antropológico CCPY) e Luis Fernando Pereira (Jornalista CCPY)


 

 

 


  Para informações adicionais favor enviar

  e-mail para o escritório central da
  Comissão Pró-Yanomami no seguinte
  endereço:
   
  proyanomamibv@proyanomami.org.br
   

Comissão Pró-Yanomami © 2007
A comissão incentiva a veiculação dos textos desde citadas as fontes.