Esta seção procura seguir toda a atualidade Yanomami no Brasil e na Venezuela. Apresenta notícias produzidas pela Pró-Yanomami (CCPY) e outras ONGs, bem como notícias de imprensa. Propõe também comentários sobre eventos, publicações, exposições, filmes e websites de interesse no cenário Yanomami nacional e internacional.

Data: 29 - Abril - 2005
Titulo: Indígenas dizem que governo contraria interesse popular
Fonte: Folha de Boa Vista

Lideranças indígenas insatisfeitas com a homologação da Raposa/Serra do Sol dizem que a ação do Governo Federal de sufocar o movimento popular contraria os interesses da maioria. Cientes que o conflito está estabelecido, esperam prudência do aparato policial como forma de evitar possível derramamento de sangue. As lideranças firmam posição pela continuidade do movimento que pretende a revisão das “imposições” do Governo Federal.

Das mais respeitadas lideranças indígenas da região, Jonas Marcolino afirmou que o Governo Federal jamais poderia ter ido contra uma população que há um século convive com não índios e precisa da interação para troca de conhecimento e assimilação de tecnologia. br>
“É uma ação ditatorial. É uma imposição contrária ao nosso interesse. Entendemos que nós indígenas estaremos condenados à miséria, à pobreza, uma vez que a reserva é um habitat silvícola (diz o Estatuto do Índio). Nós não somos silvícolas. Somos cidadãos e queremos o bem-estar – não só da população indígena – mas de todos do Estado que são nossos compatriotas e conosco convivem há muito tempo”, declarou. br>
Conforme Marcolino, esta não é a primeira vez que os índios tentam levar suas opiniões, posições e seus ideais às autoridades do Governo Federal. Por isso, continuarão com o movimento popular tentando mostrar que na Raposa/Serra do Sol existem pessoas que querem cidadania e desfrutar de todos os direitos sociais. Para ele, agora não há outra forma de falar senão buscar dignidade, felicidade, bem-estar e ter tudo o que for bom. br>
“Nós chegamos à conclusão que é objetivo do presidente e do ministro da Justiça fazer os índios regredirem e voltarem a ser primitivos, isolados, sem nada, nem dependência tecnológica. Conforme prevêem leis indigenistas – como a 1141/94. Querem nos levar à condição subumana. Essa postura do Governo Federal nos permite ver a decadência dos povos indígenas”, comentou Marcolino. br>
Ele acredita que o governo confunde a sociedade brasileira quando coloca os índios do lavrado na mesma condição dos yanomami. Marcolino se diz surpreso porque representantes do governo foram à Raposa/Serra do Sol e conhecem a realidade. “Na nossa área não existe floresta. Nós habitamos o cerrado, aonde, sem tecnologia, não chegaremos a lugar nenhum”. br>
O tuxaua Amazonas, da comunidade Nova Vida, vizinha da maloca Flexal, diz que a preocupação das lideranças é evitar que a Polícia Federal chegue de surpresa nas aldeias, fato que poderia levar ao derramamento de sangue. “As pessoas que estão lá, da criança ao adulto, seja homem ou mulher, elas estão decididas a tudo. É uma decisão da comunidade. Nós não aceitamos a demarcação da forma como foi feita”. br>
De acordo com Amazonas, o conflito já é um fato e a advertência deles tem o objetivo de evitar mortes. “Se isso acontecer, o Governo Federal será o responsável porque não consultou a maioria e obriga o nosso povo a tomar essa decisão. As comunidades indígenas mais populosas são associadas da Sodiur. Contão, Flexal, Monte Muriá, Ticoça e Raposa, fora aquelas de 400 habitantes para baixo. Se não fôssemos a maioria, não teríamos vencido no plebiscito que criou o Município de Uiramutã”. br>
Na avaliação do tuxaua Amazonas, ao querer abafar o movimento deles o Governo Federal quer colocá-los numa espécie de curral e impedir o acesso a bens que já estão acostumados. “Nós não queremos retroceder. Queremos continuar o entrelaçamento das nossas culturas, viver bem, com televisão, ter veículos, calçar e vestir”, comentou.