Untitled Document
Yanomami
pedem ao Exército que proteja a Terra Indígena Yanomami
Os
Yanomami querem o Exército como parceiro na defesa das fronteiras do
país e no combate às invasões de suas terras. Esse desejo
foi manifestado pelos líderes da região do Demini ao Comandante
da 1ª Brigada de Infantaria de Selva, General Paulo Studart que, a convite
de Davi Kopenawa, visitou no último dia 11 de maio a Maloca de Watoriki
, juntamente com oficiais militares, representantes da Igreja, da Funai e da
Funasa. O grupo foi acompanhado pelo representante da Comissão Pró-Yanomami
(CCPY) em Roraima, Ednelson Souza Pereira, e da coordenadora pedagógica
do Projeto de Educação Intercultural (PEI) da CCPY, Ângela
Kurovski.
“Eu não quero a roupa de vocês, eu gosto de me vestir como
Yanomami. Eu quero apenas ser Yanomami e viver sem medo dos garimpeiros na minha
casa. Eu quero que o Exército ajude a proteger os Yanomami”, declarou
ao General o ancião Justino Yanomami num discurso traduzido para o português
pelos professores yanomami Dário e Anselmo.
Além de lideranças tradicionais, vários professores e agentes
yanomami de saúde destacaram a importância de preservar a Terra
Indígena e o papel que o Exército pode ter nessa preservação.
Para eles, quando o Exército protege as fronteiras e vigia a região,
controlando a presença de invasores não indígenas, ele
também ajuda a resguardar o Povo Yanomami e pode contar com a sua parceria.
Davi Kopenawa deixou claro ao General Studart que os Yanomami não são
em princípio contrários às obras de ampliação
da pista de pouso de Surucucus. No entanto, querem que sejam definidas medidas
cuidadosas de proteção, em particular, no que se refere à
saúde e ao meio ambiente, e seja estabelecido o prazo mais curto possível
para a construção. “Nós temos medo que venha gente
brava, que traga doenças. Nós não somos contra o Exército
proteger a fronteira, como muitas vezes dizem por aí. Pelo contrário,
proteger a fronteira das invasões é bom para os Yanomami. Nós
ajudamos a proteger a fronteira, expulsamos muitos garimpeiros daqui, mas nós
temos medo das doenças dos brancos”, afirmou Davi, que fez ainda
um apelo ao oficial: “Você tem um coração bom, vem
conversar com os Yanomami, queremos que você fale sobre nossas preocupações
para o general que vai substituir você”. Garantiu também
que o interesse dos Yanomami em defender as florestas como patrimônio
do Brasil é o mesmo dos militares.
Davi reafirmou que as declarações de que os Yanomami têm
interesse em criar um estado separado com o apoio de estrangeiros não
passam de mentiras de quem quer destruir e roubar a floresta por conta própria.
Pediu ao General que não deixe as crianças não indígenas
acreditar nessas inverdades que continuam alimentando ódio e desconfiança
contra os povos indígenas. Para Davi, são essas mentiras propagadas
por interesses econômicos escusos que insuflam o preconceito da população
de Roraima contra os povos indígenas.
Na reunião, o General Paulo Studart reafirmou seu apoio às iniciativas
dos Yanomami e também aos trabalhos realizados por aqueles que os apóiam.
O representante da CCPY, Ednelson Pereira, resumiu para os convidados a atuação
da entidade desde a sua criação em 1978. A maior preocupação
da CCPY, afirmou Ednelson, é com a garantia da integridade física
e cultural dos Yanomami, garantia que passa pela defesa de sua terra. Acrescentou
que o papel fundamental da entidade é preparar os Yanomami para a defesa
autônoma dos seus interesses e direitos através de educação,
capacitação e apoio às associações yanomami.
A coordenadora pedagógica, Ângela Kurovski, apresentou o Programa
de Educação da CCPY e o seu empenho em formar jovens professores
yanomami e garantir o acompanhamento pedagógico das escolas na terra
indígena.
No encontro, Fátima Yanomami, esposa de Davi Kopenawa, em nome das mulheres
da comunidade, destacou a importância do papel feminino como pilar da
continuidade da sociedade yanomami e salientou também aí a importância
da preservação da terra indígena: “Nós queremos
que o Exército ajude a proteger nossa terra, nossa floresta, para que
nossos filhos cresçam sem doenças e sem mortes”, afirmou
e pediu a atenção especial dos visitantes para que reparassem
como as crianças da aldeia estavam sadias, acrescentando: “Nós
não queremos que os brancos formem vilas aqui, pois nossos filhos poderão
pegar doenças e morrer”.