Comunicado URIHI - 22/09/2005
RESPOSTA
DA URIHI AO NOVO COORDENADOR REGIONAL DA FUNASA DE RORAIMA
Parece
começar mal a gestão do recém empossado coordenador da FUNASA-RR, Sr. Ionilson
Sampaio, apadrinhado político do Senador Romero Jucá. Em lugar de se dar ao
trabalho mínimo de investigar as reiteradas denúncias das lideranças indígenas,
do sindicato dos profissionais de saúde e das ONGs sobre as incompetências e
irregularidades na gestão do Distrito Sanitário Yanomami (DSY), o novo coordenador
prefere, desde o primeiro momento, se comprometer com o caos da gestão do DSY.
Tentando desqualificar as críticas da URIHI, ONG que por 5 anos (outubro de
1999-julho de 2004) garantiu eficiente assistência sanitária aos Yanomami em
convênio com a FUNASA, afirmou que “não perderá seu tempo com denúncias infundadas”
e que a URIHI “tomou essa atitude porque perdeu convênios” (Brasil
Norte, 19/09/2005).
A
reação do novo coordenador da FUNASA-RR contra a URIHI foi motivada principalmente
pela denúncia da entidade relativa às irregularidades cometidas em licitação
de fretamento de táxi aéreo pela gestão anterior do DSY, que ele parece endossar.
Vamos
aos fatos. No último pregão (leilão), em junho de 2005, para contratar serviços
de transporte aéreo para a saúde indígena, algo em torno de 400 horas mensais,
a empresa Roraima Táxi Aéreo venceu as concorrentes como lance de R$ 1.300,00/hora,
o que representou um aumento de quase 90 % no preço praticado no contrato anterior.
No entanto, na execução do contrato, a empresa “vencedora’ vem repassando parte
dos vôos para as empresas “derrotadas”, caracterizando assim uma evidente prática
de cartel.
Os
profissionais de saúde contratados no quadro do convênio FUNASA/FUB (Fundação
Universidade de Brasília) para a assistência à saúde indígena em RR são testemunhas
desta divisão dos vôos entre as empresas a preço exorbitante e são diariamente
expostos aos problemas de segurança que estas práticas irregulares envolvem.
Inclusive, o Departamento de Aviação Civil (DAC) deve dispor dos registros dos
vôos das aeronaves na Terra Indígena Yanomami que poderão demonstrar a participação
das empresas derrotadas, a menos que os planos de vôo estejam sendo fraudados
pelas empresas de táxi aéreo envolvidas, o que não queremos acreditar em vista
da gravidade das implicações de tal ilegalidade. Como conseqüência, este aumento
do preço da hora de vôo representa um gasto adicional de cerca de R$ 3 milhões
por ano aos cofres públicos.
Finalmente,
não é verdade que a URIHI “perdeu o convênio com a Funasa” como afirma o coordenador
na citada reportagem. Ao contrário, a URIHI decidiu não renovar seu convênio
com a FUNASA, a partir de julho de 2004, justamente por não concordar com as
mudanças impostas pela reforma da saúde indígena do novo governo (Portaria 70,
20/01/2004) que reduziu o papel das conveniadas, na prática, à mera contratação
de recursos humanos e abriu novamente as possibilidades de interferências políticas
locais na gestão do DSY. Aliás, o então Secretário Executivo da FUNASA, Sr.
Lenildo Morais, na época admitiu publicamente que a URIHI saiu por decisão própria
em declaração publicada na imprensa lamentando a decisão da entidade : “Não
tenho nenhuma ressalva a fazer sobre a atuação técnica e administrativa da URIHI.
Eles trabalham muito bem e ficamos tristes que não houve acerto.” Revista Época,
31/05/2004).
A
URIHI, com a participação de outras conveniadas, teve uma importante contribuição
na estruturação da assistência à saúde no DSY, reduzindo em seus 5 anos de atuação
a incidência da malária em 98% e a mortalidade infantil em 65%, bem como formando
34 micoscopistas e futuros agentes indígenas de saúde entre outras importantes
conquistas em prol da saúde e da capacitação do povo Yanomami.
O
trabalho da URIHI sempre foi pautado pelo horizonte de transferir progressivamente
a execução das ações de saúde Yanomami para o governo federal após ter consolidado
no campo seu modelo de trabalho baseado na redução dos custos, na eficiência
técnica e logística, na gestão participativa descentralizada e na formação intensiva
de agentes de saúde e quadros indígenas. A direção da URIHI contava com a colaboraçao
da FUNASA, dentro de bases políticas engajadas com o bem estar dos índios, para
conduzir este processo ao seu termo no prazo de alguns anos.
Infelizmente
a repentina interferência política autoritária e incompetente do novo governo
na organizaçao da saúde indígena interrompeu em 2004 este processo bem sucedido
de parceria com a FUNASA. Hoje, o fracasso é patente: com o dobro dos recursos
públicos utilizados em anos anteriores, este primeiro ano de retomada da gestão
direta do DSY pela FUNASA local levou à desorganização do atendimento, à piora
dos indicadores epidemiológicos, além de graves irregularidades.
Como atestam as denúncias das lideranças Yanomami e os dados das conveniadas,
a situação sanitária dos Yanomami já está sendo seriamente comprometida, em
particular com uma preocupante recrudescência da malária e vários óbitos por
esta doença que não ocorriam desde 2001.
A
URIHI reafirma publicamente, mais uma vez, que não pretende assumir novamente
a assistência direta à saúde no DSY. Entretanto, com sua experiência acumulada
em prol da saúde Yanomami, considera seu dever continuar a acompanhar e analisar
a gestão do DSY, informar a opinião pública sobre a situação do atendimento
em saúde aos Yanomami e sugerir mudanças que possam contribuir para a saúde
das comunidades indígenas atendidas pelo DSY/FUNASA.
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Urihi-Saúde
Yanomami
22 de Setembro de 2005 |