|
Notícias CCPY Urgente
Data: 19 - Outubro - 2005
Titulo: Davi Kopenawa participa de comemorações da homologação da Raposa-Serra do Sol
Fonte:
CCPY – Comissão Pró-Yanomami, Boletim nº 70
Untitled Document
Davi
Kopenawa participa de comemorações da homologação
da Raposa Serra do Sol
Longe de
ser uma mera comemoração, a festa da homologação
da Terra Indígena Raposa-Serra do Sol, que reuniu mais de três
mil pessoas, foi um momento de refortalecimento e reafirmação
dos objetivos dos povos indígenas brasileiros. A conclusão
é de Davi Kopenawa, presidente da Hutukara Associação
Yanomami, presente ao evento ocorrido entre os dias 21 e 30 de setembro,
que ressaltou como a homologação em terra contínua
coroou os esforços do movimento indígena. “Todos os
povos indígenas do Brasil, em Roraima, Amazonas e outros lugares,
todos nós estamos felizes com a homologação da Raposa.
Todos nós ganhamos essa área única, conseguimos uma
vitória. Yanomami, Waiwai, Waimiri-Atroari e outros parentes do
Brasil, para todos nós essa homologação foi muito
importante para manter a segurança dos nossos costumes, para manter
a segurança contra os que querem destruir a natureza. E para fazer
com que o pensamento desses destruidores retrocedesse”.
Segundo
Davi, que defendeu ativamente a homologação em área
contínua em consonância com o desejo dos Yanomami (ver
Boletins 38,
48
e 63),
um dos principais pontos a ser comemorado neste momento é o reconhecimento
dos direitos e da luta das populações indígenas no
sentido da autodeterminação de seus rumos e meios de vida.
“Somos nós que decidimos o que faremos o que nós vamos
comer. Somos filhos da terra, somos filhos da floresta, estamos acostumados
com a floresta desde pequenos. Temos a sabedoria, temos os costumes, então
nós podemos decidir. Podemos cuidar de nossas árvores, rios
e montanhas, tudo aquilo que a natureza fez antes de nós. Nós
queremos nossa própria terra para guardar tudo isso”.
Davi Kopenawa
disse ter se sentido entristecido ao constatar a destruição
no Centro de Formação e Cultura Raposa-Serra do Sol causada
por descontentes com a decisão de homologação em
área contínua. “Eu passei lá no Surumu e vi
como queimaram tudo, botaram fogo, quebraram tudo. Eu passei e fiquei
muito triste porque essa era uma casa dos brancos que virou casa dos índios,
foi conquista dos Macuxi. Alguns parentes ficaram com raiva, porque são
amigos dos políticos brancos, e fizeram isso. Mandaram queimar
a igreja, quebrar a escola que os padres deram para eles”.
De acordo
com Davi, o crime teria sido perpetrado por indivíduos que não
representam os desejos da maioria da população indígena
e são manipulados por interesses de grupos oligárquicos
locais que fazem falsas promessas. “Esses Macuxi que querem viver
igual aos brancos. Não dormem direito, eles não comem direito.
Eles ficam pensando que vão ganhar dinheiro que nem os brancos
quando ficam do lado de alguns políticos, mas não é
verdade, eles ficam trabalhando para o branco que só tem desejo
de dar cachaça. Eles trabalham mal e vivem mal. Nós temos
o direito de trabalhar e viver em nossas terras, trabalhar igual à
nossa tradição. Somente assim nós trabalhamos bem,
vivemos bem, comemos bem, com macaxeira, banana, tomando água limpa,
isso é o mais importante para nós”.
Durante
as comemorações, foram homenageadas várias figuras
públicas que tiveram papel de destaque no apoio aos mais de 30
anos de luta pela homologação. Para Davi, o encontro foi
importante para fortalecer os laços com outras organizações
indígenas, como o Conselho Indígena de Roraima - CIR, cujos
integrantes teriam lhe declarado a importância da Hutukara Associação
Yanomami como uma forte aliada na luta pela defesa dos direitos dos povos
indígenas. Segundo Davi, a troca de experiências entre essas
organizações seria essencial para o fortalecimento mútuo.
Fez uma ligação entre os debates realizados na Raposa-Serra
do Sol com sua recente visita ao Acre para participar de reunião
promovida pela Rede de Cooperação Alternativa, formada pelas
associações indígenas e indigenistas Instituto Socioambiental
(ISA), CPI Acre, Iepe, Foirn, Wyty-Catë, Opiac e Atix, coordenada
pela CCPY e o Centro de Trabalho Indigenista (CTI) e financiada pela Fundação
Rainforest da Noruega (ver Boletins 51
e 69).
“Eu fui ao Acre para conhecer o Kaxinawa, Ashaninka, e outros povos
indígenas do alto Rio Negro. Foi muito bom, eles falaram de suas
lutas e eu disse a eles que Hutukara não era nome de passarinho,
Hutukara é o nome da terra, da terra antiga, onde está a
natureza, nossa comida, nossa água e nossa saúde. Eles entenderam
e ficaram felizes, pois todos queremos nos ajudar. Eles querem ajudar
a Hutukara, ajudar a amadurecer o pensamento”.
Além
de Davi Kopenawa, participaram das comemorações pela homologação
da Raposa-Serra do Sol sete professores yanomami que integram a nova edição
do programa de intercâmbio lingüístico e cultural promovido
pela CCPY em parceria com a Organização de Professores Indígenas
de Roraima (OPIR), o Conselho Indígena de Roraima (CIR), a Fundação
Nacional do Índio (Funai), a Associação dos Povos
Indígenas de Roraima (APIR) e o Programa São Marcos.
Untitled Document
Coordenação Editorial: Bruce Albert (Assessor Antropológico CCPY) e Luis Fernando Pereira (Jornalista CCPY)
|